terça-feira, dezembro 03, 2013

Manual do ódio à classe média.













por Paulo Rosenbaum – 

Vários mandatários nacionais têm reclamado das demandas e exigências de uma classe social que só faz crescer no país.

Em rara unanimidade políticos, legisladores, intelectuais, sindicatos e fiscais tomaram a decisão de esmagar este inimigo crítico que ousa levantar a voz contra o Estado. Quem mandou ficarem insatisfeitos com a mão que anestesia? Quem foi que disse que uma classe alçada do nada por governos tão benévolos — que dispuseram de dinheiro de contribuintes para assegurar uma renda mínima para todos — tem o direito de sair berrando que só aquilo não basta? Já se viu pedintes rechaçar o níquel depositado nos chapéus? Querem agora cuspir no prato que comeram? Onde foi que desaprenderam com tanta rapidez o respeito? Quem fez a cabeça dessa gente que agora não se curva para ser ungida com as migalhas possíveis?

A análise seria dura demais, extensa demais e explícita demais para que alguém tivesse a paciência de ler. Mas uma síntese pode ser concluída antes do próximo clique do mouse. A razão pela qual os governantes não suportam a crítica é a mesma pela qual têm insônia e pesadelos com uma imprensa livre e combativa e gente comum que começou a ajuntar os pedaços do quebra-cabeças do poder

Reclame dos impostos e os coletores te perseguem, fale das cotas raciais e ouvirás de tudo (menos que as quotas deveriam ser sociais, antes que étnico-raciais). Ouse mencionar a diminuição da idade penal e verá a esquerda-mordaça ceifar tua língua. Agora explique calmamente que você não entende para onde vão suas contribuições e que só queria que a educação e a saúde não fossem tratadas a quatro anos ou sob grandes reservas de fósseis decompostos.

Faça com que eles se fixem nas grandes construções, em meganegócios que o pais atrai e despreze as manchetes que tragam dúvidas sobre a seriedade econômica da nação. Lembre-o sempre: somos a sétima economia do mundo. Repita como mantra que o país estourou. Se alguém falar mal do teu partido diga que ele não entendeu o espírito da coisa. E se o fulano quiser insinuar que está tudo mal feito encerre a discussão propondo uma cerveja num lugar mais tranquilo. Use outra estratégia com jornalistas cricas que aporrinham todo mundo com lamúrias: mande ele sair do pais e buscar lugar melhor.

E se te contestar com a ladainha de que “quer melhorar este aqui e não sai daqui nem a pau” cogite dar um gelo, constranja-o em público. Se falhar, ameace com coisa pior para ele saber com quem está falando. Por um tempo vocês ficarão estremecidos. Assimile. Tudo passa, e assim que reencontrá-lo finja que nunca haviam discutido antes. Pode ser que você não o convença de vez, mas sempre que o ódio é plantado a semente pode germinar e vingar lá adiante.

O que você não deveria aceitar em hipótese nenhuma é que ele faça troça das campanhas político-partidária. Essa classe média é o seguinte! Mas vamos lá: se te disser que todos falam a mesma coisa diga que ele é surdo, se o sujeito reclamar que todo mundo se locupleta na vida pública rebata com o infalível “isso é assim no mundo todo”. Sim, esse pessoal é difícil mesmo. Às vezes não entende a lógica do socialismo para todos, menos alguns. Ignore.

Tente mostrar que as coisas seriam muito mais fáceis se houvesse só um partido. Ele vai vir com o discurso de “pluralidade”. Aqui chegou a hora de negar. Negue tudo. Insista, e explique que absolutamente não é verdade que não há liberdade de expressão em ditaduras centro- americanas. Tente dizer tudo com parcimônia e máxima convicção. Sem forçar, lógico. O defeito que ele enxerga é a grande solução: seguir modelos onde há igualdade sem liberdade. Só o burguês não entende isso.

Faça um gesto com a mão e indique que a maioria das campanhas contra Estados totalitários que tratam bem seus povos não passa de difamação plantada pelos grandes capitalistas. Batata. Ele virá então com aquele discurso de “veja o que acontece com a Venezuela”, aí você dá um basta e afirme calmamente e sem elevar o tom de voz que aquele é um pais do futuro, assim como já foi o nosso.

Fonte: Pletz

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