por Eduardo Mackenzie(*)
Os três sangrentos atentados contra a Polícia de Barranquilla, Soledad (Atlântico) e Santa Rosa del Sur (Bolívar), que deixaram um total de nove policiais mortos e 46 feridos (43 policiais e três civis), cometidos no mesmo dia do lançamento, em Bogotá, da campanha eleitoral de Timochenko ante uma centena de convidados, são um sinal abominável, uma maneira sinistra de notificar que há, para a subversão comunista, duas linhas em execução simultânea contra a Colômbia.
É muito difícil pensar que o minguado mitin das FARC em Ciudad Bolívar e tal convergência de atrocidades, tenha sido produto da casualidade e da ação errática de bandos isolados de direito comum. No que ocorreu no sábado 27 de janeiro na Colômbia há coincidências que são muito inquietantes e dizentes ou, que pelo menos, devem ser estudadas com a maior atenção.
Nesse mesmo sábado, no extremo sul do país, um carro-bomba explodiu, também na madrugada, em frente ao quartel policial de Esmeraldas, ferindo 28 pessoas e destruindo 37 casas. Esse atentado no território do Equador, mas a só 80 quilômetros da fronteira com a Colômbia, permite pensar que isso também fez parte de uma vasta operação narco-terrorista. É como se os cérebros desse plano quisessem fazer uma demonstração simultânea de força no norte e sul da Colômbia, estilo Al-Qaeda. Em Quito, onde transcorrem as “negociações de paz” entre o governo de Santos e o ELN, várias células do ELN e das FARC passeiam como se estivessem em sua própria casa. Até quando?
Em todo caso, as autoridades equatorianas se vangloriaram de mais clareza do que as colombianas: disseram que por trás do bombardeio em Esmeraldas estava o narcotráfico e o terrorismo das FARC (são palavras do chefe da inteligência militar equatoriana, segundo o diário de Guayaquil) e que farão tudo o que for necessário para que “o terrorismo e o crime organizado não arrebatem a paz” do Equador.
Na Colômbia, ao contrário, o que predominou foi a confusão e a falsa candidez. Ninguém quis pronunciar o detestado vocábulo FARC. Chefes policiais de Barranquilla estimaram que o ataque era uma “retaliação de bandos de delinqüência comum”. O procurador-geral Humberto Martínez Neira emitiu a hipótese de que se tratava “de gente de fora que quis perpetrar uma atividade terrorista para gerar confusão na cidade, nesta época de pré-carnaval”. O presidente Santos lançou a idéia de que “uma célula do ELN” era a autora das duas explosões na estação de Polícia San José, de Barranquilla.
Horas depois, apareceu obviamente um “comunicado” do ELN – cuja autenticidade não foi comprovada -, no qual esse bando se atribui o atentado do bairro San José e se inventa uma desculpa: que matou os policiais porque o Governo “se recusa a dar respostas às necessidades da população”. Mais tarde, Santos afirmou que eram quatro os detidos pelos atos de Barranquilla e Santa Rosa del Sur. No dia seguinte insistiu que era só um.
No mesmo fatídico sábado foi assassinado em Buenaventura um líder social, Temístocles Machado. Sobre isso também reina a confusão. O ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas, assegurou que essa execução tem a ver “com um assunto de terras”. Outros acreditam ver a mão das FARC e do ELN que têm por política liquidar os líderes rurais dos grupos sociais, étnicos, etc.
Nos atentados de Barranquilla foram utilizados entre 3 e 5 quilos de explosivos de tipo militar, não simples granadas de mão, como a imprensa deu a entender. As bombas no bairro San José foram ativadas por rádio. Com o primeiro detido, Cristian Camilo Bellón Galindo, de 31 anos, que vivia em Bosa, periferia de Bogotá, encontraram “um rádio e duas folhas de papel, nas quais tinha desenhado um croquis e alguns números de celular, dentre esses um que pertence à Venezuela”, segundo revelou El Heraldo. Bellón tratou de se afastar do lugar após a matança. Impávido, não resistiu à captura e solicitou um advogado de ofício, como se seus chefes lhe tivessem garantido que judicialmente nada tem a temer. O perfil do detido, o telefone venezuelano e o estilo dos ataques em Atlántico, Bolívar e Esmeraldas, mostra uma organização de alcance nacional e internacional com experiência na realização de operações terroristas sofisticadas. Entretanto, a imprensa tenta fazer crer que é um assunto de delinqüência local.
Os atentados geraram grande rechaço e comoção na Colômbia. Entretanto, a opinião pública continua na incerteza: não sabe nem pode sequer supor quem é o autor de semelhante ofensiva contra a polícia e a população civil. O clima de confusão após os atos brutais de sábado é uma das técnicas preferidas da guerra assimétrica.
As FARC não só mentem e tratam de atribuir a outros seus feitos, como conseguiram fazer crer que elas abandonaram as armas e se converteram em um partido político como os demais, e que só estão trabalhando para chegar com grande urbanidade às eleições de março e maio próximos. Suas frentes armadas já não são das FARC, senão “dissidências das FARC”. O ELN, dizem, não tem pactos ofensivos com elas, apesar de que as duas organizações pactuaram a defesa de seus interesses nas próprias barbas de Humberto de la Calle, durante conclaves fechados em Havana que, graças à autorização de Santos, os chefes das FARC e ELN, Timochenko e Gabino, mantiveram em fins de abril de 2015 e em maio de 2017. Foi tão escandaloso o primeiro encontro Timochenko-Gabino que a Comissão de Investigação e Acusação da Câmara de Representantes da Colômbia abriu uma investigação preliminar contra o presidente Santos, a qual foi deixada no limbo pouco depois.
Graças a essas montagens e crenças impostas à consciência coletiva, as atrocidades de agora não têm rosto nem autores, e o que predomina ante a barbárie fariana é o despiste, o desvio e a anulação da cólera popular. Isso faz parte dos mecanismos construídos pelo terrorismo para continuar na impunidade e não pagar sequer eleitoralmente por isso.
Os inventores da estratégia para anular a ressonância dos ataques mais sangrentos, para que eles sejam apagados rapidamente da memória das pessoas, aplicam um esquema comunicacional pouco conhecido: criar dilemas, paradoxos e raciocínios contraditórios para dividir a opinião pública nos momentos de crise.
Tal é a situação na Colômbia. Isso explica a paralisia da população após cada onda de atentados: a onda de indignação ascende e depois reflui ante as opções contraditórias e, finalmente, a tensão decai e a paralisia se instala. E os terroristas continuam com as mãos livres.
A guerra que as FARC fazem à Colômbia inclui esse tipo de jogos macabros. Graças à negligência dos serviços de investigação e de defesa do país, desorientados por um governo que busca a todo custo mostrar no estrangeiro que alcançou “ a paz”, o terrorismo opera sem maiores obstáculos.
As forças que sustentam a galáxia FARC-ELN e seus aparatos legais não esperam tomar Bogotá militarmente – tentaram no passado mas foram vencidas. Sua estratégia é mais sutil e perversa: submeter as vontades, controlar os espíritos e levar uma parte da sociedade à capitulação psicológica e política.
Isso tem uma tradução eleitoral nestes momentos: a esquerda que apoiou a aventura entreguista de Santos proclama que, em que pese tudo isso, ela “conseguiu a paz” e merece continuar no poder para “implementar os acordos” e “aprofundar a paz”. As pesquisas refletem esse estado de confusão: as amplíssimas maiorias detestam as FARC e rechaçaram seus pactos com Santos, porém não vêem os laços que elas estendem para as facções de esquerda.
Assim, os candidatos mais favorecidos nas pesquisas são precisamente os que não estabelecem ruptura alguma com as FARC.
Esse paradoxo, essa inconsistência lógica, é o resultado das técnicas de desinformação aqui descritos. Os partidos de oposição que não levem em conta estas coisas têm poucas possibilidades de mobilização sob sua bandeira e tirar os eleitores da confusão.
(*)Fonte- MidiaSemMascara.org
Tradução: Graça Salgueiro
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