quinta-feira, janeiro 17, 2013

Os Irmãos, Israel, os judeus, os macacos e os porcos.


Os Irmãos, Israel, os judeus, os macacos e os porcos.

por Caio Blinder



Denunciar antissemitismo é tarefa contínua. Bom quando o jornal mais importante do mundo, o New York Times, faz parte do esforço. Reconfortante quando a denúncia está na primeira página (edição da terça-feira). E é algo explosivo quando o alvo da denúncia é a Irmandade Muçulmana do presidente egípio Mohamed Mursi. Basta desta bobagem que a imprensa liberal fecha os olhos para os perigos que acompanham as boas oportunidades da Primavera Árabe.

O artigo lista virulentos comentários antissemitas e antiocidentais de Mursi, em 2010, nos tempos em que ele era dirigente da Irmandade Muçulmana, do gênero “devemos acalentar nossos filhos e netos” no ódio aos judeus e ao sionismo. Há também os insultos do estilo que os judeus são “descendentes de macacos e porcos”, algo dito de forma trivial em mesquitas sauditas e em outras partes do mundo islâmico.

É uma postura que alimenta a narrativa em Israel sobre a impossibilidade de apostar em melhores perspectivas na região, além de acelerar de forma vertiginosa a direitização no país. A menos de uma semana das eleições, com o avanço da extrema direita, o primeiro-ministro Benjamin Netanhyau, no contexto, se torna um pilar de moderação. Em Israel, há vozes que não ficam a dever à retórica de Mursi, como a de um líder dos colonos judeus na Cisjordânia, Moshe Feiglin. Certa vez, ele disse que “nós não podemos ensinar um macaco a falar e nós não podemos ensinar um árabe a ser democrático”.

Ir no arquivo das declarações de Mursi (está tudo documentado em vídeo) faz parte de um debate no qual se levantam questões sobre os esforços do presidente egípcio para se apresentar justamente como uma força moderadora e estabilizadora no exterior, em particular na questão palestina e na preservação do acordo de paz Egito-Israel.

E aqui uma interesssante contribuição para o debate na imprensa egípcia. É um artigo publicado no jornal independente Al-Masry Al-Youm (que tem um site em inglês). Adaptei de forma marota o título do artigo para ser o da minha coluna. O autor, Mohamed Hosny, ressalta que no seu núcleo a Irmandade Muçulmana é antijudaica e a animosidade é anterior, obviamente, à criação do estado de Israel.

No entanto, no decorrer de sua história, a Irmandade Muçulmana alternou esta virulência antissemita com posições pragmáticas no conflito entre Israel e o mundo árabe. Aliás, a retórica antissemita não é privilégio de grupos assumidamente islâmicos no Egito. Tal retórica faz parte da cultura política do país e para quem tem saudades da ditadura Mubarak não custa lembrar que este discurso permeava o espaço público naqueles tempos, como válvula de escape.

Hosny acredita que não devemos nos impressionar tanto com alguns “gestos retóricos”, pois a Irmandade Muçulmana tem uma “longa história de zigue-zagues e pragmatismo”. O New York Times também elabora sobre esta questão de pragmatismo e que o presidente inclusive é visto hoje por muitos no seu país como um “colaboracionista” do Ocidente, o que neste momento impediria um recuo, mas arremata que “as declarações passadas de Mursi podem ainda levantar questões sobre como ele poderia agir no futuro se o Egito não estivesse limitado por sua dependência financeira, relativa fraqueza militar e uma rede de alianças ocidentais”.

A família egípcia merece irmãos melhores do que estes da Irmandade. Em termos estratégicos, o dilema para o Ocidente, a destacar os EUA, é até que ponto faz sentido cultivar Mursi, o dono da casa, na ausência de melhores alternativas. E na terça-feira, na esteira da reportagem do New York Times, a Casa Branca não teve alternativa e precisou “condenar energicamente” a retórica antissemita do presidente egípcio.


PUBLICADO NA RUA JUDAICA DE 11/01/2013
por Osias Wurman

Entrevistas gravadas em 2010 mostram o presidente do Egito, Mohamed Morsi, chamando sionistas de 'sanguessugas' e descendentes de porcos





O MEMRI – Instituto de Pesquisas de Mídia do Oriente Médio publicou esta semana uma série de entrevistas dadas pelo Presidente do Egito, Mohammed Morsi, dois anos antes de sua eleição. As entrevistas, que foram postadas na internet em 2010, descrevem os sionistas como "sanguessugas" e descendentes de macacos e porcos, e pede "resistência militar" contra Israel, e que se cortem todos os laços com o Estado judeu. 

Nas imagens, descritas pelo MEMRI como "arquivamento" de entrevistas que foram originalmente publicadas on-line em 2010, Morsi declara: "Os sionistas não têm direito à terra da Palestina. Não há lugar para eles na terra da Palestina. O que eles tomaram antes de 1947-48 constitui saque, e o que eles estão fazendo agora é uma continuação desta pilhagem. De maneira alguma reconhecemos a sua Linha Verde. A terra da Palestina pertence aos palestinos, e não aos sionistas ". 

Desde que venceu as primeiras eleições democráticas, em junho passado, após a destituição do antigo presidente Hosni Mubarak, Morsi tem atenuado de forma significativa sua retórica anti-Israel. A ascensão de Morsi ao poder provocou temores entre israelenses sobre o futuro do tratado de paz 

No entanto, suas garantias de que iria respeitar as obrigações internacionais do Egito -, bem como a nomeação de um novo embaixador em Tel Aviv, em outubro, depois de quase um ano de ausência - foi uma forma de aliviar as tensões. 

O presidente egípcio também trocou correspondência com o presidente israelense, Shimon Peres, em duas ocasiões nos últimos meses - uma vez, em julho, pouco depois de chegar ao pode, e novamente ao entregar a Peres as credencias do novo embaixador. 

"Grande e bom amigo", escreveu Morsi na carta-protocolo entregue a Peres, "estamos desejosos de manter e reforçar as relações cordiais que existem entre os nossos dois países, eu indiquei o Sr. Atef Sayed Mohamed Salem El Ahl para ser nosso embaixador extraordinário e plenipotenciário ". 

Em ambos os casos, Morsi recebeu duras críticas de membros da Irmandade Muçulmana sobre as correspondências. 

No entanto, Israel tem visto as atitudes de Morsi mudar nestes breves meses no cargo. 

O Egito retirou seu embaixador em novembro depois que Israel lançou a Operação Pilar de Defesa contra as organizações te rroristas da Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas. Um mês antes, um vídeo mostrou Morsi pronunciando a palavra "Amém" depois de um momento de oração no Cairo, onde o pregador pediu a Deus para "destruir os judeus e os seus apoiadores." 

Desde então, tem sido grande o silêncio de Morsi sobre Israel, apesar de ajudar a mediar um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, dando fim aos oito dias de conflito em que a Força Aérea Israelense realizou centenas de ataques contra alvos militares em Gaza, e os terroristas dispararam cerca de 1.500 foguetes contra comunidades israelenses. 

Em entrevistas destacadas pelo MEMRI em 2010, Morsi é visto descartando o processo de paz entre israelenses e palestinos, considerando o acordo um desperdício de tempo. 


"Essas negociações são um desperdício de tempo e oportunidades. Os sionistas ganham 
tempo e mais oportunidades, enquanto os palestinos, os árabes e os muçulmanos perdem tempo e oportunidades, e não ganham nada com isso. Podemos ver como esse sonho se dissipou. Este sonho sempre foi uma ilusão...A Autoridade Palestina foi criada pelos sionistas e os inimigos americanos com o único propósito de se opor à vontade do povo palestino e seus interesses ", disse Morsi à TV al-Quds libanês. "Nenhuma pessoa sensata pode esperar algum progresso nesta pista. Ou [aceitar] os sionistas e tudo o que eles querem, ou então é guerra. Isto é o que esses ocupantes da terra da Palestina sabem, que atacam os palestinos, estes senhores da guerra, os descendentes de macacos e porcos ".
Fonte: Rua Judaica.

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