por Mario Guerreiro(*).
O nome da aludida moeda é muito conhecido: é totalitarismo, regime que se opõe ao democrático caracterizado pelo pluripartidarismo – ao menos bipartidarismo – pela rotatividade do poder, eleições diretas e/ou indiretas, pelas liberdades civis, etc.
Ora, nenhuma dessas quatro feições essenciais da democracia pode ser encontrada nos regimes comunista e nazista. Fascismo é o nazismo italiano, ou melhor: o nazismo é que é o fascismo alemão, se considerarmos que Mussolini implantou seu regime totalitário em 1922 e Hitler implantou o seu em 1933.
Na primeira fase da Segunda Guerra (1939-1940), a Alemanha nazista e a União Soviética mantinham o Pacto Molotov-Ribbentrop, um acordo de não-agressão assinado em agosto de 1939 estabelecendo dez anos de paz entre os dois países. Me engana que eu gosto!
Era da conveniência de ambos, uma vez que eles estavam ganhando tempo. Hitler já tinha em mente a invasão da Polônia, coisa feita em setembro do mesmo ano, mas ainda não estava preparado para a invasão da URSS. Stalin menos ainda para enfrentar a poderosa máquina de guerra alemã.
Quando a Alemanha venceu a Copa do Mundo, numa partida final contra a Inglaterra, um repórter perguntou a Margaret Thatcher como se sentia ela com a Alemanha derrotando a Inglaterra no seu esporte nacional. A Dama de Ferro respondeu na bucha: “Não tem importância. Nós já derrotamos duas vezes os alemães no seu esporte nacional!” [But with a little help of Uncle Sam!]
Recentemente, ficamos sabendo que o pacto Molotov-Ribbentrop era algo mais do que um tratado de mera não-agressão, era na realidade uma partilha da Europa ocidental para Hitler e da Europa oriental para Stalin.
Finda a guerra, o Führer (em português: o Líder e em italiano : il Duce) não ficou com nada, porém O Feito de Aço (em russo: Stalin) não só ficou com toda a sua parte como também com boa parte do território alemão ironicamente chamado de Deutsche Demokratische Republik / República Democrática Alemã, que era de fato alemã, mas não era uma república e de democrática nada tinha!
Um quarto de sua população era composto de membros policialesca da Stasi (forma contraída de Ministerium für Staatssicherheit /Ministério da Segurança do Estado), que só acabou com a queda do Muro de Berlim em 1989 – coisa equivalente a Geheime Staatspolizei / Polícia Secreta do Estado, contraidamente Gestapo.
Talvez, isto tenha sido assim, porque o Estado-Maior das Forças Aliadas não deu ouvidos ao grande estrategista, General Patton, que propunha um avanço até Moscou, a deposição de Stalin e abertura de eleições. Embora considerado no mínimo extravagante, Patton tinha grande visão estratégica e histórica.
Uma das mais claras evidências dessa repartição do bolo é que Stalin invadiu ao mesmo tempo a Polônia e ocupou a metade oriental do país – pobre Polônia! Vítima eterna de uma fatalidade geopolítica somente por estar entre a Rússia e a Alemanha!
Em 1941 tem início a segunda fase da Segunda Guerra. É neste ano que Hitler rompe o pacto de não-agressão invadindo a URSS. Ora bolas, quem leu e levou a sério Mein Kampf, ficou sabendo que Hitler só respeitaria tratados, se eles continuassem sendo do interesse do Terceiro Reich. Não estou interpretando: isto é dito com todas as letras! Ora, tanto para o nazismo como para o comunismo, os fins justificam os meios, ou seja: para alcançar algo muito desejável, pode pisar no pescoço da própria mãe!
No entanto, Hitler cometeu o mesmo erro que Napoleão e, antes dele, Carlos XII da Suécia. Todos derrotados pelo grande general russo: general Invernov Impiedovsky! Quem não conhece a História acaba mesmo cometendo os mesmos erros de seus antecessores. “Hegel estava certo: a História se repete. Só que da primeira vez é tragédia e da segunda farsa” [K. Marx: O 18 Brumário de Napoleão III]. E, acrescentamos nós, da terceira vez, comédia pastelão dos Três Patetas!
Até 1940, fim da primeira fase da Segunda Guerra, havia uma grande colaboração entre a Alemanha e a URSS. Afinal de contas, ambos eram socialistas e o socialismo, ainda que democrático, é um comunismo introduzido com vaselina, ou seja: uma suave preparação para o socialismo totalitário.
Quem chegou a esta conclusão não fomos nós, foi o Prêmio Nobel de Economia, Friedrich Hayek, em O Caminho da Servidão [The Road to Serfdom, 1944]. Mas concordamos inteiramente com ele e com Karl Popper em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos [The Open Society and its Enemies, 1945], a quem devemos a ideia fartamente embasada de que a ideologia nazista e a ideologia comunista são irmãs siamesas e filhas do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).
Quanto à colaboração de Hitler com Stalin até 1940, basta dizer que enquanto a fome grassava na URSS – milhões de ucranianos tiveram seus produtos agrícolas expropriados por Stalin e morreram de inanição!!! – a URSS forneceu toneladas de comida e matérias primas para Hitler e em troca recebeu armas e orientação bélica.
Na realidade, ambos os partidos únicos da Alemanha e da URSS eram socialistas totalitários – o PCUS [Partido Comunista da União Soviética] e o Partido Nazista [Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei / Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães].
Talvez, a grande diferença é que o comunismo podia ser nacionalista (Stalin) ou internacionalista (Trotsky), mas o nazismo sempre foi ultranacionalista – Deutschland über alles in der Welt! / Alemanha acima de tudo no mundo!, como dizia antes de Hitler e diz até hoje o Hino Nacional Alemão. Qualquer semelhança com “Além do Bem e do Mal” / Jenseits Von Gut und Böse, título de um livro de Friedrich Nietzsche, é mera coincidência…
Todavia, Somente oligofrênicos e paranoicos estão além do bem e do mal. Os primeiros por falta de imaginação, os segundos por excesso. Mas, a esta altura cabe perguntar: De onde surgiu a ideia de que comunismo e nazismo eram ideologias diametralmente opostas?
Não deve ter sido pelo fato de a URSS e o chamado Mundo Livre terem se aliado contra a Alemanha nazista. A ideia de que a URSS era contra a “democracia burguesa” e o “vil capitalismo” era compartilhada por Hitler em Mein Kampf / Minha Luta, a “Bíblia do nazismo”.
Ora, é uma antiga estratégia militar dois blocos – no caso Mundo Livre e URSS – aliarem-se contra um terceiro – no caso, o mundo dominado pelo nazismo em que França é um exemplo peculiar:
A França ocupada fazia parte do domínio nazista Enquanto a chamada França Livre (a da resistência liderada pelo general De Gaulle em seu exílio na Inglaterra) combatia o nazismo, a República de Vichy, ao sul do país, liderada pelo marechal Pétain, era aliada do nazismo – vergonha nacional gaulesa!
Não é exagerado dizer que a guerra fria, que dividiu o mundo em duas metades – Bloco Capitalista liderado pelos Estados Unidos e Bloco Comunista liderado pela URSS – não começou com a Cortina de Ferro em 1945 (Iron Curtain, segundo Churchill), mas sim com o pacto Molotov-Ribbentrop em 1939.
Com a diferença de que as duas metades almejadas por este mesmo pacto eram uma coisa e as duas ocorridas historicamente foram outra. E não podemos afirmar que a guerra fria acabou em 1991, com a dissolução da URSS. mas sim que as metades agora são outras. “Multilateralismo” é uma lenda urbana assim como o aquecimento global da ecologia fajuta e Terra plana dos criacionistas. Nada contra a religião, tudo a favor da ciência e do bom senso.
Na realidade, a ideia de nazismo e comunismo como diametralmente opostos é uma elaboração do inegavelmente eficaz marketing político comunista. A verdadeira oposição se dá entre totalitarismo, não importando sua coloração, e democracia, não importando se é o caso de uma autêntica democracia ou se é o caso de uma democracia claudicante, como o Brasil.
A pior das democracias é preferível ao melhor dos totalitarismos ou, como disse Churchill: “A democracia é o pior dos regimes, excetuando todos os outros”. Trata-se da escolha do menos ruim, aquela que costumamos fazer em todas as eleições…
Favoreceu bastante essa pseudo-oposição o grande escândalo do século XX: o Holocausto, o maior genocídio da História, com 6 milhões de judeus assassinados em campos de concentração!
Um dos maiores divulgadores desse massacre foi o general Eisenhower. Finda a Segunda Guerra, quando o líder supremo das Forças Aliadas visitou um dos campos de concentração ficou estarrecido com a crueldade nazista e deu seguinte ordem aos seus comandados: “Fotografem e filmem tudo; Quero tudo documentado, porque ainda há de chegar um dia em que um imbecil dirá que isso nunca existiu!”
O dia chegou, mas o imbecil não foi nenhum comunista, uma vez que a ampla divulgação dos horrores do nazismo era algo bastante conveniente para sua estratégia soviética de marketing político pós-Segunda Guerra, mas sim um líder muçulmano iraniano: Mahmoud Ahmadinejad, para quem o Holocausto foi uma invenção da propaganda capitalista americana e Israel devia “ser empurrado para o mar”! (em suas próprias palavras).
Infelizmente, não dispomos de suficiente espaço aqui, para mostrar que o islamismo é um aliado do comunismo internacional e sua finalidade precípua a corrosão das bases da civilização hebraico-cristã. (Continua em próximo artigo)
(*)Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.
Fonte: Institutoliberal.org.br
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