sábado, fevereiro 13, 2016

O aborto, a esquerda e os cães de Pavlov.





por Heitor de Paola




A maior perda do homo sovieticus é sua separação do coletivo. (...) Sua alma está na sua participação na vida coletiva (...). Até mesmo a rebelião contra a sociedade soviética ocorre dentro de uma perspectiva coletiva (...). A ideologia unifica a consciência individual e une milhões de pequenos “Eus” num imenso “Nós”.
Alexander Zinoviev, em Homo Sovieticus.


Podemos ver esta característica descrita no romance satírico de Zinoviev em qualquer grupo de esquerdistas na atualidade, como também foi mostrado por Olavo de Carvalho (1), ressaltando, mais recentemente, que ‘(a) característica fundamental das ideologias é o seu caráter normativo, a ênfase no dever ser’”.

Os grupos ideológicos funcionam exatamente como um bando de cães de Pavlov, não por acaso o inventor da reflexologia, base da pseudo-psicologia que formou o Homo Sovieticus e por tabela os grupelhos comunistófilos que abundam (com trocadilho, please!) no Ocidente: basta alguém soar a campainha e todos começam a salivar selvagemente!

Eu poderia comentar sobre o re-lançamento do livro Mein Kampf, que suscitou dramas esquizóides terríveis numa esquerda que apoia a selvagem e assassina censura comunista, mas abomina a suavíssima censura da “ditadura militar” dos “anos de chumbo” – tão suave que fez a fortuna de alguns “artistas” e poetazinhos de meia tigela. De tanto defenderem falsamente a liberdade de expressão ficam sem saber o que fazer, pois ninguém toca a campainha para saberem quando salivar. Quase 77 anos depois do Pacto Molotov-Ribbentrop – que mostrou a irmandade entre comunistas e nazistas, causando imensas desagregações coletivas e individuais no seio das esquerdas, estas ainda tremem de pavor de tudo que se relaciona àquela época. O único que tentou romper o silêncio coletivo foi o indefectível Veríssimo, dizendo que a obra deveria ser obrigatoriamente vendida com um DVD que mostrasse a selvageria que gerou. Mas ninguém do “coletivo” o acompanhou! Vá que alguém da terrível “direita” sugerisse o mesmo para as obras de Lenin, Trotsky, Mao, Guevara e outros!

Já o aborto os une, o imenso “Nós” que absolve de tudo os pequenos “Eus” permitindo que defendam o maior genocídio da história da humanidade sem culpa e com a empáfia de quem pontifica sobre uma verdade maior, divina e incontestável. 

Assim Cora Rónai (O Globo, 04-02-2016, segundo caderno) ordena: 
“com a epidemia de zika e o aumento explosivo de microcefalia, o aborto tem que voltar a ser discutido! Quem sabe agora, diante do desastre e da gritaria tomem vergonha e tenência”, se referindo a “uma das classes políticas mais cínica e calhorda do mundo” que “foge de qualquer tema que possa desagradar aos religiosos”.

No dia seguinte (notem a sequência) abre-se a ação coletiva no mesmo jornal. Em editorial intitulado “Microcefalia põe o aborto na agenda de debates”, (O Globo, 05-02-2016) chega-se a inovar sugerindo um “aborto preventivo”, pois o prazo concedido pelo Conselho Federal de Medicina para a anencefalia – 12ª semana – é pequeno para a microcefalia, que pode ser diagnosticada tardiamente, com o feto mais desenvolvido. Então, segundo o editorialista deste pasquim, poder-se-ia “dar à gestante a opção de, tendo contraído o zika, decidir pelo aborto”. E termina, reconhecendo que a interrupção da gravidez é um tema “que suscita paixões”:

“O país está diante de um drama explosivo, que afetará um grupo potencialmente grande de pessoas, e precisa lhe dar uma resposta à altura”.

Sempre que esta gente fala de “discutir”, leia-se impor decisões segundo sua excelsa onisciência, a tal “resposta à altura”: abaixo o feto

O zika e a microcefalia, mesmo sem segura comprovação científica da relação entre as duas coisas, são as atuais campainhas que fazem os cães de Pavlov salivarem sangue de ódio! Todo o pretexto é válido para “discutir o aborto”. Dona Cora, de modo professoral, diz que “Interromper uma gravidez, em qualquer situação, é prerrogativa da mulher”. A ênfase é minha para mostrar que Dona Cora mente! Somente usa o zika e a microcefalia como pretextos para defender o que defende em qualquer caso: o “direito” da mulher sobre seu corpo! Garrincha perguntaria: já combinaram com os fetos?

Antes de prosseguir é preciso dizer que concordo com ela num ponto: a lei “permite aborto por estupro: não vem contradição nenhuma em defender o aborto em caso de estupro e em gritar que toda vida é sagrada. Mas, se é, que diferença há entre os fetos gerados por estupro e os fetos gerados por amor”? No meu entender, nenhuma! Este é um aspecto hipócrita da lei. Muitas mulheres não abortam após serem estupradas e cuidam de seus filhos com amor. Esta hipocrisia abre esta chance para críticas. O aborto só deveria ser permitido se houver risco de morte da mãe. Mesmo assim, ela deveria ter o direito de optar sobre qual vida salvar.

Sua mentira fica clara quando defende que 
“a maioria do dos países do Primeiro Mundo – aqueles que melhor resolveram as suas desigualdades econômicas e sociais – já reconheceu isso. O aborto é legal em toda a América do Norte, na Europa (com as significativas exceções da Polônia e da Irlanda)...”.

Serão apenas estes os critérios para galhardear aqueles países com maiúsculas ou existe outro critério oculto?

Qual gato escondido com rabo de fora, ela cita as significativas exceções dos raros países europeus onde a religião ainda tem papel significativo nas decisões. Este é o critério oculto: a falta de religião onde impera o laicismo pós-jacobino. Este é o Primeiro Mundo de Cora Rónai. Mas será que ela não vê que este mundo está desmoronando com a invasão muçulmana? E está desmoronando exatamente porque, tendo jogado no lixo o Cristianismo, sequer é capaz de perceber que está sofrendo uma invasão que se pretende religiosa (2), como se fosse apenas uma “migração” de pobres refugiados das guerras do leste. Pois são estes invasores que fazem “todo o tipo de chicana moral e religiosa para continuar mantendo as mulheres na posição de submissão em que foram mantidas ao longo dos séculos”, para citar dona Cora. Pior ainda, pois as mulheres que não tem o pacto dos Dhimmi (3) podem ser estupradas e escravizadas pelos invasores. O cativeiro e a escravização das mulheres dos infiéis que guerreiam contra o Islam só podem ocorrer na jihad e elas são consideradas sabaya (prisioneiras de guerra). Caso não haja uma guerra declarada contra o Islam, qualquer coisa pode ser definida como “islamofobia”.

É isto que vai ocorrer em breve no tão decantado “Primeiro Mundo” da Dona Cora, porque não há mais homens cristãos para defenderem suas mulheres e a sociedade. Os valores da masculinidade, incluindo o da defesa da mulher e da prole, são valores cristãos, portanto, quase inexistentes por lá. Não foi um homem de minissaia nem palhaços de nenhum hebdo que há 1300 anos derrotaram os muçulmanos na França. Charles Martel não portava um cartaz com os dizeres 'Bienvenue a Poitiers'; ele contava com guerreiros armados com lanças e espadas. Nem El Campeador (el-Cid para os Mouros) expulsou os muçulmanos de Espanha com belas frases, carinho e tolerância!

A ONU, o zika e o aborto
A súcia de comunistófilos só se manifesta quando sabe que tem apoio potente de fora. E a ONU – o ramo aparente do governo mundial - só se manifesta depois que seus porta-vozes (jornalistas, editorialistas, ONGs, blogueiros, etc.) já falaram. Assim, apenas um dia depois (notem ainda uma vez a sequência) ela falou: os governos que ainda (notem o ainda!) não liberaram o aborto, devem fazê-lo agora! Embora seu próprio órgão técnico (ma non troppo!), a OMS, ainda não tenha identificado as reais causas da microcefalia – há somente uma suspeita não confirmada ainda de ser causada pelo vírus zika – já impõe o aborto aos países que ainda o proíbem em alguns casos.

A sequência:
1. Um dos membros do coletivo se manifesta (geralmente alguém muito conhecido e respeitado em algum setor, não necessariamente naquele – Cora Rónai é respeitada como especialista em informática);
2. Outro membro, mais representativo do coletivo (os editorialistas do Globo) apoia;
3. O órgão máximo – aparente – do coletivo mundial, caso se aplique, fecha a comunicação.

O ainda:
É fundamental estabelecer o objetivo final, pois é a régua pela qual se medirá os ”avanços” e “retrocessos”. No caso em questão qualquer medida que facilite o aborto é um avanço e quem o apoia é lúcido e entende das necessidades do mundo moderno, do “empoderamento” da mulher (que raios é isto? Mais um anglicismo idiota, derivado de empowerment? O corretor do Word me diz que nem está dicionarizado) e dos “direitos” sobre seu corpo. Quem é contra o aborto e a favor da vida de todos os seres, inclusive dos fetos, é retrógrado, favorece os retrocessos, é reacionário, apóia a opressão das mulheres (será desempoderamento?), é religioso – que coisa horrível! -, quando não um canalha, corrupto, cínico e hipócrita, pois não obedece ao “deve ser”!

O príncipe jordaniano Zeid Ra’ad Al Hussein, ele mesmo suspeito de impedir o direito humano básico à livre expressão, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, clama pela revogação de leis e políticas que restringem o acesso aos serviços de saúde sexual e reprodução que não estejam em desacordo com osstandards internacionais (leiam-se aborto e o dever-ser ideológico). “Certamente a expansão do zika é o maior desafio para os governos da América Latina”. “Os serviços de saúde devem ser claros, de modo a informar as mulheres a respeito de sua dignidade, garantia de sua privacidade, e que forneçam respostas às suas necessidades e perspectivas”. “Leis e políticas que restringem seu acesso a estes serviços devem ser (lembram do Olavo?) urgentemente revistos, seguindo as obrigações de direitos humanos, assegurando o direito à saúde e sua prática (leiam: direito ao aborto)”. Nos países afetados pelo zika que têm leis restritivas aos "direitos reprodutivos da mulher" (ufa, não aguento mais: aborto!) tais leis devem ser revistas.

As organizações internacionais que controlam a ONU, o Council on Foreign Relations e o Interamerican Dialogue, também já se manisfestaram, e na mesma linha (poderia ser diferente?). O primeiro publicou um artigo com o título Zika Virus and Reproductive Health Access in Latin América.

O Dialogue republicou um artigo de uma de suas mais importantes membros, Jacqueline Pitanguy, Zika and the Right to Abortion

"Brazil has some of the most restrictive abortion laws in the world. (...) The common denominator of those laws is the recognition that women have the right to the respect and protection of their physical and emotional integrity, and that the rights of the unborn are not absolute and do not supersede the fundamental rights of the woman.If Brazilian law followed the example of countries with more liberal abortion laws, women who are in a panic over carrying a fetus with microcephaly would, based on their right to reproductive autonomy and the emotional integrity of themselves and their families, be able to decide whether to carry or interrupt their pregnancy. Such decisions should be made outside the parameters of moral and criminal condemnation and in the context of respect for human dignity". (A publicação original no Globo é um pouco diferente).

A verdadeira razão para estas organizações serem a favor do aborto - e também a favor da agenda gayzista - é diminuir o crescimento populacional. Mas isto fica para um próximo artigo.

Notas:
(1) A Nova Era e a Revolução Cultural
(2) Já deixei claro em outras oportunidades que não considero o Islam uma religião, mas uma ideologia totalitária e coletivista.
(3) Dhimmi: status de minorias não-islâmicas vivendo na Ummah (Dar al-Islam, Terra da submissão a Allah), submetidas à shari’a e pagando impostos elevados. O infiéis que não são dhimmi são os que vivem na Terra dos Infiéis (Dar al-Kufr), a Europa, a América, etc., todos os lugares onde não há Islam ou este é minoritário. (Mais informações em Subsídios para entender o Islam.)


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