quarta-feira, outubro 12, 2016

Europa oriental: a última barreira entre o cristianismo e o islã.









Europa oriental: a última barreira entre o cristianismo e o islã.

por Giulio Meotti




O destino da Áustria está em jogo.



Talvez tenha sido mera coincidência o fato do Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena, cotado para ser o próximo Papa, ter escolhido o dia 12 de setembro, aniversário do Cerco à Viena, quando as tropas otomanas da Turquia por pouco não conquistaram a Europa, para proferir um apelo extremamente dramático para salvar as raízes cristãs da Europa.

"Muitos muçulmanos querem e dizem que a Europa está acabada", enfatizou o Cardeal Schönborn, em seguida acusou a Europa de "esquecer sua identidade cristã". Ele então alertou, de forma contundente, sobre a possibilidade da "conquista islâmica da Europa."

Konrad Pesendorfer, chefe do Departamento Austríaco de Estatística, assinalou que por volta de 2030, 40% da população de Viena terá nascido no exterior graças aos fluxos demográficos internos e à migração (60.000 ingressos de candidatos a asilo só este ano).

Desde a queda de Constantinopla em 1453, grande parte da população cristã da Europa Oriental permaneceu séculos sob ocupação islâmica, particularmente dos otomanos. A sensação é que o relógio voltou para o ano de 1683, quando o exército otomano estava diante das portas de Viena.

Não é coincidência que a feroz resistência dos europeus orientais tem sido o principal obstáculo a uma resposta coesa por parte da União Europeia frente à crise migratória. Foram estes países orientais que forçaram a chanceler alemã Angela Merkel a interromper o fluxo desordenado de migrantes. Hoje, com a Europa sem fronteiras, os migrantes continuam vindo em massa. Somente em agosto 23.000 migrantesingressaram na Itália.

Bruxelas está incrementando rapidamente a guerra de propaganda com o objetivo de apresentar os europeus ocidentais, que favorecem sem nenhum critério a migração de muçulmanos, como cosmopolitas e tolerantes, e os europeus orientais como um bando de fanáticos xenófobos, isso para não dizer claramente neonazistas.



A elite educada da Europa faria um bem a si própria se desse ouvidos aos seus irmãos orientais. Estes países, ironicamente, são o cerne da "nova Europa", os últimos a se juntarem ao projeto europeu e precisamente aqueles que se livraram dos regimes autoritários e que deveriam revitalizá-lo. A política de Bruxelas está remetendo o bloco oriental de volta à órbita da Rússia.

A relutância dos europeus orientais em abrirem as portas para a migração massiva de muçulmanos pode ser explicada pela crise econômica, queda na taxa de natalidade, sociedades relativamente homogêneas, perseguição aos cristãos sob o regime comunista, memórias de um conflito com o Islã que remontam à idade média e à tentativa de Bruxelas em impor uma agenda cultural. Na realidade o Parlamento Europeu tem aprovado constantemente resoluções que colocam sob pressão os conservadores estados-membros do Leste Europeu como a Polônia, Hungria e Croácia, para legalizarem o casamento gay e o direito ao aborto.

O Presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, o chama de "Viktator" Orbán. Mas o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, irredutível, segue em frente com a construção de um muro na fronteira entre a Hungria e a Sérvia. Quando da queda do comunismo, a Hungria foi o primeiro país a levantar a cortina de ferro e deixar as pessoas saírem. Agora é o primeiro país a erguer uma cerca para manter as pessoas do lado de fora. Além disso Orbán planeja construir mais uma cerca ao longo daquela fronteira.

Orbán é a nêmesis oriental da elite europeia. Ninguém na Europa além dele se manifesta em defesa do "cristianismo". A "Visegrad-4", aliança entre a República Tcheca, Polônia, Bulgária e Eslováquia, quer discernir imigrantes cristãos de imigrantes muçulmanos. Orbán conta com o apoio dos bispos húngaros que se opõem à política de braços abertos do Papa Francisco em relação aos migrantes.

Em um artigo de opinião publicado pelo jornal Frankfurter Allgemeine, Orbán ressalta:

"Aqueles que chegam ao nosso país foram criados em outra religião e representam uma cultura completamente diferente. A maioria deles não é cristã e sim muçulmana. Trata-se de uma questão importante porque a Europa e a identidade europeia estão enraizadas no cristianismo. "


A rebeldia de Orbán remonta à época em que era estudante em 1989, quando ele estava presente no funeral de Imre Nagy, que liderou a insurreição antissoviética de 1956 -- Orbán teve a coragem de exigir a retirada dos invasores comunistas.

Mais tarde Orbán liderou a Hungria para que ela ingressasse na OTAN.

Filho de pai comunista e mãe calvinista, Orbán é casado com uma católica devota e tem cinco filhos.Respondendo àqueles que questionam se ele é reacionário, Orbán ressalta: "eu como com garfo e faca, mas nós não somos os caras legais da corrente predominante". Para ele a Comissão Europeia é uma espécie de novo politburo. "Nós não aceitávamos viver sob o jugo de Viena em 1848, nem o de Moscou em 1956 e 1990", ressaltou Orbán. "Agora não iremos aceitar a ditadura de ninguém que está Bruxelas ou em qualquer outro lugar".



Os discursos de Orbán estão repletos de referências históricas, como por exemplo quando ele pediu aos húngaros para que se comportassem com a mesma coragem de seus antepassados "na guerra contra o exército otomano".

A constituição húngara é singular na Europa, ela protege a "vida desde a concepção" e reza que só pode haver casamento entre um homem e uma mulher.

A mesma abordagem de Orbán tem sido adotada por outros membros ex-comunistas da UE. O Presidente da Polônia Andrzej Duda queixou-se dos "ditames" de Bruxelas para a aceitação de migrantes que fluem para o continente europeu oriundos do Oriente Médio e da África. Enquanto isso o líder do Partido Lei e Justiça da Polônia Jaroslaw Kaczynski, apelou "para um velho ponto de vista histórico, de acordo com o qual a Polônia é um baluarte do cristianismo no leste europeu e precisa salvar a Europa dela mesma".

"Desde a adoção do cristianismo em 966, a Polônia tem desempenhado inúmeras vezes o papel deAntemurale Christianitatis, bastião do cristianismo", segundo a revista Crisis Magazine.



"Esta maneira de pensar vem sendo reforçada desde a época em que a Polônia impediu o avanço dos mongóis na Europa na Batalha de Legnica em 1241 à salvação da Europa da colonização muçulmana, quando o Rei João III Sobieski derrotou os turcos em Viena em 1683. O comunismo não conseguiu sufocar o catolicismo polonês, quando João Paulo II foi eleito Papa em 1978, inspirando o surgimento do movimento Solidariedade, que desempenhou um papel crucial para o colapso do comunismo. Mais recentemente imigrantes poloneses têm preenchido espaços, até então vazios, na Europa Ocidental. Durante o Sínodo dos Bispos sobre a família, realizado no Vaticano, os bispos polacos foram os mais eloquentes defensores da tradição".



Robert Fico primeiro-ministro da Eslováquia, outro país europeu oriental, ressaltou que seu país irá aceitar apenas refugiados cristãos, salientando que "não há espaço" para o Islã em seu país e que "omulticulturalismo é uma ficção".

O presidente tcheco Milos Zeman também atacou o multiculturalismo. Até Socratis Hasikos, ministro do interior de Chipre, ressaltou que seu país aceitará refugiados, desde que sejam cristãos. Para muitos cipriotas, a linha que divide a ilha é a fronteira entre o cristianismo grego e o Islã turco, assim como o muro de Berlim era a fronteira entre a democracia e o comunismo.

Conforme observou a prestigiosa revista católica americana First Things, "na Hungria, Croácia e em outros países da Europa Oriental está em andamento uma revolução pró-família, pró-vida e a redescoberta das raízes cristãs".

Gostem ou não, é possível que a última chance de salvar as raízes da Europa esteja vindo de ex-membros comunistas da UE - aqueles que derrotaram o Império Otomano em 1699 e que agora se sentem ameaçados culturalmente pelos seus herdeiros.

Os cipriotas sabem bem mais sobre as consequências de um choque cultural do que os burocratas em Bruxelas sentados confortavelmente em seus escritórios. Pergunte a eles o que aconteceu com as igrejas no lado turco da ilha. Quantas ainda estão em pé?


Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.

Publicado no site do Gatestone Institute./ Midia Sem Máscara
Tradução: Joseph Skilnik

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