terça-feira, novembro 28, 2017

A Bandeira de um Pais







por Floriano Pesaro(*).



Há alguns dias, o mundo presenciou um ato que mancha a história milenar dos esportes.

Sempre acreditamos que todas as competições esportivas ficavam acima dos conflitos políticos e das diferentes nacionalidades. Os milhares e milhares de praticantes, em qualquer que fosse o evento, deveriam respeitar seus adversários e tratar todos com a deferência que qualquer atleta merece.

No mês de outubro, assistimos um dos pontos mais baixos da comunidade esportiva. Em uma competição acontecida em Abu Dhabi, Tal Flicker, um judoca israelense, ganhou a medalha de ouro. Na hora de subir ao pódio, pasmem, a organização do evento se recusou a estender no mastro a bandeira de Israel e a tocar Hatikva, o hino nacional do país. 

Tal Flicker, o campeão israelense, então, na hora da medalha, cantou desafiadoramente e sozinho, o hino de sua nação.

Felizmente, a notícia deste desrespeito correu o mundo através de todos os tipos de mídia, seja nos jornais impressos, nos sites de notícia, no universo das redes sociais, todos se manifestaram, de uma forma ou de outra, o repúdio a este ato, totalmente em desacordo com a prática e a história desportiva.

Já, antes desta ofensa para com Israel, durante os Jogos Olímpicos no Brasil, um judoca egípcio se recusou a cumprimentar seu adversário israelense que o havia derrotado.

Estas manifestações de ódio fazem parte de um contexto mais amplo, a demonização do estado judeu.

Pode haver alguma dúvida de que Israel é o país mais vilipendiado do mundo hoje? Nenhuma outra nação engendra tanto desprezo, seja medido em polegadas de coluna de jornal, protestos de rua ou pixels de computador. O único aspecto do ódio mais perturbador do que a sua onipresença virulenta é a falta de proporção com os erros reais (e alegados) de Israel. A Coréia do Norte funciona como um vasto gulag, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, derrama armas químicas em crianças e os irmãos Castro governam despoticamente a ilha cubana por cinco décadas, mas nenhum desses regimes ditatoriais desperta a fúria dirigida ao estado democrático judaico. A maioria dos europeus, de acordo com pesquisas, considera este pequeno país de oito milhões de pessoas como a maior ameaça para a paz mundial. Um soldado israelense dispara uma bala de borracha na Cisjordânia e isso irá gerar multidões venenosas em cidades ao redor do globo; as forças armadas paramilitares iranianas assassinam manifestantes pacíficos em plena luz do dia e o mundo emite apenas um protesto.

Por que Israel é fruto deste ódio tão desmesurado?

A resposta fácil é o antissemitismo e, embora o ódio aos judeus certamente contribua para gerar hostilidade a Israel, esta não pode ser a única explicação. Conhecemos isso porque Israel, desde a sua fundação em 1948, tem sido um estado judeu, e ainda assim seu status como vilão do mundo só foi conquistado décadas mais tarde.

Grande parte do motivo da mudança nas atitudes do mundo pode ser atribuída a uma transformação básica na ótica do conflito no Oriente Médio. Quando Israel declarou sua independência em 14 de maio de 1948, fez isso como uma nação incipiente de sobreviventes do Holocausto e pioneiros agrários isolados, cercados por exércitos árabes hostis com a intenção de terminar o que os nazistas começaram. Nestas circunstâncias, não é difícil entender por que Israel ganhou a admiração de tantas pessoas em todo o mundo durante os primeiros anos de sua existência precária.

Momento Histórico:Barbra Streisand
interpreta o hino e conversa com
Golda Meir 


Israel aceitou o Plano de Partição das Nações Unidas para a Palestina, que dividiria o território do mandato britânico entre árabes e judeus e colocaria Jerusalém sob uma forma de fiscalização internacional. Os árabes o rejeitaram, escolhendo a guerra contra o compromisso. Quando Israel ganhou essa guerra, também ganhou a admiração de grande parte do mundo (não árabe e não muçulmano). Aqui estava uma pequena nação, uma jovem democracia, defendendo-se contra a agressão que tinha como objetivo aniquilar o país. Diante de tais desafios, Israel, nos meados do século XX, era facilmente identificável como David batalhando por sua própria sobrevivência contra o Golias árabe.

A narrativa, no entanto, começou a mudar após a Guerra dos Seis Dias de 1967. Em meio à defesa contra outra tentativa árabe de destruí-lo, Israel conquistou parte da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, territórios que tinham, até aquela época, sido ilegalmente ocupados pela Jordânia e pelo Egito, respectivamente. Ambas as parcelas de terra eram povoadas de árabes, muitos das quais haviam fugido do Mandato da Palestina - por sua própria vontade ou por serem expulsas de suas casas pelas tropas israelenses - em 1948.

Agora, o conflito poderia ser reformulado e Israel não era mais o pequeno país contra o vasto mundo árabe, mas era Israel poderoso contra os palestinos ocupados e apátridas (que começariam a abraçar uma denominação "palestina" distinta, em oposição à identidade nacional árabe). Em resumo, a luta de Israel para existir ao lado de seus vizinhos em paz passou de ser conhecida de conflito árabe-israelense (em que Israel era inegavelmente David) para o conflito israelo-palestino (em que seus inimigos começaram a afirmar que o estado judaico era na verdade Golias).

Assim, todas as vozes esquerdopatas, que viam os palestinos como o povo oprimido, passaram a perceber Israel como país dominante e agressivo.

Com esse apoio generalizado ao povo palestino, esta percepção tendenciosa do estado judeu gerou este ódio desmedido contra o país sionista e reacendeu o antissemitismo no mundo.

Como a mídia abraça sempre as visões esquerdistas, esse ódio se disseminou mundo afora.

Israel, os israelenses e, por consequência o povo judeu, começaram a ser atingidos por esta visão distorcida da história.

Assim, mesmo os eventos desportivos, que deveriam estar acima de qualquer ato político, tornaram-se arenas para manifestações de ódio. A nobreza dos esportes foi contaminada indelevelmente.

Entretanto, o mundo judaico pode contar com seu povo, que cria cidadãos como Tal Flicker, que orgulhosamente defende sua pátria no ato solitário de cantar o hino de Israel.


É cedo para sabermos se esta atitude de Abu Dhabi vai se repetir ou se podemos esperar que o mundo perceba o perigo de contaminar o mundo esportivo com ações que representem o oposto de tudo que o esporte acredita.

Porém, hoje, queremos cumprimentar este judoca que se colocou acima desta ofensa e levou seu hino para o pódio.

Kol HaKavod, Flicker.



(*)Floriano Pesaro
Secretário de Estado de Desenvolvimento Social
Deputado Federal

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