por João Luiz, Mauad(*).
Há coisas que podem ser medidas. Há coisas que valem a pena medir. Mas o que pode ser medido nem sempre é o que vale a pena medir. O que é medido pode não ter relação com o que realmente queremos saber. Os custos de medição podem ser superiores aos benefícios. As coisas que se medem podem desviar o foco das coisas que realmente nos interessam. E a medição pode nos fornecer informações distorcidas – conhecimento que parece sólido, mas que realmente é enganoso. Jerry Z. Muller – The Tirany of Metrics
Recentemente, recebi uma piada pelo WhatsApp que dizia mais ou menos assim: 15% dos acidentes de carro são motivados por motoristas alcoolizados. Isso quer dizer que 85% dos acidentes são provocados por motoristas sóbrios. Vamos beber umas geladas!
No caso acima, é fácil deduzir o mau uso da estatística, mas já não é tão fácil dizer onde exatamente está o erro. O mesmo ocorre quando alguém diz que a maioria das pessoas que bebe refrigerantes dietéticos é gorda. Logo, provavelmente esses refrigerantes engordam.
Como diz o velho brocardo: torture os números e eles confessarão qualquer coisa. De fato, as estatísticas são, hoje em dia, as grandes aliadas dos mistificadores, que as utilizam de forma indiscriminada para dar aparência científica às falácias e mentiras em prol de suas causas. Você pode desenvolver rígida argumentação lógica a respeito de um assunto sem convencer muita gente, mas basta acrescentar alguns números, tabelas e gráficos para respaldá-las e as pessoas passam a olhar os seus argumentos com outros olhos.
Tudo isso vem, é claro, a propósito da divulgação anual dos números da desigualdade no Brasil e no mundo, pela ONG Oxfam, sobre os quais a mídia amestrada tupiniquim vem dando grande destaque, como de hábito, desde ontem.
No Brasil, o destaque foi para o fato de que os cinco homens mais ricos do Brasil têm riqueza equivalente à metade da população mais pobre do país [a propósito, ano passado, eram seis]. Isso quer dizer que Jorge Paulo Lemann, Joseph Safra, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira e Eduardo Saverin têm, somados, patrimônio equivalente ao de 100 milhões de pessoas. Houve destaque negativo também para o fato de que, em 2017, o país ganhou mais 12 bilionários, que agora somam 43 indivíduos. Suas riquezas somadas alcançariam R$549 bilhões, que equivalem a R$2.745 por brasileiro (atenção para este número, pois vamos voltar a ele).
A primeira coisa que chama a atenção, pelo menos de quem olha essas informações de forma isenta, é que, dos cinco nomes da lista, três são sócios da 3G Capital, a holding multinacional proprietária de gigantes como AB IMBEV, Burger King, Heinz, Lojas Americanas, entre outras. Os três enriqueceram, portanto, não explorando os mais pobres, mas vendendo a eles produtos baratos e de qualidade. Será que esses três homens exploram alguém quando vendem suas cervejas e refrigerantes no mundo inteiro? Ou seus hambúrgueres? Já o Eduardo Saverin é um dos criadores/fundadores do Facebook, um App utilizado por bilhões de pessoas no mundo. Será que ele ficou rico explorando alguém, ou os bilhões de usuários que passam horas no Facebook utilizam-no de forma voluntária?
Em resumo: Alguém tem dúvida de que esses caras criam algo de muito valor para as pessoas, mundo afora? Quando você compra um produto ou utiliza um serviço fornecido por empresas deles, é por satisfação ou por obrigação? Se é por satisfação, não é justo apontar-lhes o dedo e dizer que sua fortuna é resultado da pobreza alheia. Se esses e outros brasileiros ricos nunca tivessem nascido, o país estaria melhor? Certamente teríamos menos desigualdade, mas será que os pobres estariam menos pobres?
Agora façamos outro exercício. Todos os anos, os governos tupiniquins, nas suas três esferas, tomam dos brasileiros cerca de 35% do PIB em impostos (nada menos que 2,2 trilhões de reais), o que equivale a 11.000 reais por brasileiro (reparem que, neste caso, estamos falando de uma cifra ANUAL, diferentemente daqueles R$2.745, que seriam distribuídos apenas uma vez).
As discrepâncias não acabam aí. Ao contrário dos produtos e serviços que você consome dos bilionários, os impostos são tirados de você à força. E o que os governos lhe dá de volta? Saúde, educação e segurança da pior qualidade, que, quando podemos, tratamos de adquirir no setor privado e, portanto, pelos quais muitos de nós pagamos duas vezes.
Resumindo, economias verdadeiramente capitalistas, onde o governo não interfere escolhendo campeões, a existência de bilionários e, consequentemente, de desigualdades é benéfica para a sociedade, e não algo a se lamentar. Ademais, em condições de livre mercado, a riqueza pressupõe acúmulo de capital e investimentos em empreendimentos rentáveis, onde recursos (escassos) são utilizados de forma eficiente na produção de coisas necessárias e desejáveis. Nesse sistema, os milionários criam um monte de valor para um monte de gente, além, é claro, de um monte de empregos.
Dito isso, existe um tipo de desigualdade que deve ser lamentada: é aquela patrocinada pelo governo, quando este escolhe vencedores e perdedores, seja concedendo subsídios, créditos especiais, contratos viciados pela corrupção, tarifas protecionistas, etc. Nesses casos, em vez de enriquecer competindo no mercado e satisfazendo as necessidades dos consumidores, os empresários se voltam para atividades de conluio, se locupletam com os ocupantes do poder e enriquecem à custa do dinheiro público.
O mais interessante disso tudo, porém, é que, não raro, os que mais reclamam das desigualdades, são os mesmos que pedem mais intervenção do governo na economia.
Fonte: InstitutoLiberal.org.br
(*)João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.
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