Putin defensor dos valores cristãos?: elo da corrente de mentiras da nova KGB, diz arcebispo.
por Luis Dufaur para o Midia Sem Máscara
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Em entrevista de imprensa na sede da Rádio Vaticana, segundo informou o site “La Nuova Busssola Quotidiana”, Mons. Sviatoslav Shevchuk, arcebispo-mor do rito greco-católico, disse ter advertido o Papa a respeito de afirmações da Santa Sé que podem ser associadas à propaganda russa.
Mons. Shevchuk esteve em visita ad limina a Roma, juntamente com mais de vinte bispos católicos ucranianos dos ritos latino e bizantino. Os prelados transmitiram a Francisco a dramática situação que vive seu país.
“Para descrever o que acontece na Ucrânia, disse ele no início da entrevista, só se pode usar uma palavra: invasão estrangeira e não conflito civil”.
A expressão “guerra fratricida” havia sido usada pelo Pontífice na audiência do dia 4 de fevereiro com particular infelicidade. Ela suscitou fortes reações nos ambientes católicos ucranianos e verdadeiro entusiasmo entre os seguidores de Vladimir Putin, entre os quais se destacou o Patriarcado de Moscou.
A expressão “guerra fratricida”, explicou o arcebispo de Kiev, feriu a sensibilidade do povo ucraniano, pois ecoa a visualização do conflito ucraniano espalhada pela “propaganda russa”.
“Expliquei pessoalmente ao Santo Padre quais são as vítimas e quais são os agressores”, acrescentou o alto dignitário.
Durante a visita ad limina, o Papa ouviu os pungentes relatórios dos bispos, e fez falar primeiro os bispos da Criméia e das regiões ocupadas por agentes obedientes a Moscou e soldados russos.
As cinco paróquias greco-católicas da Criméia receberam ordem de se recadrastrarem, mas o novo registro lhes foi negado nas três vezes que tentaram.
“Tememos que se trate de um expediente para privar de estatuto legal a nossa Igreja, como já aconteceu em 1946 sob o regime soviético”.
Os postos da Caritas Ucrânia acolhem diariamente por volta de 140 mil pessoas. Dom Sviatoslav explicou: “Apelei a Francisco a fim de que convoque uma iniciativa humanitária internacional”. Até o momento não há notícia a respeito.
Em relação ao Patriarcado de Moscou, que tem adeptos na Ucrânia, o arcebispo explicou que “é difícil colaborar com pastores incapazes de respeitar seus fiéis. Uma hierarquia eclesiástica que se alinha com o poder contra o próprio povo perde credibilidade”.
O chefe do rito greco-católico ucraniano mencionou a angústia e o desconcerto dos ortodoxos ucranianos ligados à Igreja Ortodoxa Russa. Esses seguidores não entendem que o “próprio patriarca possa se ter tornado porta-voz do agressor”.
Para D. Sviatoslav, a Igreja Ortodoxa Russa virou uma poderosa arma de desinformação que está trazendo males aos próprios cidadãos russos.
“Muitos russos de fato não sabem que seus soldados estão sendo mortos. Inclusive pelo bem deles é preciso desmontar esta corrente de mentiras”.
Também faz parte dessa “corrente de mentiras” a imagem falaz, forjada pela propaganda russa, de um Putin defensor dos direitos cristãos.
“Eu sou um filho da Igreja perseguida pela União Soviética – disse o arcebispo – e sei bem que a KGB [N.R.: polícia política comunista na qual se formou Putin] jamais difundiu os valores cristãos, mas se serviu deles com finalidades políticas.
“Eu não acredito que quem sacrifica um milhão de vidas para atingir objetivos geopolíticos possa estar animado por valores cristãos. Não sejamos ingênuos”, concluiu.
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