Não escrevi ainda o artigo detalhado que gostaria de escrever sobre este assunto. Por isso, deixarei aqui alguns comentários rápidos sobre a "polêmica do momento".
Há muitos aspectos a serem comentados, já que a mídia mais uma vez está demonstrando uma enorme má vontade na cobertura da medida executiva que barra o ingresso, nos Estados Unidos, de nacionais de sete países. Por ora, no entanto, me limitarei ao essencial.
A chave para compreender o critério utilizado pelo governo americano para determinar quais países deveriam entrar na lista é o conceito de "estado falido", que designa os governos que não possuem um controle efetivo de seu território.
Todos os países que compõem a lista (com a exceção do Irã) estão enfrentando guerras civis que colocam em cheque a eficácia de seus respectivos governos. É o caso da Síria, do Iraque, da Líbia, do Iémen, da Somália e do Sudão. Como todos esses países estão enfrentando conflitos internos que desafiam a autoridade de seus governos, os processos de concessão de vistos e de admissão dos nacionais desses países se tornam extremamente complexos. Estados falidos não possuem os meios para controlar o fluxo de entrada e saída de seu território, para garantir a autenticidade dos documentos de seus nacionais, e uma série de outras capacidades necessárias para a avaliação eficiente dos riscos envolvidos na admissão de um estrangeiro em um determinado território. Isso gera uma série de problemas atípicos para o processo de concessão de vistos e de verificação de segurança, o que justifica e, por que não?, torna necessária a medida anunciada ontem pelo presidente Donald Trump.
Mais uma vez, não se trata de uma invenção do novo presidente. Medidas similares foram adotadas por inúmeros presidentes americanos, incluindo o presidente Obama, que, em momentos diferentes, baniu o ingresso de iraquianos e de sírios aos Estados Unidos. Vale lembrar ainda que o banimento é temporário (tem duração de três meses) e que sua finalidade é estabelecer, em cooperação com as autoridades dos países que estão na lista, novos critérios para distinguir terroristas dos demais cidadãos.
Como a Arábia Saudita, o Egito e outros países cujos nacionais estavam envolvidos nos ataques do 11 de setembro não enfrentam nenhuma situação similar a desses países, e os EUA já possuem critérios satisfatórios para distinguir, dentre os nacionais destas países, aqueles que representam e aqueles que não representam riscos para a segurança nacional americana, não havia por que incluí-los na lista.
Por fim, cabe perguntar: contra o que estaria se voltando a suposta "xenofobia" ou o suposto "preconceito" do presidente Trump? Contra países árabes? Neste caso, por que ele deixou inúmeros países árabes de fora da lista e incluiu nela países que não possuem uma maioria étnica árabe? Contra países muçulmanos? Nesse caso, por que 80% (cerca de 1 bilhão) dos muçulmanos continuam elegíveis para ingressar legalmente nos EUA?
Não há nada que una especificamente esses países a não ser o fato de que eles podem ser considerados "estados falidos". Eis, portanto, a chave para compreender o que o presidente americano está fazendo e para demolir as acusações mentirosas de quem diz que essa é uma medida "preconceituosa", "xenófoba" e "racista". O presidente Donald Trump não está perseguindo os adeptos de uma religião, ele está tentando proteger os adeptos de todas as religiões (e irreligiões) do terrorismo jihadista.
Usando uma linguagem metonímica, a moda agora é comparar "refugiados" islâmicos justamente com judeus, que fugiram deles por toda a história.
Imagine que várias pessoas se mudarão para seu bairro. Elas são machistas. Elas espancam mulheres. Elas odeiam judeus, negam o Holocausto e admiram Adolf Hitler. Elas são homofóbicas, acham que homossexualismo é doença e pecado, pensam como na Idade Média e que gays devem ser mortos. Também são racistas: acham que algumas raças e etnias devem ser extintas pelo bem delas. Você aceitaria receber tais pessoas? E se elas fossem os assim chamados “refugiados islâmicos”? Pois eles são praticamente idênticos.
A linguagem molda o pensamento, e a forma como algo é descrito muda nosso apreço a ela. Aliada a ideologias de moda, que se julgam profundos pensamentos estudados e sopesados, palavras como “feminismo” e “islamofóbico” convivem no mesmo discurso, sem que metade do Ocidente pareça atentar para a impossibilidade lógica, factual e existencial da convivência entre feministas e muçulmanos – apenas para se ficar no exemplo mais óbvio dos dias que correm.
Dessubstancializadas as palavras, que funcionam apenas como gritos de guerra e mandos de ordem para determinados segmentos políticos, os usuários da língua apenas podem preencher os sons que emitem dos vocábulos com analogias a realidades mais fáceis de serem absorvidas – via de regra fenômenos gigantescos ou ínfimos.
É o que estudiosos do fenômeno chamam de “linguagem metonímica”, que só faz referências às próprias impressões que pretende causar. Para entender qualquer evento complexo na política moderna, a regra de ouro é uma comparação alquebrada com o nazismo.
A ordem executiva assinada por Donald Trump, que instala um veto de entrada a 5 países muçulmanos em voga por serem contumazes exportadores de terroristas foi um destes eventos em que os comunicadores, que deveriam informar algo ao público além do que ele já presumiria saber, preferem apenas reduzir algo difícil a um referencial facilmente digerível, que cause horror às massas irrefletidamente.
O nacionalismo de Hitler
Um problema óbvio surge: os assim chamados “refugiados” islâmicos não se parecem nem um pouco com os judeus que estavam sendo perseguidos e dizimados por Adolf Hitler na Alemanha nazista. Exatamente o oposto: como qualquer criança de 10 anos assistindo a um noticiário pela primeira vez, eles estão exatamente do lado oposto, caçando judeus ao lado dos nazistas. Comparar “refugiados” muçulmanos logo a judeus é algo que deveria fazer qualquer um passar vergonha pela ignominia por anos sob risadas colossais, como a mamona de Requião. No entanto, é a regra hoje para se parecer alguém inteligente.
A substância dos fatos é bem diferente. Adolf Hitler era um socialista que levou a cabo uma forma de socialismo nacionalista, o Nazionale Sozialismus, ou nazismo. Apesar de o nacionalismo estar fora de moda no mundo e o caráter socialista do Terceiro Reich ser comumente ignorado, sua distância do modelo marxista-leninista se dava pelo conceito de Estado-Nação, algo quase exógeno à Alemanha: o poder do povo, incluindo sua “raça”, deveria se concretizar em um Estado forte com líder plenipotenciário, em um centralismo absoluto.
O inimigo que era o bode expiatório comum para ser culpado pelos defeitos europeus na época (inclusive por socialistas) eram os dois povos sem pátria a vaguear pelas nações: os ciganos e os judeus. Com a diferença óbvia de que os judeus prosperavam onde quer que parassem, dominavam a arte do comércio, da poupança e da especulação e até hoje são líderes em disciplina e patentes. Adolf Hitler, em um de seus discursos mais famosos na Hofbräuhaus em Munique e quase nunca traduzido, explica “por que somos anti-semitas” usando o velho bode expiatório do judeu, povo pária “sugando” os alemães, exigindo uma pátria livre de elementos “estrangeiros”.
Para o palpiteiro de 140 caracteres desconhecedor de qualquer estudo sério sobre o totalitarismo nazista, isto pode parecer um nacionalismo “simples”, modelo “meu país é melhor do que o seu”. Não é preciso avançar mais do que 10 páginas da leitura de Mein Kampf para testemunhar Hitler usando expressões francesas, elogiando arte italiana ou enxergando nos “nórdicos”, até então países pobres e rurais, seu grande modelo. O alvo de Hitler são elementos não-“arianos” em território alemão.
Sem entender isso, é praticamente impossível entender um dos eventos mais importantes da II Guerra Mundial, a Campanha Norte-Africana, quando a o Terceiro Reich operou na Líbia, Egito, Marrocos, Argélia (Operação Tocha) e Tunísia (Operação Tunísia), com efeitos que perduram até hoje. Foi tema de diversos filmes, como O poder de um jovem. O próprio Fusca foi projetado para ser bem usado no deserto (com poucos empurrões poderia ser “descapotado”). As forças Deutsches Afrikakorps foram atuantes para enfrentar o Common Wealth britânico na África, espalhando valores como representatividade popular e direitos individuais, tão caros à Inglaterra. Os planos de Hitler para a África incluíam um império colonial indo de Gana a Camarões.
Contanto que cada etnia ou, como Hitler as chamava, cada “raça” ficasse dentro de seu cercadinho, com uma potente Alemanha militarmente expansionista como “eixo” de influência no mundo, viveríamos sob o Tertium Imperium Germanicum.
Adolf Hitler: #refugeeswelcome
Seu alvo primordial eram judeus. Quem mais odiava judeus no mundo, apesar de o anti-semitismo ser corrente por séculos na Europa, era o povo que queria substituir o monoteísmo abraâmico de Israel por um outro modelo: os muçulmanos.
Com o esfacelamento do Império Otomano na Primeira Guerra, que o Estado Islâmico hoje tenta reviver, os territórios em disputa lutam pela criação também de estados soberanos, agravados pelas migrações e reformulações decorrentes da Grande Guerra. Surge um movimento que, mirando a mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém, a primeira tentativa islâmica de aniquilação completa dos judeus do mundo, reivindica um vasto território chamado Palestina, e inicia um movimento de “Nacionalismo Palestino”, para criar um novo país exatamente onde está a Israel histórica, mas livre de judeus.
O líder do Nacionalismo Palestino era Amin al-Husseini, o “Grande Mufti de Jerusalém”. Apesar de usar um título dado pelo Império Britânico, sua ideologia era “anti-colonialista”, o que se espalhou pelo mundo a partir da educação centralizada na ONU e foi a única aprendida no Brasil desde então. Era anti-sionista, o movimento que reclamava aos judeus um país próprio onde Israel sempre existiu, e contrário às leis “imperialistas” do Common Wealth, que sempre garantiram que o povo não sofresse com tiranos.
Durante a Segunda Guerra, se refugiu na própria Alemanha nazista, colaborando com o Terceiro Reich fazendo transmissões via rádio e recrutando aos alemães soldados bósnios muçulmanos para a Waffen SS, formando a 13.ª Divisão de Montanha da Waffen SS Handschar, uma tropa de elite muçulmana-nazista para assassinar judeus e acelerar o Holocausto. Handschar (bósnio Handžar, árabe khanjar, خنجر) é a cimitarra turca do Império Otomano.
Em troca, em encontro com o próprio Adolf Hitler, al-Husseini demandou ajuda para destruir Israel, estabelecendo uma independência árabe e o reconhecimento de um “Estado palestino” no lugar de Israel, conforme profecia islâmica. Em fevereiro de 1941, após encontro com Benito Mussolini, al-Husseini faz com que Alemanha nazista e Itália fascista reconheçam o “direito” de os estados árabes resolverem a “questão judaica”.
Em novembro, se encontra com o próprio Adolf Hitler, após conversas com Ernst von Weizsäcker e Joachim von Ribbentrop. Hitler estava ocupado com a guerra e com o “problema judeu”, mas prometeu apoio ao nacionalismo palestino contra judeus protegidos pela Inglaterra. A Alemanha nazista se foi, mas a retórica “anti-colonialista” e o reconhecimento a fórceps de uma suposta “Palestina”, que não permite nem assentamentos judaicos (ou seja: judeus morando e existindo pacificamente) permanece, transmitida da Alemanha nazista diretamente para a ONU.
Essa história não parece ser extremamente conhecida fora da Alemanha, e não parece que passou nas aulas de História dos jornalistas e das pessoas gritando que “Aqui se aceita refugiados!” no aeroporto JFK, em Nova York, após o anúncio de Donald Trump.
O mundo islâmico sempre odiou judeus, mas por motivos religiosos, enquanto a Europa odiava judeus por motivos econômicos (eram a burguesia que enriquecia com comércio, destruindo a antiga aristocracia rural) e nacionais: eram um povo “estranho”, que não comungava da mesma missa e não possuía os mesmos hábitos. Os judeus, na Europa, se fechavam em guetos: não tentavam impor o judaísmo aos países europeus. Eram, sim, verdadeiros refugiados: perseguidos desde a Antigüidade por impérios poderosíssimos (sua história começa com um Êxodo), agiam entre os seus, sabendo-se sempre ser uma minoria onde quer que estivessem.
Já muçulmanos de diversos matizes odeiam judeus por enxergar neste diminuto povo a Eterna Aliança Abraâmica que rivaliza com sua narrativa de um mundo sob o islamismo. Seu método de conquista é, justamente, a imigração (sua história começa com uma, a Hégira, que marca o início do calendário islâmico). Judeus, e israelitas, possuem mais Prêmios Nobel per capita do que qualquer país do mundo. Não se sabe de qualquer coisa boa ao mundo advinda do mundo islâmico recente. Há mais livros traduzidos para o espanhol no último ano do que livros traduzidos para o árabe nos últimos mil anos.
A história da invenção de uma “Palestina” por Amin al-Husseini é repetida com Hassan al-Banna, criador da Irmandade Muçulmana. Ou com todos os ditadores que, islamicamente, governam os países islâmicos do Oriente Médio. A maior parte não reconhece palestinos. Países ricos, como os Emirados Árabes Unidos, proíbem “refugiados” sírios. Quase todos proíbem judeus, sob penas que variam entre decapitação e enforcamento. O Hamas e o Irã negam o Holocausto, e prometem a destruição de Israel. O Hezbollah é abertamente pró-neonazismo, inclusive praticando a saudação nazista.
Em uma reportagem recente da Foreign Affairs vimos como Adolf Hitler é visto fora do mundo ocidental, ao alcance de redes sociais e canais de TV. Seu livro Mein Kampf é vendido normalmente em países islâmicos, e geralmente Hitler é visto como um grande líder que teve de lidar com o “problema judeu” e finalmente lhe deu uma solução. Com o fim dos direitos autorais sobre a auto-biografia de Hitler, a maior preocupação da Alemanha é com o público interessado no livro: Mein Kampf é vendido sobretudo para os “refugiados” islâmicos na Terra de Merkel.
Países como a Síria (na lista do veto de Donald Trump) e o Líbano são casos curiosos: fazendo parte do Levante, compreendem entrepostos comerciais que geraram uma das regiões mais ricas do planeta por milênios, enquanto impérios ruíam ao seu redor. Como tal, compreendiam uma variedade de etnias, religiões e povos em seu território. Assolados por guerras civis “anti-coloniais”, quando ditadores anteviam a possibilidade de aniquilar seus elementos “estranhos” ao islamismo e aplicar a shari’ah, geraram fugas em massa de sua população para países como o Brasil.
Cidades como a São Paulo, de Paulo Maluf e Fernando Haddad, possuem fartos elementos sírios e libaneses, da esfiha ao hospital de ponta Sírio-Libanês. É o prato cheio para analistas de meia pataca crerem que se deva aceitar “refugiados” islâmicos, afinal, São Paulo se enriqueceu com sírios e libaneses atuando juntos. Poucos parecem interessados em algo além de palavras ocas para verificar que são cristãos sírios e libaneses que vieram a São Paulo, justamente fugindo dos agora chamados “refugiados” que querem implantar a shari’ah.
Sem conhecer nada disso, o mais comum é ver jovens chamando todos que discordam deles de “nazistas”, comparando “refugiados” islâmicos com judeus, enxergando “anti-semitismo” na direita política e, naturalmente, negando a Israel o direito de existir, porque a “Palestina” está sofrendo com a existência de judeus.
Mas basta usar uma palavra agradável aos ouvidos dominados por expressões chocantes, como “fascista” ou “homofóbico”, cheias de -istas e -fóbicos, para atender ao grito apontando “islamofóbico!” e passar à boa e velha comparação com nazistas, tão somente porque as palavras parecem (“refugiados sírios fugindo de guerras!”), sem saber absolutamente nada da realidade destes povos.
Certamente, se alguma pessoa gritando que “refugiados são bem vindos” e postando fotos felizes ao lado de páginas sobre feminismo e criticando homofobia no Instagram ouvisse falar que está vindo uma horda de machistas, homofóbicos, racistas, anti-semitas e teocráticos que negam a Teoria da Evolução às suas calçadas, estariam todas exigindo que Donald Trump as varresse do mapa sob forte tortura.
Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs" (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen
Boquirrotos mentirosos – Os jornais e a difamação de Ives Gandra Filho.
Segundo jornais, Ives Gandra Filho defenderia "a submissão da mulher", como se ela devesse apanhar do marido. Surprise: it's fake news!
por Taiguara Fernandes(*)
Talvez nada defina com tanta exatidão a mídia brasileira inteira quanto a frase que o Presidente Donald Trump dirigiu ao repórter da CNN, no dia em que aquela organização espalhou um boato de fórum de internet como se fosse verdade comprovada: “You are fake news” – Vocês são notícias falsas.
O que nos EUA serviu para a CNN – e para diversos outros jornais e corporações americanas, cuja sanha caluniadora detém um vigor psicótico diário –, serve, no Brasil, para a unanimidade dos grandes jornais e portais de notícias. O recente caso envolvendo o favorito a ocupar uma vaga para Ministro do STF, Ives Gandra Filho, é mais um exemplo de uma série de episódios deprimentes – e criminosos, pois difamação é crime previsto no Código Penal – protagonizados pela mídia brasileira.
Em espetáculo a que já estamos acostumados, todos os grandes jornais brasileiros, unanimemente, estampam em suas manchetes a chamada: “Cotado para o STF, Ives Gandra defende submissão da mulher ao marido”. O texto, seguido de forma quase padronizada por todos os meios, cita uma única frase de um artigo do Ministro do TST, publicado em 2012, num livro de Direito Constitucional organizado pelo seu pai, o jurista Ives Gandra Martins, e pelo Ministro Gilmar Mendes, do STF.
Vamos aos fatos.
Chama atenção que a mídia brasileira, depois de revirar a vida impoluta do Presidente do TST, tenha sido capaz de apresentar contra ele apenas uma frase de um artigo jurídico. Se só encontraram isso, é porque realmente o homem não tem nada contra o que eles possam atirar pedras.
De um artigo de 70 páginas, os jornais citam duas linhas, descontextualizadas (e, portanto, flagrantemente deturpadas), sem mencionar o que vem antes ou depois.
Apenas para que se tenha uma idéia de como o artigo é bem mais amplo do que as duas linhas que mídia alardeia, veja-se o sumário de temas:
SUMÁRIO 1. Introdução. 2. Do direito positivo ao direito natural. 3. Evolução histórica do conceito de direito natural. 3.1. Jusnaturalismo sofista. 3.2. Jusnaturalismo teológico. 3.3. Jusnaturalismo aristotélico. 3.4. Jusnaturalismo tomista. 3.5. Jusnaturalismo moderno. 3.6. Jusnaturalismo neotomista. 4. Outras correntes de fundamentação dos direitos humanos. 4.1. Contratualismo. 4.2. Positivismo jurídico. 4.3. Historicismo sociológico. 5. Evolução histórica na captação dos direitos humanos fundamentais. 6. A dignidade da pessoa humana. 7. A especificação e positivação dos direitos humanos fundamentais. 7.1. Direito à vida. 7.2. Liberdades públicas. 7.3. Princípio da isonomia. 7.4. Direito de propriedade. 7.5. Direito do trabalho. 7.6. Direito de família. 7.7. Direito à educação. 7.8. Direito à saúde. 7.9. Direitos de solidariedade. 8. A interpretação dos direitos humanos fundamentais. 9. Conclusão.
De um artigo com todo esse mundo de assuntos, os jornais decalcam míseras duas linhas – que nem mesmo são o parágrafo inteiro – unicamente para denegrir um candidato ao STF com o qual eles não simpatizam.
E o motivo de não simpatizarem é o mesmo pelo qual a CNN se prestou a divulgar fake news saídas de um fórum de internet contra Donald Trump: Ives Gandra não esconde que é conservador e católico.
As grandes corporações midiáticas toleram absolutamente tudo: para mulçumanos, cujo “respeito” às mulheres é bastante conhecido, sempre vale a velha “tolerância de sua cultura diferente da nossa”; para Fidel Castro e Che Guevara, assassinos de gays, cabem até os epítetos de heróis e libertadores.
Mas a Ives Gandra, pelo crime (porque, hoje, é isso que é) de ser católico e conservador, não cabe tolerânica alguma com a diferença, não cabe “respeito de sua cultura”: para essa gente, a voz deles deve ser a única; liberdade de expressão e opinião, só dentro das opiniões que eles aceitam; “democracia” só para eles.
Chamo a atenção a um ponto: o Ministro Edson Fachin, em artigos jurídicos, sustentou diversas opiniões polêmicas, que iam desde uma defesa da poligamia até apoio ao MST.
Toda a mídia sustentou e divultou a versão de Fachin de que “o que ele defendia como acadêmico não interferiria nas suas decisões como juiz”. Hoje, Edson Fachin é Ministro do STF – gozando de ampla proteção midiática, diga-se.
Mas, agora, os mesmos jornais e corporações fazem o contrário com Ives Gandra Filho: querem desqualificá-lo como juiz pelo que ele escreveu como acadêmico.
Por que a diferença de atitude?
O motivo é bastante óbvio: as opiniões polêmica de Fachin desagradavam à sociedade brasileira, fundada sobre valores cristãos, mas eram apoiadas pelas corporações de mídia, conduzidas que são pelo lobby gay, abortista e esquerdista.
Já as opiniões de Ives Gandra Filho, condizentes com os valores cristãos do povo brasileiro, não têm o apoio das corporações midiáticas e, por isso, elas tentam difamá-lo e espezinhar a sua imagem por, literalmente, crime de opinião.
Contudo, o mais escandaloso: a notícia é falsa! É porca e asquerosa difamação.
A citação feita pelos jornais é a seguinte:
“O princípio da autoridade na família está ordenado de tal forma que os filhos obedeçam aos pais e a mulher ao marido.”
A calhordice é tamanha que houve corte do parágrafo logo após a primeira frase, para ocultar o assunto real tratado pelo autor, e que contextualiza a frase inicial. Vejamos o que a mídia escondeu:
“O princípio da autoridade na família está ordenado de tal forma que os filhos obedeçam aos pais e a mulher ao marido. A educação dos filhos pertence primariamente aos pais (formação moral, ensinando os filhos a administrar a própria liberdade e respeitando-a quando chega o momento de escolher seu próprio estado ou profissão) e não ao Estado, que atua supletivamente (ministrar conhecimentos técnicos).
No caso do direito de família, a Constituição Chinesa, contraditoriamente, assenta ser garantida pelo Estado a proteção ao casamento, à mãe e aos filhos, mas, no mesmo dispositivo, coloca como dever do marido e da mulher praticar o planejamento familiar, eufemismo para limitar substancialmente os filhos, de acordo com os interesses do Estado (Const. Chinesa, art. 49), interferindo em seara afeta exclusivamente à deliberação do casal. ”
O autor não está tratando de “autoridade” como de um despotismo do marido sobre a mulher, mas fala da autoridade dos pais sobre a educação dos filhos, do marido como pai de família e da liberdade do casal de escolher os próprios destinos, tudo isso devendo prevalecer frente a qualquer autoridade do Estado.
Ives Gandra, na verdade, está defendendo a liberdade, no sentido em que esse valor sempre foi compreendido, inclusive pelos liberais clássicos.
Lido o parágrafo inteiro, o sentido se torna muito claro. O corte que os jornais fizeram foi uma deturpação deliberada e, ademais, criminosa, pois serviu a fins difamatórios.
Porém, não apenas isso: as corporações de mídia utilizaram a frase para afirmar que Ives Gandra Filho estiva defendendo uma “ditadura” do homem sobre a mulher, apressando-se logo a chamá-lo de “machista” – aquele adjetivo da lista que eles usam para tudo que não gostam.
Além de cortarem o parágrafo, não se importaram também de ler os trechos anteriores do artigo, onde fica claro o sentido dado pelo autor às suas palavras, totalmente diverso de um “autoritarismo”, mas, ao contrário, afirmando a necessidade da ajuda mútua e da reciprocidade entre os esposos na família, que ele chama de “comunidade de amor”:
“A celula mater da sociedade (núcleo básico) é a família, como sociedade natural e primária, constituída numa comunidade de vida e de amor, para a propagação da espécie humana e ajuda recíproca nas necessidades materiais e morais da vida cotidiana. […]
A família tem seu núcleo constitutivo no matrimônio, que se caracteriza pela convivência legítima e estável entre um homem e uma mulher, visando à procriação e educação dos filhos, bem como à mútua ajuda e aperfeiçoamento.
No contexto do matrimônio é que se entende em sua plenitude o sexo, pois a união física se dá juntamente com a união espiritual, ou seja, num contexto de amor e doação mútua. Sexo sem amor é próprio do animal.
A base do matrimônio é o consentimento mútuo na outorga e recepção do direito perpétuo e exclusivo sobre o corpo de cada um com vista aos atos aptos à procriação”.
“O matrimônio possui uma dupla finalidade, de acordo com a natureza própria do ser humano: a) geração e educação dos filhos; b) complementação e ajuda mútua de seus membros”.
Destaquei as palavras-chave:
“comunidade de vida e de amor”;
“ajuda recíproca”;
“mútua ajuda”;
“contexto de amor e doação mútua”;
“consentimento mútuo”;
“complementação e ajuda mútua”;
A palavra “mútuo” e seu sinônimo “recíproco” aparecem cinco vezes em cinco parágrafos introdutórios do texto. Seu significado – se os sapientes jornalistas procurassem consultar o dicionário, mas nem tentaram ler o artigo – é o de algo “em que há troca ou correspondência (de atitude, sentimento etc.) (respeito mútuo)” (Caltas Aulete).
Tudo unido a outros termos significativos: “comunidade”, “ajuda”, “complementação”, “amor”, “doação”, “consentimento”.
Como alguém que introduz um tema falando em “consentimento mútuo”, “comunidade de amor” e “reciprocidade” pode estar defendendo uma “ditadura machista”?
É regra de leitura, por óbvio, que os parágrafos vindos primeiro sejam lidos antes dos que vêm depois.
É evidente que as corporações de mídia distorceram a frase de caso pensado, para difamar o Ministro Ives Gandra e apresentá-lo como um “machista tenebroso”, quando, na verdade, o seu artigo é o exato oposto de qualquer machismo. Não há como operar o corte estratégico do parágrafo, modificando seu sentido, sem saber o que vem antes e depois.
Quando nada se tem para falar de alguém cuja reputação, biografia e currículo são ilibados, é preciso recorrer a estas canalhices desonestas – e, mesmo assim, só encontraram uma frase de duas linhas, voltamos a dizer.
Ives Gandra é católico e sua compreensão de autoridade é aquela do Cristianismo: autoridade no serviço e na doação ao próximo, como explicava o Papa João Paulo II, ao dizer que toda a autoridade na Igreja vinha do serviço e, por isso, um dos títulos do Pontífice – que ele mesmo utilizava – era “Servo dos Servos de Deus”.
É por esse motivo que, antes de falar na autoridade dentro da família, Ives Gandra escreveu sobre a doação recíproca e ajuda mútua dos esposos.
Com isso se compreende que o sentido de autoridade utilizado na citação é completamente outro: ela advém de servir ao próximo, de doar-se, de amar – e, por isso, é utilizada a significativa expressão “comunidade de amor” – comunidade, não ditadura; de amor, não de tirania.
É evidente que as corporações de mídia, as quais louvam Che Guevara e choram por Fidel Castro, jamais entenderiam a palavra “autoridade” de outra forma que não fosse ditatorial, pois esta é a única autoridade que eles concebem: a dos caudilhos e sociopatas que eles mesmos vivem a louvar.
Mas o analfabetismo deles não precisa ser o nosso.
É preciso infligir-lhes a denúncia de Donald Trump: “You are fake news!”
A única união indissolúvel conhecida pelos jornais brasileiros é a união para difamar. Sua bastante comunidade é a comunidade do amor à mentira e a si mesmos – em proporções mastodônticas.
Que apodreçam, carcomidos e sozinhos, no próprio odor fétido de sua desonestidade.
Advogado e jornalista. Foi colunista e editor da Revista Vila Nova (www.revistavilanova.com). Articulista para o Senso Incomum, Gazeta do Povo, Sul Connection e outros.
Bill Ayers o desconhecido mais influente do mundo.
Imagine uma única pessoa influenciar uma geração inteira de intelectuais e políticos americanos, liderar o principal grupo terrorista da história do país na juventude e lançar a carreira do atual presidente da sua sala de estar. Como se não bastasse, adicione ao currículo ajudar a articular os movimentos “Occupy” e hoje ser a principal mente por trás da restruturação dos currículos escolares da nação mais poderosa do planeta. E fazer tudo isso quase sempre longe do radar da imprensa e da opinião pública.
Caminhando pelas ruas de Chicago, esse senhor de brincos, óculos e roupas desgrenhadas, beirando os setenta anos, não chama atenção, mas poucos moldaram tanto o mundo ocidental nas últimas décadas quanto William “Bill” Ayers, que aposentou as bombas e agora quer “mudar os EUA a partir das salas de aula” e fazer do professor “uma influência maior que os pais” na cabeça das crianças.
Criado num lar de alta renda, até os 21 anos Bill era um universitário normal com corte de cabelo, óculos e roupas imitando Bob Dylan. Seu pai, Tom Ayers, chegou à presidência da ComEd, a poderosa concessionária de energia de Chicago, mas mesmo com uma sólida carreira como executivo sempre se identificou como um homem de esquerda e apoiador de tudo que o filho viria a fazer na política.
Bill Ayers começou a se envolver com o movimento estudantil em 1965, por conta dos protestos contra a Guerra do Vietnã e doutrinado pelos professores da faculdade, a tropa de choque ideológica de Althusser, Bourdieu e os filósofos franceses do pós-Guerra, marxistas e radicalmente antiamericanos, alguns deprimidos pela derrota do nazismo e outros ainda digerindo as revelações dos crimes de Stálin por Nikita Khrushchov em 1956.
Já transformado em militante, participou de piquetes, quebra-quebras e enfrentamentos com a polícia enquanto mergulhava de cabeça no SDS (“Students for a Democratic Society”), o principal movimento estudantil do país com mais de 100 mil filiados. Carismático e articulado, sua liderança na organização cresceu de forma meteórica ao lado de Bernardine Dohrn, jovem e bela advogada, ex-cheerleader no colégio, também uma comunista tão radical e comprometida com a causa quanto possível.
Juntos promoveram um racha no SDS, criando o “The Weather Underground” em 1969. A facção de Ayers e Dohrn rompeu com a SDS porque não aceitava seus métodos pacíficos de ação e queria partir para a luta armada imediatamente, com objetivo declarado de derrubar o governo americano e anexar o país ao comunismo internacional. Em 31 de julho de 1970, Bernardine Dohrn faz o famoso discurso público em que seu grupo declara guerra aos EUA.
O “The Weather Underground” justificava o terrorismo por conta da Guerra do Vietnã, dizendo que apenas reagia à violência “muito maior” patrocinada pelo governo, numa espécie de prévia do proselitismo da Al Qaeda. Eram jovens que conspiravam abertamente contra o país, inclusive passando informações a inimigos e dando treinamento revolucionário para grupos vietcongues. Mesmo quarenta anos depois da criação do “The Weather Underground”, nenhum dos seus membros mostra qualquer remorso. Numa entrevista em 2008, Ayers declarou: “me recuso a chamar os movimentos que participei de violentos, quem faz a violência é o governo mais poderoso e militarizado do mundo.”
Um dos lemas mais conhecidos dos jovens da época era “Tragam a Guerra para Casa”, que resumia a ideia principal de fazer a Guerra do Vietnã visível para a opinião pública. Na lógica pervertida desses revolucionários, o conflito era muito distante e só criando o caos no próprio país o povo poderia entender o que estava acontecendo no outro lado do mundo, uma ideia que muitos carregam até hoje. Em 2011, ao ser perguntado por um jovem manifestante se o Occupy Wall Street deveria ser pacífico e respeitar as leis, Bill Ayers gargalhou: “revoluções não respeitam leis, sua pergunta é hilária.”
De 1970 a 1975, o “The Weather Underground” partiu para a realização de atentados terroristas com a explosão de bombas no Pentágono, no Capitólio (sede do poder legislativo do país) e no prédio central da polícia de NY e numa delegacia de São Francisco. Quando uma bomba explodiu acidentalmente na sede do grupo, matando três de seus membros, incluindo a namorada de Ayers, os remanescentes vão para a clandestinidade e somem até 1980. Há rumores de que Ayers deixou a namorada ainda viva no local e não prestou socorro para não comprometer a fuga. Com a morte da namorada, começa a relação de Ayers com Dohrn, que tiveram dois filhos e estão casados até hoje.
Ayers, Dohrn e seus “camaradas” eram jovens de classe média alta, mimados e criados na abundância conquistada por seus pais nas décadas após a vitória na Segunda Guerra. Hipnotizados pelas revoluções comunistas que aconteciam em várias partes do mundo (Maio de 68, Primavera de Praga e afins), abraçaram sem limites as drogas pesadas, a vida em “comunidades coletivistas” e o sexo grupal, um “ato revolucionário contra a opressão da monogamia burguesa”, entre outras racionalizações para viagens lisérgicas e orgias sem fim.
As bandeiras do “The Weather Underground” eram consistentes com o que defendia a “New Left”, a nova esquerda americana que seguia os passos da “Nouvelle Gauche” francesa de revisionismo marxista. O novo marxismo dos anos 60/70 defendia que não fazia mais sentido focar apenas na luta de classes, para eles uma batalha do século XIX. Para intelectuais como Hebert Marcuse ou ativistas como Saul Alinsky, o próximo passo para avançar a agenda comunista era se apropriar das causas da chamada contracultura (descriminalização das drogas e do aborto, ativismo gay, desmilitarização do ocidente, superação da religião cristã, ambientalismo radical, entre outros), ou seja, a face da esquerda ocidental de hoje e até de alguns inocentes úteis da direita.
Alguns membros do “The Weather Underground” chegaram a ser condenados e presos, mas a maioria deles, incluindo Ayers, conseguiu escapar da prisão com chicanas jurídicas, aproveitando falhas nas investigações. Bernardine Dohrn cumpriu pena de três anos.
Nasce o professor e acadêmico Bill Ayers
Com a exuberância econômica promovida por governos conservadores nos anos 80 e a derrocada da URSS, revolucionários já quarentões como Bill Ayers perceberam que a luta da esquerda não seria mais pelas armas mas “por dentro do sistema”, com os instrumentos políticos da própria democracia.
Nos anos 80, Ayers trocou as bombas pelas salas de aulas. Completou o doutorado em pedagogia para crianças em idade até cinco anos e começou a carreira como professor na mítica escola Summerhill, famosa pelos métodos não convencionais de aprendizado. Começou também a escrever livros sobre educação que estão entre os mais influentes do país. Poucos atalhos para o sucesso acadêmico são tão eficientes como ser um ídolo da panelinha de esquerda.
Na década seguinte, se envolve novamente com política. Começa a trabalhar em 1995 com o prefeito de Chicago para a elaboração da política educacional local e seu projeto de reforma da educação pública da cidade recebe US$ 50 milhões da Annenberg Foundation. Ele vira um herói da educação pública de Chicago, chegando a receber o título de cidadão do ano pouco depois.
Neste mesmo ano conhece o “jovem ambicioso” candidato ao senado estadual Barack Hussein Obama, na época com 34 anos. Ele vê o potencial do rapaz e resolve apostar suas fichas nele. Faz um evento na sua casa para lançar sua carreira política para os formadores de opinião de Chicago e levantar fundos para a campanha. Com o apoio, Obama atropela seus adversários internos no Partido Democrata e conquista a vaga nas primárias, sendo eleito em 1996 como senador estadual de Illinois.
Barack Obama vira, segundo a autobiografia de Ayers, um “amigo íntimo da família” e passa a frequentar sua casa. De 1995 a 2001, os dois trabalharam juntos regularmente nos projetos educacionais da prefeitura de Chicago. Em 1999, Ayers é empossado membro do board da organização filantrópica de esquerda Woods Fund, que tem Obama como um dos diretores, e os dois passam também a escolher em conjunto os movimentos sociais para financiar, dar treinamento e apoiar com o dinheiro da fundação até 2002.
Nessa época, Ayers esteve envolvido em outra polêmica: em 2001, lançou seu livro autobiográfico e deu diversas entrevistas dizendo que não estava arrependido de nada, pelo contrário, que sentia que não tinha feito o suficiente como ativista. Mesmo sendo apenas uma infeliz coincidência, quase satânica, ele estava em todos os principais jornais americanos exatamente no dia 11 de setembro de 2001 falando de seu livro e justificando o terrorismo. A repercussão foi a pior possível para um terrorista aposentado que tentava relativizar moralmente seus atentados exatamente naquele dia.
Suas idéias sobre a política externa americana, na prática, não mudaram desde a juventude. Numa palestra em 2012, Ayers fez a seguinte análise da situação do país: “Não há qualquer dúvida de que o império americano está em declínio e esse processo acontece felizmente sem o preço pago por outras nações imperialistas em milhões de vidas, como aconteceu com a Inglaterra, a França e a Alemanha. Somos apenas 4% da população mundial, consumimos os recursos desse planeta de uma maneira desproporcional e isso tem que acabar. Precisamos colocar um fim na mentalidade militarista e abraçar o processo do fim do império americano como uma coisa boa.”
Occupy Chicago e Occupy as salas de aula.
Barack Obama seguiu seu caminho com sucessivas vitórias eleitorais até as primárias do Partido Democrata para presidente em 2007, quando Hillary Clinton denunciou suas conexões com Bill Ayers e, percebendo o potencial tóxico da relação, o candidato passou a evitar contato público com o antigo apoiador, dizendo inclusive que mal conhecia e que era apenas “alguém que morava na vizinhança”. Ayers também disse em 2008 que foi mal interpretado ao escrever em seu livro que Obama era um amigo da família, que não era bem isso que queria dizer. Então tá.
Em 2008, Bill Ayers participa diretamente de uma nova revolução: a criação de um currículo nacional para todas as escolas do país, o “Common Core State Standards Initiative”, que começou a ser implementado em 2009. O programa tem a singela intenção de “transformar completamente a educação de cada criança americana” e, na prática, federaliza as diretrizes da educação tirando o poder dos estados sobre os currículos, algo que dá certo há 200 anos no país.
O governo Obama diz que o programa federal é “voluntário”, mas parte importante das verbas federais de educação para os estados está atrelada à aceitação do programa, criando um constrangimento quase irresistível na prática. Todo o poder politico do governo federal está sendo usado para enfiar o “Common Core” goela baixo dos estados e 46 deles já aderiram, com honrosas exceções como o Texas.
Há a impressão digital de Ayers do começo ao fim do “Common Core”, que foi estruturado pela “Achieve”, uma associação sustentada pela fundação de Bill Gates, o bilionário esquerdista da Microsoft que recentemente disse lamentar que nos EUA haja tantos limites constitucionais aos poderes de Obama, já que em outros países o presidente tem mais liberdade para implementar sua agenda sem tantas amarras. Kim Jong-un não diria melhor.
O pacotão do “Common Core” é ainda mais assustador quando se considera o enorme banco de dados que será montado para monitorar cada criança do país. Todas as leis que protegem a privacidade das crianças estão sendo revistas para permitir o acesso direto do governo federal às informações escolares de cada estudante. Alguns dos pontos a serem avaliados pelo programa em discussão são puramente políticos: a capacidade do aluno de identificar o “viés ideológico” das informações que recebem, sua “aceitação da diversidade” e disponibilidade de submissão à autoridade superior, como denunciado por vários professores horrorizados com algumas dessas propostas.
Além da Microsoft, o Google também está de corpo e alma no projeto, dando um grande foco à aceitação do seu pacote de aplicativos pelas escolas participantes, que integradas ao database da empresa darão ao governo a capacidade de monitorar tudo que o estudante busca, envia, recebe e lê, um pesadelo orwelliano que é o sonho de qualquer autoritário. O próprio Ayers já disse: “a grande arma da esquerda hoje é a sua presença em todas as salas de aula”.
O principal grupo de trabalho que elaborou o “Common Core”, como denunciado por alguns veículos independentes, não tinha nenhum professor com experiência suficiente em sala de aula, só “intelectuais renomados” como Ayers, movimentos sociais e sindicalistas. Professores fora do aparato partidário e sindical eram apenas convidados a enviar “sugestões”, mas não se tem notícia de que tenham sido aproveitadas. É como se toda a educação brasileira fosse recriada por Aloízio Mercadante, a CUT, a Apeoesp e “intelectuais renomados” escolhidos por eles.
Na prática, o currículo unificado cria, segundo os opositores, uma redução drástica nos padrões e exigências para os alunos. No ensino de inglês, por exemplo, o “Common Core” promove a diminuição dos estudos dos clássicos da literatura em troca de obras mais populares e técnicas, como preparação para cursos profissionalizantes. Em matemática, o único professor de fora convidado para o ‘comitê de validação’, James Milgram de Stanford, se recusou a assinar o documento final dizendo que o novo currículo atrasaria o ensino para os alunos em pelo menos dois anos, que o que se ensina para alunos da sexta série, por exemplo, passaria a ser ministrado na oitava. Se você quiser conhecer mais sobre o “Common Core” há farto material disponível na internet, mas prepare-se para ter pesadelos do provável futuro da educação americana e do que ela vai apontar como tendência para o mundo.
Ainda hoje, quando citado na imprensa, a influência de Bill Ayres nas políticas educacionais do país é justificada por seu notório saber em educação, suas posições políticas radiciais, seu passado terrorista e seu antiamericanismo são relevados como arroubos juvenis, mesmo que ele nunca tenha dado qualquer sinal de arrependimento ou autocrítica. Como disse o jornalista Timothy Noah, “tratar Ayers apenas como um especialista em reforma educacional é como tratar Stálin como apenas um especialista em reforma agrária.”
Indícios de que ele não mudou não faltam, ele no máximo adaptou e atualizou as táticas revolucionárias. Em 2011, quando começam as manifestações conhecidas como “Occupy Wall Street”, Ayers participou ativamente desde a organização dos protestos, alguns financiados pelas fundações de esquerda apoiadas por ele, até sua presença em reuniões preliminares e nas próprias manifestações. Numa entrevista à Andrew Breitbart, ao ser perguntando se a luta política do “The Weather Underground” tinha acabado junto com o grupo, respondeu: “não acabou, ele está aí, ele é o Occupy Wall Street”. Ele foi também líder dos movimentos na sua cidade, o “Occupy Chicago”.
Em 2012, num discurso para manifestantes do Occupy, o ex-terrorista confessou: “acordo todo dia dizendo para mim mesmo que hoje vou derrubar o capitalismo, é o que me mantem vivo”. Quem vê tudo o que ele já conseguiu e o que ainda pode fazer sabe que não é um sonho impossível.
(*) Instituto Liberal
O Instituto Liberal é uma instituição sem fins lucrativos voltada para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem liberal
A Planned Parenthood foi criada por Margaret Sanger, eugenista com o projeto de esterilizar populações negras e promover o aborto de negros, imigrantes e indigentes por serem “reprodutores imprudentes”, “humanos que nunca deveriam ter nascido”. Seu objetivo com a “paternidade planejada” era de criar uma raça “puro sangue”, considerando que o sexo era subjugado à necessidade econômica – por isso a necessidade de abortos.
Para isso, advogava o uso da violência e de atentados terroristas para atingir seus fins políticos. Graças a isso, ganhou admiração de grupos como os nazistas, que liam seus livros, da KKK, para quem até chegou a dar uma palestra, e Democratas como Barack Obama e Hillary Clinton. Hillary, em seus debates com Donald Trump, constantemente explicava seu plano de governo prometendo mais fundos para Planned Parenthood, E em mais de uma ocasião demonstrou sua admiração em público por Margaret Sanger:
A Planned Parenthood se espalhou pela América com o beneplácito da KKK com o fito de promover a eugenia e o “direito” das mães de abortarem seus filhos no útero. Seus “escritórios” são provisionalmente alocados sempre próximos a bairros de população negra, para facilitar seu objetivo, ou perto de Universidades, sabendo-se que terão uma clientela cativa. Ao se digitar “Planned Parenthood” no Google, uma das primeiras sugestões para se completar a busca é “near me”.
No ano passado, vídeos chocantes chegaram ao Youtube mostrando uma funcionária da Planned Parenthood negociando abertamente a venda de pedaços de fetos em um almoço. Os usos variam de rituais satânicos a combustível para calefação, vendidos de US$ 30 a US$ 100 dólares por espécime. Para a transação, o bebê, acima de 24 semanas, não pode morto por sucção ou desmembramento, como na maioria dos processos abortivos, mas é retirado, ainda com vida, no que é chamado de “aborto parcialmente nascido”, para ser morto e desmembrado fora do útero da mãe. É como informa o portal Reaçonaria:
A partir de 8:36 do vídeo abaixo, também podemos testemunhar outros detalhes da mercância: uma médica da Planned Parenthood leva “compradores” para averiguarem a qualidade do “produto”: o crânio de um bebê de 11,6 semanas é rachado para se retirar o cérebro, e pés, pernas, coração, estômago etc são separados para averiguação. Tais pequenos seres humanos são chamados pela esquerda e por feministas de “amontoados de células”.
Ainda mais. Na série de vídeos Planned Parenthood and race, do Live Action News, é possível presenciar mais um escândalo. Um doador para a causa promete uma transferência para a causa da Planned Parenthood, mas desde que a entidade use a doação apenas para abortar um bebê negro. A atendente, gostosamente, acata a ordem, pois “por qualquer motivo aceitarão o dinheiro”.
Uma mentalidade em que o racismo e machismo são condenados, mas se nega que um bebê seja uma vida, esta simples ligação telefônica deixou muitos cérebros americanos em parafuso, em plena época de Barack Obama financiando o Planned Parenthood e de o movimento Black Lives Matter agitar, incendiar e destruir vitrines, lojas e viaturas policiais na América com o discurso de que os problemas americanos podem ser resumidos a uma dicotomia entre brancos e negros e homens e mulheres.
Afinal, se assassinar o próprio filho é um “direito” dado, e é um direito “das mulheres”, e as vítimas de “abortos clandestinos” são mulheres negras, o que dizer e o que defender quando alguém, numa violenta ironia, chama de volta os cérebros à realidade anterior ao discurso prometendo dinheiro para a amada Planned Parenthood, desde que o bebê a ser executado seja negro? Bastou isso para que feministas e apoiadores do Partido Democrata caíssem num momentâneo lapsus linguæ e percebessem que bebês, afinal, são seres humanos.
Quando notícias pululam sobre uma “Marcha de Mulheres” contra Trump, que “defende o direito das mulheres em diversos países”, conforme é propagandeada pelo noticiário brasileiro, o que a propaganda se esquece provisionalmente de informar é de que se trata destes “direitos” acima elencados, e não o direito, por exemplo, de uma mulher não ser obrigada a usar o hijad nem ser espancada por seu marido muçulmano. Exatamente o contrário, diga-se.
Notícias como estas a respeito da Planned Parenthood nunca foram ouvidas no Brasil, a não ser em pequenos portais. Quando são noticiadas, diz-se que “O decreto deverá ter o apoio de setores religiosos que lutam contra o aborto nos Estados Unidos. Mas a medida vai contra o que defende um segmento da Marcha das Mulheres”, ou usando-se a aula de eufemismos “[o decreto de Trump] congela o financiamento dos Estados Unidos aos prestadores de cuidados de saúde nos países pobres”. Muito fofa.
Obama invoca a benção de Deus para a fábrica de abortos Planned Parenthood em abril de 2013
Certamente, além de casos como o de Benghazi, foram fatores extremamente relevantes para o resultado das eleições, embora a mídia, que oculte tais escândalos como se fosse possível esconder um elefante na sala de jantar, tenha preferido inventar a desculpa de “fake news” para escamotear seus próprios erros.
A política de que o dinheiro do pagador de impostos americano não pode financiar abortos existe desde 1984, na gestão Ronald Reagan. Quando foi eleito, Barack Obama, caudatário da política pró-aborto, anulou tal política. Apenas a Cidade do México recebeu mais de US $ 400 milhões em fundos federais americanos na gestão Obama, parte dos quais fluíram para as empresas de aborto International Planned Parenthood e Marie Stopes International.
O que Donald Trump fez foi impedir que o dinheiro do pagador de impostos americano financiasse atividades internacionais da Planned Parenthood que envolvessem aborto. Todavia, a ajuda interionacal para locais como o México em atividades não-abortivas permanece.