por Marcelo Faria(*).
Uma pesquisa de doutorado feita na UFF (Universidade Federal Fluminense) mostra o “nível” da pesquisa acadêmica brasileira feita com o dinheiro dos pagadores de impostos. A tese de Victor Hugo de Souza Barreto (clique aqui para ler), do Departamento de Antropologia, é praticamente a história da participação do autor em orgias gays.
O trabalho foi concluído no fim do ano passado. Victor ainda contou com bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para fazer “doutorado-sanduíche” no Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal.
Vários trechos da tese descrevem o contato físico de Victor com outros homens durante as festas, como quando descreve de forma explícita a relação sexual entre dois homens: “Enquanto a ação se desenrolava, os dois alternavam olhares entre si e comigo e o rapaz ficava passando a mão pelo meu corpo”. A proximidade era tão grande que o autor afirma que um homem ejacula no rosto dele.
Acompanhada por imagens das orgias, a tese usa linguajar chulo ao se referir aos órgãos sexuais e às modalidades de sexo praticadas para chegar a conclusões como esta: “Percebo as festas de orgia como locais de intensa e conflituosa produção de subjetividade e construções muito próprias relativas ao princípio da masculinidade e de ser homem; de uma forma particular de socialidade e de estabelecimentos de vínculos interpessoais; e, claro, de pôr em prática experimentações sensoriais e corporais de performances relativas à putaria.”
Ou esta: “Pensar a festa enquanto objeto etnográfico, ou como cenário de produção dos nossos dados, é lidar com esses limites dos nossos ‘entendimentos teóricos’, onde os próprios atores apontam para esse ‘além’. Um ‘além’ que claramente, pode entrar na seara de interpretações sobrenaturais e religiosas (e talvez por isso as festas tenham sido objeto de referência para uma literatura de rituais religiosos), mas também de um ‘além’ que tem a ver com algo de infinitesimal, de inapreensível, que ‘foge’ e ‘transborda’ ao entendimento. No caso, de um excesso que não se explica pela ordem, mas por ele mesmo”.
O trabalho de Victor Hugo não é o primeiro do gênero. Um mestrando da Universidade Federal da Bahia, por exemplo, participou de encontros sexuais em um banheiro público de Salvador(clique aqui para ler). “É cada vez mais visível o crescimento desses estudos no Brasil, visto o aparecimento de mesas e grupos de trabalho em nossas reuniões e congressos anuais”, reconhece Victor Hugo em sua tese.
A própria incursão do antropólogo nesse universo tem precedentes. Sua dissertação de mestrado, também na UFF, conta a história da participação do autor em saunas gays no Rio de Janeiro. Victor Hugo obteve não só a aprovação de seu projeto e uma bolsa de estudos do CNPq, como conseguiu que seu trabalho fosse publicado em livro pela editora da universidade, intitulado “Vamos Fazer uma Sacanagem Gostosa? (clique aqui para ler)“.
(*)Marcelo Faria é presidente do Instituto Liberal de São Paulo (ilisp.org.br)
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