quarta-feira, novembro 11, 2015

Acadêmicos britânicos e a intolerância contra Israel.



Acadêmicos britânicos e a intolerância contra Israel.
por Michael Curtis




Centenas de acadêmicos britânicos, atolados na ignorância e na intolerância, assinaram um anúncio publicitário no Guardian pregando boicote à academia israelense. Essas pessoas não conhecem a vergonha

Os fanáticos querem boicote contra Israel



O Reino Unido tem muitas atrações: Wimbledon, morangos e creme, e os partidos políticos que falam um com o outro. Que pena que também tenha demasiados acadêmicos hipócritas e santos do pau oco, cujo fanatismo é tão considerável como a sua falta de conhecimento das realidades do Oriente Médio.

O fog britânico físico, tão familiar nas histórias de Sherlock Holmes, pode ter desaparecido, mas a confusão mental prevalece nas mentes de alguns membros do corpo docente.

Vergonha para aqueles 343 membros do corpo docente acadêmico, aos quais foram adicionados outros 150, que assinaram um anúncio no jornal britânico, The Guardian em 27 de outubro de 2015 comprometendo-se a não cooperar com instituições acadêmicas israelenses. 
Em um mundo em que centenas de milhares de pessoas do Oriente Médio estão fugindo para os países europeus e, quando em um mês de outubro 2015 dez israelenses foram mortos e mais de 100 ficaram feridos por esfaqueamento por palestinos, os 343 indivíduos opinativos originais tinham uma prioridade diferente. Eles não estavam preocupados, muito menos perturbados, pela continuação da violência e do terrorismo contra civis israelenses durante esse período.

Em vez disso, eles declararam, na língua de fanáticos, que eles foram motivados pela "profunda preocupação pelos palestinos... lutando para manter alguma aparência de vida normal em circunstâncias irremediavelmente difíceis de ocupação e de negação dos direitos humanos."

Assim, esses acadêmicos resolutos tomarão um bravo, de fato heróico, posicionamento. Eles não vão aceitar convites para visitas acadêmicas a Israel ou para participar de eventos organizados, financiados ou patrocinados por instituições acadêmicas nem para agir como árbitros a elas relacionados ou para colaborar de alguma forma.

Tudo isso é essencial por causa da "profunda cumplicidade de instituições acadêmicas israelenses em violações israelenses da lei internacional".

Compreende-se que muitos dos signatários da declaração do Guardian devem ter sido submetidos à influência dos pares e pressão de grupos palestinos. É difícil saber o grau de conhecimento do direito internacional ou de violações dos direitos humanos em Israel ou em outros lugares possuídos pela academia proveniente das disciplinas relacionadas, tais como arte, clássicos, história do design, lingüística, física, química, engenharia civil, estudos de tradução e zoologia.

Claro, não se espera que esses especialistas discutam ou comentem sobre ocupações ou discriminação em relação ao controle da China sobre o Tibete, ou a Turquia sobre Chipre do Norte, ou a Rússia sobre a Criméia ou leste da Ucrânia. Mas algumas informações elementares sobre duas questões, o comportamento palestino, bem como o papel e o comportamento das instituições israelenses, era de se esperar.

Sobre a primeira questão, eles poderiam ter conhecido o comentário do presidente Bill Clinton sobre o fracasso das negociações de Camp David, em julho de 2000, entre ele, o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Barack e o presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat: "Lamento que Arafat tenha perdido a oportunidade de concretizar aquele estado (palestino).”

Quanto à segunda questão, eles poderiam ter tomado conhecimento que árabes israelenses, 20 por cento da população, são responsáveis por 50 por cento dos estudantes na principal escola de medicina de Israel, e que constituem 22 por cento do total de estudantes universitários israelenses. Este registro não parece ser o que os acadêmicos chamam de "privação de oportunidades" para os árabes israelenses. Ocupado com os seus estudos eles podem ter esquecido que os hospitais israelenses tratam um grande número de pacientes palestinos, incluindo membros da família dos líderes do Hamas.

Há realmente apenas duas perguntas a serem feita sobre os signatários do anúncio infame. Qual é o seu motivo real na assinatura, e por que estão ansiosos para impedir o progresso e pesquisa na Grã-Bretanha?

Sem dúvida, esses acadêmicos sentiram auto-satisfação e retidão moral ao assinar a declaração, mas eles deviam se envergonhar por desmentir todo o ethos da academia: diálogo aberto e busca de novas idéias. Agiram não só de uma forma ignorante, mas também divisionista, discriminatória e prejudicial aquela que torna a busca da paz e compreensão no Oriente Médio mais difícil. Eles estão destruindo pontes, não as construindo.

Eles não compreenderam que as próprias instituições acadêmicas que desejam boicotar estão entre os corpos que são muitas vezes mais crítico das políticas israelenses e são lugares onde as diferenças abertas sobre políticas relativas aos palestinos são apaixonadas. Eles podem comparar as expressões de preocupação de muitos acadêmicos israelenses para melhorar a vida dos palestinos com a liberdade de expressão e de discussão aberta disponível na Síria, Iraque, Irã, Arábia Saudita, ou mesmo entre as facções dos palestinos do Fatah e do Hamas que ainda estão se matando uns aos outros.

A ignorância dos signatários tão preocupados com as iniqüidades de Israel é verdadeiramente espantosa. Será que os 343 acadêmicos buscam a verdade em suas próprias disciplinas acadêmicas. Nesse caso das relações entre a Grã-Bretanha e Israel estão inexplicavelmente impedindo o progresso.

Será que eles aceitam a narrativa palestina de vitimização e da declaração, publicada no mesmo dia que seu anúncio, do jornal oficial da Autoridade Palestina, Al-Hayat Al-Jadida, que foi a Declaração de Balfour, de Novembro de 1917, que "arrastou a região para os desastres da guerra e da instabilidade?”

Um breve fornecimento de evidências, simplesmente tomando-se quatro exemplos, pode ser útil para eles, se eles forem convidados a assinar qualquer denúncia futura do Estado de Israel ou do seu pessoal.

Um deles é o esquema Birax britânico-israelense, de cinco anos, parcialmente financiado pela Pesquisa do Câncer do Reino Unido e da Fundação Britânica do Coração, para a investigação e as parcerias de intercâmbio acadêmico no campo da medicina regenerativa, que reúne pesquisadores de ambas as origens. É um sinal do valor de ouvir e respeitar opiniões diferentes de parte a parte.

Outro é o Olive Tree Program, iniciado em 2004, que dá apoio a um número igual de israelenses e palestinos para estudos na City University, em Londres. Seu objetivo, exatamente o oposto dos 343 acadêmicos, é reunir os envolvidos no conflito e oferecer a oportunidade de refletir e aprender. O Programa já concedeu mais de 50 bolsas de estudo em uma variedade de assuntos sobre os palestinos e israelenses.

No Negev, em Israel o Instituto Arava, um dos “think tanks” (1) líderes ambientais mundiais também têm o mesmo número de palestinos e israelenses, juntamente com jordanianos, engajados no estudo de energia, gestão de água, gestão de resíduos e as questões agrícolas sustentáveis.

Um quarto corpo cooperativo é o programa de Daniel Turnberg Middle East Fellowship que reúne mais de 170 pesquisadores médicos palestinos da Cisjordânia e de Gaza e de Israel para trabalhar em universidades britânicas em questões como câncer infantil, doença do neurônio motor, acidente vascular cerebral, e autismo.

Talvez um desses programas científicos valiosos possa ajudar os 343 acadêmicos a curarem a si mesmos, para que possam participar do avanço da causa da paz no Oriente Médio.


(1) Think tanks são organizações ou instituições que atuam no campo dos grupos de interesse, produzindo e difundindo conhecimento sobre assuntos estratégicos, com vistas a influenciar transformações sociais, políticas, econômicas ou científicas, sobretudo em assuntos sobre os quais pessoas comuns não encontram facilmente base para análises de forma objetiva. Os think tanks podem ser independentes ou filiados a partidos políticos, governos ou corporações privadas.

Tradução: William Uchoa

Fonte: www.heitordepaola.com/





Michael Curtis, autor de "Judeus, anti-semitismo, e o Oriente Médio", é Ilustre Professor Emérito em Ciências Políticas na Universidade de Rutgers. Curtis é o autor de 30 livros, e em 2014 foi premiado com a Legião de Honra francesa






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