por Ipojuca Pontes
"Perdei toda esperança, ó vós que entrais."
Dante Alighieri
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No seu poema clássico “A Divina Comédia”, Dante Alighieri, o gigante da literatura universal, sai à procura de Beatriz, sua musa, símbolo da perfeição, da pureza e da verdade revelada. Tendo o poeta Virgílio como guia, o pai da língua italiana atravessa o Inferno, o Purgatório e chega ao Paraíso, vivenciando, na dramática trajetória, o que os estudiosos consideram a “árdua transição da servidão das paixões para a liberdade e a perfeição moral”. Na ambiciosa obra, de tessitura poética complexa, são múltiplos os planos de leitura, entre eles, o histórico, o moral, o alegórico e o místico.
Nas três partes que formam o poema, a do Inferno, pelo rigor e minúcia da descrição, é tido como o canto melhor acabado. Nele, o poeta empreendeu esforço colossal e deu asas ao seu enorme poder de imaginação. Em resumo, a travessia do Inferno, além de dolorosa, intimida e assombra. De fato, toda a mitologia que hoje circunscreve o universo demoníaco está contida neste canto de leitura obrigatória, difícil e cada vez mais atual.
O Inferno de Dante, um tenebroso abismo em forma de cone, compreende nove círculos e o Anteinferno (ou Vestíbulo). Os cinco primeiros círculos formam o Alto Inferno. Os quatro restantes compõem o Baixo Inferno, em cujas profundezas impera Lúcifer, glutão insaciável, barbudo, narinas frementes, rosto vermelho de ira e fonte inesgotável do Mal. Em todos os círculos agonizam legiões de almas penadas, na reverberação de gritos, lamentos e imprecações, padecendo sob as labaredas do fogo eterno e de tempestades de gelo, mergulhados em tachos de lavas fumegantes, atormentados todos pelo odor do enxofre e pelo acicate de tridentes pontiagudos manejados sem descanso por mil demônios.
No oitavo círculo – o que mais desperta atenção – dez fossos isolam em padecimentos os sedutores, os aduladores, os simoníacos, os fraudulentos, os hipócritas, os ladrões, os maus conselheiros, os fundadores de seitas e os falsários – em suma, a caterva que todos nós por essas bandas conhecemos bem.
Com efeito, há uma enorme semelhança entre o Inferno de Dante e o inferno atiçado no Brasil pelo Dr. Lula, o Anjo Decaído trombeteado pelos comunistas de todos os matizes. Não seria exagero afirmar que o país triturado pelo PT é um fac-símile do Inferno percorrido pelo poeta florentino e, em certos aspectos, ainda mais doloroso.
Duvida? Bem, basta olhar em derredor: em todo o espaço brasileiro (círculos) prevalecem a violência, o medo, o sofrimento e a aflição. Nas cidades poluídas, em cada esquina, calçada, ponto de ônibus, saída de banco, etc., o sujeito pode ser assaltado, vilipendiado, esfaqueado e levar pelos cornos um tiro definitivo. Correntes de lama contaminada levam de roldão vidas, municípios, rios e mares. Enchentes tempestuosas e secas inclementes massacram populações inteiras em meio ao desamparo da Providência. No ar, nuvens negras de mosquitos viróticos provocam o desespero de mães deserdadas e crianças indefesas, com muito choro e sem vela. Nas praças públicas, açoitados pelo desemprego, pela miséria e pelo vicio da droga, multidões de mendigos errantes (“população de rua”) agonizam entre impropérios e mútuas agressões. E no vestíbulo do inferno tupiniquim, as almas penadas que padecem no limbo e procuram escapar e produzir, são castigadas pelos impostos sufocantes para usufruto do vosso Lúcifer caboclo e sua estupenda legião de demônios.
Há, no entanto, que se fazer uma ressalva na simétrica relação entre o Inferno de Dante e o Inferno de Lula. Por aqui, ao contrário dos que padecem no oitavo círculo dantesco, a caterva de ladrões, hipócritas, fraudulentos, corruptos em geral, ministros conselheiros e ideólogos fundadores de seitas etc. etc., não só não é penitenciada, mas elevada à condição de uma legião de querubins no eterno gozo de manjares regados a amantes clandestinas e taças de “Romanée Conti”.
PS – Muita boa gente acredita que logo chegará o dia do Juízo Final e Lúcifer e seus demônios serão punidos e nos deixarão em paz. Pode ser. Mas, no nosso caso, conhecendo as figuras diabólicas instaladas nas profundezas do Planalto, acredito mais na legenda que Satã mandou colocar no portal do seu Inferno, epígrafe do presente artigo.
Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.
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