por Rafael Rosset(*),
Bono Vox é o típico esquerdista hipócrita, que prega contra a desigualdade social, mas perpetua a pobreza através da defesa dos impostos.
Bono Vox é aquele cara que é citado em livros-texto de psicologia quando o autor quer definir o conceito de “Complexo de Messias”. Em 2015, numa palestra no Clinton Global Initiative (opa), ele disse: “Os países da África são extremamente ricos em recursos, mas por que são pobres? Essas empresas extrativistas bilionárias não estão devolvendo a riqueza para o povo. (…) Você não pode dar esmolas para as pessoas com uma mão e apertar a garganta delas com a outra”. Ele estava se referindo a empresas como a Exxon Mobil, suspeitas de empregar esquemas (nem sempre ilegais, diga-se de passagem) para pagar menos impostos nos países em que operam.
E de esmola ele entende. Dos R$ 25 milhões arrecadados em 2010 por sua organização para fazer o bem sem olhar a quem, a One, apenas 1,2% foram efetivamente repassados a caridade. O resto foi para sustentar a folha de pagamento de mais de 120 ativistas e militantes em tempo integral, que cobram caro para percorrer o mundo espalhando o evangelho segundo o qual você deve dar mais dinheiro a eles, para que eles possam continuar correndo o mundo espalhando sua "pregação" e… não pera.
Bono também entende de planejamento tributário. Até 2006 o U2, que é uma empresa como qualquer outra, se valia de uma lei irlandesa da década de 60 para pagar menos impostos. Quando o U2 deixou de poder se beneficiar dessa lei, a banda transferiu seu domicílio fiscal para a Holanda, para continuar pagando menos impostos. O próprio Bono, que tem uma fortuna estimada em US$ 600 milhões, usou uma empresa com sede em Malta para pagar por uma participação em um centro comercial de uma pequena cidade da Lituânia, tudo para driblar a cobrança de impostos.
Assim, quando Bono critica o arranjo da Exxon para pagar menos impostos na África, ele sabe do que fala, porque ele faz exatamente o mesmo na Irlanda (e na Holanda, e em Malta, e na Lituânia). Ele costuma defender publicamente, com unhas e dentes, a lei irlandesa que prevê baixos impostos para corporações como o U2, mas acha ruim que uma petrolífera pague baixos impostos em Angola. A diferença é que, depois que ele morrer, vamos ter que esperar uns 30 ou 40 milhões de anos até ele virar petróleo e tornar-se algo efetivamente útil para a sociedade. Até porque, por enquanto, os únicos empregos que ele está gerando são os de advogados tributários e contadores especializados.
No Congresso, lar de gente que ganha R$ 30.000,00 por mês por um trabalho de 3 dias por semana, já tramita projeto de lei estipulando que qualquer pessoa com patrimônio superior a R$ 2 milhões deverá pagar imposto variando de 1% a 5% do total. Falam isso como se tivessem descoberto uma nova Laurion, a mina de prata que salvou a pele dos atenienses há 2500 anos (uma analogia pertinente, considerando que o estado brasileiro atua como extrativista da sociedade).
Notem que toda pessoa que defende maior taxação como medida de “justiça tributaria” defende mais impostos PARA OS OUTROS. Se você acha que ganha muito (e no Brasil, se você ganha mais de R$ 1.600,00 por mês já faz parte dos 10% mais ricos — se seu salario for acima de R$ 5.500,00 então, você ja é a elite do 1%), nada impede que você preencha um DARF com qualquer código e pague na casa lotérica mais próxima. Eu posso assegurar que o governo não vai devolver seu dinheiro se você não pedir. Eu tenho certeza que você, que acredita no Estado Robin Hood, não pedira, uma vez que acredita que esse seu dinheiro estará sendo redistribuído para quem tem menos que você.
Mas essa crença infantil de que o estado pode combater a desigualdade cobrando mais impostos, na verdade, não é historicamente a pauta majoritária das esquerdas. A grande bandeira socialista, o instrumento usado para semear o ódio de classes sempre foi a POBREZA. Capitalistas exploradores ricos de um lado, proletários explorados pobres de outro, essa sempre foi a narrativa standard. O que foi mais um furo n’água da análise marxista.
Vivendo no século XIX, Marx só poderia escrever acerca daquilo que via, e o que ele via era a luta de classes num capitalismo emergente. Nobreza (estado), aristocracia (capitalistas detentores dos meios de produção) e clero, juntos explorando o povo (proletariado). “Assim como pensava Marx, dada a realidade social de sua época, que a história consistia essencialmente em uma imensa e única metanarrativa de lutas de classes (…)” (Shlomo Sand).
Assim, Marx só poderia prescrever a supressão da nobreza (estado), o materialismo histórico (a religião é o ópio do povo) e a tomada dos meios de produção numa “ditadura do proletariado”. O que ele não poderia antever era que, com o desenvolvimento posterior do capitalismo nas economias centrais, ocorresse um fenômeno de massa denominado “classe média”, inserido no contexto das democracias liberais. Um enorme contingente populacional que, sem ter acesso aos meios de produção, alcançasse inimaginável padrão de vida pelo acesso ao consumo de bens e serviços; pessoas que, sem acesso direto ao poder político, tivessem força suficiente para se organizar politicamente e impor sua vontade através de representantes democraticamente eleitos; e por fim, pessoas que exigissem liberdade de consciência, para crer ou descrer daquilo que bem entendessem, não só em matéria de religião, mas principalmente em política.
Marilena Chauí, assim, está certa ao abominar e odiar a classe média e em denunciar a democracia burguesa, porque é a classe média, mais do que qualquer outra coisa, que torna desnecessária e obsoleta uma revolução socialista. Essa classe média que, sem ser nobre nem aristocrática, tampouco é proletária e não se vê oprimida.
Fonte: sensoincomum.org
Rafael Rosset @rafarosset Paulistano, 35 anos, advogado mas legal, tem um cachorro vira latas chamado Smirnoff que curte Iggy Pop e que sabe que rock nacional não é rock.
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