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terça-feira, novembro 08, 2016

Noite do Terror, Noite da Caça aos Judeus, Noite das Sinagogas Queimadas, Reichskristallnacht.






Ao longo dos anos assistimos, presenciamos ou deixamos de lado a lembrança do "ponto de não retorno" para os judeus na Europa, a especificamente mal nominada Noite dos Cristais ou Noite dos Cristais Quebrados. É um nome alegórico, até mesmo romântico e especificamente inadequado para a compreensão do que aconteceu. Noite do Terror seria o mais adequado. Noite da Caça aos Judeus, seria um bom título. Noite das Sinagogas Queimadas, seria o especificamente correto.

Quando eu era pequeno imaginava Berlim e suas ruas de cristal... O nome se refere às vitrines quebradas e nenhuma delas era de cristal. Eram de vidro como qualquer vitrine. O termo em alemão Reichskristallnacht - A Noite dos Cristais do Império - foi criado pela chancelaria nazista e pela sua agência oficial de notícias. Até hoje se escuta por aí: "E a luz do luar sobre os cacos das vitrines destruídas fazia-os brilhar e tilintar como a luz num candelabro de cristal..." Bizarro, mas escrito por sobreviventes. Acho lamentável que o adotemos sem críticas até hoje.

Se formos perguntar por aí, a maioria dos judeus que acha que sabe o que foi, vai dizer que aconteceu na Alemanha. Só que o Reich, o "Império" Alemão naquele novembro de 1938 já incluía a Áustria e a Tchecoslováquia, anexadas alguns meses antes. E o maior pogrom da história - ataque a judeus pela população e autoridades - foi simultâneo nos três países. A propagação do conceito de que foi só na Alemanha é dos próprios sobreviventes do Holocausto. No Brasil este conceito é bem arraigado pois recebemos uma boa quantidade de judeus alemães a partir de 1933 e após a guerra. E eles não sabiam realmente o que tinha havido nos outros países.

Existe a versão alemã: um judeu polonês na França atirou num secretário da embaixada a alemã e ele veio a falecer - no dia seguinte a população revoltada atacou os judeus e foi controlada pelo governo.

Mas o pano de fundo é outro. Esse ataque estava preparado e aguardando um momento político adequado para acontecer. Mais cedo, pouco menos de um mês antes, foi feito um recadastramento obrigatório de todos os judeus, seus comércios, indústrias e imóveis comunitários e residenciais. Esta "Lista de Hitler", se tornou a lista para o ataque da Noite do Terror. Alguns dias antes foi proibida a posse de armas por judeus, que deveriam ir imediatamente às delegacias entregar suas armas sob pena de prisão. E assim desarmou-se qualquer tentativa de reação.



Os jornais do dia 9, com nota da United Press do dia 8, mostram um esquecido ensaio para o dia 10. Poucos jornais publicaram esta nota e a falta de reação ao balão de ensaio deve ter dado o sinal branco (os nazis não usavam sinal verde, por causa dos daltônicos) para a Noite do Terror. No dia 8 de novembro manifestantes fizeram várias demonstrações contra os judeus na cidade de Kassel, depredaram as lojas de judeus, quebraram suas vitrines, invadiram a sinagoga e destruíram seu interior. Balão de ensaio mesmo.

O momento político era adequado e o ataque a Von Rath o secretário da embaixada foi no timming exato. Alguns historiadores acham que Rath foi vítima dos nazis e foi morto no hospital para aproveitar o caso. Os Estados Unidos estavam em eleição presidencial, Ataturk morria na Turquia, o Japão conseguia vitórias decisivas na China e no dia 10 de novembro estavam programadas as cerimônias pelos 20 anos do final da Primeira Guerra Mundial, com a derrota alemã. Vale dizer que o dia do armistício foi varrido dos noticiários e substituído pelo ataques aos judeus. Não esqueça que Hitler tinha na sua cabeça demente que os judeus eram os culpados pela derrota alemã na WW1.

E você não deve jamais ter ouvido falar, mas na tarde do dia 9 as potências ocidentais rejeitam uma proposta de Partilha da Palestina em um Estado Judeu e um Estado Árabe, proposta que seria retomada 9 anos e 6 milhões de mortos depois.

Certamente você nunca ouviu falar da reação da mídia em relação a Noite do Terror. Eu garanto a você: foi total e avassaladora! Qual foi o resultado disso na opinião pública e nas comunidades judaicas? Praticamente nenhum.

Os números da Noite do Terror você vê ao longo do artigo. O importante aqui é compreendermos o que as pessoas comuns, os empresários, políticos e formadores de opinião perceberam sobre os fatos e porque a reação não aconteceu, ou aconteceu de forma ineficaz.
A mídia dominante de 1938 era o jornal. E era um jornal muito maior, consistente, veloz e contundente que os jornais atuais. A maioria das agências de notícias que existem hoje, já atuavam há anos naquele momento. Além do telégrafo, havia fotos enviadas por rádio. E os jornais não a meia-noite como atualmente. Os jornais de maior circulação tinham três ou até quatro edições ao longo do dia e as notícias iam mudando, sendo atualizadas e dando lugar a novas - não eram cópias da primeira edição. Havia jornais que chegavam às ruas no movimento de ir para o trabalho, no almoço e para o movimento de volta do trabalho. Alguns eram apenas vespertinos. Então o que vemos hoje como atualização ao longo do dia na internet, havia ao longo do dia em papel. Algo que acontecia na guerra entre Japão e China era publicado com foto no mesmo dia nos Estados Unidos. A notícia dos rincões do mundo circulava praticamente na mesma velocidade atual.

A diferença de fusos horários permitiu que os jornais da costa leste (NY) dos EUA e no Brasil, já saíssem com as manchetes de primeira página na manhã do dia 10 (antes dos jornais alemães) e os jornais do centro e costa oeste (LA) já com matérias densas e completas na manhã do dia 10. A Inglaterra e a França só foram noticiadas em seus vespertinos e mais densamente no dia 11.



Não é aqui que vou alinhar os títulos das matérias. Basta sabermos que estavam na primeira página de todos os jornais com dezenas de notas curtas dos correspondentes da United Press (ainda não era UPI) e da Associated Press (já era AP), além da agência alemã com a visão oficial. UP e AP cobriam até mesmo os discursos de Hitler, publicados em todo o mundo. As notas publicadas no Jornal do Brasil e na Folha de São Paulo não eram as mesmas dos jornais americanos. Aqui no Brasil se noticiou até mesmo uma gama maior de fatos que nos EUA.
Até o dia 15 de novembro o assunto não saiu das primeiras páginas com o tema de "aumenta a perseguição aos judeus na Alemanha." A especificação das principais sinagogas destruídas (com fotos), das prisões de populações inteiras (com fotos) como a de todos os homens judeus de Munique, a destruição sistemática de cada um dos negócios e comércios de judeus, a ordem para os bombeiro não apagarem os incêndios, estava tudo nos jornais para todos lerem e verem.

O que não havia naquele momento, e a maioria das pessoas sequer compreende esse número nos dias de hoje, é que TODAS as sinagogas da Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia tinham sido destruídas. Só na Alemanha foram cerca de 200. E esse é o número que não dá para compreender. Vivemos em cidades imensas com 25 ou 40 sinagogas no Brasil. Algumas comunidades judaicas estão em cidades com uma ou três. Então como compreender que havia 200 na Alemanha? E destas 200 a maior parte era enorme. Eram sinagogas de um quarteirão. Mas havia. E o governo nazi sequer se vangloriou sobre este número preferindo se calar a respeito.

Os judeus dos três países não puderam contar ao mundo o que aconteceu realmente, pois nos cinco dias seguintes houve uma avalanche de leis contra os judeus. Fechamento de todos os jornais, revistas e editoras. Recolhimento dos aparelhos de rádio. Fechamento de todas as intuições dirigentes comunitárias (como federações e beneficentes) com prisão de todos os dirigentes comunitários. No dia 12, o governo nazi estipulou uma multa, na verdade um confisco de um bilhão de marcos a serem pagos imediatamente pelos judeus "por danos causados a sociedade alemã devido ao incêndio espontâneo das sinagogas." Não era mais um número de hiperinflação. Notícias de jornal afirmam que esse valor - que foi realmente pago - significava 25% de toda a posse financeira dos judeus alemães (contas, propriedades, aplicações). Mas é preciso levar em conta que no dia 12 os negócios e as empresas não existiam mais e o patrimônio das sinagogas também não. Assim esse bilhão é muito maior que parece.

Então em cinco dias os judeus ficaram sem sinagogas (incluindo praticamente todos os rolos de torah, livros e objetos litúrgicos e religiosos), sem acesso à informação que não fosse do Estado, sem produzir informação, sem lideranças, sem rabinos, sem homens em muitas cidades, sem trabalho, sem renda, sem rumo. Veja bem! Não são cristais quebrados! São vidas estilhaçadas!

O número de mortos no pogrom só na Alemanha foi de 91 judeus. Dos presos no dia 9-10 e enviados para Dachau (em Munique) mais de 2.400 morreram. O número total de judeus presos e enviados para campos de concentração, segundo os historiadores foi de 30.000, mas segundo os jornais da época foram 56.000 - havia cerca de 320 mil judeus na Alemanha naquela momento. Os negócios de judeus atacados e saqueados na Alemanha chegaram a 7.500 lojas e 29 lojas de departamentos. Não havia mais industrias pertencentes a judeus.
Da comunidade judaica alemã de 1933 com meio milhão de pessoas na Alemanha, mais de 115 mil judeus saíram da Alemanha nos meses seguintes. A imigração de judeus alemães e austríacos ficou aberta até setembro de 1941 pouco antes da invasão da União Soviética.

E aí vem outro drama. Plenamente noticiada a perseguição sistemática dos judeus na Alemanha, nenhum país abriu suas portas para a imigração. Manchete do Jornal do Brasil de 17 de novembro de 1938: "Estuda-se um plano de imigração imediatados judeus alemães para o Brasil". Isso nunca aconteceu. Pelo contrário: Inglaterra e Estados Unidos fecharam porta e estabeleceram quotas insuficientes e que mesmo assim nunca foram preenchidas. Para um judeu sair da Alemanha até 1941 ele precisa mostrar o visto de entrada em outro país. Se o tivesse, não teria maiores problemas. Países como o Brasil e Argentina não alteraram sua política de imigração que aceitava trabalhadores rurais. Mas a sociedade judaica alemã era urbana e isso decretou sua morte.

Este momento após a Noite do Terror também marca a imigração dos judeus para Xangai e é preciso explicar isso. Na guerra contra a China, os japoneses invadiram Xangai e ocuparam sua área industrial e de classe populacional mais baixa. Pararam por ali porque a outra parte da cidade era controlada pela Inglaterra e uma terceira parte menor, pela França. Os judeus que foram da Alemanha para Xangai, quase 20 mil, foram para parte inglesa... Você acha? Negativo. Foram para aparte japonesa. Os japoneses não exigiam visto e aceitavam qualquer imigrante que desembarcasse, sem perguntas. Já o lado inglês e francês bateram suas portas aos judeus. Nestas áreas havia judeus ingleses e russos. Posteriormente, quando o Japão compôs o Eixo com Alemanha e Itália e invadiu o lado "ocidental" de Xangai, os judeus ingleses, franceses e russos foram presos como "cidadãos de países inimigos" e os judeus alemães não foram presos na condição estranha de "cidadãos de país aliado." Os a japoneses em Xangai prezavam principalmente os profissionais judeus da área de saúde com ótima formação europeia. A liberdade era tão grande que havia pelo menos cinco jornais semanais judaicos editados em alemão.

Com a perspectiva histórica correta, sabemos que a intenção nazista inicial era a de que os judeus fossem embora da Alemanha e para isso lhes foi retirada o sustento e a cidadania. Cerca da metade foi. Se os outros países não tivessem fechado suas portas este judeus alemães poderia ter sobrevivido. Mas não se pode especular se o destino dos judeus soviéticos e poloneses teria sido diferente.

E a reação dos comunidades judaicas? Não podemos imaginar que em 1938 elas existiam de fato como instituições consolidadas. Aqui no Brasil os imigrantes russos e soviéticos do final do século 19 e início do 20 ainda estavam lutando para consolidar o que estabeleceram. HAvia uma luta comunitária real e desgastante entre os judeus comunistas e os sionistas. Financeiramente estamos falando basicamente de pequenos comércios e de prestamistas. São pessoas que em sua maioria mal falam o português. A mídia judaica importante no Brasil era em yidish e alemão. Foram proibidos pelo governo Vargas apenas em 1940. O programa de rádio Hora Yidish foi fundado exatamente em 1938. Não olhe para 1938 e imagine redes de lojas, construtoras, financistas, especuladores, investidores, poder econômico, político e social. Não havia nada disso. Não havia como exercer pressão. E nos EUA não era tão diferente assim apesar do maior volume, sem contar que era o país da segregação racial completa entre brancos e negros, e os judeus eram brancos. Em meu arquivo possuo uma foto de um bar de estrada entre Baltimore e Washington, caminho do poder, com uma placa: "atendemos negros e judeus" - isso deve bastar para compreender o real "poder" judaico americano na época. As comunidades sequer tinham órgãos políticos ou voz para se expressar publicamente.

Hoje, grupos que são contra os judeus acham que as lideranças judaicas no Brasil tem que pressionar Israel para "liberar" os palestinos, imaginando que há esta ligação e que há essa relevância, quando não há. As lideranças não conseguem pressionar nem pelo que precisam, muito menos pelo que estas pessoa querem nos impor, com todo o poder social acumulado até hoje. Imaginar que em 1938 os judeus poderiam pressionar Vargas ou até mesmo Hilter é imaginar muito errado.

O governo americano e o inglês foram velozes e incisivos falando contra Hitler e pelos judeus. Mas olhe o discurso destes governos hoje, sobre os temas atuais, e você percebe que o que os estadistas falam realmente não capaz de produzir efeitos reais.

Os grandes jornais americanos são especificamente isentos e alienados em relação ao nazismo. Falam de "her Hitler" em 1938 como falam da Angela Merkel hoje. Não há sequer um editorial de opinião condenando o que se fazia contra os judeus e contra os fatos do dia 10, ou contra o rearmamento alemão. Se hoje achamos que nossos jornais publicam o noticiário internacional com "copiar&colar" as notas prontas das agências internacionais, naquela época era exatamente igual. Não há elaboração das notícias. Só há colagem. Já os jornais do interior sentam o cacete no nazismo. São jornais do cinturão cristão americano e bem engajados na denúncia do nazismo e em favor dos judeus, mas sem influência real nas decisões de estado.

Já os jornais brasileiros além de publicar as notas das agências, são simpáticos ao nazismo, principalmente o Jornal do Brasil, peça fundamental no Rio de Janeiro, capital da república. Há uma preferência na localização da publicação das notas oficiais do governo nazista. Mas não se pode acusar o JB de não ter noticiado o que se passava com os judeus. Ao longo de novembro chegou a criar uma coluna fixa sobre a perseguição aos judeus na Alemanha, várias vezes com uma página inteira de pequenas notas de agências. Quem quis ler, leu. A comunidade judaica não guarda em sua memória esta leitura e hoje é complicadíssimo ter acesso aos exemplares do Idishe Press daqueles dias e saber o que era tratado nele. Pelo abismo da língua, poucos devem ter lido.




Em relação à Folha de São Paulo (então Folha da Manhã) a situação é pior. No dia 10 em sua primeira página a notícia importante é a morte do Von Rath. Mas no dia as coisas são restabelecidas. Além de divulgar bem as notas, ela publicou um editorial para o leitor paulista entender o que era "o judeu" e porque ele estava sendo perseguido na Alemanha. Esse editorial praticamente justifica a perseguição e vai de "Judeu Errante em pátria" para lá. Hoje, seria enquadrado como um editorial antissemita. Nos jornais da época não encontrei cartas de leitores que falassem sobre o nazismo, indicando que certamente eram censuradas e não escolhidas.

Infelizmente, hoje a noite, por todos os países será repetida a lenga-lenga da "Noite dos Cristais" com seu dados e informações suavizadas e descontextualizadas. Se você chegou até aqui, recebeu uma informação melhor.


- artigo publicado originalmente em novembro de 2013

José Roitberg - 
Coordenador do Vaad Hashoa Brasil - Comitê do Holocausto Brasil
Yad Vashem

sábado, novembro 09, 2013

A Noite do Terror, A noite dos Cristais, Reichskristallnacht.



por José Roitberg(*).




Ao longo dos anos assistimos, presenciamos ou deixamos de lado a lembrança do "ponto de não retorno" para os judeus na Europa, a especificamente mal nominada Noite dos Cristais ou Noite dos Cristais Quebrados. É um nome alegórico, até mesmo romântico e especificamente inadequado para a compreensão do que aconteceu. Noite do Terror seria o mais adequado. Noite da Caça aos Judeus, seria um bom título. Noite das Sinagogas Queimadas, seria o especificamente correto.

Quando eu era pequeno imaginava Berlim e suas ruas de cristal... O nome se refere às vitrines quebradas e nenhuma delas era de cristal. Eram de vidro como qualquer vitrine. O termo em alemão Reichskristallnacht - A Noite dos Cristais do Império - foi criado pela chancelaria nazista e pela sua agência oficial de notícias. Até hoje se escuta por aí: "E a luz do luar sobre os cacos das vitrines destruídas fazia-os brilhar e tilintar como a luz num candelabro de cristal..." Bizarro, mas escrito por sobreviventes. Acho lamentável que o adotemos sem críticas até hoje.

Se formos perguntar por aí, a maioria dos judeus que acha que sabe o que foi, vai dizer que aconteceu na Alemanha. Só que o Reich, o "Império" Alemão naquele novembro de 1938 já incluía a Áustria e a Tchecoslováquia, anexadas alguns meses antes. E o maior pogrom da história - ataque a judeus pela população e autoridades - foi simultâneo nos três países. A propagação do conceito de que foi só na Alemanha é dos próprios sobreviventes do Holocausto. No Brasil este conceito é bem arraigado pois recebemos uma boa quantidade de judeus alemães a partir de 1933 e após a guerra. E eles não sabiam realmente o que tinha havido nos outros países.

Existe a versão alemã: um judeu polonês na França atirou num secretário da embaixada a alemã e ele veio a falecer - no dia seguinte a população revoltada atacou os judeus e foi controlada pelo governo.

Mas o pano de fundo é outro. Esse ataque estava preparado e aguardando um momento político adequado para acontecer. Mais cedo, pouco menos de um mês antes, foi feito um recadastramento obrigatório de todos os judeus, seus comércios, indústrias e imóveis comunitários e residenciais. Esta "Lista de Hitler", se tornou a lista para o ataque da Noite do Terror. Alguns dias antes foi proibida a posse de armas por judeus, que deveriam ir imediatamente às delegacias entregar suas armas sob pena de prisão. E assim desarmou-se qualquer tentativa de reação.

Os jornais do dia 9, com nota da United Press do dia 8, mostram um esquecido ensaio para o dia 10. Poucos jornais publicaram esta nota e a falta de reação ao balão de ensaio deve ter dado o sinal branco (os nazis não usavam sinal verde, por causa dos daltônicos) para a Noite do Terror. No dia 8 de novembro manifestantes fizeram várias demonstrações contra os judeus na cidade de Kassel, depredaram as lojas de judeus, quebraram suas vitrines, invadiram a sinagoga e destruíram seu interior. Balão de ensaio mesmo.


O momento político era adequado e o ataque a Von Rath o secretário da embaixada foi no timming exato. Alguns historiadores acham que Rath foi vítima dos nazis e foi morto no hospital para aproveitar o caso. Os Estados Unidos estavam em eleição presidencial, Ataturk morria na Turquia, o Japão conseguia vitórias decisivas na China e no dia 10 de novembro estavam programadas as cerimônias pelos 20 anos do final da Primeira Guerra Mundial, com a derrota alemã. Vale dizer que o dia do armistício foi varrido dos noticiários e substituído pelo ataques aos judeus. Não esqueça que Hitler tinha na sua cabeça demente que os judeus eram os culpados pela derrota alemã na WW1.

E você não deve jamais ter ouvido falar, mas na tarde do dia 9 as potências ocidentais rejeitam uma proposta de Partilha da Palestina em um Estado Judeu e um Estado Árabe, proposta que seria retomada 9 anos e 6 milhões de mortos depois.

Certamente você nunca ouviu falar da reação da mídia em relação a Noite do Terror. Eu garanto a você: foi total e avassaladora! Qual foi o resultado disso na opinião pública e nas comunidades judaicas? Praticamente nenhum.

Os números da Noite do Terror você vê ao longo do artigo. O importante aqui é compreendermos o que as pessoas comuns, os empresários, políticos e formadores de opinião perceberam sobre os fatos e porque a reação não aconteceu, ou aconteceu de forma ineficaz.
A mídia dominante de 1938 era o jornal. E era um jornal muito maior, consistente, veloz e contundente que os jornais atuais. A maioria das agências de notícias que existem hoje, já atuavam há anos naquele momento. Além do telégrafo, havia fotos enviadas por rádio. E os jornais não a meia-noite como atualmente. Os jornais de maior circulação tinham três ou até quatro edições ao longo do dia e as notícias iam mudando, sendo atualizadas e dando lugar a novas - não eram cópias da primeira edição. Havia jornais que chegavam às ruas no movimento de ir para o trabalho, no almoço e para o movimento de volta do trabalho. Alguns eram apenas vespertinos. Então o que vemos hoje como atualização ao longo do dia na internet, havia ao longo do dia em papel. Algo que acontecia na guerra entre Japão e China era publicado com foto no mesmo dia nos Estados Unidos. A notícia dos rincões do mundo circulava praticamente na mesma velocidade atual.

A diferença de fusos horários permitiu que os jornais da costa leste (NY) dos EUA e no Brasil, já saíssem com as manchetes de primeira página na manhã do dia 10 (antes dos jornais alemães) e os jornais do centro e costa oeste (LA) já com matérias densas e completas na manhã do dia 10. A Inglaterra e a França só foram noticiadas em seus vespertinos e mais densamente no dia 11.

Não é aqui que vou alinhar os títulos das matérias. Basta sabermos que estavam na primeira página de todos os jornais com dezenas de notas curtas dos correspondentes da United Press (ainda não era UPI) e da Associated Press (já era AP), além da agência alemã com a visão oficial. UP e AP cobriam até mesmo os discursos de Hitler, publicados em todo o mundo. As notas publicadas no Jornal do Brasil e na Folha de São Paulo não eram as mesmas dos jornais americanos. Aqui no Brasil se noticiou até mesmo uma gama maior de fatos que nos EUA.
Até o dia 15 de novembro o assunto não saiu das primeiras páginas com o tema de "aumenta a perseguição aos judeus na Alemanha." A especificação das principais sinagogas destruídas (com fotos), das prisões de populações inteiras (com fotos) como a de todos os homens judeus de Munique, a destruição sistemática de cada um dos negócios e comércios de judeus, a ordem para os bombeiro não apagarem os incêndios, estava tudo nos jornais para todos lerem e verem.

O que não havia naquele momento, e a maioria das pessoas sequer compreende esse número nos dias de hoje, é que TODAS as sinagogas da Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia tinham sido destruídas. Só na Alemanha foram cerca de 200. E esse é o número que não dá para compreender. Vivemos em cidades imensas com 25 ou 40 sinagogas no Brasil. Algumas comunidades judaicas estão em cidades com uma ou três. Então como compreender que havia 200 na Alemanha? E destas 200 a maior parte era enorme. Eram sinagogas de um quarteirão. Mas havia. E o governo nazi sequer se vangloriou sobre este número preferindo se calar a respeito.

Os judeus dos três países não puderam contar ao mundo o que aconteceu realmente, pois nos cinco dias seguintes houve uma avalanche de leis contra os judeus. Fechamento de todos os jornais, revistas e editoras. Recolhimento dos aparelhos de rádio. Fechamento de todas as intuições dirigentes comunitárias (como federações e beneficentes) com prisão de todos os dirigentes comunitários. No dia 12, o governo nazi estipulou uma multa, na verdade um confisco de um bilhão de marcos a serem pagos imediatamente pelos judeus "por danos causados a sociedade alemã devido ao incêndio espontâneo das sinagogas." Não era mais um número de hiperinflação. Notícias de jornal afirmam que esse valor - que foi realmente pago - significava 25% de toda a posse financeira dos judeus alemães (contas, propriedades, aplicações). Mas é preciso levar em conta que no dia 12 os negócios e as empresas não existiam mais e o patrimônio das sinagogas também não. Assim esse bilhão é muito maior que parece.

Então em cinco dias os judeus ficaram sem sinagogas (incluindo praticamente todos os rolos de torah, livros e objetos litúrgicos e religiosos), sem acesso à informação que não fosse do Estado, sem produzir informação, sem lideranças, sem rabinos, sem homens em muitas cidades, sem trabalho, sem renda, sem rumo. Veja bem! Não são cristais quebrados! São vidas estilhaçadas!

O número de mortos no pogrom só na Alemanha foi de 91 judeus. Dos presos no dia 9-10 e enviados para Dachau (em Munique) mais de 2.400 morreram. O número total de judeus presos e enviados para campos de concentração, segundo os historiadores foi de 30.000, mas segundo os jornais da época foram 56.000 - havia cerca de 320 mil judeus na Alemanha naquela momento. Os negócios de judeus atacados e saqueados na Alemanha chegaram a 7.500 lojas e 29 lojas de departamentos. Não havia mais industrias pertencentes a judeus.
Da comunidade judaica alemã de 1933 com meio milhão de pessoas na Alemanha, mais de 115 mil judeus saíram da Alemanha nos meses seguintes. A imigração de judeus alemães e austríacos ficou aberta até setembro de 1941 pouco antes da invasão da União Soviética.

E aí vem outro drama. Plenamente noticiada a perseguição sistemática dos judeus na Alemanha, nenhum país abriu suas portas para a imigração. Manchete do Jornal do Brasil de 17 de novembro de 1938: "Estuda-se um plano de imigração imediatados judeus alemãe para o Brasil". Isso nunca aconteceu. Pelo contrário: Inglaterra e Estados Unidos fecharam porta e estabeleceram quotas insuficientes e que mesmo assim nunca foram preenchidas. Para um judeu sair da Alemanha até 1941 ele precisa mostrar o visto de entrada em outro país. Se o tivesse, não teria maiores problemas. Países como o Brasil e Argentina não alteraram sua política de imigração que aceitava trabalhadores rurais. Mas a sociedade judaica alemã era urbana e isso decretou sua morte.

Este momento após a Noite do Terror também marca a imigração dos judeus para Xangai e é preciso explicar isso. Na guerra contra a China, os japoneses invadiram Xangai e ocuparam sua área industrial e de classe populacional mais baixa. Pararam por ali porque a outra parte da cidade era controlada pela Inglaterra e uma terceira parte menor, pela França. Os judeus que foram da Alemanha para Xangai, quase 20 mil, foram para parte inglesa... Você acha? Negativo. Foram para aparte japonesa. Os japoneses não exigiam visto e aceitavam qualquer imigrante que desembarcasse, sem perguntas. Já o lado inglês e francês bateram suas portas aos judeus. Nestas áreas havia judeus ingleses e russos. Posteriormente, quando o Japão compôs o Eixo com Alemanha e Itália e invadiu o lado "ocidental" de Xangai, os judeus ingleses, franceses e russos foram presos como "cidadãos de países inimigos" e os judeus alemães não foram presos na condição estranha de "cidadãos de país aliado." Os a japoneses em Xangai prezavam principalmente os profissionais judeus da área de saúde com ótima formação europeia. A liberdade era tão grande que havia pelo menos cinco jornais semanais judaicos editados em alemão.

Com a perspectiva histórica correta, sabemos que a intenção nazista inicial era a de que os judeus fossem embora da Alemanha e para isso lhes foi retirada o sustento e a cidadania. Cerca da metade foi. Se os outros países não tivessem fechado suas portas este judeus alemães poderia ter sobrevivido. Mas não se pode especular se o destino dos judeus soviéticos e poloneses teria sido diferente.

E a reação dos comunidades judaicas? Não podemos imaginar que em 1938 elas existiam de fato como instituições consolidadas. Aqui no Brasil os imigrantes russos e soviéticos do final do século 19 e início do 20 ainda estavam lutando para consolidar o que estabeleceram. HAvia uma luta comunitária real e desgastante entre os judeus comunistas e os sionistas. Financeiramente estamos falando basicamente de pequenos comércios e de prestamistas. São pessoas que em sua maioria mal falam o português. A mídia judaica importante no Brasil era em yidish e alemão. Foram proibidos pelo governo Vargas apenas em 1940. O programa de rádio Hora Yidish foi fundado exatamente em 1938. Não olhe para 1938 e imagine redes de lojas, construtoras, financistas, especuladores, investidores, poder econômico, político e social. Não havia nada disso. Não havia como exercer pressão. E nos EUA não era tão diferente assim apesar do maior volume, sem contar que era o país da segregação racial completa entre brancos e negros, e os judeus eram brancos. Em meu arquivo possuo uma foto de um bar de estrada entre Baltimore e Washington, caminho do poder, com uma placa: "atendemos negros e judeus" - isso deve bastar para compreender o real "poder" judaico americano na época. As comunidades sequer tinham órgãos políticos ou voz para se expressar publicamente.

Hoje, grupos que são contra os judeus acham que as lideranças judaicas no Brasil tem que pressionar Israel para "liberar" os palestinos, imaginando que há esta ligação e que há essa relevância, quando não há. As lideranças não conseguem pressionar nem pelo que precisam, muito menos pelo que estas pessoa querem nos impor, com todo o poder social acumulado até hoje. Imaginar que em 1938 os judeus poderiam pressionar Vargas ou até mesmo Hilter é imaginar muito errado.

O governo americano e o inglês foram velozes e incisivos falando contra Hitler e pelos judeus. Mas olhe o discurso destes governos hoje, sobre os temas atuais, e você percebe que o que os estadistas falam realmente não capaz de produzir efeitos reais.

Os grandes jornais americanos são especificamente isentos e alienados em relação ao nazismo. Falam de "her Hitler" em 1938 como falam da Angela Merkel hoje. Não há sequer um editorial de opinião condenando o que se fazia contra os judeus e contra os fatos do dia 10, ou contra o rearmamento alemão. Se hoje achamos que nossos jornais publicam o noticiário internacional com "copiar&colar" as notas prontas das agências internacionais, naquela época era exatamente igual. Não há elaboração das notícias. Só há colagem. Já os jornais do interior sentam o cacete no nazismo. São jornais do cinturão cristão americano e bem engajados na denúncia do nazismo e em favor dos judeus, mas sem influência real nas decisões de estado.

Já os jornais brasileiros além de publicar as notas das agências, são simpáticos ao nazismo, principalmente o Jornal do Brasil, peça fundamental no Rio de Janeiro, capital da república. Há uma preferência na localização da publicação das notas oficiais do governo nazista. Mas não se pode acusar o JB de não ter noticiado o que se passava com os judeus. Ao longo de novembro chegou a criar uma coluna fixa sobre a perseguição aos judeus na Alemanha, várias vezes com uma página inteira de pequenas notas de agências. Quem quis ler, leu. A comunidade judaica não guarda em sua memória esta leitura e hoje é complicadíssimo ter acesso aos exemplares do Idishe Press daqueles dias e saber o que era tratado nele. Pelo abismo da língua, poucos devem ter lido.




Em relação à Folha de São Paulo (então Folha da Manhã) a situação é pior. No dia 10 em sua primeira página a notícia importante é a morte do Von Rath. Mas no dia as coisas são restabelecidas. Além de divulgar bem as notas, ela publicou um editorial para o leitor paulista entender o que era "o judeu" e porque ele estava sendo perseguido na Alemanha. Esse editorial praticamente justifica a perseguição e vai de "Judeu Errante em pátria" para lá. Hoje, seria enquadrado como um editorial antissemita. Nos jornais da época não encontrei cartas de leitores que falassem sobre o nazismo, indicando que certamente eram censuradas e não escolhidas.

Infelizmente, hoje a noite, por todos os países será repetida a lenga-lenga da "Noite dos Cristais" com seu dados e informações suavizadas e descontextualizadas. Se você chegou até aqui, recebeu uma informação melhor.

(*)José Roitberg - 
Coordenador do Vaad Hashoa Brasil - Comitê do Holocausto Brasil
Yad Vashem

quinta-feira, novembro 15, 2012

Ehr Kumt – Ele Está Chegando











por Herman Glanz 


Entrevista para a Hora Israelita de Porto Alegre – Por ocasião dos 74 anos da Noite dos Cristais – 09 e 10/11/1938.


Em 2 de maio de 1933, Coelho Netto, o grande escritor brasileiro, publicava no Jornal do Brasil do Rio de Janeiro, então Capital da República: “Ter-se-ão calado, para sempre, as grandes vozes heroicas que entoaram os hinos da libertação judaica, quando Moisés, desafiando a força faraônica, conclamando o povo o levou através das águas vermelhas para as veigas abundantes do país prometido?”. Na mesma ocasião, 1933, outro escritor brasileiro, Humberto de Campos escrevia: “O mundo inteiro levanta-se, neste momento, em favor de Israel, ameaçado na Alemanha pelo antissemitismo de Hitler.”


Em março de 1933, chamamos a atenção: Hitler assumiu o poder em 30 de janeiro de 1933; março, portanto, era pouco mais de um mês depois da ascensão de Hitler. Em março de 1933, saía no jornal “O Estado de São Paulo”, conhecido hoje como o “Estadão”, artigo de Paris, da lavra de Francesco Nitti, sobre a situação dos judeus na Alemanha. Nitti, judeu italiano, foi Primeiro-Ministro da Itália logo depois da Primeira Guerra, fugindo após a subida de Mussolini. Escrevia Nitti:


“Em Berlim, os maiores estabelecimentos comerciais são de judeus; os maiores de todos são os da casa Tietze. Visitei as maiores lojas de Londres, Nova Iorque e Paris, mas nada me impressionou tanto como a grandiosa organização Tietze. Um pretexto? A imprensa nazista , de acordo com o governo, publicou um documento do qual resultava que Tietze subsidiava e mantinha o partido comunista. (…). A Casa Tietze imediatamente declarou que o documento era falso. Mas a declaração de nada serviu e a polícia mandou invadir e saquear as lojas.”


Mas em 1938, um incidente nos faz lembrar a “Noite dos Cristais”, “Kristhalnacht”. Em 28 de outubro de 1938, HERSCHEL GRYNSZPAN, de 17 anos, que vivia em Paris, soube que seus pais, que estavam em Hanover, na Alemanha, naquele dia foram expulsos, juntamente com 20.000 judeus poloneses, e mandados para um Campo de Concentração. Não aceitando a indiferença, procurou o embaixador alemão em Paris, sendo encaminhado ao 3° conselheiro nazista, Ernst von Rath, e atira nele, que veio a falecer em 7 de novembro. Na noite de 9 para 10 de novembro, os nazistas deslancham um pogrom contra os judeus, destruindo sinagogas e quebrando as vitrinas de vidro das lojas judaicas – daí os cacos de cristais espalhados pelas ruas – a Noite dos Cristais.


Já se quebravam lojas de judeus em 1933, um mês depois da chegada de Hitler. Mas a indiferença anestesiava as reações. Falando em 1938, no Ano Novo judaico de 5771, 2010, o Rabino Schlomo Lewis, de Atlanta, EUA, pronunciou o seu Sermão, que muitos acham o Sermão do Século. Conta o próprio Rabino, que ao saber de sua visita à Lituânia, pouco antes, para ver os locais onde viveram seus parentes, um dos congregantes se aproximou e relatou:


“Recordo um sábado de 1938, quando Vladimir Jabotinsky veio à sinagoga Choral.”(…). “Quando Jabotinky veio, pronunciou um sensacional sermão naquela manhã de sábado e ainda tenho as suas palavras nos meus ouvidos. Ele subiu ao púlpito, olhou para nós com olhos cheios de fogo e gritou: “EHR KUMT, YIDN, FARLAST AYER SHTETL” – (ele está chegando, judeus, abandonem sua cidadezinha.) Pensávamos que estávamos em segurança na Lituânia, livres de Hitler. Vivíamos lá, lá crescemos durante mil anos, mas Jabotinsky estava certo – sua advertência era profética. Nós conseguimos sair, mas muitos não.”


Quando observamos movimentos hostis confundindo as coisas, com passeatas “previstas” e queima de bandeiras de Israel no fim do mês, programadas para Porto Alegre, devemos pensar e reagir: Ehr Kumt. Podem até ocorrer depredações. Não podemos deixar que se usem as liberdades para eliminá-las, para abolir os direitos dos outros e para destilar o velho ódio antissemita. Isto é preocupante. Observam-se movimentos semelhantes na Europa e nos EUA. Em Toulouse, na França, por duas vezes judeus foram atacados e mortos. Lá compareceu o Primeiro-Ministro de Israel, Netanyahu, com o Presidente francês, socialista Hollande, para reverenciar as vítimas judaicas. Ocorrem manifestações e ataques, dessacralizações de cemitérios judaicos, pichações de sinagogas, em vários países da Europa e até nos EUA. Protestos podem ser feitos, passeatas ordeiras, mas os próprios organizadores devem ser contra os usos indevidos dos protestos.


Os próprios organizadores e os Partidos políticos que os apoiam devem repudiar, com toda a clareza, sem ambiguidades, o desrespeito aos diferentes, só porque o são diferentes. E esses grupos e os Partidos políticos associados são contra porque querem apoiar um único lado, mas não podem matar e destruir o outro, tal qual na “Noite dos Cristais”. Que os Partido políticos, que se aproveitam dos protestos, se declarem contra a discriminação e o antissemitismo e contra queima das bandeiras. Do contrário, EHR KUMT. Não podemos permitir a pergunta de Coelho Netto: “Ter-se-ão calado, para sempre, as grandes vozes heroicas que entoaram os hinos da libertação judaica?”

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Sobre o "Fórum Social Mundial Palestina Livre" apoiado abertamente por Tarso Genro, governador em exercício do Rio Grande do Sul, que hospeda o ativista assassino Césare Battisti, Reinaldo Azevedo comprou uma briga ao reprovar a realização de um Fórum abertamente anti-Israel:

-Pois é… O governador Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul, decidiu apoiar oficialmente um troço chamado “Fórum Social Mundial Palestina Livre”.


A coisa pegou fogo na Internet. Há um documento oficial sobre o evento. Ele deixa claro que se trata de um acontecimento contra o estado de Israel e que, na prática, justifica as ações terroristas. De tal sorte o governo do estado se envolveu com a coisa que o endereço para inscrição traz a marca “rs.gov”. Tarso tem origem judaica — sua mãe era judia. Isso não o protege necessariamente de tentações antissemitas. Não peço licença a judeus ou a não judeus para defender a existência daquele estado — ou outra ideia qualquer. Sustento que o governador está financiando uma atividade que fere o que está disposto na Constituição brasileira.
Muito bem. Publiquei ontem o post, e o governador resolveu reagir com uma nota oficial “de esclarecimento”. Eu a reproduzo em vermelho e comento em azul. “Democratas” como Tarso Genro sempre testam os meus melhores instintos.
Nota de esclarecimento

Nesta terça-feira (13), o governador Tarso Genro conversou, longamente, com o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, sobre o Fórum Social Palestina Livre, que será realizado em Porto Alegre no final deste mês. 
Tarso Genro assegurou que eventuais posições que possam ser manifestadas neste evento só serão apoiadas pelo Governo do Rio Grande do Sul se estiverem norteadas pela posição do Governo Brasileiro sobre o conflito entre israelenses e palestinos no Oriente Médio.
Lottenberg fala em nome de um grupo com ligações específicas com o tema do debate, e compreendo que possa ser, assim, moderado… Como não sou judeu, não pode pesar sobre mim a suspeita de parcialidade. Estou mais livre para sustentar: a pauta do fórum é anti-Israel; os palestrantes são anti-Israel; as reivindicações, entendidas como consenso do povo palestino (o que é mentira!), são anti-Israel. Logo, o evento é contra um país e contra um povo.

Tarso quer enganar a quem? Não sei se Lottenberg, sendo judeu, ficou satisfeito com o “esclarecimento”. Eu, que não sou, não fiquei. O tal fórum tem um documento de referência. Na prática, justifica o terrorismo. Ora, ninguém dá apoio oficial a um fórum como esse, com essa pauta, para afirmar que não se compromete com eventuais “posições” ali defendidas. Então Tarso Genro financia um evento que prega o boicote internacional a Israel e depois diz que a sua posição é a do governo brasileiro?
Ao presidente da Conib, Tarso esclareceu, ainda, que o apoio ao evento foi aprovado por se tratar de uma atividade vinculada ao Fórum Social Mundial, sem compromisso com as posições políticas que ali serão sustentadas pelos diversos integrantes do fórum.
Isso é conversa para boi dormir. O Fórum, como deixa evidente a sua pauta, não se limita a defender a existência do estado palestino. Vai muito além disso. Por que Tarso Genro não financia, só a título de debate, um seminário que pregue, deixe-me ver…, o fim dos petistas? O que lhes parece? Ele daria o dinheiro e as condições materiais para o encontro, mas sem se comprometer com as conclusões do seminário… Trata-se de uma justificativa covarde para uma ação covarde.
As posições do Governo do Rio Grande do Sul, que serão reafirmadas durante o evento, estão baseadas nos seguintes princípios: 
- Apreço às comunidades israelense e palestina, que convivem em harmonia no Rio Grande do Sul, e colaboração no debate para promover uma paz negociada e justa na região, com cessação completa das hostilidades;
Eis o humorista Tarso Genro. Insisto: a pauta do evento deixa claro que não se vai discutir a harmonia ou desarmonia das comunidades “israelense” e “palestina” do Rio Grande do Sul. Aliás, eu ignorava, até a existência dessa nota, que houvesse “israelenses e palestinos” no estado em número tão considerável. Talvez a nota tente se referir a judeus e árabes…
- Reconhecimento do direito do povo palestino de estruturar seu Estado soberano e reconhecimento do direito à existência do Estado de Israel;
Um dos itens da pauta é a chamada “volta dos refugiados”… Na forma como vem a reivindicação, isso significa, por si, negar “o direito à existência do Estado de Israel”.
- Aplicação dos acordos de Oslo e apoio às decisões das Nações Unidas sobre o conflito.

As Nações Unidas rejeitam as ações terroristas, que são incorporadas pelo “documento de referência” do encontro.
Na conversa entre o governador e o presidente da Conib, ficou claro que qualquer manifestação que desconsidere os princípios acima citados não será endossada pelo Governo do Rio Grande do Sul. As posições expostas por Tarso Genro são as mesmas do Governo Federal. Ele propôs que as comunidades gaúchas de palestinos e israelenses reúnam-se com o governador no Palácio Piratini, como já ocorrera quando este era prefeito de Porto Alegre, num evento marcante de amizade, respeito e solidariedade entre os povos.

É patético! Reitero que ignorava a existência de “gaúchos” pertencentes às comunidades “israelense” e “palestina”… Refere-se especificamente a imigrantes? O próprio Lottenberg, que eu saiba, é um brasileiro… judeu! De toda sorte, os conflitos relevantes entre judeus israelenses e árabes palestinos não se dão no Rio Grande do Sul, mas em Israel. Nos países árabes, diga-se, os judeus costumam encontrar poucas dificuldades porque quase não há judeus em países árabes. Não sei se fui muito sutil…
Tarso, então, financia um encontro escancaradamente contra Israel e depois chama todo mundo para um bate-papo? Oferece recursos para que se defendam as ações do Hamas — é o que está na pauta — e depois convida os dois lados para dividir latkes com kafta no Palácio Piratini?
Eu não preciso fazer média com o senhor Tarso Genro e não preciso comparecer à sua festinha, que encobre uma pauta sangrenta. As palavras fazem sentido. E eu prezo o sentido das palavras. O senhor Tarso Genro, ao financiar o fórum anti-Israel, está desrespeitando a Constituição da República Federativa do Brasil. E deveria ser levado à barra dos tribunais por isso. 

Por Reinaldo Azevedo





quarta-feira, novembro 09, 2011

KRISTALLNACHT - O COMEÇO DO HOLOCAUSTO.





A Noite dos Cristais ou Reichskristallnacht.
A data: 9 de novembro de 1938
Onde?: Em diversos locais da Alemanha e Áustria.
O alvo: Sinagogas, habitações e lojas de judeus.





Para o regime nazista o Kristalnacht, foi a resposta ao assassinato de Ernst von Rath, um diplomata alemão em Paris, por Herschel Grynszpan, um judeu polaco, condenado múltiplas vezes a deportação da França.
A pedido de Adolf Hitler, Goebbels instiga os dirigentes do NSDAP e os SA a atacarem os judeus. Heydrich organiza as violências que deviam visar as lojas de judeus e as sinagogas. Numa única noite, 91 judeus foram mortos e cerca de 25.000 a 30.000 foram presos e levados para campos de concentração. 7500 lojas judaicas e 1600 sinagogas foram reduzidas a escombros.
As ordens determinavam que os SA deviam estar vestidos à paisana, a fim que o movimento parecesse ser um movimento espontâneo de uma população furiosa contra os judeus. Na verdade, as reações da população foram pouco favoráveis, pois os alemães não apreciavam a ideia de que se ataque ou se tomassem a propriedade alheia. Os incêndios também chocaram uma parte da população, mas não o fato de que os judeus tivessem sido atacados fisicamente.
A alta autoridade nazista cobrou uma multa aos judeus de um bilhão de marcos pelas desordens e prejuízos dos quais eles foram as vítimas.
O nome Kristallnacht deriva dos cacos de vidro (vitrinas das lojas, vitrais das sinagogas, entre outros) resultantes deste episódio de violência racista.

Um relato verídico e de família:


"Na minha família meu tio relata que quando menino ele visualizou as ultimas horas de vida de meu avô sendo enterrado em uma vala ainda vivo.

O detalhe: Ele foi obrigado a cavar a própria vala, jogar um cadáver dentro após arrastar o cadáver na neve, descalço, e ser atirado junto a vala com o cadáver.

Eu prefiro sobre todo este acontecimento lembrar o exemplo do Lubavitcher Rebe, de como ele encoraja a nação de Israel a superar isto.

O Lubavitcher Rebe é amplamente reconhecido como alguém que desempenhou um papel singular na definição do Judaísmo pós-Holocausto.

Em seus escritos e discussões sobre o tema, o Rebe rejeitou todas as explicações teológicas para o Holocausto. Que conceito maior - diria o Rebe - e que maior desumanidade - pode haver que dar um "motivo" para a morte e tortura de milhões de homens, mulheres e crianças inocentes? Podemos presumir que alguma explicação, suficientemente simples para encaixar-se nos limites finitos da razão humana, possa explicar um horror de tal magnitude? Podemos apenas concordar que existem coisas que estão além do alcance finito da mente humana.

Ecoando as palavras de seu sogro, o Rebe dizia: "Não cabe a mim justificar D'us nisso tudo. Somente o próprio D'us pode responder porque Ele permitiu que acontecesse". E a única resposta que aceitaremos - disse o Rebe - é a imediata e completa Redenção que para sempre expulsará o mal da face da terra e trará à luz a bondade intrínseca e a perfeição da criação de D'us.

Para aqueles que argumentam que o Holocausto invalida a existência de D'us ou Sua providência sobre nossa vida, o Rebe diz: "Pelo contrário - o Holocausto refuta decisivamente qualquer possível fé numa moralidade baseada no humano. Na Europa de antes da Guerra, era o povo alemão que ditava a cultura, progresso científico e moralidade filosófica. E foi este mesmo povo que perpetrou as atrocidades mais vis que se conhecem na história humana! Pelo menos o Holocausto nos ensinou que uma existência civilizada e moral somente é possível por meio da crença e da aceitação da Divina autoridade".

O Rebe também declarou: "Nosso ultraje, nosso incessante desafio a D'us por aquilo que ocorreu - é em si mesmo o mais poderoso atestado de nossa crença n'Ele e nossa fé em Sua bondade. Porque se não tivéssemos esta fé, por que ficaríamos ultrajados? As voltas cegas do destino? O arranjo aleatório que compõe o universo? É somente porque acreditamos em D'us, porque estamos convencidos de que existe o certo e o errado, e que o certo deve, e certamente, triunfará, que clamamos, como fez Moshê: 'Por quê, meu D'us, fizeste mal a Teu povo?'"

Se permitirmos que a dor e o desespero nos desencorajem de criar uma nova geração de judeus com um forte comprometimento com seu Judaísmo, então a "solução final" de Hitler se cumprirá, D'us não o permita.

Mas se reconstruírmos o que foi destruído, se criarmos uma geração orgulhosa e comprometida com seu Judaísmo, então teremos triunfado" Razak Baruch.