segunda-feira, agosto 31, 2015

Ou temos capitalismo ou temos escravidão - não há terceira via.






Há quem jure que a busca pelo lucro é algo cruel, abusivo, ultrajante, imoral e maléfico. É fato que há pessoas desonestas que recorrem a métodos inescrupulosos para obter lucros em seus empreendimentos, mas basear-se em tais pessoas para fazer uma condenação automática do lucro é uma postura ignorante.

A verdade é que foi a busca pelo lucro o que aniquilou aquela milenar abominação que foi a escravidão humana. Eliminar a capacidade das pessoas de buscar o lucro significaria reimplantar a escravidão no mundo. E creio que nenhum de nós quer isso de volta.

A escravidão era um sistema econômico

O que até hoje ainda não é corretamente entendido é que a escravidão era a base do sistema econômico vigente no mundo antigo — como na Grécia e em Roma.

Todo o sistema escravocrata se baseava praticamente em um só objetivo: obter excedentes. É claro que os defensores da escravidão sempre recorriam a justificativas criativas para defender o sistema escravocrata, mas, no final, tudo se resumia a obter excedentes. Pode-se dizer, portanto, que a escravidão era uma espécie depoupança coercivamente impingida.

Um indivíduo rudimentar e despreparado irá, caso seja abandonado à própria sorte, gastar praticamente tudo o que ele ganha. Se ele conseguir auferir algum excedente, ele provavelmente irá gastar este excedente em luxos, prazeres, frivolidades ou em coisas piores. Enquanto ele não desenvolver um caráter mais forte, enquanto ele não adquirir uma personalidade mais estável, sobrará muito pouco de seu excedente para ser utilizado em outras coisas.

Um escravo, por outro lado, jamais aufere rendimentos e, consequentemente, não tem como gastá-los. Todo o excedente produzido por um escravo é transferido para seu senhor. Foi exatamente este tipo de arranjo gerador de excedentes o que tornou Roma um império rico.

Mas então surgiu a Europa cristã. Antes do advento do cristianismo, não se encontra uma única cultura antiga que proibia a prática da escravidão; a escravidão era vista como algo absolutamente normal. Sendo assim, a Europa abolir o sistema escravocrata que havia herdado de Roma foi uma mudança monumental.

Os europeus substituíram a escravidão — de maneira lenta e por causa de seus princípios cristãos, e não em decorrência de algum plano consciente e deliberado — adotando as seguintes posturas:



1. Desenvolvendo o hábito da frugalidade e da poupança em nível individual. Isso requereu uma total mudança de postura e um enfoque vigoroso em virtudes como a temperança (autocontrole) e a paciência.

2. Substituindo o arranjo de "produção forçada de excedentes" pelo lucro. Para isso, os europeus tiveram de recorrer à criatividade para alterar totalmente a natureza de suas atividades comerciais. Eles tiveram de inovar, inventar e se adaptar para conseguir mais excedentes por meio do comércio.

Sob um novo sistema que acabou sendo rotulado de capitalismo, a poupança e a criatividade se tornaram os novos geradores de excedentes, e nenhum ser humano teve de ser escravizado.


Um mundo sem lucros

Por outro lado, temos exemplos bem recentes do que acontece quando uma cultura proíbe o lucro. Pense em tudo o que ocorreu em paraísos socialistas como a URSS de Stalin, a China de Mao, e as nações escravizadas do Leste Europeu, e no que ainda ocorre na Coréia do Norte e em Cuba.

São exemplos lúgubres que ilustram exatamente o que ocorre quando toda uma população é escravizada pelo partido dominante. Nestes sistemas, o indivíduo é obrigado a trabalhar e a produzir, mas é proibido de usufruir os frutos e os rendimentos de seu próprio trabalho, tendo até mesmo o seu consumo restringido pelo governo.

O lucro fornece incentivos para se trabalhar e empreender. Quando ele é abolido, não apenas o ato de trabalhar e de empreender perde sua função, como também aqueles que querem prosperar não têm como fazê-lo de maneira honesta. E isso leva ou ao desespero ou à criminalidade.

O lucro é obtido por meio de trocas comerciais inovadoras e recompensadoras. Se o lucro é eliminado, tem-se a escravidão. O formato dessa escravidão pode ser variável, mas será uma escravidão de algum tipo.

Com efeito, este resultado será o mesmo não importa se a eliminação do lucro ocorrer por meio do comunismo (em que o lucro é punido com a pena capital) ou do fascismo (em que todo o lucro é direcionado para os amigos do regime).

A questão principal é o excedente produzido:
  1. Se o excedente pode ser produzido e acumulado pelo cidadão comum por meios honestos, a escravidão pode ser eliminada.
  2. Se os cidadãos honestos não tiverem a permissão de produzir e de manter seus próprios excedentes (sendo seus excedentes confiscados ou pelo estado ou pelos parceiros do estado), o resultado será alguma forma de escravidão.

O lucro é simplesmente uma ferramenta — uma maneira de gerar excedentes sem a coerção imposta pela escravidão.

O que nos leva à conclusão definitiva: é impossível se livrar simultaneamente da escravidão e do sistema de lucros. Você pode eliminar um dos dois, mas sempre que eliminar um, ficará inevitavelmente com o outro.

O lucro se baseia nas virtudes

Para se viver em uma civilização que prospera por meio do lucro, é necessário que o ser humano saiba domar todos aqueles seus instintos mais primitivos — algo típico dos animais —, como a inveja. É necessário saber desenvolver o autocontrole, a paciência, a temperança e, principalmente, saber se concentrar em algo maior do que meras possessões materiais — afinal, é exatamente o materialismo o motor da inveja e do igualitarismo.

É vergonhoso que o Ocidente tenha, ao longo dos últimos séculos, se afastado de suas virtudes tradicionais, e passado a considerá-las vícios burgueses ou meras superstições. Se algum dia finalmente perdermos todas as nossas virtudes, o sistema de lucros perderá sua proteção e não mais será visto como um motor da prosperidade, e a antiga e extinta prática da escravidão irá voltar.

Nossas ações têm consequências.

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Para uma abordagem mais técnica e aprofundada sobre a questão dos lucros, leia:




Paul Rosenberg é o presidente da Cryptohippie USA, uma empresa pioneira em fornecer tecnologias que protegem a privacidade na internet. Ele é o editor FreemansPerspective.com, um site dedicado à liberdade econômica, à independência pessoal e à privacidade individual.

O trágico legado da "Nova Matriz Econômica".



O trágico legado da "Nova Matriz Econômica".
- um resumo cronológico (com dados atualizados).

por Leandro Roque


"O Brasil está conseguindo o raro feito de extrair opiniões quase unânimes mundo afora. São poucos, pouquíssimos, os economistas que ousam discordar de que o país entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado. E mais: são ainda mais raros aqueles que duvidam da capacidade de o Brasil se tornar uma das maiores potências econômicas do planeta em um par de dezenas de anos."

O trecho acima foi extraído de uma reportagem da edição de 29 de dezembro de 2010 da revista IstoÉ, a mesma que, em outra edição daquele mesmo ano, afirmou que já éramos uma potência.

Dentre os "poucos, pouquíssimos, economistas que ousam discordar de que o país entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado" certamente estavam os economistas deste site, que ainda em 2010 alertavam que tudo era infundado.

E onde estamos hoje?

Com os recém-divulgados números do PIB para o segundo semestre de 2015, há uma constatação perturbadora: dos últimos sete trimestres, a economia encolheu em quatro deles, e ficou estagnada em outros dois (veja na segunda tabela, primeira linha).

Apenas os investimentos — que são a variável mais importante do PIB, pois são eles que indicam a saúde da economia e são eles que permitem que a situação futura seja melhor — apresentaram uma contração trimestral de 12%, a pior desde 1996.

Eis uma amostra de notícias colhidas apenas nos últimos meses:




























Como viemos parar nesta situação?

O pano de fundo

No primeiro semestre de 2008, a economia brasileira estava relativamente arrumada. As prudentes políticas fiscal e monetária adotadas no primeiro mandato do governo Lula pela dupla Palocci-Meirelles haviam gerado um nível de confiança e uma estabilidade econômica poucas vezes vivenciados no país pós-democratização. 

A renda da população crescia. O poder de compra do salário mínimo chegaria ao segundo maior valor da história do real (o maior havia sido alcançado em agosto de 1998). A pobreza e a miséria haviam caído 50% entre 2003 e 2008, e os investimentos aumentaram 25% (de 15,3% para 19,1% do PIB) também nesse período. 

A inflação de preços, embora jamais invejável para um suíço, manteve-se relativamente comportada (pelo menos em termos de Brasil): após o IPCA acumulado em 12 meses ter chegado a 17% em maio de 2003, o índice despencou para saudosos 2,9% em março de 2007.

Tudo isso foi possibilitado por uma política monetária previsível e austera (para os padrões brasileiros), conduzida por uma equipe que jamais havia se deixado seduzir pelo conto de que "um pouco mais de inflação gera mais crescimento". 

Em decorrência dessa política monetária decente — atestada pelo comportamento do real em relação ao ouro —, o real se apreciou continuamente perante o dólar e perante todas as principais moedas do mundo, o que garantiu um crescente padrão de vida para os brasileiros.

Para coroar, em abril de 2008, o país viria a ganhar o grau de investimento (investment grade) conferido pela agência de classificação de risco pela Standard & Poor's.

Essa foi uma época em que era difícil para a oposição atacar o governo em termos econômicos, pois a condução pragmática da economia — principalmente em termos de política monetária — não oferecia grandes brechas para um ataque.

E então veio a crise financeira mundial, em setembro de 2008. E, com ela, veio uma guinada na condução da política econômica.

Eis, a seguir, um breve resumo cronológico de tudo o que o governo fez com a economia brasileira desde o segundo semestre de 2008.

O roteiro da lambança

1) A economia brasileira chega ao primeiro trimestre de 2008 relativamente arrumada, com uma política monetária prudente, com o real se valorizando em relação às principais moedas do mundo, e com a renda e osinvestimentos crescendo.

2) No segundo semestre de 2008, ocorre a crise financeira mundial.

3) Para combater os efeitos da crise, o governo brasileiro dá uma guinada na política econômica e passa a utilizar os bancos estatais — principalmente o BNDES — como a principal ferramenta de expansão do crédito.

4) Como a economia até então estava arrumada, essa política de expansão do crédito estatal aparenta funcionar no curto prazo. A economia cresce e a inflação de preços permanece sob controle (para os níveis brasileiros, é claro). O Brasil chama a atenção do resto do mundo.

5) Dilma Rousseff toma posse em janeiro de 2011 e sua equipe econômica não apenas decide manter a vigente política de crédito dos bancos estatais, como ainda decide intensificá-la, adicionando outros elementos heterodoxos.

6) A Nova Matriz Econômica é oficializada. Essa "nova matriz" — na realidade, incrivelmente velha — se baseia em cinco pilares: política fiscal expansionista, juros baixos, crédito barato fornecido por bancos estatais, câmbiodesvalorizado e aumento das tarifas de importação para "estimular" a indústria nacional. A crença do governo passa a ser a de que "um pouco mais de inflação gera mais crescimento econômico".

7) No início de 2012, o governo declara guerra aos bancos privados que não baixarem os juros, e utiliza os bancos estatais para fornecer empréstimos a juros baixos, ampliando dessa forma a expansão do crédito. O consumismo e o endividamento passam a ser explicitamente estimulados pelo governo, com a crença de que ambos é que são os motores do crescimento econômico. A expansão do crédito em conjunto com o aumento das tarifas de importação faz com que a inflação de preços comece a incomodar.

8) Também em 2012, o governo unilateralmente decide revogar os contratos de concessão das empresas de geração e transmissão de energia (os quais terminariam entre 2014 e 2018) com o intuito de fazer novos contratos e impor tarifas menores.

9) Com o ataque às geradoras e transmissoras, as distribuidoras ficam sem alternativa e têm de recorrer ao mercado de energia de curto prazo, no qual os preços negociados são muito superiores em relação aos ofertados pelas geradoras que ficaram sob intervenção. As distribuidoras ficam desabastecidas e endividadas.

10) O Tesouro — ou seja, nós, os pagadores de impostos — começa a repassar dinheiro para as distribuidoras, garantindo artificialmente a política de tarifas baratas. O endividamento do governo aumenta.

11) O governo faz concessões de aeroportos e poços de petróleo, mas tabela o lucro permitido e impõe regulamentações esdrúxulas. Os grandes investidores não se interessam.

12) Em paralelo a tudo isso, um mastodôntico esquema de corrupção já operava na Petrobras, que destroça o capital da empresa. Ao mesmo tempo, o governo obriga a Petrobras a vender às distribuidoras gasolina abaixo do preço pelo qual ela foi importada. E a obriga também a produzir utilizando uma determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil. O capital da Petrobras, portanto, sofre um triplo ataque. A Petrobras se torna a empresa mais endividada do mundo.

13) O uso do BNDES para a escolha de campeãs nacionais é intensificado. O Tesouro se endivida emitindo títulos que pagam o valor da SELIC e repassa esse dinheiro para o BNDES, o qual irá então emprestá-lo a grandes empresas a juros abaixo de 5%, e em prazos que chegam a 30 anos. Tal política não apenas é inflacionária como ainda afeta substantivamente a situação das contas públicas. A dívida bruta do governo começa a subir acentuadamente.

14) Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal intensificam o uso do crédito direcionado, que consiste em empréstimos para pessoas físicas e jurídicas a juros muito abaixo da SELIC. O intuito é estimular tanto o consumismo quanto os investimentos. Essa medida, além de pressionar a inflação de preços, levou oendividamento das famílias a níveis recordes.

15) Em decorrência dos repasses do Tesouro ao BNDES e às distribuidoras de energia, as contas públicas entram em desordem. Para mantê-las artificialmente equilibradas, o governo recorre a truques contábeis que consistem em atrasar repasses tanto para bancos estatais quanto para autarquias, como o INSS. Esses truques contábeis se tornam popularmente conhecidos como "pedaladas fiscais", as quais constituem um crime de responsabilidade fiscal.

16) A inflação de preços em nenhum momento fica perto da meta de 4,50% estabelecida pelo próprio Banco Central. Em vários momentos ela ultrapassa o teto da meta, de 6,50%. No setor de serviços, a inflação de preços fica continuamente entre 8 e 9%.

17) O descontrole das contas públicas, a inflação de preços persistentemente alta, o tabelamento dos lucros nos serviços de concessão e as seguidas demonstrações de desrespeito aos contratos do governo (como a Medida Provisória 579, a qual alterou totalmente o sistema elétrico) afetam o humor dos empresários, que reduzem os investimentos (os quais estão em queda há nada menos que sete trimestres seguidos).

18) O número de miseráveis volta a crescer.

19) Os investidores estrangeiros finalmente percebem os truques contábeis do governo e entendem que a dívida bruta está alcançando padrões perigosos. A agência de classificação de risco Standard & Poor's ameaça acabar com o grau de investimento do país.

20) Como consequência, a taxa de câmbio dispara. O dólar, que estava em R$ 1,65 no início do governo Dilma, chega a R$ 3,60 em meados de agosto de 2015. A moeda brasileira derrete.

21) Em simultâneo à disparada do dólar, os repasses do Tesouro às distribuidoras de energia são abolidos. As tarifas encarecem, em média, 58%. (Em Porto Alegre e São Paulo, os reajustes ficam acima de 70%; em Vitória e Curitiba, passam dos 80%). Paralelamente, a Petrobras decide que é hora de recompor seu caixa (dizimado tanto pela corrupção quanto pela política de vender gasolina a preços menores que os custos de importação), e opreço da gasolina dispara nas bombas.

22) Em decorrência de tudo isso, a taxa de inflação de preços passa a subir a um ritmo não vivenciado desde 2003. O IPCA acumulado em 12 meses chega a 9,56% em julho de 2015.

23) O aumento dos combustíveis e da conta de luz obriga empresas, estabelecimentos comerciais e ofertantes de serviços a repassar esses custos aos seus preços. Como consequência, vendem menos e a receita cai.

24) O Banco Central, que havia se mantido totalmente submisso ao governo no primeiro mandato de Dilma, tenta recuperar a credibilidade perdida e volta a tentar controlar a carestia aumentando seguidas vezes a taxa básica de juros, as quais praticamente dobram em dois anos. Isso restringe uma parte do crédito e, consequentemente, afeta o crescimento da renda nominal

25) No entanto, dado que a carestia é majoritariamente decorrente da desvalorização cambial e do reajuste de preços administrados pelo governo, os aumentos da SELIC são inócuos nesse combate. Logo, cria-se uma situação de renda estagnada e preços em ascensão, o que gera uma queda da renda real da população.

26) Os seguidos aumentos dos juros, em vez de combaterem a carestia, afetam severamente os investimentos e oconsumo.

27) Com a carestia em alta, a renda real em queda e o endividamento recorde da população, as vendas no varejodespencam, as vendas de automóveis desabam, a indústria encolhe (e já vem encolhendo há 4 anos, não obstante todo o protecionismo) e o desemprego aumenta. As famílias endividadas — consequência inevitável de uma política de estímulo ao consumo — têm dificuldade para quitar as parcelas de suas dívidas. A inadimplência bate recorde.

28) Com renda em queda e custo de vida em alta, a classe média vai atrás de bicos para tentar fechar as contas. E pode encolher este ano.

29) Empresários se dizem pessimistas e sem intenção de investir. Os investimentos apresentam a pior contração trimestral desde 1996. Já a confiança do consumidor é a pior em 13 anos

30) Com previsões de que a economia encolherá mais de 2% em 2015 e 0,3% em 2016, e de que a inflação de preços fechará o ano perto de 9,3%, o cenário econômico é pior do que uma estagflação: temos desemprego em alta, preços em alta, e renda em queda. E tudo isso aditivado pela desvalorização cambial. As perspectivas futuras não são nada alvissareiras.

Conclusão

A obra acima descrita não é resultante de uma única política ruim. Ela é o resultado de meticulosas e desastrosas intervenções governamentais na economia. Não se chega à situação atual de um mês para o outro ou mesmo de um ano para o outro; é necessária toda uma soma de erros. É necessária toda uma série de intervenções que, ao darem errado, exigem novas intervenções apenas para "corrigir" os efeitos inesperados das intervenções anteriores.

E esta sequência de intervenções adquiriu um ritmo espantoso no Brasil dos últimos 4 anos. 

Poucos países minimamente sérios vivenciam, de forma tão explícita e tão rotineira quanto o Brasil, as consequências das intervenções estatais em suas economias.

Exatamente por isso não deixa de ser curioso que, justamente o país em que os resultados nefastos das intervenções do governo na economia são os mais visíveis, é também aquele que possui uma das populações que mais adoram o estado.


Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

domingo, agosto 30, 2015

Demagogia generalizada.







Demagogia generalizada.por Paulo Cruz(*)





Quando Marx afirmou que a história da humanidade é a história da luta de classes, repetia a ideia maluca de Rousseau, formulada quase 100 anos antes, de que o homem era naturalmente bom, mas se corrompeu pela instituição da sociedade e da propriedade privada. Desde então, a doutrina marxista ganhou ares axiomáticos e praticamente todo formador de opinião concorda com ela. Esse pensamento é reproduzido não só na academia, mas também na cultura: literatura, cinema, novelas, programas de tevê.

Dias atrás, assistindo a um famoso programa dominical, fui surpreendido por um quadro interessante. Quatro artistas – desses que fazem novelas – convidaram quatro crianças beneficiadas por um projeto social da emissora em parceria com a Unesco para terem contato com a profissão que desejam seguir. Foi lindo ver o olhar daquelas crianças, vislumbrando a possibilidade de fazer aquilo com que sonham. Uma delas, com 7 anos e um desejo impetuoso de ser médica, vibrou ao presenciar a realização de um ultrassom. Possibilitar esse contato muitas vezes é decisivo para um indivíduo. Mostrar aonde seu esforço pode levá-lo é um exercício de motivação incomparável. Parabéns aos envolvidos.

Porém, na semana seguinte, o programa convidou quatro crianças de condição social elevada para visitar projetos sociais. E o maniqueísmo ideológico estava formado.

O problema não foi a ação em si, mas o discurso implícito. Da boca dos artistas, essas crianças foram convidadas a “viver uma experiência nova”. Uma delas ouviu: “eu tenho certeza de que esse lugar vai mudar a sua vida”. E a outra disseram que teria contato com crianças que, como ela (?), “sonham com um futuro melhor”. Pensei: que mundo é esse onde crianças ricas não sabem mais o que são crianças pobres? Na minha infância isso era a coisa mais normal do mundo. Tive amigos ricos e amigos favelados.

Antes da falência do ensino público – bingo! – e do isolamento dos ricos por causa da violência – bingo! –, era comum ricos e pobres estudarem e brincarem juntos. Fato é que, apesar de as crianças de condições sociais muito díspares estarem cada vez mais separadas hoje, essa não é a realidade absoluta. Qualquer família que melhora um pouco sua renda coloca os filhos em escolas particulares, onde eles têm contato com crianças mais ricas (e com melhor ensino, claro). Eu mesmo, que sou negro, professor de escola pública e no programa fui curiosamente representado pelas crianças assistidas pelo projeto social, tenho filho em escola particular. E grande parte da população está dentro dessa média que o discurso ignora. Por que reforçá-lo, então?

Em seu livro 'Os intelectuais e a sociedade', o economista americano Thomas Sowell lembra-nos de que, em geral, os formadores de opinião favorecem-se de “crenças abstratas que são comuns entre os intelectuais, os quais podem ter pouco ou nenhum conhecimento de primeira mão sobre os indivíduos, as organizações ou as circunstâncias concretas envolvidas”. E que, “além do mais, tais atitudes não são somente disseminadas para muito além das fileiras da intelligentsia, mas se tornam base de políticas, leis e decisões judiciais”. Bingo! Esse discurso favorece a própria intelligentsia e o governo, que dele se aproveita para criar seus programas sociais que, apesar de não resolverem os problemas, lhe geram o bom e velho capital eleitoral.


Publicado na Gazeta do Povo.

(*)Paulo Cruz é professor de filosofia e mestrando em Ciências da Religião.

quinta-feira, agosto 27, 2015

Palestinos: a diferença entre "nós" e "eles".




por Bassam Tawil (*)





Não dá para contar quantas vezes eu ouvi de judeus israelenses frases como: "sinto-me envergonhado" e "é lamentável" frente ao crime terrível que custou a vida do bebê palestino Ali Dawabsha na semana passada na aldeia de Duma na Cisjordânia.

A contundente reação do público e de líderes israelenses ao ataque incendiário é, honestamente, um tanto consoladora. A profusa condenação israelense a esse crime deixou a mim e a outros palestinos não só envergonhados como também constrangidos, porque não é assim que nós palestinos reagimos aos ataques terroristas contra judeus, mesmo aos assassinatos hediondos de crianças judias.

Na realidade, nossa reação só fez trazer sentimentos de desgraça e desonra. Enquanto o primeiro-ministro israelense, presidente e outras autoridades reagiram de pronto, de maneira contundente, condenando o assassinato de Dawabsha, nossos líderes raramente reprovam os ataques terroristas contra judeus. E quando um líder palestino como Mahmoud Abbas já emite uma condenação, ela costuma ser vaga e ambígua.

Tome por exemplo o que aconteceu no ano passado após o sequestro e assassinato de três adolescentes israelenses por palestinos na Cisjordânia. O Presidente Abbas não só demorou quatro dias para emitir uma nota condenando o ataque, e mesmo assim a condenação foi, na melhor das hipóteses, titubeante: "a presidência palestina... condena a série de eventos que ocorreram na semana passada, que começou com o sequestro de três jovens israelenses". Abbas então passou a condenar Israel por deter dezenas de membros do Hamas após o sequestro e assassinato dos três jovens.

Já em 2014, quando Abbas condenou um ataque terrorista palestino que matou cinco israelenses em uma sinagoga em Jerusalém, Najat Abu Baker, autoridade da Fatah, alguns dias depois explicou que a condenação de Abbas foi feita "dentro de um contexto diplomático... ele é forçado a falar dessa maneira para o mundo".

A condenação por parte de Abbas ao ataque contra a sinagoga nas vizinhanças de Har Nof em Jerusalém se deu, ao que tudo indica, somente devido à pressão do Secretário de Estado dos Estados Unidos John Kerry, que telefonou duas vezes ao líder palestino exigindo que ele se manifestasse contra os assassinatos. A nota de Abbas dizia que a liderança palestina condenava a "matança de crentes em uma sinagoga e todos os atos de violência, independentemente de onde vierem". A nota também pedia o fim das "incursões e provocações de colonos contra a Mesquita de Al-Aqsa".

A condenação ambígua e apática de Abbas dos ataques de palestinos contra israelenses é motivada unicamente para consumo público, objetivando acima de tudo, acalmar doadores ocidentais, de modo que continuem canalizando fundos para a Autoridade Palestina (AP). Além disso, suas condenações quase sempre procuram culpar Israel pelos ataques terroristas desfechados pelos palestinos, aparentemente na tentativa de justificar o assassinato de judeus nas mãos de terroristas palestinos.

Em contrapartida, os líderes israelenses que condenaram o assassinato do bebê palestino, pareciam firmes e inequívocos. O Primeiro Ministro Netanyahu após visitar os pais e o irmão do bebê morto, que ficaram feridos no ataque incendiário e que estão recebendo tratamento médico em hospitais israelenses, disse o seguinte: "quando você fica ao lado da cama dessa criança pequena e, sabendo que seu irmão, ainda bebê, foi brutalmente assassinado, fica-se chocado, fica-se indignado. Nós condenamos isso. Empregamos tolerância zero contra o terrorismo, independentemente de onde vier, independentemente do lado da cerca que vier".

A condenação clara e contundente de Netanyahu deixou a mim e a outros palestinos pensando quando foi a última vez que ouvimos declarações semelhantes dos nossos líderes. Não me recordo de ter algum dia ouvido Abbas ou outro líder palestino dizer estar chocado e indignado sobre o assassinato de um judeu em um ataque terrorista palestino. Tampouco consigo me lembrar da última vez em que eu ouvi uma autoridade palestina ter visitado vítimas israelenses de um ataque terrorista palestino.

A condenação expressada pelos líderes israelenses sobre o assassinato do bebê é uma voz sincera que reflete a ótica da maioria esmagadora do público israelense. Em contrapartida, as condenações dos ataques terroristas pelos líderes palestinos não refletem o sentimento generalizado das ruas palestinas. Toda vez que Abbas relutantemente condena um ataque terrorista palestino, ele fica diante de uma onda de críticas de muitos palestinos.

Diferentemente do público israelense, muitos palestinos, não raramente correm para justificar e até saudar ataques terroristas contra judeus. Foi o que aconteceu há apenas alguns dias, quando um homem israelense foi morto a tiros perto de Ramala. Várias facções e grupos militares palestinos aplaudiram o assassinato, dizendo que se tratava de "uma reação natural aos crimes israelenses".

Há uma diferença gigantesca na forma dos israelenses e dos palestinos reagirem ao terrorismo. O assassinato de Dawabsha levou milhares de israelenses a comícios contra a violência condenando o abominável crime. Alguém já ouviu falar de algum comício semelhante do lado palestino quando terroristas assassinam civis judeus inocentes? Há alguma autoridade do alto escalão palestino ou figura importante que ousaria se manifestar em público contra o assassinato de judeus em um comício no centro de Ramala ou na Faixa de Gaza? Já houve algum ativista palestino que ousasse realizar um comício em uma cidade palestina para condenar ataques suicidas ou o massacre de uma família inteira de judeus?

Enquanto os israelenses realizam comícios para condenar os ataques terroristas contra o nosso povo, nós comemoramos o assassinato de judeus. Quantas vezes saímos às ruas para distribuir balas e doces em júbilo pela matança de judeus? Essas cenas repugnantes de homens e mulheres comemorando ataques terroristas contra judeus nas ruas da Cisjordânia e Faixa de Gaza jamais foram condenadas pelos nossos líderes. Essas cenas se tornaram corriqueiras toda vez que terroristas palestinos cometem ataques terroristas contra judeus.

Essas cenas contrastam duramente com as declarações e comícios realizados em Israel em consequência dos ataques terroristas contra palestinos. Nossos líderes precisam aprender com o Presidente de Israel Reuven Rivlin, que disse estar "envergonhado" e "penalizado" pelo assassinato do bebê palestino. Quando foi a última vez que um líder palestino fez uso de uma retórica dessa natureza para condenar o assassinato de judeus? As declarações lacônicas emitidas pelo gabinete de Abbas em resposta aos ataques terroristas contra judeus jamais falaram de vergonha e dor.

Nós não ensinamos ao nosso povo os princípios da tolerância e da paz. Preferimos continuar avalizando e aplaudindo o terrorismo, principalmente quando direcionado contra judeus. Queremos que o mundo todo condene o terrorismo somente quando ele ceifa a vida de palestinos. Chegamos a um ponto em que muitos de nós têm medo de se manifestar contra o terrorismo ou simplesmente o aceitam quando ele ceifa a vida de judeus.

O presidente israelense tem bons motivos para estar envergonhado pelo assassinato do bebê. Quando os palestinos terão a sensação de vergonha em relação à forma que nós reagimos em relação ao assassinato de judeus? Quando chegará a hora de pararmos de glorificar terroristas e colocar nomes em ruas e praças públicas em homenagem a eles, e sim condená-los de forma categórica e expulsá-los da nossa sociedade? Nós ainda temos muito a aprender do público e dos líderes israelenses.


(*)Bassam Tawil está estabelecido no Oriente Médio.


Publicado no site do Gatestone Institute.


Tradução: Joseph Skilnik

quarta-feira, agosto 26, 2015

Marxismo cultural: o Cristianismo dentro de uma revolução.






por Eguinaldo Hélio ( pastor)





O comunismo é o inimigo satânico do cristianismo.
A. W. Tozer


Parece que o gigante está acordando, ainda que lentamente, ainda que tardiamente. O tema do Marxismo Cultural está entrando nas pautas e sua nociva influência começa agora a ser denunciada de modo mais constante. Graças aos esforços iniciais solitários do professor Olavo de Carvalho, a percepção de uma revolução silenciosa em curso começa a fazer barulho. Ele teve coragem de amarrar o gonzo no pescoço do gato e este agora já não consegue se achegar tão sorrateiro. Temos de dar honra a quem a merece.

Que o marxismo é anticristão em sua essência e terrivelmente mortal em sua história não é novidade para qualquer pessoa de bom senso que conheça o mínimo de teologia cristã e um pouco dos acontecimentos do século XX. Mas a estratégia adotada pelos teóricos comunistas para fazer triunfar sua fé ideológica no Ocidente tornou o inimigo invisível e imperceptível. Eles inverteram o percurso. Ao invés da derrubada violenta do poder político para dominar e moldar a cultura, a vitória viria pela transformação da própria cultura, segundo os moldes marxistas. Isso seria feito de modo sutil e lento até que a sociedade estivesse pronta para aceitar passivamente o domínio totalitário comunista como salvação messiânica.


Escola de Frankfurt, Antonio Gramsci (este principalmente), Georg Lukács, entre outros, foram as mentes que conceberam e disseminaram as sementes de morte em nossa cultura. Esses intelectuais pensaram, escreveram e agiram para inserir no Ocidente o pensamento pró marxista. E funcionou. O dragão vermelho do comunismo logo começou a ser acariciado como um gato persa e mimado pelos intelectuais como a cura incontestável para todos os males humanos. 

Hoje, símbolos religiosos são violentados sexualmente em plena praça pública, com o dinheiro público e ninguém acha isso anormal. Em um país com grande maioria cristã, a Bíblia e os valores cristãos são diariamente difamados nas escolas e universidades fomentando discriminação e ódio. E isso diante de uma platéia repleta de cristãos. Total silêncio. 

Apesar de o comunismo ter assassinado mais de cem milhões no século XX, os livros escolares silenciam e dessa forma uma versão mutilada da história é apresentada à nova geração. Ainda que o socialismo produziu miséria por onde passou é louvado nas cátedras como redentor. Ao invés das críticas merecidas, recebe apologia constante. 

E o pior de tudo. Mesmo o marxismo sendo ateu, materialista, darwinista e anticristão, encontrou entre os cristãos não apenas quem o defendesse, mas ainda quem se utilizasse de seus conceitos para fazer teologia! Isso não é amar o inimigo. É se prostituir com ele!

Um país onde você encontra marxismo defendido inconteste em escolas, universidades, livros, jornais, política e igrejas, ao mesmo tempo em que se diz que o comunismo morreu, com certeza é um país onde o marxismo cultural já triunfou.

Se acreditamos que as Escrituras Sagradas revelam a verdade absoluta sobre quem é Deus, sobre quem nós somos e sobre o que o mundo é, percebemos que estamos envolvidos em uma atmosfera pútrida que sufoca nossa alma cristã. Se a moral cristã sobre sexo e família é o padrão divino para a humanidade e estamos sendo criminalizados por acreditar nela, então algo está bem errado. Se o ensino religioso é proibido nas escolas e os símbolos religiosos proibidos em repartições públicas, enquanto algo sinistro como a ideologia de gênero é fomentado e empurrado goela abaixo no sistema educacional, há algo errado.

Nada disso é coincidência. É pura estratégia. É fruto de décadas de marxismo cultural, desde que Antonio Gramsci começou a ser publicado no Brasil na década de 1960. 

Dormimos e o inimigo não semeou o joio. Semeou a erva daninha, o parasita que deseja sufocar e destruir todos os conceitos cristãos que sustentamos. Essa cultura de morte quer nos fazer acreditar que nossas crenças e nossa moral não passam de preconceitos arcaicos a serem escondidos bem fundos em nossas vidas privadas, enquanto eles expõem seus conceitos como verdades eternas.

Quando uma maioria esmagadoramente cristã está vivendo esmagada por uma cultura sutil ou declaradamente anticristã é difícil perceber que alguma coisa está muita errada.


Eguinaldo Hélio de Souza é pastor, perfil no Facebook

segunda-feira, agosto 24, 2015

Como o Google poderia manipular a eleição de 2016.







por Robert Epstein



O Google tem a capacidade de direcionar milhões de votos para um candidato sem que ninguém se dê conta.


O próximo presidente americano poderia ter o acesso ao cargo facilitado não apenas por anúncios na TV ou discursos, mas pelas decisões secretas do Google, e ninguém – exceto por mim e talvez outros poucos pesquisadores desconhecidos – saberia com isto foi alcançado.

Uma pesquisa que tenho realizado nos anos recentes sugere que o Google Inc. acumulou muito mais poder para controlar eleições – de fato, para controlar uma ampla variedade de opiniões e crenças – do que qualquer companhia já teve na história. O algoritmo de busca do Google pode facilmente alterar as preferências de eleitores indecisos em 20% ou mais – acima de 80% em alguns grupos demográficos – sem que virtualmente ninguém saiba que está sendo manipulado, de acordo com experimentos que realizei recentemente juntamente com Ronald E. Robertson.

Dadas as muitas eleições que são vencidas por pequenas margens, isto dá ao Google o poder, bem agora, de “virar” 25% das eleições nacionais no mundo inteiro. Nos EUA metade de nossas eleições presidenciais têm sido vencidas por margens inferiores a 7,6%, e a eleição de 2012 foi vencida por uma margem de 3,9% - bem dentro do controle do Google.

Há pelo menos três cenários bastante reais pelos quais o Google – talvez, mesmo sem o conhecimento dos líderes – poderia moldar ou mesmo decidir a eleição do próximo ano. Quer os executivos do Google vejam ou não deste modo, os empregados que constantemente ajustam o algoritmo de busca do gigante estão manipulando pessoas a cada minuto de cada dia. Os ajustes que fazem, progressivamente influenciam nosso pensamento – incluindo, verifica-se, nossas preferências de voto.

O que chamamos em nossa pesquisa de SEME – Search Engine Manipulation Effect (Efeito da Manipulação de Mecanismos de Busca) vem a ser o maior efeito comportamental já descoberto. Nosso novo estudo abrangente, que acaba de ser publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), inclui os resultados de cinco experimentos que conduzimos com mais de 4.500 participantes em dois países. Devido ao SEME ser virtualmente invisível, como forma de influência social, devido aos efeitos serem tão extensos, e devido à inexistência de regulações em qualquer lugar do mundo que impeçam o Google de usar e abusar desta técnica, acreditamos que o SEME é uma séria ameaça aos sistemas democráticos de governo.

O Google Trends, enquanto escrevo, mostra que Donald Trump está atualmente surrando todos os outros candidatos na atividade de busca em 47 dos 50 estados. Esta atividade poderia empurrá-lo para cima nos rankings de busca? E estes rankings mais altos poderiam proporcionar mais apoio a ele? Quase que definitivamente – a depender de como os empregados do Google escolham ajustar os coeficientes numéricos no algoritmo de busca. O Google admite ajustar o algoritmo 600 vezes por ano, mas o processo é secreto, então o efeito que o sucesso do Sr. Trump terá sobre em como ele aparece nas buscas do Google está presumivelmente fora das mãos dele.

Nossa nova pesquisa deixa poucas dúvidas a respeito da capacidade do Google de controlar os eleitores. Em experimentos de laboratório e online realizados nos EUA fomos capazes de impulsionar a proporção de pessoas que preferem qualquer candidato entre 37% e 63% após apenas uma sessão de busca. O impacto do ranking de visualizações tendencioso repetido por um período de semanas ou meses seria indubitavelmente maior.

Em nosso experimento básico os participantes foram distribuídos aleatoriamente em um de três grupos, nos quais os rankings de busca favoreciam o candidato A, candidato B e nenhum candidato. Foram fornecidas aos participantes breves descrições de cada candidato, e então perguntamos a eles o quanto gostaram e confiaram em cada candidato, e em quem eles votariam. Então foi permitido a eles 15 minutos para realizarem pesquisa online sobre os candidatos utilizando um mecanismo de buscas semelhante ao Google, que criamos e denominamos Kadoodle.

Cada grupo teve acesso aos mesmos 30 resultados de busca – todos resultados de buscas reais vinculados a páginas web reais de uma eleição passada. Apenas a ordem dos resultados diferiu nos três grupos. As pessoas podiam clicar livremente em qualquer resultado ou alternar entre qualquer das cinco diferentes páginas dos resultados, assim como qualquer um pode no mecanismo de busca do Google.

Quando nossos participantes estavam fazendo buscas, perguntamos a eles algumas questões novamente, e,voilà: em todas as mensurações as opiniões se alteraram na direção do candidato que tinha sido favorecido no ranking. Confiança, simpatia e preferência de voto foram alteradas previsivelmente.

O mais alarmante, também demonstramos esta alteração com eleitores reais durante uma campanha eleitoral real – num experimento conduzido com mais de 2.000 eleitores indecisos por toda a Índia durante a eleição de 2014 para o Lok Sabha (Câmara do Parlamento Indiano) – a maior eleição democrática da história, com mais de 800 milhões de eleitores habilitados e 480 milhões de votos finalmente computados. Mesmo aqui, com eleitores reais que estavam altamente familiarizados com os candidatos e que estavam sendo bombardeados com retórica de campanha todos os dias, mostramos que os rankings de busca poderiam aumentar a proporção de pessoas a favor de qualquer candidato em mais de 20 % - mais de 60% em alguns grupos demográficos.

Dado quão poderoso é este efeito, é possível que o Google tenha decidido o vencedor da eleição na Índia. Os dados diários do Google sobre a atividade de buscas relacionadas à eleição (subsequentemente removidas da internet, mas não antes que eu e meus colegas baixássemos as páginas) mostraram que Narendra Modi, o vencedor final, superava seus rivais em atividade de busca em mais de 25% por 61 dias consecutivos antes que os votos finais fossem computados. O alto volume de atividades de busca poderia facilmente ter gerado rankings de busca mais altos para Modi.

O comentário oficial do Google sobre a pesquisa SEME é sempre o mesmo: “Fornecer respostas relevantes tem sido o fundamento da abordagem do Google em buscas desde o início. Se tivéssemos que mudar o curso, isto abalaria a confiança das pessoas em nossos resultados e na companhia”.

Algum comentário poderia ser mais sem sentido? Como fornecer “respostas relevantes” às questões relacionadas à eleição exclui a possibilidade de favorecimento a um candidato sobre outro nos rankings de busca? A declaração do Google parece muito próxima de uma negativa encoberta de que sempre põe seus dedos na balança.

Há três cenários confiáveis sob os quais o Google poderia facilmente estar “virando” eleições pelo mundo enquanto você lê isto:

Primeiro, há o Cenário Western Union: os executivos do Google decidem qual candidato é melhor para nós – e para a companhia, é claro – e burlam os rankings de busca em conformidade com isto. Há precedente nos EUA para este tipo de manipulação eleitoral (backroom king-making). Rutherford B. Hayes, o 19o presidente dos EUA, foi posto no cargo, em parte, devido ao forte apoio da Western Union. Nos idos de 1800 a Western Union tinha o monopólio das comunicações na América, e pouco antes das eleições de 1876 a companhia fez o seu melhor para assegurar que apenas novas estórias positivas sobre Hayes aparecessem nos jornais a nível nacional. Também compartilhou todos os telegramas enviados pela equipe de seu oponente com a equipe de Hayes. Talvez o modo mais efetivo de influência política exercida no atual mundo da tecnologia seja doar dinheiro a um candidato e então usar a tecnologia para assegurar que ele ou ela vença. A tecnologia garante a vitória, e a doação garante comprometimento, o que o Google tem certamente explorado nos anos recentes da administração Obama.

Dado o forte vínculo do Google com os democratas, há razão para suspeitar que se o Google ou seus empregados interferirem para favorecer seus candidatos, será para ajustar o algoritmo de busca para favorecer Hillary Clinton. Em 2012 o Google e seus principais executivos doaram mais de 800 milhões de dólares para Obama, mas apenas 37 mil dólares para Romney. Pelo menos seis altos funcionários de tecnologia no governo Obama, incluindo Megan Smith, diretora executiva de tecnologia do país, são antigos empregados do Google. De acordo com uma publicação recente do Wall Street Journal, desde que Obama chegou ao cargo, representantes do Google têm visitado a Casa Branca com frequência dez vezes superior aos representantes de outras companhias – uma vez por semana, em média.

Hillary Clinton claramente tem o apoio do Google e é bem atenta aos valores do Google nas eleições. Em abril deste ano ele empregou uma alta executiva do Google, Stephanie Hannon, para trabalhar como sua diretora de tecnologia. Não tenho razões para suspeitar que Hannon usaria suas antigas relações para auxiliar sua candidata, mas o fato é que ela – ou qualquer outro indivíduo com influência no Google – ter o poder de decidir eleições, ameaça solapar a legitimidade do sistema eleitoral, particularmente em eleições que são vencidas por pequenas margens.

Este é, de qualquer forma, o cenário mais improvável. Que companhia se arriscaria ao repúdio público ou às punições corporativas que se seguiriam ao ser pega manipulando eleições?

Segundo, há o Cenário Marius Milner: Um funcionário desonesto no Google que possua senha com autoridade suficiente, ou habilidades de hacker, faz uns poucos ajustes nos rankings (talvez após receber uma mensagem de texto de algum velho amigo que agora trabalha na campanha), e a obra está feita. Em 2010, quando o Google foi pego fazendo varredura de informações pessoais de redes Wi-Fi desprotegidas em mais de 30 países usando veículos do Google Street View, a culpa foi atribuída a um único funcionário: o engenheiro de software Marius Milner. Então eles o demitiram, certo? Não. Ele ainda está lá. E no LinkedIn ele atualmente identifica sua profissão como “hacker”. Se, de algum modo, você teve a impressão de que ao menos uns poucos dos 37.000 funcionários do Google são um pouquinho mais espertos que Milner e possuem uma certa malícia – bem, você provavelmente está certo, motivo pelo qual o cenário do empregado desonesto não é exagerado como pode parecer.

E terceiro, – e esta é a possibilidade mais assustadora – há o Cenário do Algoritmo: Sob este cenário todos os empregados do Google são cordeirinhos inocentes, mas o software é mau. O algoritmo de busca do Google está empurrando um candidato para o topo dos rankings devido ao que a companhia pudicamente desconversa e atribui tudo à atividade “orgânica” de buscas pelos usuários; é inofensivo, veja você, porque é natural. Sob este cenário, um programa de computador está escolhendo nossas autoridades eleitas.

Colocando de outra maneira. Nossa pesquisa sugere que não importa quão inocentes ou desinteressados os empregados do Google possam ser, o algoritmo de buscas do Google, impulsionado pela atividade dos usuários, tem sido determinante no resultado de eleições vencidas por pequenas margens pelo mundo por anos, com progressivo impacto a cada ano devido à crescente penetração da internet.

O SEME é poderoso precisamente porque o Google é bom no que faz, seus resultados de busca são geralmente esplêndidos. Tendo aprendido este fato, com o tempo chegamos a um alto grau de confiança naqueles resultados. Também aprendemos que bem ranqueado significa material melhor, motivo pelo qual 50% de nossos cliques vão para os primeiros dois itens, com mais de 90% de todos os cliques indo para aquela primeira página da busca. Infelizmente, quando se trata de eleições, aquela confiança extrema que temos desenvolvido nos torna vulneráveis à manipulação.

Nos dias finais de uma campanha, fortunas são gastas em blitzes na mídia direcionadas a um punhado de municípios onde eleitores indecisos determinarão os vencedores em todos os estados indecisos. Que desperdício de recursos! A pessoa certa no Google poderia influenciar aqueles eleitores chave mais do que poderia qualquer discurso de campanha; não há recurso mais barato, mais eficiente ou meio mais sutil para “virar” os eleitores indecisos que o SEME. O SEME também tem uma misteriosa vantagem sobre cartazes e outdoors: quando as pessoas estão inconscientes da origem da influência, elas acreditam não estar sendo influenciadas de modo algum; acreditam que decidiram por conta própria.

Republicanos, anotem: Seria particularmente fácil para o Google realizar uma manipulação em benefício de Hillary Clinton, porque de todos os grupos demográficos que observamos até agora, nenhum tem sido mais vulnerável ao SEME – em outras palavras, tão cegamente confiantes em rankings de busca – do que republicanos moderados. Num experimento nacional que conduzimos nos EUA fomos capazes de alterar em elevadíssimos 80% dos republicanos moderados em qualquer direção que escolhemos, apenas variando rankings de busca.

Há muitas maneiras de influenciar eleitores – mais maneiras que nunca nestes dias, graças à TV a cabo, aos dispositivos móveis e à internet. Por que ter tanto medo do mecanismo de busca do Google? Se os rankings são tão influentes, todos os candidatos não estariam usando as últimas técnicas de SEO (Search Engine Optimization – Otimização de Mecanismos de Busca) para certificarem-se de ficar bem ranqueados?

SEO é competitivo, como são outdoors e comerciais de TV. Sem problema aí. O problema é que, para todos os propósitos práticos, há apenas um mecanismo de busca. Mais de 75% das buscas online nos EUA são realizadas no Google, e em muitos outros países esta proporção é de 90%. Isto significa que se o CEO do Google, um empregado desonesto ou mesmo apenas o algoritmo de busca por si mesmo, favorecer um candidato, não há meio de contra-atacar esta influência. Seria como se a Fox News fosse o único canal de televisão do país. Com a crescente penetração da internet e mais pessoas obtendo informação online sobre os candidatos, o SEME torna-se uma forma cada mais forte de influência, o que significa que os programadores e executivos que controlam mecanismos de busca também tornam-se mais poderosos.

Pior ainda, nossa pesquisa mostra que mesmo quando as pessoas notam que estão sendo influenciadas por rankings de busca, suas preferências de voto ainda se alteram nas direções desejadas – até mais do que as preferências das pessoas que estão alheias à influência. Em nosso estudo nacional, nos EUA, 36% das pessoas que eram inconscientes da influência dos rankings mudaram em direção ao candidato que escolhemos por elas. Mas 45% daqueles que estavam conscientes da influência também mudaram. É como se a influência estivesse servindo como uma forma de prova social; o mecanismo de busca claramente prefere um candidato, logo este candidato deve ser o melhor. (Resultados de busca são presumidamente tendenciosos, afinal; eles supostamente nos mostram o que é melhor, o segundo melhor e assim por diante).

Rankings tendenciosos são difíceis de serem detectados por indivíduos, mas e a respeito de reguladores e fiscais eleitorais? Infelizmente, o SEME é fácil de esconder. A melhor maneira de exercer este tipo de influência é fazer o que o Google, a cada dia, está se tornando melhor em fazer: emitir relatórios de busca customizados. Se resultados de busca que favorecem a um candidato forem enviados a indivíduos vulneráveis, os reguladores e fiscais serão especialmente pressionados a encontrá-los.

Para registro, a propósito, nossos experimentos atendem às normas de ouro da pesquisa em ciências sociais: são aleatórias (o que significa que as pessoas são distribuídas aleatoriamente em diferentes grupos), controladas (o que significa que incluem grupos nos quais as interferências estão tanto presentes como inexistentes), contrabalançadas (o que significa que detalhes críticos, como nomes, são apresentados a metade dos participantes em uma ordem e na ordem inversa à outra metade) e em dupla ocultação (double-blind - o que significa que nem os sujeitos das experiências, nem ninguém que interage com eles, têm qualquer ideia de quais sejam as hipóteses ou em que grupos de pessoas estão distribuídas). Os sujeitos de nossas pesquisas são diversificados, correspondem tão próximo quanto possível às características do eleitorado do país. Finalmente, nossa publicação recente no PNAS incluiu quatro reproduções; em outras palavras, demonstramos repetidamente – sob diferentes condições e com diferentes grupos – que o SEME é real.

Nossa pesquisa mais recente sobre o SEME, realizada com aproximadamente 4.000 pessoas pouco antes das eleições nacionais no Reino Unido, na primavera passada, procura meios pelos quais sejamos capazes de proteger as pessoas da manipulação. Encontramos o monstro; agora estamos tentando compreender como matá-lo. O que temos aprendido até agora é que a única forma de proteger as pessoas de ranking de buscas tendenciosos é quebrar a confiança que o Google trabalhou tão duro para construir. Quando deliberadamente mesclamos rankings, ou quando exibimos vários tipos de alertas que identificam o viés, podemos, em parte, suprimir o SEME.

Entretanto, é difícil imaginar o Google alguma vez degradando seus produtos e debilitando sua confiança de tal maneira. Para proteger eleições livres e justas, isto nos deixa apenas uma opção, tão impalatável quanto possa parecer: regulação governamental. (Grifos do autor).


Publicado no site da Politico Magazine.

Tradução: Flavio Ghetti

sexta-feira, agosto 21, 2015

Manifestações Pró Dilma, mais uma farsa do PT.












O que nas redes se chamou de #MarchaDaMortadela ou #MortadelaDay, não passou de
mais um embuste do partido que curiosamente tem um nome que nada tem a ver, hoje, com a realidade. 

O Petê é sem dúvida um partido de trabalhadores que nunca trabalham, já que podem se dar ao luxo de em plena quinta feira, um dia útil, transformar as cidades num inferno para quem precisou trabalhar; de estudantes que eventualmente vão às Universidades para algo que não seja badernar e de intelectuais (leia-se intelequituais) que não pensam. 






Veja o que eles disseram durante o ato do PT em Belo Horizonte: