Uma camiseta de Lobão para Mercelo Freixo. E uma resposta desmoralizante para os que se dizem “jovens judeus de esquerda” do PSOL
por Reinaldo Azevedo
O cantor e compositor Lobão, também colunista da VEJA, é autor de uma frase-emblema destes dias, que define com precisão alguns líderes de esquerda, que virou camiseta: “PEIDEI, mas não fui eu”. Vou pedir ao meu amigo que envie uma a Marcelo Freixo, deputado estadual do Rio (PSOL) e queridinho de alguns artistas do miolo mole, que confundem seus trinados com pensamento político.
Publiquei aqui um vídeo em que o tal ex-deputado federal Babá aparece numa algazarra promovida pelo PSOL queimando a bandeira de Israel. Quem queima a bandeira de uma pais — muito especialmente quando não é um nativo do lugar —, não está apenas discordando, de modo episódico, das escolhas do governo de turno. O seu ódio se dirige a uma nação, a um povo. É por isso que os extremistas do Irã queimavam bandeiras americanas quando o presidente era George W. Bush e seguem queimando bandeiras com Barack Obama. Eles não estão contra esse líder ou aquele, mas contra os EUA. Quando alguém queima a bandeira de Israel, está, na pratica, pedindo o fim do país.
No mesmo vídeo, aparece Marcelo Freixo pedindo votos para Babá; recomenda que os eleitores o escolham como vereador. Ou seja: Freixo pede votos para um sujeito que, na prática, pede o fim do estado de Israel.
Na página de Freixo no Facebook, há um manifesto atribuído “a jovens judeus de esquerda” — parece ser, assim, um núcleo de jovens judeus do PSOL. O argumento mais forte que apresentam é este: a queima da bandeira e o apoio de Freixo ocorrem em eventos distintos.
DIGAMOS QUE SEJA MESMO VERDADE. E DAÍ? PARA MIM, NÃO MUDA ABSOLUTAMENTE NADA! FREIXO PEDIU VOTOS PARA UM SUJEITO QUE QUEIMA A BANDEIRA DE ISRAEL. E vamos ver como o PSOL costuma tratar o país.
Reproduzo abaixo, em vermelho, o texto atribuído aos tais “jovens judeus”.Os números e destaques que aparecem no manifesto são de minha lavra e servem para orientar a minha resposta.
1: Juventude Judaica tem ligação com Freixo
2: Mais uma vez a Veja ataca. E o faz de maneira vergonhosa. Reinaldo de Azevedo acusa sem nenhuma prova o Deputado Marcelo Freixo, do PSOL, de
3: participar de atos contra as posturas praticadas pelo estado de Israel e corroborar com a atitude da queima da bandeira deste país.
Em primeiro lugar,
4: o deputado não esteve presente aos atos que a Veja destaca e “muito menos aparece para meter as digitais”.
5: Isso é feito com uma compilação de dois vídeos diferentes com intenção de incriminar Marcelo Freixo.
Durante a campanha eleitoral para prefeito, em 2012,
6: esse vídeo veio a tona e o então candidato Marcelo Freixo fez questão de negar que participava dos atos e discordar publicamente da atitude do militante Babá.
7: E fez isso diversas vezes, sendo uma delas diante de 200 jovens judeus de esquerda que estavam felizes por ouvir alguém com capacidade para governar o Rio de Janeiro. Vários desses jovens não só deram seu voto ao deputado, como também foram as ruas fazer campanha.
Aos que imaginam que isso era estratégia eleitoral, Marcelo Freixo voltou a estar presente outras vezes com esses jovens judeus fora da campanha, estando presente em exposição sobre a vida do ex-primeiro ministro Itzhak Rabin, e
8: debatendo depois as semelhanças entre as ocupações das favelas pela polícia e a ocupação da Palestina por Israel. Isso mostra que o deputado sempre se mostrou disposto a debater a questão. De antissemita, Marcelo Freixo não tem nada.
9: Muitos de nós, judeus, temos muito orgulho de ter essa ligação com Marcelo Freixo. Continuamos apoiando-o em sua luta a favor dos direitos humanos, contra uma cidade entregue aos negócios e contra os ataques sofridos por ele pela grande mídia,
10: como a Rede Globo e esta reportagem vergonhosa da Veja, assinada por Reinaldo de Azevedo.
Quanto a acusação infundada de antissemitismo no PSOL, mais uma vez esta não se faz verdadeira.
11: Há uma discordância por parte das práticas do estado de Israel, com alguns em maior grau e outros em um grau menor. Assim como vários judeus fazem este debate de maneira profunda e também discordam destas práticas.
12: Vale ainda dizer que alguns membros desta juventude judaica são filiados e militantes do PSOL e não sofrem qualquer preconceito ou perseguição interna. Diante disso, pode-se dizer que o
13: PSOL tem tanto de antissemitismo quanto a Veja tem de transparência e qualidade.
Jovens Judeus de Esquerda
A resposta de Reinaldo Azevedo
1: “Juventude Judaica tem ligações com Freixo” uma pinoia! Alguns judeus jovens podem ter, mas não “a” juventude judaica.
2: “VEJA ataca uma ova!” Eu escrevi, não a VEJA. As minhas opiniões são as minhas opiniões, não as da revista. Até porque escrevo também na Folha e faço comentários na Jovem Pan. Se eu escrevesse o que pensa cada veículo, daria em cada um deles, uma opinião diferente sobre o mesmo assunto. Vão se instruir!
3: O ato de que participou Babá não era contra “posturas praticadas pelo estado de Israel” (aliás, “praticar posturas” é índice de analfabetismo…). Era contra Israel inteiro. Não mintam!
4: Freixo não esteve presente? E daí? Muda o quê? Pedir voto a um delinquente moral que queima a bandeira de Israel e estar presente ao ato, para mim, são a mesma coisa.
5: A “compilação dos dois vídeos” relata apenas o que aconteceu. Dois fatos estão ali:
a: Babá queimou a bandeira de Israel: fato!
b? Freixo pediu votos para Babá: fato!
6: Ele discordou de Babá? Só de Babá. Então leiam o item abaixo intitulado “Recado os supostos jovens judeus de esquerda do PSOL”
7: Ah, ficaram “felizes”, é? Acabo com essa “felicidade” indecorosa daqui a pouco — isso na hipótese de que esses jovens judeus psolentos de fato existam.
8: COMO??? Freixo, então, comparou a questão israelo-palestina à “ocupação das favelas”? É isso mesmo??? A delinquência intelectual assumiu essa proporção? E os sedizentes “jovens judeus” acharam isso bom???
9: É mesmo? Há “jovens judeus” que se orgulham da ligação com Freixo? Lamento duplamente: porque são jovens; porque são judeus (já falo mais a respeito).
10: Não é reportagem nem é da VEJA. É um post do Reinaldo Azevedo.
11: Sei: quando discordam, queimam a bandeira do país. Mas esperem mais um pouquinho…
12: Eu entendi errado, ou esses que se dizem “jovens judeus” estão se mostrando gratos por não serem discriminados? Não envergonhem a história de seus pais, de seus avôs, de seus bisavós, de seus ancestrais.
13: Isso, então, é reconhecimento da qualidade da VEJA.
Recado os supostos jovens judeus de esquerda do PSOL
O propósito de organizar uma “manifesto de jovens judeus” contra mim é um só: “Já que a gente é judeu (na hipótese de que esse grupo exista), e Reinaldo não é, então temos mais legitimidade para fazer do que ele para tratar da questão.
Nem a pau! A questão judaica, o antissemitismo, a existência de Israel, o Holocausto, todos esses temas são importantes demais para que sejam tratados apenas pelos judeus: SÃO TEMAS QUE DIZEM RESPEITO À HUMANIDADE. Se eles são assuntos judaicos o bastante para que Israel tenha o direito de se defender sem pedir autorização a ninguém — como qualquer país —, são também universais o bastante para que não-judeus, COMO ESTE CATÓLICO, reajam diante da indignidade.
Ah, então, vocês são judeus, e eu não? Não dou a mínima! Já recebi, digamos assim, o título de “judeu honorário” das comunidades de São Paulo e Rio — e não creio que seria diferente com outras, de outros estados — e, lamento por vocês, sinto-me mais preparado para defender a causa de Israel do que vocês. Façam o seguinte: conclamem a comunidade judaica a lotar, sei lá, o Morumbi e o Maracanã: aí apareçam lá com as teses do PSOL, e eu compareço com as minhas. Se a questão é saber com quem estão os judeus, eu topo o confronto. Comigo, não, violão! Eu não me intimido com esses faniquitos e correntes na Internet. E sou quem sou porque não me intimido.
Há um “núcleo de jovens judeus no PSOL”? Então concordam com esta mensagem, estampada na página do partido — e não recorram à canalhice de dar sumiço nela porque fotografei a imagem, com URL e tudo. Leiam (em vermelho). Segue-se a imagem.
Defendem a “Palestina Livre” e coisa e tal. Dá pano para manga, mas não entro nisso agora. O que realmente é estupefaciente é pedir que o Brasil rompa relações diplomáticas com a única democracia do Oriente Médio e com o único país em que árabes podem experimentar um regime democrático. O PSOL nunca pediu que o Brasil rompesse relações com a Síria, por exemplo. Ou com o Irã. E, neste momento, está empenhado em defender o governo Chávez, sabidamente antissemita. Vão se catar! Vão se instruir! Vão se informar! E parem de falar em nome dos judeus.
Será que a mensagem acima é uma exceção? Leiam esta outra maravilha (em vermelho), extraída da página do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), um dos líderes mais mais importantes do partido (dentro de sua barulhenta e violenta desimportância). Segue-se também a imagem.
Como se vê, o preclaro começa lamentando a criação do Estado de Israel. Ele acha que foi um infortúnio ter sido um brasileiro a presidir aquela sessão histórica da ONU. E também ele pede que o Brasil rompa relações comerciais com a única democracia do Oriente Médio.
O tal manifesto dos “jovens judeus de esquerda” vem assinado por “Maurício Goldberg Neto” — que, como se vê, tem avô, que teve avô antes dele etc. Você é Goldberg, rapaz, e eu sou Azevedo, mas não o considero mais habilitado do que eu para tratar da questão israelo-palestina.
Freixo pediu votos para um delinquente político que queima a bandeira de um país. Isso é apenas um fato. O PSOL, como partido, é hostil a Israel. Uma de suas mais importantes lideranças publica um texto lamentando a criação do estado judaico.
Existe “jovens judeus de esquerda” que se identificam com o PSOL??? É uma escolha. Até porque, moçada, quem disse que, por mecanismos muito complexos, que lidam com a ideia de uma culpa que não há (mas fazem o quê?), não possam existir judeus antissemitas? Existem! E, em certa medida, são os mais perversos porque, afinal de contas, usam a sua condição para tentar provar que sua visão de mundo é correta e isenta.
Pra cima de mim, não! Já vivi o bastante para cair nesse truque. E os judeus que conhecem a historia também.
Se ainda não entenderam, posso exibir fotografias e lhes refrescar a memória. Tenham um pouco mais de compostura histórica, se lhes falta a compostura moral.
Está respondido, “jovens judeus de esquerda”?
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