por Massimo Introvigne (*)
Há poucos dias nessa coluna, propus algo politicamente incorreto sobre a associação americana SNAP (Survivors Network of those Abused by Priests), um grupo de "profissionais da anti-pedofilia" que inspirada na tragédia de sacerdotes pedófilos, passou a atacar sistematicamente a Igreja Católica e sua hierarquia, direcionando sobretudo aos cardeais norte-americanos. O artigo teve uma notável repercussão, não só na Itália, depois que a SNAP teve seus 15 minutos de fama internacional difundindo uma lista de doze cardeais papáveis e, segundo a organização, "amigos dos pedófilos".
Eu usei a expressão "profissional anti-pedofilia", no sentido em que o escritor Leonardo Sciascia (1921-1989) falou de "profissionais anti-máfia". Sciascia, claro, não afirmou que a máfia não existia ou não era perigosa. Mas ele denunciou os "profissionais" que especularam sobre a máfia, por razões políticas ou para publicidade. Exatamente da mesma maneira, eu não sustento absolutamente que todos os sacerdotes pedófilos não existam ou não sejam perigosos. Mas acho que o "profissional anti-pedofilia" especula sobre uma verdadeira tragédia por razões ideológicas e para atacar a Igreja em geral.
Nos últimos dias, o programa de televisão "Le Iene" - Cães de Aluguel, que é a versão italiana do CQC brasileiro - e as publicações do grupo "Repubblica - L'Espresso" deram um amplo espaço sobre o conclave, e a Rete L'Abuso, um pequeno grupo de "profissionais anti-pedofilia" italiano que traria de volta para Itália as glórias duvidosas da SNAP, apresentando especificamente uma sucessão de bispos da Diocese de Savona - incluindo um que é agora um cardeal, Monsenhor Domenico Calcagno - como cúmplices dos pedófilos. Temos visto investigações com o título "O Diabo em Savona" e pedidos para o cardeal Calcagno não participar do Conclave. Portanto, vale a pena jogar uma luz sobre a Rete L'Abuso e seu líder, Francesco Zanardi, que tive a oportunidade de conhecer durante transmissões de televisão.
Como os fundadores da SNAP, Zanardi foi vítima de abuso - quando ele tinha treze anos - por um sacerdote. É sem dúvida uma tragédia, e assim, Zanardi merece solidariedade. Todavia, assim como no caso dos líderes da SNAP, ter sido abusado quando criança não dá o direito de dizer e escrever qualquer coisa, generalizando para atacar a toda a Igreja ou todos os padres de uma diocese.
O que realmente aconteceu em Savona? Inquéritos - judiciais e não apenas jornalísticos - mostram que existiu há anos na diocese uma pequena subcultura de sacerdotes homossexuais, alguns deles - não todos - são culpados de abusos contra crianças. O leitor da La Nuova Bussola Quotidiana sabe quantos danos fez o homossexualismo (gayzismo) - que é um lobby e uma ideologia, e não deve ser confundida com a tendência à homossexualidade, que é um fato - entre sacerdotes católicos. Eles também sabem que os bispos não foram sempre ágeis para falar contra estas subculturas. É possível que, mesmo na Diocese de Savona as reações tenham sido tardias, embora não devam ser tomadas para formar um juízo de valor das declarações de juízes constantes nos autos judiciais que exalam típico preconceito contra a Igreja.
Ainda que com atrasos, os bispos de Savona agiram contra os sacerdotes efetivamente responsáveis por abusos. Dois, incluindo o único envolvido no tempo do caso de Zanardi, foram reduzidos ao estado de leigos, bem como um diácono responsável não por abuso sexual, mas por má gestão financeira. Trata-se de dois sacerdotes que sofreram inquéritos judiciais e contra os quais haviam sido encontrados elementos bastante graves. Outros casos permanecem em dúvida. Fala-se muito de um sacerdote paquistanês aceito na Diocese de Savona, Dominic Youssuf, falecido - mas o jornal Repubblica coloca em dúvida a sua morte - em 2009. Segundo Zanardi, seria um foragido da justiça britânica depois de uma detenção por abusos em 1996. A diocese, no entanto, reportou à polícia – após os ataques da imprensa - a preocupação sobre o assunto, colocando a disposição dom Dominic – e mais tarde no entanto foi afastado do Ministério Pastoral, sendo confinado em uma abadia beneditina - , mas recebeu do comissário policial “a certeza de que para o sacerdote paquistanês não existia nenhum mandato internacional de captura”.
Em seguida, houve o caso de dom Carlo Rebagliati, morto no início de 2013, enquanto estava sob investigação por favorecimento à prostituição, e suspenso de seus deveres pastorais em 2011. Entretanto, dom Rebagliati para Zanardi e a Rete L'Abuso é um "homem decente", quase um herói que confessou publicamente a sua homossexualidade, tendo atacado a Igreja e apoiado as iniciativas do mesmo Zanardi. Ele morreu doente, mas o clima envenenado que foi pintado em Savona é de que ele foi morto.
Há portanto, um diabo em Savona? O clero está todo podre? De modo algum. Como em outros lugares, um reduzido número de sacerdotes traiu seu próprio Ministério, e alguns - que você pode contar nos dedos de uma mão - cometeram crimes reais. Entenda bem: sendo apenas um único sacerdote, isso seria demais. Mas o jogo dos "profissionais anti-pedofilia" e das várias hienas consiste em generalizar estes casos apresentando todo o clero como corrupto, e os bispos - ou mesmo Bento XVI , que foi recebido em Savona quando foi prefeito da Congregação da Fé , com uma simples declaração sobre caso, no entanto de competência diocesana - como protetores de corruptos.
Por que Zanardi se comporta desse modo? O jornal genovês "Il Secolo XIX" atribuiu tudo a sua "personalidade histriônica". Mas há mais. Zanardi diz-se feliz por ter sido "demitido" pela Cúria de Savona, para quem trabalhava. Não era realmente um empregado, mas um consultor (informático), e cujo contrato não foi renovado desencadeando sua ira. A Cúria havia dado a mão a Zanardi, mas generosidade com ele é raramente reciproca. Conheceu o Cardeal Bagnasco, que tinha recebido Zanardi e que se encontrou com o incansável denunciante profissional da anti-pedofilia.
E Zanardi não é só isso. Em setembro de 2009, ele ajudou a fundar o Movimento Nacional Gay Italiano, do qual é um porta-voz. É considerado "casado" com o seu companheiro e continua a promover iniciativas para o reconhecimento jurídico deste "casamento". Talvez não seja difícil imaginar porque a Cúria de Savona prefere não contar com sua consultoria. E as iniciativas de Zanardi não param por ai. Faz parte do secretariado nacional da Democrazia Atea, um partido que tem candidato nas eleições gerais de 2013.
Democrazia Atea, um partido que se ocupa quase exclusivamente em atacar a hierarquia católica, e que propõe a eliminação da objeção de consciência aos médicos que não querem praticar aborto, tem a distinção singular de ter a menor pontuação geral entre os pequenos partidos dessas eleições, tendo ganho apenas 556 votos nos três distritos em que é apresentado.
Além da astrofísica e ateísta Margherita Hack (lésbica) e Zanardi, que são líderes em Ligúria - onde ele tentou aparecer como candidato a prefeito de Gênova em 2012, mas o partido não foi bem sucedido em conseguir o número necessário de assinaturas -, Democrazia Atea candidatou para a eleição em Lázio o líder da seita Bambini di Satana (Crianças de Satanás), Marco Dimitri.
Os Bambini di Satana oferecem uma gama completa de serviços aos seus membros, divididos em 14 categorias de rituais. Entre estes estão os casamentos heterossexuais e homossexuais, e também o casamento entre três pessoas (independente do gênero) e incestuoso ("qualquer grau de parentesco e de gênero”). Para os católicos e membros de outras religiões há uma "cerimônia de anulação dos ritos batismais de qualquer culto", oferecido em várias versões e muito apreciado na democracia ateísta. Dimitri escreveu anos atrás que era um candidato para ser "o líder de todos os demônios na Terra". Teve de se contentar com uma candidatura falida em um mini-partido que tem Zanardi na sua secretaria nacional.
Francesco Zanardi não é nenhum mero ativista contra a pedofilia clerical, motivado por uma experiência traumática. Quem lê "Repubblica" ou assiste "Le Iene" muitas vezes não é exigente quando se trata dos ataques à Igreja. Mas pode avaliar melhor a credibilidade de Zanardi refletindo sobre o fato de que a personagem tem uma agenda completa à sua maneira, do ativismo homossexual ao ateísmo, este último promovido com aliados variados, até mesmo satanistas. Jornalistas que dão espaço para Zanardi deveriam, talvez, informar os seus leitores em qual companhia que se encontram viajando.
(*)Massimo Introvigne, italiano, é escritor e sociólogo.
Pulbicado no La Nuova Bussola Quotidiana.
Tradução: Alex Pereira
Fonte: Mídia Sem Máscara
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