quarta-feira, maio 17, 2017

O Diabo da paixão: cuidado com aquilo que você deseja


por Rodrigo Constantino (*).





Na mesma época em que Goethe escrevia seu clássico poema trágico Fausto, Jacques Cazotte escrevia Diabo apaixonado, um livrinho que trata basicamente do mesmo tema. Cazotte foi um iluminista que se tornou contrarrevolucionário nos complicados anos da Revolução Francesa, e acabou guilhotinado por isso, como tantos outros. Mas a mensagem de seu livro permanece atual, pois a natureza humana é atemporal.

Trata-se de um texto onírico, parido após um sonho mesmo, segundo o próprio narrador. Ainda segundo o próprio, ele o escreveu por prazer e em parte para a edificação de seus concidadãos, porque é um ser muito moral. E a mensagem é mesmo moralista (ou moralizante, dependendo do ponto de vista).

Alvare é um fidalgo espanhol que trabalha para o rei de Nápoles, e num belo dia, a caminho de sua casa, decide invocar o diabo após uma conversa sobre a cabala com dois amigos. A curiosidade era sua mais forte paixão. Ali tem começo toda a sua aventura maluca que iria mudar sua vida.

Ao aparecer para ele pela primeira vez, o diabo vem em forma horrenda e assustadora, com enorme cabeça de camelo e voz grossa. A pergunta inicial era: Che vuoi? Lacan falaria muito mais tarde sobre esse livro justamente por causa dessa questão intrigante: o que deseja? O que você quer? Você quer o que deseja?

É justamente aí que mora o perigo. Após o medo inicial, Alvare decide mostrar quem manda, e se coloca como o mestre do diabo, ordenando logo de cara que mude sua aparência. A partir de então, todos os seus desejos são atendidos. Ele está num sonho, senhor da situação.

Após oferecer um banquete para os dois amigos do começo, um deles, desconfiado de tantos arranjos especiais, de que há algum segredo por trás daquilo tudo, diz: enfim, você sabe de sua vida, é jovem; na sua idade, deseja-se tudo sem deixar tempo para pensar e só se procura o prazer.

Importante alerta. Que Alvare, naturalmente, prefere ignorar. Como abrir mão de todas as regalias? Seu relacionamento com o diabo, aparentemente seu servo obediente, começa a ficar mais complicado. Ele assume a forma de uma mulher, que Alvare decide chamar de Biondetta. As tentações sobem em escala exponencial:

O ardor de seus olhares tão tocantes, tão suaves, é um cruel veneno. Aquela boca tão bem desenhada, tão colorida, tão fresca e, na aparência, tão ingênua, só se abre para imposturas. Aquele coração, se de fato existia, só se aqueceria para uma traição.

Alvare não pode alegar ignorância: ele sabe com quem está lidando. Ele tem o poder, também, de abrir mão de tudo aquilo, se esse for seu desejo. Mas ele racionaliza o desejo de continuar enfeitiçado: Por que me precipitar e querer logo o que posso querer a qualquer momento do dia? Ele ainda se acha dono da situação, sob pleno controle.

Sua vida se torna cada vez mais desregrada, com jogos e mulheres. Mas tudo isso era atravessado pela culpa e o sentimento de dever, especialmente com relação a sua mãe. Talvez fosse tarde demais. Ele tinha noção do perigo ao usar os serviços daquela criatura: Decididamente, eu não sabia se conseguiria afastá-lo de mim; de qualquer modo, não tinha força para querer isso.

As fugas hedonistas não lhe davam mais tanto prazer. O jogo, o carnaval, os espetáculos, tudo parecia aborrecê-lo. É então que se dá conta da forte paixão por Biondetta, avassaladora. Ao avistar uma igreja em Veneza, entra e se põe a rezar para a mãe, desesperado, ao ver uma estátua semelhante a ela:

Desgraça! Estou devorado pela paixão mais tirânica: não consigo dominá-la. Agora a senhora acaba de falar a meus olhos; fale-me também ao coração e, se devo expulsar tal paixão, ensine-me como fazê-lo sem perder a vida.

Contando sua experiência com o benefício do retrospecto, Alvare revela ao leitor:

Percebo, agora, o que não era capaz de fazer naquele momento, que, em todas as ocasiões em que precisamos de auxílios extraordinários para corrigir nossa conduta, se pedirmos com força, mesmo que não sejamos atendidos, ao menos, ao nos recolhermos para recebê-los, colocamo-nos de modo a empregar todos os recursos de nossa própria prudência.

É uma forma interessante e laica de enxergar a reza. Ulisses, na mitologia grega, apelou para sua prudência ao amarrar as próprias mãos e ordenar que ninguém o soltasse do mastro, independentemente de todos os suplícios e novas ordens ou ameaças, quando decidiu desafiar o canto das sereias. Alvare se dá conta de onde mora o verdadeiro perigo: Sou eu, senhora, o único inimigo perigoso para mim.

O próprio indivíduo é que costuma convidar o diabo a entrar em sua vida. A paixão (que vem de pathos, patologia), as fugas hedonistas, os apetites sem freio, são instrumentos perigosos e tentadores. Biondetta diz a Alvare, ainda tentando seduzi-lo por completo: A espécie a que pertences escapa à verdade: só os tornando cegos é que se consegue que fiquem felizes. Ah! Serás feliz, e muitíssimo, se quiseres! Pretendo dar-te tudo. Já viste que não sou tão nojento quanto dizem.

Alvare consegue escapar até a segurança de sua mãe. Um doutor de Salamanca, entendido no assunto, vem escutar todo o relato da sua aventura onírica, e diz sobre Biondetta ou Belzebu, o que dá no mesmo:


Ela copia a natureza com fidelidade e astúcia; emprega o recurso dos talentos atenciosos, dá festas bem agradáveis, faz que as paixões falem com a linguagem mais sedutora; chega a imitar a virtude até certo ponto. […] Ele o seduziu, é verdade, mas não conseguiu corrompê-lo; suas intenções e seus remorsos o preservaram com as ajudas extraordinárias que recebeu; assim o suposto triunfo dele e a derrota do senhor nada mais foram para o senhor e para ele do que uma ilusão cujo arrependimento acabará por lavar o senhor.

Alvare, muito traumatizado com sua experiência atemorizante, quase decide se enclausurar de vez, virar padre, abandonar a vida das paixões e mulheres, a fim de evitar a tentação do diabo. O doutor de Salamanca aconselha:

Não creio, porém, que a barreira do claustro ou da vocação religiosa seja a que o senhor lhe deva opor. Sua decisão não está nítida; as pessoas que aprenderam pela própria experiência são necessárias no mundo. Creia-me, forme vínculos legítimos com uma pessoa do sexo oposto, que sua respeitável mãe presida à sua escolha: e, se aquela que o senhor receber da mão dela tiver graças e talentos celestes, o senhor jamais será tentado a tomá-la pelo Diabo.

A vida sem as paixões perderia o sal, a graça; por outro lado, uma vida entregue a elas é a garantia de desgraça, destruição. Alvare achava-se senhor, mas era o verdadeiro escravo de seu desejo. A paixão aprisiona. Sua sorte foi carregar a Lei inscrita em si, nas morais e tradições (sua mãe), os limites que vão além de seu próprio apetite insaciável, o que os psicanalistas chamam de castração. O enorme desafio na vida é encontrar um equilíbrio.

(*)Rodrigo Constantino, originalmente publicado no blog da Veja e que misteriosamente sumiu

domingo, maio 14, 2017

Lula-2010 confessou o que Lula-2017 esconde



por Augusto Nunes (Veja)



Em 7 de outubro de 2010, empenhado no segundo turno da sucessão presidencial, Lula desembarcou em Angra dos Reis para batizar a plataforma P-56 da Petrobras. Caminhando de um lado para outro, o palanque ambulante revelou o que acabaria por transformá-lo, neste maio de 2017, num forte candidato à cadeia:

“Teve um tempo que a diretoria da Petrobras – não é no seu tempo não, Zé Sérgio – achava… achava que era o Brasil que pertencia à Petrobras, não era a Petrobras que pertencia ao Brasil. A ponto de ter presidente que falava: ‘A Petrobras é uma caixa preta, ninguém sabe o que acontece lá dentro’”.

Enquanto José Sérgio Gabrielli, então presidente da empresa, e Luiz Fernando Pezão, vice-governador do Rio, se juntaravam no sorriso abobalhado, o estadista de picadeiro derrapou na confissão:

“No nosso governo ela é uma caixa branca. E transparente. Nem tão assim…. Mas é transparente. A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer”.


Sete anos depois,, a caixa transparente ficou preta durante o depoimento a Sérgio Moro: “Um presidente da República, nos oito anos que eu fiquei na Presidência da República, a gente não tem reunião com a diretoria da Petrobras”, desconversou Lula.

Intrigado com a informação, Moro perguntou: “Senhor presidente, o senhor tendo nomeado, indicado, pelo menos dado a palavra final para a indicação ao conselho de administração da Petrobras de Paulo Roberto Costa, Renato Souza Duque, Nestor Cuñat Cerveró, Jorge Luiz Zelada, o senhor não tinha conhecimento de nenhum dos crimes por eles praticados enquanto diretores da Petrobras?”. Um surpreendentemente lacônico Lula limitou-se a uma resposta monossilábico: “Não”

“Ou desse esquema criminoso que alguns deles começaram?”, insistiu Moro. “Não. Nem eu, nem o senhor, nem o Ministério Público, nem a Petrobras, nem a imprensa, nem a Polícia Federal”, viajou o ex-presidente. “Todos nós só ficamos sabendo quando foi pego no grampo a conversa do Yousseff com o Paulo Roberto Costa”.

Em outro trecho do depoimento, o representante do Ministério Público voltou ao tema. Vale a pena reproduzir o diálogo:

MP: “Senhor ex-presidente, o senhor foi o responsável por indicar o senhor José Eduardo de Barros Dutra para a presidência da Petrobras?”

Lula: “Fui. Fui.”

MP: “Foi uma indicação pessoal do senhor?”

Lula: “Indicação do presidente da República não é pessoal. A indicação de uma instituição chamada Presidência da República”.

MP: “Perfeito. O senhor”.

Lula: “Que é ele e o governo”.

Perdido, o depoente enveredou pela trilha do penhasco:

“Lamentavelmente, quando as pessoas assumem uma empresa importante como a Petrobras, as pessoas viram petroleiros. Ou seja, as pessoas passam a tomar decisões dentro do conselho da Petrobras e não precisam ouvir o presidente da República”.
Como todas as mentiras que desfiou no depoimento que consolidou sua liderança no ranking mundial dos especialistas em perjúrio continuado, também essa tropeçou em uma das inúmeras discurseiras que circulam na internet. Lula o tempo todo prova que Lula mente. Confrontados os vídeos, fica provado que, como Lula-2010 confessou, Lula-2017 é apenas um caso de polícia implorando pela condenação.

terça-feira, maio 09, 2017

Venezuela: da riqueza à mendicância.



Um breve histórico da Venezuela: da quarta população mais rica do mundo à atual mendicância.
O socialismo já estava enraizado nas práticas da elite política do país
por José Niño (*)
Maduro fica entalado em tanque russo; leia aqui






A atual catástrofe econômica da Venezuela já está bem documentada. As narrativas convencionais apontam para o regime de Hugo Chávez como sendo o principal arquiteto da tragédia econômica que acomete o país. Embora Chávez e seu sucessor, o motorista de ônibus e sindicalista Nicolás Maduro, mereçam todas as culpas atribuídas a eles pela calamidade, uma análise histórica do país mostra que as atuais características da política econômica da Venezuela têm raízes bem mais antigas.

O analista tem de olhar para além daquilo que é imediatamente visto e pesquisar a história geral da Venezuela ao longo dos últimos 50 anos para então ter uma compreensão mais completa de como foi possível o país ter chegado à sua atual e lastimável situação.

Socialismo antes de Chávez

Alguns analistas gostam de mostrar como era boa e próspera a Venezuela antes do bolivarianismo, como se toda a destruição perpetrada por Chávez e intensificada por Maduro tivesse sido um acidente fortuito e totalmente inesperado. O que esses analistas convenientemente ignoram é que as sementes da destruição da Venezuela foram plantadas exatamente durante aqueles "anos gloriosos".

Anos de intervencionismo econômico gradual fizeram com que um país que estava destinado a entrar no seleto grupo de países do Primeiro Mundo fosse firmemente empurrado para a medíocre categoria de países em desenvolvimento e sem grandes perspectivas futuras.

Esse contínuo declínio acabou por criar um ambiente propício ao surgimento de demagogos como Chávez, que souberam explorar aquela sensação real de estagnação econômica para obter ganhos políticos.

A outrora próspera Venezuela

Para compreender o longo declínio da Venezuela, é necessário olhar para o passado para entender o que a fez tão próspera em primeiro lugar.

Antes da inauguração de seu primeiro campo petrolífero, no dia 15 de abril de 1914, a Venezuela era essencialmente uma República Bananeira marcada por instabilidades políticas. Isso era majoritariamente uma consequência de seu passado colonial, cujas práticas não foram alteradas no período imediatamente subsequente à sua independência da Espanha.

Embora tenha se tornado independente, a Venezuela manteve várias de suas primitivas práticas políticas e econômicas. Acima de tudo, manteve as mesmas políticas mercantilistas e regulatórias, altamente excludentes, que garantiram a manutenção da grande situação de pobreza do país.

Entretanto, a descoberta de petróleo no início do século XX alterou completamente a situação. A então poderosa aristocracia agrária viria a ser sobrepujada por uma classe industrial, a qual abriu o mercado petrolífero do país para os investimentos estrangeiros e para exploração das multinacionais.

Pela primeira vez em sua história, a Venezuela tinha uma economia de mercado relativamente liberal, e iria colher vários benefícios deste arranjo nas décadas vindouras.

Da década de 1910 até a década de 1930, o tão odiado ditador Juan Vicente Gómez ajudou a consolidar o estado venezuelano, e a modernizar uma até então atrasada província neocolonial, ao permitir que investidores, domésticos e estrangeiros, livremente explorassem as recém-descobertas jazidas de petróleo.

Em consequência dessa maior liberdade, a Venezuela vivenciou um substantivo crescimento econômico e rapidamente se transformou em um dos países mais prósperos da América Latina já na década de 1950.

Naquela década, o general Marcos Pérez Jiménez daria continuidade ao legado de Gómez. A Venezuela chegaria ao seu ápice, figurando em quarto lugar no ranking mundial em termos de PIB per capita.

Mais do que apenas petróleo

Embora a exploração de petróleo tenha realmente tido um papel considerável na ascensão meteórica da Venezuela da década de 1920 à década de 1970, tal fenômeno é secundário em explicar como a Venezuela se tornou próspera durante aquele período.

Uma combinação formada por uma economia relativamente livre, por um sistema de imigração que atraiu e assimilou mão-de-obra de Itália, Portugal e Espanha, e por um robusto sistema legal que protegia os direitos de propriedade permitiu à Venezuela vivenciar níveis sem precedentes de desenvolvimento econômico entre as décadas de 1940 e 1970.

Como já mencionado, a Venezuela chegou ao ápice de sua prosperidade durante o regime militar do ditador Marcos Pérez Jiménez. Assim como o regime de Juan Vicente Gómez, o governo de Pérez Jiménez foi caracterizado por uma violenta repressão política.

A estrutura capitalista da Venezuela permaneceu majoritariamente intacta durante o regime de Pérez Jiménez, embora com crescentes graus de intromissão estatal na economia. Foi Pérez Jiménez quem introduziu alguns elementos de capitalismo de estado, como obras públicas faraônicas (garantido fartas receitas para as empreiteiras amigas do governo) e um crescente envolvimento do estado em "indústrias estratégicas", como a siderurgia.

Ainda assim, o regime de Pérez Jiménez continuou aberto aos investimentos estrangeiros, permitiu que o sistema de preços funcionasse normalmente na maioria dos setores da economia, e não abraçou a ideia de criar um perdulário sistema assistencialista.

O caminho para a social-democracia

Apesar da prosperidade gerada pela então pujante economia da década de 1950, o governo de Marcos Pérez Jiménez atraiu a fúria de vários ativistas de esquerda por causa de sua mão pesada e repressora. O ponto de virada ocorreu em 1958, quando esses ativistas de esquerda, em conluio com militares simpáticos à causa, conseguiram derrubar Pérez Jiménez por meio de um golpe de estado. Pérez Jiménez viveria o resto de sua vida no exílio e seria para sempre escarnecido e odiado pelas elites intelectuais e políticas da Venezuela, não obstante o desenvolvimento econômico e social sem precedentes ocorrido sob sua administração.

Após o golpe de 1958, o oficial da Marinha Wolfgang Larrázabal ocupou a presidência por um breve período, à espera das eleições que ocorreriam ao final daquele ano. O eminente líder político e social-democrata Rómulo Betancourt acabaria se sagrando o grande vencedor daquele pleito, assumindo a presidência de 1959 a 1964.

A Quarta República da Venezuela — o mais longo período de regime democrático do país — foi estabelecida sob o governo de Betancourt. Em 1961, foi promulgada uma constituição, dividindo o governo em três poderes — executivo, legislativo e judiciário — e estabelecendo uma função ativa para o estado venezuelano nas questões econômicas do país.

Essa ordem política foi consolidada de maneira ainda mais decisiva pelo estabelecimento do Pacto de Punto Fijo. Tal pacto consistia em um acordo bipartidário firmado pelos dois principais partidos políticos do país — Acción Democratica (Ação Democrática) e COPEI (Democratas-Cristãos) —, o qual estabelecia as bases para uma ordem política explicitamente social-democrata e acordava uma alternância de poderes entre os dois partidos.

Embora parecesse uma genuína medida em prol da estabilidade democrática, a Quarta República da Venezuela acabou marcando o início de um processo de crescente socialismo, o qual foi gradualmente solapando as fundações econômicas e institucionais da Venezuela.

As origens socialistas dos ativistas pró-democracia da Venezuela

O atual colapso da Venezuela não ocorreu da noite para o dia. Foi parte de um contínuo e prolongado processo de decadência econômica e institucional, iniciado décadas antes.

Quando a Venezuela voltou à democracia, em 1958, tudo indicava que o país estava destinado a aprofundar sua prosperidade econômica e a iniciar uma era de estabilidade políticas sem precedentes.

Entretanto, o experimento democrático da Venezuela já estava condenado desde o início. E, para perceber isso, uma simples análise do histórico político do próprio fundador deste arranjo, Rómulo Betancourt, já permitiria entender por que todo o sistema político do país estava apoiado em um castelo de cartas.

Rómulo Betancourt era um ex-comunista que havia renunciado ao método marxista em prol de uma abordagem mais gradualista — ou seja, gramsciana — para a imposição do socialismo. Embora tenha aparentemente se transformado em um social-democrata, Betancourt ainda acreditava em um papel totalmente ativo para o estado nas questões econômicas.

Betancourt fazia parte de uma geração de intelectuais e estudantes venezuelanos que tinham o objetivo de nacionalizar e estatizar completamente todo o setor petrolífero do país e então utilizar as receitas do petróleo para criar um generoso estado de bem-estar social. Tais pessoas acreditavam firmemente que, para a Venezuela se tornar um país genuinamente independente e se livrar da influência de interesses estrangeiros, o governo deveria ter o total controle do setor petrolífero.

Sob esta premissa, um setor petrolífero estatizado iria fornecer gasolina barata e garantir saúde e educação "gratuita" para todos, além de uma enorme variedade de serviços públicos.

Essa retórica encontrou grande e fácil aceitação entre as classes médias e baixas, as quais viriam a ser a fiel base eleitoral partido de Betancourt, o Acción Democrática, pelos anos vindouros.

No cerne de seu programa, essa visão de organização econômica pressupunha que o governo deveria gerenciar a economia por meio de um planejamento centralizado. O petróleo deveria ser produzido, gerenciado e administrado pelo estado, ao mesmo tempo em que o governo tentaria expulsar completamente o setor privado da área.

Intervencionismo desde o início

O governo de Betancourt, embora ainda não tão intervencionista quanto viriam a ser seus sucessores, implantou várias políticas socialistas que serviram de base para os governos seguintes. Dentre elas:

1. A desvalorização da moeda venezuelana, o bolívar;

2. Uma reforma agrária que estimulava invasões e ocupações de terra, e que solapava os direitos de propriedade dos donos de terras;

3. O estabelecimento de uma ordem constitucional baseada em direitos positivistas, impondo um papel ativo para o governo venezuelano nas questões econômicas.

O governo de Bettancourt também implantou um considerável aumento de impostos, triplicando a alíquota do imposto de renda para 36%. De maneira típica e esperada, este aumento de imposto estimulou um aumento dos gastos do governo. Consequentemente, o governo passou a ter déficits fiscais por causa de seus crescentes e incontroláveis gastos com programas sociais.

Estes crescentes déficits orçamentários passariam a ser uma constante nas finanças públicas da Venezuela na era pré-Chávez.

A estatização da indústria petrolífera

Embora Betancourt não tenha alcançado seu objetivo supremo de estatizar completamente o setor petrolífero venezuelano, seu governo estabeleceu as bases para todas as subsequentes intervenções no setor.

Graças à explosão dos preços do petróleo na década de 1970, o governo de Carlos Andrés Pérez foi extremamente beneficiado pelo até então inédito influxo de receitas da exportação de petróleo em decorrência da crise energética da década de 1970, durante a qual países produtores de petróleo como a Venezuela se beneficiaram enormemente dos altos preços.

O ideal de Betancourt foi finalmente implantado em 1975, quando o governo de Carlos Andrés Pérez estatizou todo o setor petrolífero. A estatização da indústria petrolífera da Venezuela foi a medida que alterou fundamentalmente a natureza do estado venezuelano. Com a estatização, a Venezuela se transformou em um petroestado, no qual o conceito de "consentimento do governado" foi completamente invertido.

Agora, em vez de venezuelanos pagarem impostos para o governo em troca da proteção da propriedade e da manutenção de liberdades, o estado venezuelano assumiu um papel patrimonial de subornar seus cidadãos com todos os tipos de benefícios e assistencialismos para manter seu domínio sobre eles.

A estatização do petróleo: um cofre sem fundo para os políticos

Pérez tiraria proveito deste confisco estatal para financiar um pródigo estado assistencialista e toda uma cornucópia de programas sociais que, de início, foram muito bem recebidos pela população. Como resultado, déficits orçamentários gerados por gastos crescentes se tornaram a norma e passaram a ser aceitos por toda a classe política. Nenhum político se atrevia a vocalizar alguma oposição a esta prática.

Igualmente, crescentes níveis de endividamento interno e externo passariam a ser a norma no cenário fiscal do país. E ninguém se opunha.

A esta altura, a economia da Venezuela já estava quase que completamente politizada. Períodos de alta no preço do petróleo geravam um enorme influxo de petrodólares, os quais então eram utilizados pelo estado em faraônicas obras públicas e em projetos sociais criados para pacificar a população, que já vinha sentido os efeitos da rápida perda do poder de compra de sua moeda.

A realidade é que não havia nenhuma criação de riqueza real durante estes períodos de alta do petróleo, uma vez que o estado apenas redistribuía as receitas de acordo com seus caprichos políticos e usurpava as funções tradicionalmente exercidas pela sociedade civil e por investidores privados.

Quando políticos e burocratas passam a controlar a economia, todas as decisões importantes passam a ocorrer de acordo com interesses políticos e partidários, não de acordo com a eficiência e com as preferências dos consumidores.

Embora a estatização da indústria do petróleo não tenha resultado em um imediato colapso econômico, ela gerou todos os desarranjos econômicos e institucionais que seriam vivenciados nas décadas de 1980 e 1990.

E a insatisfação da população com estes desarranjos econômicos e institucionais — como uma inflação de preços de 120% em 1997 — culminou na eleição de Hugo Chávez em 1999.

O resto é história.



(*)José Niño, nascido na Venezuela, faz mestrado na universidade de Fort Collins, Colorado. Já morou no Chile, na Venezuela e nos EUA. Atualmente, ele é analista do Círculo Acton, do Chile.

domingo, maio 07, 2017

As dez leis fundamentais da economia



por Antony Mueller(*)
Sociedades que as respeitam e não tentam revogá-las enriquecem





Em meio a tantas falácias econômicas sendo repetidas de maneira aparentemente incessante pela mídia e pelos comentaristas, a função do economista intelectualmente honesto é desfazer essa cortina de fumaça para o público e reafirmar algumas das mais básicas leis da economia.

Este Instituto já apresentou uma lista extremamente sucinta das dez leis fundamentais da economia. Vários leitores pediram para que ela fosse aprofundada. Eis, portanto, as dez leis fundamentais da economia que sempre devem ser repetidas para jamais serem esquecidas.

1. Para consumir é necessário antes produzir

A produção necessariamente vem antes do consumo. Para consumir algo, esse algo deve antes existir. É impossível consumir algo que ainda não foi criado.

Embora essa seja uma constatação lógica e óbvia, ela é recorrentemente ignorada. A ideia de que o governo deve estimular o consumo da população para que isso então impulsione a produção e toda a economia é predominante na mídia e nos meios acadêmicos. Trata-se de uma perfeita inversão de causa e consequência.

Bens de consumo não simplesmente caem do céu. Bens de consumo são o resultado final de uma longa cadeia que envolve vários processos de produção interligados. Essa cadeia é chamada de "estrutura de produção".

Mesmo a produção de um item aparentemente simples, como um lápis ou um sanduíche, requer uma intrincada rede de processos produtivos que levam tempo para ser concluídos e que envolvem vários países e continentes.

Estimular o consumo, por definição, não pode gerar crescimento econômico.

2. O consumo é o objetivo final da produção

As pessoas produzem aquilo que outras pessoas querem consumir. Não faz sentido econômico produzir algo que ninguém irá consumir.

Por isso, o consumo é o objetivo de toda a atividade econômica. E a produção é o seu meio.

Defensores de políticas governamentais voltadas a "criar empregos" violam esta óbvia ideia. Programas voltados para a criação artificial de empregos transformam a produção no objetivo final, e não o consumo dessa produção. Criar empregos artificialmente significa estimular a produção de algo que não está sendo demandado voluntariamente pelos consumidores.

São os consumidores que atribuem valor aos bens de consumo final. Ao atribuírem valor aos bens de consumo, eles indiretamente também atribuem valor aos fatores de produção (mão-de-obra e maquinário) utilizados no processo de produção destes bens de consumo.


Ignorar as reais demandas do consumidor e querer criar empregos artificiais e processos de produção que não estão em linha com os desejos do consumidor é uma medida que tenta revogar toda essa realidade. Tal medida é economicamente destrutiva, pois imobiliza mão-de-obra e recursos escassos em atividades que não estão sendo demandadas pela população. Isso significa destruição de capital e de riqueza.

3. Nada é realmente gratuito; tudo tem custos

Não existe almoço grátis. Receber algo aparentemente gratuito significa apenas que há outra pessoa pagando por tudo.

Por trás de cada universidade pública, de serviços de saúde "gratuitos", de bolsas estudantis e de toda e qualquer forma de assistencialismo jaz o dinheiro de impostos de pessoas que trabalham e produzem.

Embora os pagadores de impostos saibam que é o governo quem confisca parte de sua renda, eles não sabem para quem para onde vai esse dinheiro. E embora os recebedores desse dinheiro e dos serviços custeados por esse dinheiro saibam que é o governo quem está por trás de tudo, eles não sabem de quem o governo tomou esse dinheiro.

4. O valor das coisas é subjetivo

A maneira como cada indivíduo atribui valor a um bem é subjetiva, e varia de acordo com a situação e com os gostos deste indivíduo. Um mesmo bem físico possui diferentes valores para diferentes pessoas.

A utilidade de cada bem é subjetiva, individual, situacional e marginal. Por isso, não pode haver algo como "consumo coletivo". Mesmo a temperatura de uma sala traz sensações distintas para cada pessoa ali presente. A mesma partida de futebol possui diferentes valores subjetivos para espectador, como é facilmente perceptível no momento que um dos times faz um gol.

5. É a produtividade o que determina os salários

A produção de um indivíduo durante um determinado período de tempo determina o quanto ele pode ganhar durante esse período de tempo.

Quanto mais esse indivíduo produzir um bem ou serviço voluntariamente demandado pelos consumidores em um determinado intervalo de tempo, maior poderá ser a sua remuneração.

Em um mercado de trabalho genuinamente livre, empresas contratarão mão-de-obra adicional sempre que a produtividade marginal de cada um desses trabalhadores for maior que o seu salário (custo). Em outras palavras, sempre que um trabalhador adicional for capaz de gerar mais receitas do que despesas, ele será contratado.

A concorrência entre as empresas irá elevar os salários até o ponto em que ele se equiparar à produtividade.

O poder dos sindicatos pode alterar a distribuição dos salários entre os diferentes grupos de trabalhadores, mas não pode elevar o valor total dos salários de todos esses trabalhadores. Estes dependem inteiramente da produtividade.

E o que aumenta a produtividade da mão-de-obra? Poupança, investimentos e acumulação de capital. Sem poupança não há investimento. E sem investimento não há acumulação de capital. Sem acumulação de capital não há maior produtividade. E sem mais produtividade não há aumento da renda.

6. Gastos representam, ao mesmo tempo, renda para uns e custo para outros

Keynesianos dizem que todo gasto gera renda. Eles apenas se esquecem de que todo gasto é também um custo. O gasto é um custo para o comprador e uma renda para o vendedor. A renda é igual ao custo.

O mecanismo do multiplicador de renda keynesiano diz que, quanto mais se gasta, mais se enriquece. Quanto mais todos gastam, mais ricos todos ficam. Tal lógica obviamente ignora os custos. O multiplicador fiscal, por definição, implica que os custos aumentam junto com a renda. Se a renda se multiplica, os custos também se multiplicam. O modelo do multiplicador keynesiano ignora esse efeito do custo.

Graves erros de política econômica ocorrem quando as políticas governamentais contabilizam os gastos públicos apenas pela ótica da renda, ignorando completamente o efeito dos custos.

Gastos, portanto, são custos. O multiplicador da renda implica a multiplicação dos custos.

7. Dinheiro não é riqueza

O valor do dinheiro consiste em seu poder de compra. O dinheiro serve como um instrumento para se efetuar trocas. Quanto maior o poder de compra do dinheiro, maior sua capacidade de efetuar trocas.

Mas o dinheiro, por si só, não é riqueza. É apenas um meio de troca. Riqueza é abundância de bens e serviços e bem-estar. A riqueza de um indivíduo está, portanto, em sua capacidade de ter acesso aos bens e serviços que ele deseja

O governo criar mais dinheiro não significa criar mais riqueza. Uma nação não pode aumentar sua riqueza ao aumentar a quantidade de dinheiro existente.

Robinson Crusoé não estaria um centavo mais rico caso encontrasse uma mina de ouro ou uma valise repleta de dinheiro em sua ilha isolada.

8. O trabalho, por si só, não cria valor

O trabalho, quando combinado com outros fatores de produção (matéria-prima, ferramentas e infraestrutura), cria produtos. Mas o valor desses produtos depende do quanto ele é útil para o consumidor.

A utilidade desse produto depende da valoração subjetiva feita por cada indivíduo (ver item 4). Por isso, criar empregos apenas para que haja mais empregos é algo economicamente insensato (ver item 2).

O que realmente importa é a criação de valor, e não o quão duro um indivíduo trabalha. Para ser útil, um produto ou serviço tem de gerar benefícios ao consumidor. O valor de um bem ou serviço não está diretamente ligado ao esforço necessário para produzi-lo.

Um homem pode gastar centenas de horas fazendo sorvetes de lama ou cavando buracos, mas se ninguém atribuir qualquer serventia a estes sorvetes de lama ou a estes buracos — e, portanto, não os valorizar o suficiente para pagar alguma coisa por eles —, tais produtos não terão nenhum valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.

9. O lucro é o bônus do empreendedor bem-sucedido

No capitalismo de livre concorrência, o lucro econômico é o bônus extra que uma empresa ganha por ter sabido alocar corretamente recursos escassos e ter sabido satisfazer as demandas dos consumidores.

Em uma economia estacionária, na qual não ocorre nenhuma mudança, não haveria nem lucros nem prejuízos, e todas as empresas teriam a mesma taxa de retorno. Já em uma economia dinâmica e crescente, ocorrem mudanças diariamente nos desejos dos consumidores. E aqueles mais capazes de antecipar essas mudanças nos desejos dos consumidores e que souberem como direcionar recursos escassos — mão-de-obra, matéria-prima e bens de capital — para satisfazer esses consumidores irão colher os lucros econômicos.

Empreendedores capazes de antecipar as demandas futuras dos consumidores irão auferir as maiores taxas de lucro e irão crescer. Empreendedores que não tiverem essa capacidade de antecipar os desejos dos consumidores irão encolher até finalmente serem expulsos do mercado.

10. Todas as verdadeiras leis econômicas são puramente lógicas

As leis econômicas são aprioristas, o que significa que elas não precisam ser previamente verificadas e nem podem ser empiricamente falsificadas.

Ninguém pode falsificar tais leis empiricamente porque elas são verdadeiras em si mesmas. Como tal, as leis fundamentais da economia não requerem verificação empírica. Referências a fatos empíricos servem meramente como exemplos ilustrativos; elas não representam uma declaração de princípios. (Veja exemplos práticos aqui.)



É possível ignorar e violar as leis fundamentais da economia, mas não é possível alterá-las. Sociedades que entenderem e respeitarem essas 10 leis econômicas — sem tentar revogá-las — irão prosperar.

(*)Antony Mueller é doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, Alemanha (FAU) e, desde 2008, professor de economia na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde ele atua também no Centro de Economia Aplicada. Antony Mueller é fundador do The Continental Economics Institute (CEI) e mantém em português os blogs Economia Nova e Sociologia econômica.
Fonte: Mises Brasil

sábado, maio 06, 2017

Qual mulher governará a França: Marine Le Pen ou Angela Merkel?





por Taiguara Fernandes. (sensoincomun.org)



A mídia dá a vitória de Macron nas eleições francesas como garantida. Marine Le Pen é carta fora do baralho ou a mídia repetirá o erro Trump?

As eleições francesas têm chamado a atenção de muitos, alguns com esperança que seu resultado inflame ainda mais a ira contra o globalismo esnobe dos metacapitalistas, alguns com o natural desespero de verem que a tão chamada revolução popular os têm como alvo único, para além de qualquer conciliação.

O panorama da disputa eletiva entre Emmanuel Macron, que é: formado pela ENA, a Escola Nacional de Administração, o hub intelectual da elite burocrática francesa; ex-banqueiro do Rothschild & Cie Banque, um dos pilares financeiros da Nova Ordem Mundial; ex-filiado do Partido Socialista francês, saído dali para fundar um próprio, cuja sigla se iguala às inicias de seu nome (“En Marche!” – EM); ex-Ministro da Economia de François Hollande (sim, do presidente que precisou desistir da candidatura à reeleição para não ser humilhado nas urnas), e candidato da União Européia à “Vice-Chancelaria da Província da França”, e Marine Le Pen, deputada no Parlamento Europeu, presidente licenciada do Front National e filha do incontornável e intrinsecamente problemático Jean-Marie Le Pen, fundador e presidente, por vários anos, do partido (até que, em 2015, Le Pen filha expulsou Le Pen pai), é, simultaneamente, cristalino e turvo, óbvio e nebuloso, nu e oculto.

Os movimentos próprios da população, as ditas tendências eleitorais, baseados na pesquisa dos temas e da análise geográfica apontam para uma clara, não obstante apertada, vitória de Marine Le Pen no segundo turno a ser realizado neste domingo (o7/05), contudo a movimentação incessante dos eurocratas e do establishment francês podem assinalar a organização de uma fraude sem precedentes na História mundial, superando, inclusive, a ocorrida no Brasil, em 2014, quando da assim chamada reeleição da sra. Dilma Rousseff à Presidência do Brasil.

Este primeiro tópico, para além de detalhar os pontos fracos dos dois candidatos – toda a descrição de Macron e a filiação de Le Pen – visa a apresentar um breve panorama da França, a fim de facilitar o entendimento da profunda análise que será feita a seguir.


A França de hoje, ou Os caminhos para a Modernidade doentia.


A guilhotina: o instrumento para a realização da liberdade, da igualdade e da fraternidade – na morte.

Os atuais problemas padecidos por Mariana, símbolo antropomorfizado da França, possuem origens históricas bem mais remotas. Como apontado por Gertrude Himmelfarb em “Os Caminhos para a Modernidade”, a divergência fundamental dos Iluminismos anglófono para o francófono se baseia na prevalência do elemento realista, capaz de aceitar ou, ao menos, a não extirpar a natureza espiritual do homem e sua capacidade raciocinante. No Iluminismo britânico, prevaleceu, em suas palavras, uma “sociologia da virtude”, enquanto, nos Estados Unidos, o Iluminismo se apresentou como “política da liberdade”. A variante local francesa, por sua vez, originou-se em uma rebelião espiritual contra a Igreja, uma verdadeira birra adolescente capaz de sugerir, como modelo educacional para outros países, precisamente o que a Igreja Católica fazia na França, sem, porém, atribuir-lhe o mérito. O endeusamento dessa variante torpe de Iluminismo é, obviamente, uma das raízes profundas da crise existencial da França.

O objetivo do intróito é apenas apontar que, ao contrário do que as falsas análises de apressados e de viciados em comentaristas de política internacional de canais de televisão – não importa se aberta ou a cabo – ou, pior, de jornais e de rádio, para não falar dos tagarelas de Internet financiados com dinheiro público, a autoincompreensão francesa já é mais que bicentenária: não seria este período eleitoral o conjunto de confissão e penitência para a absolvição dos pecados de Mariana.

Especificamente, os problemas debatidos na longa campanha, desde o primeiro turno, centram-se na real estrutura de poder que comanda hoje a Europa, a burocracia elitista, pesada, não eleita, responsável perante ninguém da União Européia. Os temas de fundamental importância para os eleitores, segundo pesquisa realizada já neste segundo turno, são emprego, imigração, globalização e terrorismo – por outras palavras, os pontos em que a União Européia é mais mal vista por seus, como é constante dos documentos oficiais, “administrados” (ainda que sua auto-imagem permaneça inabalável).

Contudo, não parece ser o caso de simplesmente ver, na fratura exposta do sistema globalista, sua morte, pois a candidatura de Marine Le Pen não traduz o mesmo grau de esperança que o visto por Donald Trump, no ano passado.

O Front National foi fundado na década de 1970 com pessoas comprometidas até a glote com o regime de Vichy, o governo fantoche do nazismo para os francófonos do sul (a parte norte estava sob administração militar nazista direta). Le Pen pai, por sua vez, nem mesmo pretendeu apresentar uma imagem pública minimamente não comprometida com o nazismo, tendo chamado, em mais de uma ocasião, o Holocausto um “detalhe” da História1. Tendo sido o único candidato do Front à Presidência da fundação da agremiação até 2007, é inevitável que a imagem do partido e da família Le Pen esteja profundamente comprometida, arranhada, não suscitando qualquer motivação inicial para aproximação, ou mesmo a suspension of disbelief de quem lidará com alguma obra de ficção.

Em 2011, diante da avançada idade do já vovô monstrinho, o Front realizou eleição interna para ver o substituto de Le Pen pai. O resultado, nas palavras de Nigel Farage, o herói da independência britânica, apelidado, com justiça, de Mr. Brexit, foi surpreendente:


An overwhelming vote of FN members saw Marine Le Pen become leader – beating Holocaust-denying Bruno Gollnisch. From the start, she wanted the FN to be more like Ukip than the BNP2. I was told that this would be a nightmare for me3.

[A maioria esmagadora dos membros do FN elegeu Marine Le Pen presidente do partido, derrotando o negador do Holocausto Bruno Gollnisch. Desde o início, ela quis que o FN se parecesse mais com o UKIP que com o BNP. Disseram-me que isso me seria um pesadelo.]


Esta virada foi acompanhada da popularização crescente do partido e da ruptura definitiva do chamado “cordão sanitário” ou “Frente Republicana”, a aliança entre todos os partidos doestablishment contra o Front National em qualquer segundo turno. Algumas palavras precisam ser dedicadas nesse ponto.


Marine Le Pen e Jean-Marie Le Pen


No final da década de 1970, poucos anos após a fundação do FN, alguns ditos direitistas, em eleições locais, aliaram-se ao FN, e vice-versa, o que chocou (com razão) muitos eleitores, jornalistas e quem mais pudesse observar. De fato, naquela época, buscar tal apoio político e aceitá-lo de braços abertos, sem maiores reservas, era um verdadeiro absurdo, pois a direção do partido admitia orgulhosa a profissão de fé de vários itens do catálogo tipicamente fascista. A partir da década de 1980, porém, os ditos conservadores franceses4 e os diversos tentáculos do esquerdismo fizeram um pacto escancarado de se apoiarem contra o crescimento do FN.

De 1980 a 2011, essa aliança funcionou extremamente bem, tendo os sucessores do gaullismo e os socialistas se alternado no poder em todos os níveis de governo, quando não coabitando nele. Em rápida explanação, coabitação é uma experiência própria do regime político francês, na qual o Presidente, que possui preponderância política, mas não todos os poderes de governo, é de um partido, e o Primeiro-Ministro, respaldado pela maioria na Assembléia Nacional, é de outro. Três coabitações ocorreram até agora, todas durante o período áureo do “cordão sanitário”: na década de 1980, François Mitterand, presidente socialista (e que trabalhou para o regime de Vichy), precisou suportar Jacques Chirac, primeiro-ministro gaullista; nos dois anos finais de seus nada curtos 14 anos como presidente, Mitterand ainda precisou aturar Édouard Balladur, outro gaullista, e o próprio Chirac precisou engolir Lionel Jospin, um socialista que ele derrotara para a Presidência, como primeiro-ministro por cinco anos.

Em 2002, quando uma desilusão generalizada com o cenário político arregimentou uma abstenção de quase 30% no primeiro turno, os dois candidatos presidenciais principais, Jacques Chirac, então presidente e candidato à reeleição, e Lionel Jospin, então primeiro-ministro, tiveram votações ínfimas, o que catapultou Jean-Marie Le Pen ao segundo turno, a primeira oportunidade de segunda volta para o FN. Nela todos os candidatos e partidos – as partes do autoproclamado “cordão sanitário” – associaram-se a favor de Chirac, contra Le Pen pai, a fim de produzir uma vitória acachapante, o que, no fim de tudo, ocorreu: Chirac saltou de 19,88% (5.665.855 de votos), no primeiro turno, para 25.537.956 (82,21%), no segundo, enquanto Le Pen pai patinou de 4,804,713 (16,86%) para 5.525.032 (17,79%).

O resultado pífio ainda foi piorado por Le Pen pai em 2007, com parcos 3.834.530 (10,44%) – quando o guallista Nicolas Sarkozy venceu a socialista Ségolène Royal no segundo turno. Em 2012, porém, já sob o comando de Le Pen filha, a situação foi drasticamente modificada: sua votação ultrapassou a do pai e, ainda que não tenha chegado ao segundo turno (ocorrido entre François Hollande e Nicolas Sarkozy), obteve votação e percentual invejáveis: 6.421.426 de votos, representando 17,90%. Com o segundo turno realizado entre os dois candidatos mais impopulares e insossos dos últimos anos, o resultado saiu apertado: Sarkozy não foi reeleito, Hollande venceu e obteve maioria parlamentar, e a França caiu em um caos financeiro e social, sendo o alvo preferencial de toda sorte de atentados terroristas.


“France, fille aînée de l’Église, es-tu fidèle aux promesses de ton baptême?”.



Eleitores do Front National.



A frase de São João Paulo II, utilizada para abrir este tópico, traduz bem a quebra da hegemonia do “cordão sanitário”, pois o resultado de 2012 já apontava para um terremoto político – que, de fato, veio a acontecer – em 2017: o retorno de membro do Front National ao segundo turno, desta vez com chances reais de vitória.

Não se pretende dizer que Marine Le Pen é a concretização do desejo que o Sumo Pontífice tinha, obviamente, mas para mostrar que essa mesma questão assombra as vidas dos pequenos franceses, cujas vidas pacatas, cujo quotidiano simples foi violentamente destruído pela imigração em massa.

Marine Le Pen, ciente de sua capacidade de crescimento e da necessidade de se diferenciar da âncora política que é seu pai, não pretendeu apenas apresentar uma nova face a idéias velhas, mas a refundar o partido, modificando inteiramente sua estrutura interna – escandalizando, aliás, os fascistas octogenários – e, embora não modificando as propostas mais ordinárias ou administrativas do FN, reinterpretando o conjunto em uma cosmovisão higiênica, enterrados os esqueletos que vestiam a bandana vermelha com círculo branco e símbolo em preto no braço.

Foi mencionado o escândalo dos fascistas de velha guarda: Marine Le Pen trouxe, desde que assumiu o comando, para a cúpula do partido gays assumidos e, com sua postura linha-dura em matéria de imigração e de proteção da sociedade francesa contra a invasão horizontal dos bárbaros promovida pelo globalismo islâmico, atraiu o voto gay em proporções que deixam a classe mais estúpida de pessoas, os jornalistas, desconsertados. Aliás, Le Pen filha ganhou deles um título carinhoso: “Pink Marine”5.

A coroação da “desdemonização” do FN veio em 2015: Le Pen pai foi expulso do partido que fundara quarenta anos antes, terminando, assim, o processo de exclusão de fascistas dos altos escalões do partido.




Só essa atitude, é óbvio, não foi (nem é) suficiente para Marine eleger-se, como, aliás, ela própria sabe. Suas posições, ainda que algumas das soluções mais estatistas em economia e mais simpáticas ao regime de Putin, tornaram-se muito mais flexíveis em virtude de dois outros cataclismos políticos do ano passado: a vitória do “Leave” no referendo do “Brexit” e a vitória de Donald Trump.

A saída do Reino Unido, cujos procedimentos já foram formalmente iniciados em 19/03 deste ano, com a invocação do art. 50 do Tratado da União Européia, revelou quão pobre é a percepção que o povo europeu possui da organização burocrática que se tornou a UE. Esse resultado foi antecedido de dois pequenos testes anteriores, um referendo na Holanda, sobre o Acordo de Associação entre a UE e a Ucrânia, com resultado esmagadoramente contrário aos interesses dos eurocratas, e um referendo na Dinamarca, a respeito da capacidade de interferência da União nas questões de justiça e de polícia do pequeno país, com resultado contrário, embora não nas mesmas proporções, ao que queria a elite de Bruxelas.

A revolta dos ingleses inflamou a retórica eurocética, inclusive a da própria Le Pen, e revelou que as vozes aparentemente minoritárias contra os exageros de Bruxelas, na realidade, compunham a maioria dentre os “administrados”. Esse resultado reforçou o sentimento contrário às ambições mais federalistas6 existente em outros países, como a Hungria de Viktor Orbán, a Polônia de Andrzej Duda e o Reino Unido de Theresa May (uma política inicialmente favorável à permanência na União Européia, mas que viu sua grande chance de poder na entrega do Brexit, o que vem fazendo mais ou menos bem). Esses países são, precisamente, os que Marine Le Pen citou como seus aliados principais na Europa, nem chegando perto de dizer “Rússia de Putin”7.

De fora da Europa, seus aliados são a Índia de Narendra Modi (Primeiro-Ministro conservador após vários anos de esquerdismos burocráticos) e os Estados Unidos de Trump, este o segundo terremoto de 2016, aliás muito mais danoso que o primeiro. Se o Brexit foi uma indigestão no estômago globalista, Trump é sintoma da falência múltipla de órgãos, pois nenhuma de suas atitudes, até agora, mesmo as que mais parecem simpáticas ao globalismo, são destituídas de uma zombaria profunda, de uma semente a explodir no tempo certo8.

Financiando a própria campanha durante as primárias, ou melhor, rejeitando qualquer doação, mesmo de seus eleitores; dono de uma sinceridade cativante e de uma personalidade inquebrável e inamovível – embora pareça ceder, o que funciona apenas com quem só acompanha o noticiário da hora –; estrategista de acertos políticos e eleitorais que lhe concederam vitórias em estados que os republicanos doentes de bom-mocismo insistiam teimosamente em perder, e dono de uma capacidade de submeter os adversários às derrotas mais vergonhosas9, Donald John Trump é o mais perigoso inimigo público do globalismo, e Marine Le Pen foi rápida para perceber que, se ele vencesse, as chances dela disparariam – como, de fato, aconteceu.

Vinda de uma vitória relativa nas eleições para o Parlamento Europeu, em 2014, quando o FN ficou em primeiro lugar, e de uma vitória, igualmente módica, restrita ao primeiro turno das eleições regionais francesas em 2015, Le Pen filha encontrou um discurso menos rotulável em suas comparações com Trump: é absolutamente impossível ser tachado, com sucesso, de anti-semita e de “islamofóbico” simultaneamente. A oposição dura à invasão islâmica (com conseqüente ascensão terrorista) salvou Le Pen da acusação anterior, ao ponto de o próprio partido governante de Israel, o Likud do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, já ter quem a apoie abertamente10.

Ao contrário da tentativa boba de o establishment reeditar o “cordão sanitário”, este segundo turno não é igual ao de 2002. Emmanuel Macron não é Jacques Chirac, um político experiente que já era presidente, já havia sido primeiro-ministro e prefeito de Paris, mas um jovem inepto e herdeiro do governo inerte de François Hollande; Marine não é Jean-Marie, tanto por não ter um passado sujo como o do pai, quanto por ter mantido uma linha que, nas palavras de Nigel Farage, não seja idêntica às dele.

André Andrade é advogado e analista político.


Notas 


1 A esse respeito, o Professor Olavo redigiu um artigo fundamental que mostra a gravidade não apenas desse crime, mas, em especial, dos crimes daqueles apressadinhos que acusam de anti-semitismo quem não subscreve o credo revolucionário.


2 BNP é a sigla do British National Party, representando, em palavras muito pobres, a variante inglesa das idéias de Le Pen pai.




4 Não poderiam ser tomados como conservadores, por exemplo, no sentido britânico ou americano do termo, mas é a linguagem disponível para aglutinar as diversas facções gaullistas, mais ou menos patrióticas, que rejeitavam abertamente o ideário dos nostálgicos de Vichy.




6 A União Européia, fundada para ser uma gigantesca zona de livre comércio e para fazer frente, economicamente, aos Estados Unidos e à União Soviética, simultaneamente, tem, desde sua origem, um caráter federalista, isto é, de substituição dos países existentes por uma estrovenga de “Estados Unidos da Europa”. Esse era o intuito original de alguns de seus mais destacados membros, como Jean Monnet, e se baseava na compreensão de que o nacionalismo como um todo havia sido responsável pelas duas Guerras Mundiais, sendo o único caminho para a paz (kantiana, diga-se) uma aposta na supranacionalidade.


7 Algumas notas indispensáveis:
É indisfarçável o compromisso do Front National com Vladimir Putin, porém não pode ser excluída in limine a interpretação de que essa aliança, feita por Le Pen filha, tinha caráter ocasional, de sobrevivência financeira do partido, sem maiores comprometimentos com o esquema globalista russo. De outra banda, as conexões do FN com Putin são muitas, de modo que ambas as interpretações, embora válidas, não estão no mesmo patamar, sendo a segunda muito mais factível que a primeira. Por fim, de uma perspectiva estratégica, a solução mais realista seria optar entre os globalismos sem se tornar dependente de qualquer deles, jogando, sempre que possível, um contra o outro.


8 O ataque à base síria, por exemplo, foi muitíssimo mal interpretado, até mesmo pelos apoiadores de Trump. Não notaram que: a ordem foi dada durante o jantar com o presidente chinês (aliás, pouco antes de servida a sobremesa), destruiu uma base utilizada para armar o Hezbollah, enviou um sinal claríssimo à Coréia do Norte, foi precedida da única participação de Steve Bannon, o estrategista populista de Trump, em reunião do Conselho de Segurança Nacional e serviu para desviar as atenções da imprensa boboca da cobertura dos protestos contra a aprovação de Neil Gorsuch para a vaga deixada por Antonin Scalia na Suprema Corte.


9 A derrota na primeira tentativa de revogar o Obamacare, por exemplo, não desmoralizou Trump, mas seu adversário mais poderoso dentro da engrenagem republicana, o Speaker Paul Ryan. A aprovação do novo projeto, ocorrida ontem, deve-se exclusivamente ao deputado Mark Meadows, líder do Freedom Caucus, a facção mais conservadora (e mais trumpista) do partido, agora candidatíssimo a ser novo Speaker. 



Fonte: sensoincomun.org

sexta-feira, maio 05, 2017

Jornais omitem Terrorismo na Avenida Paulista


Jornais omitem atentado terrorista islâmico à bomba na Avenida Paulista

por Flavio Morgenstern


Hasan Zarif liderou um protesto contra Michel Temer no último dia 10 de abril na porta da FIESP, como registrando em matéria da Folha de S. Paulo. Ele foi entrevistado no ato que acusava Temer, descendente de libaneses, de “laços sionistas”. A prova? A escolha de Ilan Goldfajn para comandar o Banco Central. É tão Alemanha dos anos 30 que parece pesadelo (Alexandre Borges)


Em 02 de maio, na Avenida Paulista, em São Paulo, um grupo se uniu para protestar contra a lei de imigração de autoria do chanceler Aloysio Nunes, do PSDB de SP e ex-motorista do terrorista Carlos Marighella. A lei causará uma hégira no Brasil. O protesto havia sido convocado pelas redes sociais e foi pacífico.

Um grupo de pessoas, entretanto, foi até o protesto para agredir os manifestantes. Entre eles, estava Hassan Zarif, imigrante de origem palestina, que não fala português, é anti-semita e é dono de um bar “revolucionário” no Bixiga chamado Al Janiah. Em seu bar, além de aulas de árabe, são ministradas palestras com temas como “Lei Antiterrorismo: O que ainda podemos fazer?” (sic).

Os eventos são sempre realizados em parceria com um assim chamado “Movimento Palestina Para Tod@s”, que gera uma estranha inquietação pelo uso da @ trans: o que aconteceria com um homossexual ou transexual na região da Palestina dominada pelo Hamas, com sua jihad para impor a shari’ah?

Em dado momento, conflagrando o segundo atentado terrorista islâmico em território nacional, felizmente falho, Hassan Zarif joga uma bomba na direção do grupo pacífico, que precisou correr para ninguém se ferir.

Hassan Zarif, então, foi preso, portando soco inglês e sendo visto e reconhecido em um vídeo atirando o artefato explosivo. Outro vídeo pode ser visto:










Cuidado com as manchetes: falam em "confronto" com grupo de "extrema-direita", mas houve um atentado à bomba contra manifestantes na Paulista.

Ontem, na Avenida Paulista, em São Paulo, um grupo se uniu para protestar contra a lei de imigração de autoria do chanceler Aloysio Nunes, do PSDB de SP e ex-motorista do terrorista Carlos Marighella. A lei causará uma hégira no Brasil. O protesto havia sido convocado pelas redes sociais e foi pacífico.

Um grupo de pessoas, entretanto, foi até o protesto para agredir os manifestantes. Entre eles, estava Hassan Zarif, imigrante de origem palestina, que não fala português, é anti-semita e é dono de um bar “revolucionário” no Bixiga chamado Al Janiah. Em seu bar, além de aulas de árabe, são ministradas palestras com temas como “Lei Antiterrorismo: O que ainda podemos fazer?” (sic).

Os eventos são sempre realizados em parceria com um assim chamado “Movimento Palestina Para Tod@s”, que gera uma estranha inquietação pelo uso da @ trans: o que aconteceria com um homossexual ou transexual na região da Palestina dominada pelo Hamas, com sua jihad para impor a shari’ah?

Em dado momento, conflagrando o segundo atentado terrorista islâmico em território nacional, felizmente falho, Hassan Zarif joga uma bomba na direção do grupo pacífico, que precisou correr para ninguém se ferir.

Hassan Zarif, então, foi preso, portando soco inglês e sendo visto e reconhecido em um vídeo atirando o artefato explosivo. Outro vídeo pode ser visto:





Infowar: os pobres “refugiados” (com bar) contra a violentíssima “extrema-direita”

Destaca-se então a infowar, a guerra de narrativas da grande mídia para eufemizar um lado e hiperbolizar outro. De acordo com a grande mídia, um sírio, preso com um soco inglês, que levou uma bomba para um ato público e a atirou contra transeuntes pacíficos, foi apenas uma “confusão” com um “grupo de extrema direita” (sic) – grupo este que, sem destaque da imprensa, protestava pacificamente antes da chegada da turba de Hassan Zarif.




Para O Globo, Um palestino e um sírio são detidos após confusão em marcha anti-imigração em SP, e ainda Presos após confronto com direita anti-imigração vão para audiência de custódia, depois trocado para “grupo anti-imigração” (o original permanece no link). A matéria é da jornalista Juliana Arreguy, cujo avatar no Facebook pode ser visto à esquerda. A Folha prefere escancarar os dois termos que, no imaginário coletivo deturpado, representam invertidamente o oprimido e o opressor: Palestinos são presos após confronto com direita anti-imigração em SP.

O Estadão, que nunca utiliza “esquerda” ou “extrema-esquerda” em seu texto, destaca não a bomba, não o risco de vida ao qual foram expostas pessoas pacíficas, mas o pensamento político das vítimas: Ativistas pró-imigração seguem presos após briga com grupo de direita, manchete que foi reproduzida ipsis litteris na Istoé.

As únicas publicações a lembrar do “detalhe” da bomba atirada contra pessoas, que se não tivessem corrido poderiam estar mortas, foram o blog de Rodrigo Constantino na Gazeta do Povo, que marcou Manifestantes de direita contra lei de imigração acusam islâmico de explodir bomba caseira em SP, além do chinês Epoch Times: Imigrantes explodem bomba em protesto contra Lei de Migração.

Já entre as publicações petistas que eram financiadas com dinheiro do pagador de impostos brasileiro, também chamada de “esgotosfera”, a situação é ainda mais drástica: para o Brasil de Fato, abaixo da cartola “Xenofobia”, a manchete é Refugiados palestinos são presos após conflito em manifestação antimigração (sic). Na Revista Forum, espécie de porta-voz unificador do discurso petista, Palestinos são agredidos e presos em manifestação de direita anti-imigração em São Paulo. Na Rede Brasil Atual, Palestinos são agredidos e presos em manifestação contra refugiados em São Paulo, com descrições como “Os palestinos estavam passando pela Avenida Paulista e pararam para ver a manifestação, e então foram xingados e ameaçados.” A cena mais comum da cidade de São Paulo, naturalmente.


Há uma gritante semelhança de tom e objetivo entre as manchetes, sejam de O Globo, Estadão, Folha ou Revista Forum e Brasil Atual, e ainda mais semelhante ausência de comentário sobre uma bomba atirada contra pessoas (repetindo: que se não tivessem corrido, poderiam estar mortas, e não foram atingidas por se moverem rapidamente).

Para a grande mídia, que chegará ao maior número de pessoas, tudo não passou de um “confronto”, uma “confusão”: de um lado, “refugiados”; de outro, um “grupo de extrema-direita”. Foi como a narrativa chegou a TV, até mesmo escolhendo vídeos infelizes na internet em que manifestantes “admitem que agrediram refugiados” (sic).



Fake News: Al Janiah e Hassan Zarif

Se jornalistas houvessem por fazer algo mais profundo do que enxergar um cenário de violência e dizer que há uma equalização de forças caso o fato não se coadune com a narrativa padrão “palestinos coitadinhos”, veriam que a verdade está exatamente na direção oposta do que escreveram.

O jornalista Marlos Apyus, ex-Antagonista e CEO do novo portal Politicas.Info, acabou sozinho investigando e descobrindo algumas verdades inconvenientes para a narrativa da mídia.

Por exemplo, o Boletim de Ocorrência lavrado contra Hassan Zarif desmente tudo o que foi colocado pela imprensa. No B. O., Hassan Zarif é reconhecido como o autor da bomba contra o povo que manifestava. Agrediu um policial, resistiu à prisão e foi detido com um soco inglês. Sua turba estava agredindo inclusive mulheres na manifestação (sendo pró-Palestina, não é exatamente algo a se estranhar).

O que é mais significativo: apesar de Hassan Zarif e seu bando apostarem na tese de que houve um “confronto” e de que foram “agredidos”, conforme repetiu a mídia, não há marcas de agressões em seus corpos, embora haja até vídeos de suas agressões contra outras pessoas.



Como se vê, Marlos Apyus sozinho foi mais jornalista do que toda a imprensa brasileira, com exceção devida à Gazeta do Povo e Epoch Times.

Por outro lado, não é preciso ir muito atrás de documentos para ver o estado em que ficaram as vítimas deste atentado terrorista islâmico, como mostra a página Direita São Paulo:







Quando a imprensa prepara o caminho sentimental das pessoas, pode-se fazer o que bem se entende, sem esperar críticas, como quando se chama vítimas de “grupo de extrema-direita” e um verdadeiro atentado terrorista islâmico, felizmente sem nenhuma morte, de “conflito” com “refugiados” que teriam sido “agredidos” sem explicação (e corpo delito). Nem mesmo é preciso explicar o que um anti-semita que organiza palestras pensando no que fazer após a lei anti-terrorismo estaria fazendo “andando pacificamente” na Paulista com soco inglês e uma bomba.

Não à toa, a Istoé já fala que a Ouvidoria das Polícias do Estado “apura irregularidades em prisão de palestino em São Paulo” (onde está aquele chatérrimo “supostas” nessas horas?). Imagine-se se fosse um grupo de apoiadores de Doria ou Bolsonaro que jogasse uma bomba contra “refugiados”, como seriam as manchetes por meses a fio, incluindo ações no Congresso.

Sem surpresas também, descobriu-se que Hassan Zarif fez campanha para o PSOL, um dos partidos com mais flertes com o anti-semitismo do país. Logo depois, foi solto, com ajuda de Sâmia Bonfim, vereadora do PSOL. Sâmia Bonfim viu inúmeros entraves à prisão de quem solta uma bomba contra mulheres (a vereadora é, naturalmente, feminista), mas estava lá com o fito claro: reclamar que a polícia não prendeu quem respondeu com “discurso de ódio” à bomba de Hassan Zarif.