Por Lind Souto Nbetto (no facebook)
Chamar um ladrão de ladrão? No Brasil de hoje, contemporizador e afeito à impunidade mais deslavada, o melhor mesmo é usar um eufemismo.
Digamos que o ladrão é apenas alguém habituado lançar mão de bens alheios como se fossem seus – algo tão em moda na política de hoje que o “eu-femismo” não atenderá somente ao titular do “eu”. O ego dos ladrões já se mostra elástico, espaçoso, quase um atributo desse tão injustiçado povo brasileiro.
O que é um eufemismo? É um “amenizador”. Um algodão entre espinhos. Um refresco para uma expressão dura, embora verdadeira. É um jeitinho bem brasileiro de diminuir a sinceridade das opiniões e a dureza das aparências.
Elogios e eufemismos não deixam de ser primo-irmãos. Pelos primeiros, penteiam-se todos os egos e se adulam todas as vaidades, especialmente os galanteios dirigidos à mulher que passa - e, como, elogiou o poeta, “a mulher que passa e que pacifica”…
Qual o melhor elogio que se poderia dirigir a uma mulher bonita?
Elogiar, talvez, o seu movimento subversivo, aquele que é o mais perigoso de toda a história das revoluções: o movimento dos quadris…
Se estes cresceram, ganharam o aspecto “rotundo” de uma mamma romana, é chegada a hora do eufemismo:
- Você não está gorda, querida! Absolutamente! Você está mais gostosa do que a mulher-melancia…
Ou, amenizando o volume do gordo Adriano, o Imperador balofo, mais redondo do que a bola neste seu retorno aos gramados:
- Você não está gordo, meu craque! Está é “forte”. Deus te guarde!
E qual o maior elogio que um parlamentar “moderno” gostaria de ouvir?
- Parabéns, meu ficha suja! Recebias o mensalão e ninguém ficou sabendo, hein?
Já o eufemismo puro é aquela figura de retórica que suaviza o dito “desagradável”, empregando uma palavra ou expressão muito mais delicada.
Como “elogiar” o amigo que acabou de engordar:
- Meu caro, já te vi mais esbelto em outras ocasiões…
Para viver em sociedade é de bom tom elogiar e suavizar, para que não se dissemine apenas o ódio e o desamor.
E se passássemos a chamar o furto de “descuido intencional para redistribuição involuntária de renda”?
Ou se o novo nome de “roubo” passasse a ser “apropriação indevida, mediante alguma violência, para convencer certas pessoas a deixar de ser tão ricas”?
“Chulé” passaria a ser “olor pouco agradável, exalado pelas glândulas sudoríferas nos dedos dos membros inferiores, mas sem a intenção de magoar olfatos sensíveis”.
Por que não tornar mais “palatável” uma expressão, digamos, indelicada? Por exemplo: chamar alguém de “larápio”, “ladravaz”, “mão grande”… Coisa mais sem educação! Grosseira mesmo. Por que não ser um pouco mais delicado com o ladrão e chamá-lo de “agente expropriador de um bem supostamente alheio”?
E por que batizar um “traficante” com esse nome assim tão feio, que o “discrimina” no meio da nossa melhor sociedade? Por que não chamá-lo, mais delicadamente, de “empresário de elementos químicos e negociador de alegria artificial para gente necessitada?”
Não há país mais chegado ao eufemismo do que o Brasil. Aqui, nada é “o que parece ser”. Principalmente na área das chamadas apropriações “indébitas”. Que, aliás, antes de ser um enunciado jurídico, é um eufemismo perfeito para expressões toscas e chocantes como “meter a mão no baleiro”.O sujeito não rouba. Só comete “apropriações indébitas”…
Nunca chame, de forma deselegante, um ladrão de f.d.p. Prefira “esse descendente direto de pessoa acostumada a receber dinheiro em troca de um velho exercício, praticado entre fronhas e travesseiros!”
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