por Everthon Garcia(*).
Em 1889, o Império do Brasil vivia sua era de ouro desde 1870, e o Imperador Dom Pedro II estava no auge de sua popularidade.
Em 1870, políticos republicanos lançaram o Manifesto Republicano e fundaram o Partido Republicano Paulista. Desde então, os republicanos sempre foram um verdadeira minoria, ocupando pouco cargos públicos. O Imperador garantia a liberdade de expressão e liberdade de imprensa absoluta, assim os republicanos estavam sempre fazendo ataques ao Império e ao Imperador não só governamentalmente mas também pessoalmente.
Desde a Guerra do Paraguai, muitos oficiais do Exército Imperial adquiriram um perfil de caráter positivista, tendente ao republicanismo, e com uma maior necessidade de investimentos por parte do Governo Imperial no Exército, além de um certo ciúme da relação entre a monarquia com a Armada Imperial (Marinha), esses oficias do exército passaram sonhar com uma república ditatorial onde eles seriam os líderes, e desde então começaram a influenciar os jovens nas escolas militares por todo o Brasil com positivismo e republicanismo.
Outro agravante foi a descrença, motivada por preconceito, visto que o Brasil era uma sociedade muito conservadora, na capacidade de uma mulher, mais precisamente da Princesa Isabel, de governar, apesar dela ter se mostrado muito competente tendo governo o Brasil por 3 vezes como Regente na ausência de seu pai. Junto com isso, o povo temia que o marido de Isabel, o Conde d’Eu, fosse quem realmente governasse por trás da sombra de Isabel.
Desde 1850, a escravidão vinha sendo abolida gradativamente para não afetar gravemente a economia e não gerar uma guerra civil, como nos EUA. Enfim, em 1888, a Princesa Isabel, então Regente do Império na ausência de seu pai, aboliu a escravidão definitivamente no Brasil com a Lei Áurea, porém essa lei não beneficiava ou concedia indenização aos senhores de terras que perderam seus escravos com ela.
Revoltados por não serem indenizados, os senhores de terra passaram a apoiar um novo governo que os indenizasse, assim, se voltaram aos políticos republicanos e se aliaram aos militares positivistas, passando então a apoiar a república.
Em novembro de 1889, os políticos republicanos estavam insatisfeitos com o ministério do Visconde de Ouro Preto e pretendiam derruba-lo com apoio da elite agrária e dos militares positivistas. O Marechal de Campo Manoel Deodoro da Fonseca, monarquista convicto e amigo do Imperador, havia sido chamado para este golpe e mais além, para se fosse o caso proclamar a república derrubando de uma vez por todas a monarquia. Deodoro recusou-se a derrubar a monarquia, o próprio já havia dito que “república no Brasil e desgraça nacional são a mesma coisa” e que “a monarquia é o único sustentáculo do Brasil”, apesar de se inclinar a por um fim na monarquia somente quando Dom Pedro II morresse. Mas enfim, o Marechal Deodoro não aceitou nenhuma proposta de golpe nem contra a monarquia, nem contra o ministério de Ouro Preto.
Foi então que no dia 14 de novembro os republicanos lançaram uma mentira que chegou rapidamente aos ouvidos de Deodoro propositalmente. A mentira dizia que o Visconde de Ouro Preto havia expedido uma ordem de prisão contra Deodoro e contra os lideres republicanos. Essa falsa notícia foi o argumento decisivo que convenceu Deodoro finalmente a levantar-se contra o Governo Imperial. Pela manhã do dia 15 de novembro, o Marechal reuniu algumas tropas no Campo de Santana. Penetrando no Quartel-General do Exército, Deodoro decretou a demissão do Ministério Ouro Preto – providência de pouca valia, visto que os próprios ministros, cientes dos últimos acontecimentos, já haviam telegrafado ao Imperador, que estava em Petrópolis – RJ, pedindo demissão. Ninguém falava em proclamar a República, tratava-se apenas de trocar o Ministério, e o próprio Deodoro, para a tropa formada diante do Quartel-General, ainda gritou um “Viva Sua Majestade, o Imperador!”
Enquanto isso, o Imperador Dom Pedro II retornou ao Rio de Janeiro em vista da situação, reuniu o Conselho de Estado no Paço Imperial e, depois de ouvi-lo, decidiu aceitar a demissão pedida pelo visconde de Ouro Preto e organizar novo Ministério.
Os republicanos precisavam agir rápido, para aproveitar os acontecimentos e convencer Deodoro a romper de vez os laços com a monarquia. Contaram mais uma mentira: Quintino Bocaiuva e o Barão de Jaceguai mandaram um mensageiro a Deodoro, para informar-lhe que o novo primeiro-ministro, escolhido pelo Imperador, seria Gaspar Silveira Martins, correligionário liberal do visconde deposto e político gaúcho com quem o Marechal não se dava por conta de terem disputado o amor da mesma mulher na juventude. Deodoro poderia aceitar qualquer coisa, mas não que seu inimigo pessoal de anos fosse nomeado Primeiro-Ministro. Foi então convencido de derrubar o regime.
Pela tarde, reunidos alguns republicanos e vereadores na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi lavrada uma ata declarando solenemente proclamada a República no Brasil, que foi levada ao Marechal Deodoro.
À noite do dia 15, o Imperador encarregou o conselheiro José Antônio Saraiva de presidir o novo ministério. O novo Presidente do Conselho de Ministros (do Partido Conservador – o mesmo de Deodoro) dirigiu-se por escrito ao Marechal, comunicando-lhe a decisão do Imperador, ao que respondeu Deodoro que já havia concordado em assinar os primeiros atos que estabeleciam o regime republicano e federativo.
Diante da recusa do Imperador, desiludido quanto ao futuro da monarquia, em reagir militarmente para sufocar o golpe, como instavam a Princesa Isabel, seu marido o Conde D’Eu, seu neto o Príncipe Dom Pedro e o Almirante Marquês de Tamandaré – este apoiado por toda a Armada Imperial, fez a República no Brasil, diante da surpresa generalizada do êxito da quartelada.
O povo não tinha a menor ideia dos eventos ocorridos. Para a população civil, tudo não passava de um desfile militar.
Um homem republicano havia sugerido que se fuzilasse a Família Imperial, mas o Marechal Deodoro não permitiria isso jamais. Ele reconhecia os méritos do Imperador, da Princesa Imperial e da monarquia, e devia toda a sua carreira a isso.
A Família Imperial Brasileira foi embarcada no navio Alagoas para partir para seu exílio na Europa em 17 de novembro de 1889, pela madrugada, para que a população, caso soubesse do que acontecia, não se revoltasse.
O Marechal Deodoro ofereceu a Dom Pedro II uma quantia equivalente a 4,5 toneladas de ouro para viver seu exílio, mas o Imperador recusou a oferta pois vinha do dinheiro público do Tesouro Nacional, e ainda disse: “Eu não posso aceitar. Porque nem Deodoro nem nenhum brasileiro tem o direito de tocar em um vintém sequer do Tesouro Nacional sem a aprovação do parlamento. Com que autoridade estes senhores dispõe do dinheiro público?”
Assim, sem nada, a Família Imperial deixou o Brasil em direção a Portugal, para depois se instalarem na França.
Apesar de já não mais ser Chefe de Estado há dois anos, de um país cuja forma de governo foi alterada, com a morte de Dom Pedro II em 1891 o Governo da República Francesa insistiu à Princesa Isabel para que se desse a Sua Majestade um funeral de Chefe de Estado, com tudo pago, e assim foi feito. 300 mil pessoas compareceram ao cortejo fúnebre do ex-Imperador do Brasil, dentre civis, a políticos franceses, a nobreza europeia, e representantes de diversos países republicanos e monárquicos, mesmo os mais longínquos como Pérsia, Japão e o Império Otomano.
Muitos dos participantes da proclamação da república mostraram-se severamente arrependidos do que fizeram:
“Majestade, me perdoe. Eu não sabia que a república era isto”
-Ruy Barbosa, político republicano
“Não era esta a república com que eu sonhava”
-Benjamin Constant, militar republicano
“Só volto ao senado para pedir perdão a Deus pelo que fiz para que viesse esta república”
-Quintino Bocaiuva, político republicano
“[…] E o sangue que não correu a 15 de novembro, ainda há de correr”
-Deodoro da Fonseca, presidente da república.
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