por Percival Puggina.
Após quase um ano de abençoado silêncio, rompendo longa tradição de frequentes edições trimestrais ou quadrimestrais, a assessoria da CNBB emitiu nova Análise de Conjuntura. Eu estava convencido de que a cúpula da entidade houvesse apontado a porta da rua à equipe, após a produção do texto relativo a agosto de 2014. Naquele documento, em incisiva defesa da candidatura presidencial governista, os redatores se enredaram em previsões sobre a realidade nacional que conseguiram ser tão falsas e enganosas quanto as da candidata petista. Para os assessores da Conferência, naqueles dias, a única coisa que fazia mal ao Brasil era o sombrio discurso da oposição e as previsões de um certo ente maligno, filho do demônio com a Madame Mim, que atende pelo nome de mercado.
Pois eis que as análises de conjuntura renascem das lixeiras. Foram, ao menos recicladas? Não. Vêm no mesmo tom de sempre, classificando como retrógrado tudo que significa progresso e de progressista todo retrocesso. Num ponto discordam do governo, mas não das posições históricas do petismo: colocam-se contra a responsabilidade fiscal e as medidas tomadas para reduzir o gasto do Estado. Querem jantar num Brasil à grega!
Afirmam haver no país um ambiente hostil aos direitos humanos. Esquecem, como tantos falsos defensores desses direitos, que os direitos humanos fundamentais - vida, liberdade e propriedade - são os mais furiosamente atacados por aqueles a quem defendem, homicidas, estupradores, sequestradores e assaltantes, de todo tipo e idade, de cujas vítimas não se ocupam. Sustentam que o desemprego cresce por conta de uma perversidade inerente à natureza do empreendedorismo e do capital privados, e não pelo desastre econômico e fiscal em que o governo, irresponsavelmente, lançou o país.
Acima e além de tudo isso, o que mais impressiona no texto, elaborado para iluminar o discernimento dos senhores bispos, é a contradição entre uma breve condenação à corrupção, com louvores ao jornalismo investigativo e o que vem depois: obcecada defesa dos réus e investigados nos processos do petrolão e da operação Lava Jato. Nisso, superam o próprio PT! Condenam o que chamam "politização do judiciário" e criticam a "condenação midiática". Falam em agressão aos princípios da "presunção de inocência" e do "devido processo legal". Renegam o instituto da delação premiada (objeto de "pressão sobre acusados") e falam em "rito sumário de condenação". Proclamam estar em curso uma ruptura de princípios jurídicos fundamentais. Só faltou dizerem que o juiz Sérgio Moro é que deveria estar preso. E arrematam: "Tais práticas, realizadas com os holofotes da grande mídia brasileira, transformam réus confessos em heróis". Inacreditável, leitor?
Quem são os autores dessa extraordinária peça? São quatro padres e quatro leigos. Dos primeiros nada sei exceto aquilo que assinaram. Dois dos leigos são membros da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, e quem é do ramo sabe, portanto, em que time jogam. Dos outros dois, um foi braço direito de Gilberto Carvalho na Secretaria de Articulação Social da Presidência da República e o outro foi candidato a deputado federal pelo PT do Distrito Federal em 2010. Assim está e permanece a CNBB, com concordância de muitos, leniência de outros tantos e discordância de poucos senhores bispos, tomada por dentro e por fora, para tristeza e constrangimento do mundo católico brasileiro.
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