Esquerda & eugenia: uma história de amor.
por Tiago Cortês (*)
Além do seu racismo politicamente correto, a esquerda tem uma longa história de amor pela eugenia. Aliás, historicamente, é possível apontar alguns pensadores de esquerda como percussores do movimento eugenista na Europa e nos Estados Unidos.
Da anarquista Emma Goldman (1869-1940) até o escritor George Bernard Shaw (1865-1950), passando pelo economista John Maynard Keynes (1883-1946), a galeria de intelectuais progressistas que flertou com a eugenia é tão grande quanto notável.
Décadas antes que o Partido Nacional Socialista chegasse ao poder na Alemanha, o irlandês George Bernard Shaw – um convicto socialista Fabiano – já defendia abertamente as teses da eugenia, entre elas a eliminação de indivíduos que não fossem produtivos.
Ainda em 1910, Shaw participou da Conferência da Sociedade de Educação Eugênica – que tinha muitos progressistas como membros – e defendeu em termos pragmáticos a eliminação da parcela da população que, segundo ele, “não se encaixava na sociedade moderna”.
Naqueles tempos em que a ciência era apresentada como única salvação possível para a humanidade, a eugenia não tinha a aparência diabólica de hoje. Pelo contrário, defendê-la era como um atestado de generosidade dos humanistas de plantão.
Por isso, o fato de Shaw ter defendido o extermínio de certa parcela da população não o impediu de ser agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1925. Com o Nobel debaixo do braço, Shaw se tornou o intelectual mais reverenciado de sua época.
Em 1931, a convite de Stálin, o escritor humanista visitou a União Soviética. Shaw sabia que Stalin estava matando parte da população russa simplesmente lhe privando de comida. Ele foi informado de que isso era necessário para livrar a sociedade russa dos “párias”.
É desnecessário dizer que Shaw ficou encantado com a política eugenista soviética, convicto de que os engenheiros sociais construíam uma sociedade perfeita. Ele descreveu a URSS como “uma terra de esperança, um exemplo para as potências ocidentais”:
“O extermínio deve ser justificado com uma base científica e sempre ser levada a cabo de forma humana e pensado como um bem maior. Desejamos certo tipo de civilização e devemos exterminar aquelas pessoas que não se encaixam nele”.
Eugenia, aborto e racismo
A anarquista Emma Goldman combinava a defesa da eugenia com o aborto e controle de natalidade. Ela não estava sozinha: as feministas diziam o mesmo. A pioneira do aborto nos EUA, Margaret Sanger (1879-1966), o defendia como meio de esterilização social.
Ela é a fundadora da Planned Parenthood, organização voltada à promoção do aborto e do controle de natalidade. Socialista, Margaret Sanger dizia que o aborto era um método eugenista que purificaria os EUA – tal como Shaw prometia na Europa.
Na década de 1930 a Planned Parenthood iniciou o famigerado Projeto Negro. Foi um esforço colaborativo com a Liga Americana de Controle da Natalidade para eliminar o “impróprio” da população americana nativa. Por impróprios leia-se “negros-pobres-do-Sul”:
“Nós queremos exterminar a palavra negro do nosso vocabulário, mas eles [os negros] não podem ficar sabendo de nada disso”
Calcula-se que mais de um milhão de negros tenham sido abortados pela organização fundada pela humanista – era assim que ela e Shaw se autodescreviam – Margaret Sanger. Não por acaso, a socialista Sanger aceitava convites para falar às piedosas esposas de cavalheiros da Ku Klux Klan.
A bondosa Sanger queria prevenir o nascimento daqueles que considerava inferior ou impróprio. A crença eugenista, portanto, foi a base da política de controle de natalidade da Planned Parenthood e do próprio movimento feminista pró-aborto.
As almas progressistas de hoje podem se assustar com a associação entre aborto e eugenia, mas a verdade é que são causas gêmeas. A eugenia pretende impedir o nascimento de “seres inferiores” e o aborto muitas vezes é defendido como um método para tal fim.
Até hoje é possível ouvir um eco desta crença mórbida na boca daqueles que defendem o aborto enquanto política pública, ou seja, como método de esterilização social para impedir o nascimento de pobres infelizes que podem infelicitar suas comunidades.
Eugenia: uma causa progressista
No seu clássico “Tábula Rasa – a negação contemporânea da natureza humana”, o psicólogo evolucionista Steven Pinker relembra que a maioria das almas progressistas do século 20 abusava da ciência para defender a eugenia:
“Os progressistas adoravam a eugenia porque ela estava ao lado da reforma e não do status quo, do ativismo e não do laissez-faire, da responsabilidade social e não do egoísmo. Quem lhes fazia oposição eram os conservadores católicos e protestantes do Cinturão da Bíblia, que odiavam a eugenia porque a viam como uma tentativa da elite tomar o lugar de Deus”.
Pinker cita vários pensadores progressistas que eram eugenistas apaixonados: HG Wells, Theodore Rossevelt, Harold Laski, J.B.S. Haldane, Beatrice Webb, entre muitos outros.
Keynes era uma dessas almas progressistas, amante da reforma e da ciência – ou do que ele entendia por ciência.Keynes presidiu Sociedade da Eugenia de 1937 até 1944 e classificou a eugenia como “o ramo mais genuíno e importante da ciência que existe”.
A obsessão eugenista dos esquerdistas é fruto de duas características centrais do pensamento progressista: a busca utópica da perfeição e a fé desmedida na Razão. Para a alma progressista, a perfeição é possível aos homens por meio da Razão e da ciência.
Tudo é uma questão de encontrar os métodos certos. A engenharia social é a apenas a forma concreta dos dois principais dogmas progressistas: o racionalismo e o perfeccionismo.
Os progressistas buscam uma sociedade humana perfeita e estão dispostos a usar qualquer meio – do extermínio à esterilização social – para atingir tal fim. Ontem era a eugenia, hoje é o aborto e a destruição do gênero. Quem sabe o que virá amanhã?
Fontes:
“Tábula Rasa – a negação contemporânea da Natureza Humana”, Steven Pinker, Companhia das Letras, 2002.
(*)Thiago Cortês é jornalista.
Fonte: Mídia Sem Máscara
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