por Eduardo Mackenzie(*)
A melhor foto de Ernesto Che Guevara |
Um tal José Luis Ponce Caraballo não gostou de um excelente artigo do escritor colombiano Ariel Peña (leia Aqui) que, no 50º aniversário da morte de Che Guevara na Bolívia, desmonta a falsa imagem que Cuba fabricou e alimentou durante décadas, por razões ideológicas, do terrível aventureiro argentino-cubano.
Invocando a condição de “jornalista”, Ponce Caraballo conseguiu que lhe publicassem em Las 2 Orillas uma réplica agressiva contra Ariel Peña. Ocorre que José Luis Ponce Caraballo é nada menos que o embaixador de Cuba na Colômbia.
Ao ocultar sua qualidade de diplomata estrangeiro e ao dizer que era um simples “jornalista”, o senhor Ponce valeu-se de uma mentira para conseguir seu objetivo: declarar que Ernesto Guevara era um modelo de virtudes, um “exemplo” para muitos e que, ao contrário, Ariel Peña não tem direito de criticar um “líder de Cuba” sem haver “estudado mais a história” desse país.
O embaixador do castrismo em Bogotá acusou também Las 2 Orillas de cumplicidade por ter publicado a nota de Peña. Essa revista eletrônica, como quase toda a imprensa colombiana, excetuando as declaradamente de esquerda, pratica o pluralismo de opinião e publica comentários que não necessariamente coincidem com as idéias de sua direção.
Fiel à doutrina comunista de impor a censura de imprensa em todas as partes, e sem aprender nada da liberdade de imprensa que defende o país que o acolhe como embaixador, o agente castrista escreveu: “Não creio que um meio de comunicação publique um artigo sem compartilhar das idéias que nele se refletem”.
Vê-se que os serviços de Ponce Caraballo seguem a pista de todo aquele que critica a política cubana. Ele reprova Ariel Peña por ter escrito esse e outros artigos sobre Cuba “também marcadamente grosseiros”. Eu li quase tudo o que Ariel Peña escreve a respeito e não vejo neles grosseria alguma. O problema é que hoje é praticamente impossível, se não se é um escritor a soldo, escrever elogios sobre o Che e sobre a ditadura cubana.
O diplomata teve que recorrer ao exaltado escritor marxista José Saramago (1922-2010) para encontrar frases de elogio a Guevara, cuja imagem de herói político e moral declinou nos cinco continentes ante as revelações irrebatíveis que seus biógrafos mais independentes fizeram nos últimos anos. Saramago não era um modelo de probidade em matéria histórica: ele considerava que a situação atual dos palestinos é como a dos judeus no campo de morte de Auschwitz.
Ponce foi o mesmo que propôs em março passado que os “médicos” das FARC pudessem ir “graduar-se em Cuba” não se sabe ainda em quais matérias.
Em vez de pedir a outros que se inclinem ante o fetiche artificial criado pelos propagandistas de Havana, o embaixador deveria ler os testemunhos dos que conheceram o Che de perto e examinar os próprios escritos dele, suas cartas, discursos e diários, para descobrir lá o verdadeiro Ernesto Guevara, sua crueldade e insensibilidade diárias, sua desconfiança pelos intelectuais, poetas e escritores, aos quais chegava a considerar como inimigos potenciais, e que expulsava da ilha quando podia, como ocorreu a Allen Ginsberg, poeta beatnik norte-americano, judeu, homossexual e budista, em 1965. Poderá descobrir a obsessão do Che pela guerra e pelos fuzilamentos, e sua aterradora idéia de que o ódio é o motor da ação revolucionária.
Rebelde, o Che? Sem dúvida, mas também verdugo e, no final, vítima de seu próprio radicalismo e dos interesses estratégicos da URSS e de seus auxiliares cubanos.
O destemperado discurso do embaixador Ponce em defesa do fanático stalinista que era Ernesto Guevara, cognome “o carniceiro de La Cabaña”, foi publicada em 11 de outubro. Esperamos que Las 2 Orillas não feche agora suas páginas a Ariel Peña e que o direito dos editorialistas, comentaristas e jornalistas da Colômbia a criticar a ditadura cubana e seus personagens, e todos os governos em geral, continue sendo uma realidade, embora isso aborreça tanto o senhor José Luis Ponce Caraballo.
(*) Eduardo Mackenzie é jornalista e escritor
No twitter - @eduardomackenz1 Fonte: heitordepaola.com
Tradução: Graça Salgueiro
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