por Daniel Pipes (*)Washington Times
8 de Abril de 2020
8 de Abril de 2020
Será que há um raio de esperança por conta do estorvo causado pelo vírus COVID-19? Observadores veem uma série de efeitos positivos, da queda longeva nos preços do petróleo à melhor qualidade do ar, do enfraquecimento de movimentos extremistas ao relaxamento de regulamentações desnecessárias. Mas esses possíveis efeitos positivos não são nada se comparados ao efeito incomensurável: chacoalhar os americanos, tirando-os da complacência e abrir suas mentes para o potencial de catástrofes.
Um vírus de alcance mundial, que mudou a rotina de praticamente todo o planeta desordenando a economia, apresenta um lembrete estarrecedor quanto à fragilidade da cadeia de suprimentos, da vulnerabilidade da saúde pública e da precariedade da democracia. Essa desestabilizadora experiência trará consequências positivas se ela abrir a cabeça dos presunçosos para a possibilidade de levantes. Duas ameaças existenciais se destacam como as de maior probabilidade: pulso eletromagnético (EMP) e o fim da civilização ocidental.
O EMP poderia resultar em desastre instantâneo devido à queima de aparelhos eletrônicos, deixando as economias modernas paralisadas. Conforme explica Peter Pry, ex-chefe da Comissão sobre o EMP do Congresso: "se vocês acham que o coronavírus é assustador, esperem até que uma enorme tempestade solar ou um ataque via pulso eletromagnético cause um apagão na rede elétrica nacional, colapsando a economia e infraestruturas críticas de água e alimento, nove em cada dez americanos morrerão de fome." Note bem: 90% de mortos.
Duas enormes tempestades solares ocorreram em tempos modernos, em 1859 e 1921, a terceira passou raspando pela terra em 2012. Jonathan O'Callaghan escreve no Scientific American que outra supertempestade "é uma inevitabilidade em futuro próximo."
E quanto a um ataque? A Comissão sobre o EMP do Congresso constatou que qualquer um dos países a seguir: China, Coreia do Norte, Rússia e talvez o Irã poderiam desfechar um ataque de EMP contra os Estados Unidos, bastando para isso um número até bem reduzido de armas nucleares. Isso causaria "danos de grande monta em larga escala e de longa duração às críticas infraestruturas dos Estados Unidos, aos próprios Estados Unidos como país viável e à sobrevivência da maioria de sua população."
Não faz nem um mês que a maioria dos americanos fizeram pouco caso de tamanha ameaça existencial. Sacudidos pelo estilo dos mais medievais, a questão é: será que estamos preparados para levar essas coisas a sério e desembolsar cerca de US$1 trilhão para nos protegermos tanto das atividades solares como das de nossos inimigos?
Quanto à civilização Ocidental, ela se formou, segundo Jeffrey Hart de Dartmouth, a partir da "tensão criativa entre Atenas e Jerusalém." Desde então foi evoluindo por dois milênios até virar a força dominante do planeta, influenciando praticamente todos os povos em praticamente todos os aspectos da vida. A modernidade, argumenta o sociólogo Rodney Stark é "integralmente produto da civilização Ocidental."
Sua trajetória ascendente parecia certa até a deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914, tragédia que deu início a uma sucessão de guerras, revoluções e violências ideológicas que culminaram na melancolia cultural de hoje. Insegurança, vergonha por causa de uma leve pigmentação e culpa por conta de uma história de imperialismo, fazem com que a maioria dos cidadãos do Ocidente se veja como a maldição e flagelo do planeta. A partir daí vão se acumulando inúmeras fraquezas, em especial as demográficas e culturais.
Kaiser Wilhelm passando revista nas tropas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial.
Com exceção de Israel, nenhum país Ocidental chega perto de uma taxa de natalidade de 2,1 por mulher, o necessário para a manutenção estável da população. Caso a atual taxa de fertilidade total de 1,3 filhos por mulher em países como a Espanha e a Itália se mantenha inalterada, firme e sem imigração, o número de mulheres férteis irá despencar para cerca de 60% em 2050, 36% em 2080 e 22 % em 2110 em relação aos números de hoje. Visto que a taxa de natalidade continua caindo vertiginosamente com o passar do tempo, essas projeções ainda estão altas demais.
Em termos demográficos, Israel é único país Ocidental fora da curva. (Meus agradecimentos a Alejandro Macarrón Larumbe.)
Mas a imigração para o Ocidente já está em andamento, em especial pelos muçulmanos. Impulsionados por uma superpopulação, miséria, ditaduras e guerras civis em suas terras natais, eles chegam ao Ocidente com um robusto senso de superioridade religiosa e autosegurança cultural. Impor costumes leva tempo, mas muitos indícios apontam para uma "guinada a caminho, como as mesquitas-catedrais pipocando nas capitais ocidentais, críticas ao Islã virando tabu, a poligamia se expandindo, governos financiando instituições beneficentes islamistas, até leis para piscinas dos governos municipais. Esse processo avança incansável e silenciosamente à medida que as populações autóctones se contraem.
A proteção contra a calamidade do EMP requer apenas e tão somente verba, resguardar a civilização Ocidental, por outro lado, requer uma guinada histórica no sentido da pessoa em si e de sua identidade. Na direção oposta, enquanto o EMP acontece num piscar de olhos, a evolução cultural anda a passos lentos durante décadas.
Em que pese que algo desconhecido há apenas três meses tenha condições de transformar nossas vidas e ao que tudo indica com colossais consequências, talvez faça com que os americanos estejam agora mais receptivos à possibilidade de avaliar que possa haver perigos novinhos em folha, ainda mais destrutivos. Ou será que temos que ser surpreendidos por estes também? Nossa chance de planejarmos chegou, vamos fazer uso dela.
Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum.
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Tradução: Joseph Skilnik
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