sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Que acontecerá se Bolsonaro for eleito.






por A.C.Portinari Greggio





Chegar à Presidência será difícil. Governar será muito, muito mais

Tudo indica que Bolsonaro está surfando uma curva exponencial ascendente. Seus índices de preferência, embora inferiores a 10%, têm tudo para crescer em rápida aceleração nos próximos dois anos, talvez suficiente para garantir-lhe, cœteris paribus, um terço ou mais dos votos, na pior das hipóteses, ou a maioria absoluta, na melhor. Há dois conjuntos de fatores a apontar nessa direção: a catástrofe interna do Brasil e a catástrofe internacional. Usamos o termo catástrofe no sentido literal do grego καταστροφή, “virada de cabeça para baixo”. É isso mesmo o que acontece com o Brasil e o mundo neste momento. Como consequência formaram-se, em vários países, vácuos políticos em que a população rejeita todos os candidatos chapas-brancas, inclusive das falsas oposições. Nessas situações, líderes carismáticos e descomprometidos como Bolsonaro têm reais possibilidades de cavalgar o tsunami e, passando por cima de esquemas, espertezas e barreiras, chegar ao poder supremo.


Haja tsunami. Se Bolsonaro continuar a crescer, todas as facções no poder se unirão em pânico, desesperadas, dispostas a tudo para barrar seu caminho. Manifestações de rua, terrorismo, pelegada sindical, artistas, fefeleches, intelectualha, CNBB, índios, quilombeiros, xibungos e sapatonas, ongues, todos juntos. Não vai faltar dinheiro: do Primeiro Mundo, milhões de dólares dessas fundações que financiam as ongues e a quinta-coluna apátrida e, é claro, do próprio governo federal – apesar da Lava-Jato. Desnecessário dizer que a mídia se engajará mit dem Hand aufs Herz nessa campanha: afinal, Bolsonaro representa tudo o que os currupacos odeiam e temem na vida.

Apesar de tudo, haverá limites. Os adversários de Bolsonaro terão de respeitar as regras da Constituição de 1988. Talvez tentem saídas pela tangente, como emendas parlamentaristas ou outras improvisações. Mas, dividido como está, em equilíbrio instável e enrascado na crise, o sistema político terá dificuldade em articular-se para puxadas de tapete. E, é claro, nem cogitará de golpe de Estado, pois não pode contar com as Forças Armadas e as organizações policiais para a aventura. Sem mencionar que, sendo a constituição de 1988 a sua constituição, o instrumento criado sob medida para garantir seu poder, o sistema político dificilmente consentirá em rasgá-la.

Em vez disso, mudará de estratégia. Ao perceber que o jogo está perdido, acatará o resultado e, dentro das normas da constituição, empossará solenemente Sua Excelência, o Presidente Jair Bolsonaro. Mas, enquanto isso, a conspiração para derrubá-lo já terá sido articulada, de modo que o novo Presidente, cercado de inimigos e com seu governo infiltrado por agentes e informantes hostis, assumirá um campo minado.

A campanha eleitoral será difícil, mas muito mais difícil será governar. É improvável que Bolsonaro possa contar com apoio no Congresso. Sem dúvida poderá eleger certo número de novos deputados, mas longe de constituir maioria.

Não podendo contar com o sistema político, é óbvio que o apoio terá de vir de fora e esse fato – confronto entre ruas e gabinetes – já prenuncia instabilidade.

A mais imediata base de apoio do novo governo serão os seus eleitores, que denominaremos base eleitoral. Entre esses, haverá duas classes: os eleitores conscientes e os de ocasião. Os conscientes têm capacidade de mobilização e de auto-organização, e poderão formar quadros políticos confiáveis, que denominaremos estrutura política civil.

Outra estrutura potencial de apoio seria a Reserva das Forças Armadas. Nesse aspecto, nenhum outro grupo se compara. São irmãos de farda, cujas idéias, sentimentos e ideais em tudo coincidem com Bolsonaro. Além de tudo, são competentes e cultos e grande número, cujas carreiras foram prematuramente amputadas pelo cruel sistema de promoções, ainda está no auge de suas capacidades. A esta estrutura, chamaremos Reserva mobilizada.

Haverá outros grupos, dependendo do esforço dos organizadores: empresários, vítimas do crime, religiosos, atiradores e – por que não? – intelectuais e artistas.

Finalmente, uma instituição especial, que não podemos chamar de apoio, mas desempenhará papel decisivo no que vier a acontecer: as próprias Forças Armadas.

Eis aí elenco resumido do drama. Resta saber qual vai ser o enredo: fica tudo como está ou revolução? E Bolsonaro, que papel pretende, e poderá, representar?

Respostas no próximo INCONFIDÊNCIA.



Artigo de janeiro para o Jornal Inconfidência






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