por Flávio Morgenstern(*),
Por que a surpresa com o apoio do PT à ditadura de Maduro? Surpresa seria o PT defender o capitalismo, restrições no governo, a liberdade.
Um fato chocante sacudiu as redes nesta semana: veículos de mídia noticiaram surpresos que o PT, o PSOL, o PCdoB emitiram notas de apoio ao governo Maduro, o ditador que instaurou um totalitarismo socialista de molde bolivariano na Venezuela. O chocante foram os esgares de surpresa fingida dos jornais, e não o apoio do PT e demais partidos socialistas justamente ao governo de esquerda non plus ultra no continente.
Qualquer um que se aventure a conhecer minimamente a história do PT sabe que este foi sempre o objetivo do partido. E não um objetivo escondido, secreto, disfarçado, só discernível ao estudioso após décadas escamoteando enfadonhos documentos técnicos, sob camadas de teorias da conspiração.
Pelo contrário: em toda a história do partido, por anos seguidos, desabridamente, sem nenhum disfarce, o PT não apenas apoiou o socialismo bolivariano na Venezuela de Chávez e Maduro, como mesmo o totalitarismo com mais de 70 mil mortes de Fidel Castro, há quase 60 anos no cargo sem nenhuma eleição, e com o poder sendo passado para o irmão de Fidel, Raúl. A família Castro, hoje, tem a segunda maior propriedade privada do mundo, depois da família Kim, tratando o povo como escravos.
Para os jornalistas, é como se de repente descobrissem que o PT tinha um amigo que, não mais do que de repente, sem nunca ter dado sinais estranhos de comportamento, começasse a aparecer em casa bêbado, batendo na mulher e nos filhos. E o PT, mal informado e crendo em boas intenções e no valor da longa e antiga amizade antes de tudo, continuasse a tratá-lo como amigo.
O PT inteiro é formado por intelectuais socialistas da USP, por ex-guerrilheiros que pegaram em armas para implantar o socialismo no Brasil (como José Dirceu e Dilma Rousseff, que fala que “lutou pela democracia”), por sindicalistas maoístas, trotskystas e stalinistas, que se oponham ao trabalhismo do PDT do ditador Getúlio Vargas e viam com ceticismo o comunismo revolucionário do PCB/PCdoB.
Não é um segredo de Estado, nenhuma biografia que afirmasse tal coisa sobre qualquer petista poderia ser vendida com letras garrafais vociferando: “REVELAÇÕES BOMBÁSTICAS!!!”. É simplesmente o que é o PT e o que são os petistas, e todos sabem disso. Apenas parece haver uma amnésia seletiva na imprensa quando se fala da ligação do PT com socialismo, já que brincar de ditadura do proletariado no século XXI soa um pouquinho atrasado e às vezes até um pouquinho ditatorial. E assassino.
Basta lembrar de Lula debatendo com Collor em 1989, dois meses após a queda do Muro de Berlim, defendendo a implantação de um suposto “socialismo democrático”. É como se todo o programa do PT, radical a ponto de pretender nos transformar em um satélite da miséria ditatorial de Cuba, tivesse sido “esquecido” pela intelligentsia brasileira: se a maioria não está falando do que aconteceu, é melhor fingir que não aconteceu, para não ser pechado de “extremista”.
(*)Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs" (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen
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