Tudo começou com um livro: "My Princess Boy" (Meu Menino Princesa).
Em 14 de outubro de 2015, o diretor da escola fundamental de uma escola cooperativa de Minnesota informou aos pais que nos próximos dias, a escola estaria tomando medidas para "apoiar um aluno que possui não-conformidade de gênero".
“Seus filhos de 5 e 6 anos de idade”, os pais foram informados por e-mail, "irão ouvir vários livros que celebram as diferenças e ensinarão às crianças sobre a beleza de serem eles mesmos."
“Um desses livros”, o diretor observou, seria "My Princess Boy", uma história que gira em torno de um menino que às vezes gosta de fazer coisas tradicionais em menina como usar vestidos.
No e-mail, o diretor encorajou os pais das crianças do jardim de infância a "terem conversas em casa sobre a adequação de comentários ou provocação relativas a todas as classes protegidas", especificamente relativos à identidade de gênero.
Os detalhes sobre o estudante com não-conformidade na escola, Nova Classical Academy em St. Paul, Minn., foram mantidos em sigilo. Mas, logo depois que o e-mail inicial saiu, os pais na Nova Classical Academy souberam que a criança também estava no jardim de infância.
Imediatamente, a preocupação de alguns pais aumentou sobre a questão da identidade de gênero sendo introduzida para os seus filhos de 5 e 6 anos de idade. O conceito, acreditavam eles, é muito complicado para alunos de jardim de infância entenderem.
E apesar de que a escola ainda não tinha anunciado quaisquer novas políticas de banheiros, os pais estavam preocupados com seus filhos usando banheiros com estudantes do sexo oposto.
Em sua tentativa de reverter a situação, os pais ficaram frustrados com a resposta da escola. Pelo menos 10 alunos, o Daily Signal soube, transferiram-se para outra escola.
Uma mãe, que pediu para permanecer anônima para proteger a identidade da filha, disse que ela transferiu seu filho porque o colega estava tendo um efeito "traumático" em sua filha.
"Nossa filha – porque ela é uma estudante de jardim de infância normal, que foi criada em uma família onde tivemos algumas normas sociais em relação ao gênero e ao sexo biológico – agora está fazendo perguntas como: “Como é que um menino se torna uma garota quando nasce com um pênis?” Ela tem dois irmãos, então ela está se perguntando, como isso é possível, como o menino está usando um jumper (vestido sem mangas) e tem fitas e rabos de cavalo em seu cabelo ", disse a mãe.
Outra mãe, cuja filha ainda está na mesma classe que a criança com não conformidade de gênero, descreveu um efeito semelhante. Essa mãe também pediu para permanecer no anonimato.
"Sua filha disse: Mãe, eu acho que você pode escolher se você quer ser um menino ou uma menina", disse a segunda mãe.
"Isso me incomoda"
Semelhante à forma como o debate sobre os direitos de transexuais tem causado uma guerra cultural em estados como Washington e Dakota do Sul, a situação na Nova Classical Academy também causou um racha na coesão da comunidade.
O estabelecimento é uma escola semipública competitiva, que se classifica consistentemente com elevadas avaliações escolares. Quando foi concedido seu alvará de escola cooperativa, a Nova Classical Academy solicitou uma renúncia de modo que a maioria dos seus membros do conselho escolar seriam pais em vez de educadores. Um dos objetivos ao fazer isso, disseram os pais ao The Daily Signal, era promover o envolvimento dos pais e a supervisão por eles do currículo.
"Nós, como comunidade escolar passamos por processos muito longos, mas no final eles sempre acabam num diálogo e numa situação vencer-vencer", disse uma mãe. "E neste caso, isso não aconteceu."
Por exemplo, esta mãe explicou, decidir quando começar o currículo de gênero e sexo exigiu "um processo longo e doloroso."
Finalmente, os pais e educadores concordaram que o programa iria começar na quinta série, e abordaria o tema de ser transgênero no 10º ano. Mas agora, eles pensaram, aquela decisão estava sendo virada de cabeça para baixo, e a escola foi contornando as opiniões dos pais para introduzir estes temas a partir de uma idade mais jovem.
Os pais ficaram divididos – muitos apoiaram plenamente a leitura de "My Princess Boy" e do currículo que viria junto com ele. Alguns desses apoiantes lançaram uma petição em que eles e outros de fora comunidades poderiam falar.
"Eu sou a favor do uso de materiais como esse como parte do currículo", escreveu Stephanie Schweser. "Ensinar e promover a tolerância, compreensão e inclusão irá melhorar a nossa comunidade escolar e nossa comunidade mais ainda."
"Eu apoio totalmente a leitura de My Princess Boy ou outro livro que aborde especificamente a não conformidade de gênero", acrescentou Josephine Chung na mesma petição. "Um livro é uma ferramenta útil e necessária para educar nossos filhos."
Aqueles que se opuseram ficaram particularmente preocupados porque a Nova Classical Academy é uma escola K-12 (1). Embora a escola ainda não tenha abordado políticas sobre banheiros, alguns pais temiam que seus filhos de 5 e 6 anos de idade, possam agora ser forçados a dividir o banheiro com um adulto do sexo oposto.
"Estamos em uma escola K-12, e isso me incomoda –existem alguns banheiros que são compartilhados. Então, eu poderia ter a minha filha no banheiro e um adulto, "a mãe cujo filha no jardim de infância ainda freqüenta a escola disse ao The Daily Signal, acrescentando:
Se começarmos a dessensibilizar os nossos filhos em uma idade tenra que está tudo bem – e no momento, eu não estou preocupada que algo ruim vá acontecer com ela em sua escola primária, mas que ela se acostume com isso. E, mais tarde, ela poderia se colocar em uma situação onde ela poderia estar em perigo, porque ela está inocentemente no banheiro com alguém que tem a intenção de causar danos.
"Vida antes e após Beyonce"
Há dois meses atrás, Dave e Hannah Edwards, os pais do estudante com não-conformidade de gênero da Nova Classical Academy, vieram a público com sua história em uma entrevista com o apresentador de rádio Jack Rice.
Durante essa entrevista, Hannah Edwards tentou explicar a identidade de seu filho.
"Quando perguntamos o que ele prefere, ele diz:" Eu sou um menino e no meu coração eu sou uma menina. "E às vezes ele vai dizer que ele é meio a meio, que é algo que você colocar no seu café, mas eu digo OK, isso é ótimo. "
Hannah Edwards disse que a mudança começou mais ou menos aos 2 anos depois que seu filho, Holden, assistiu Beyoncé se apresentar no show do intervalo do Super Bowl 2012:
Eu meio que penso nisso como a vida antes e depois de Beyoncé. Logo isso se transformou em uma ocorrência diária, querendo assistir a este show do intervalo de 10 minutos. E ele começou a amarrar seus cobertores sobre a cabeça, e dançando como ela, e observando seu reflexo no vidro da lareira. Isso foi, penso eu, a primeira vez que eu notei. Ele começou a se tornar menos "ele acha que isso é interessante" e mais " eu estou sendo Beyoncé Eu estou sendo uma menina. "
O Daily Signal tentou falar com Gender Justice, um grupo que está trabalhando com a família Edwards. Eles não responderam a uma solicitação para comentário.
Na entrevista de rádio, os Edwards sugeriram que Holden tinha sido objeto de assédio moral na sala de aula e, assim, o currículo de gênero era necessário. Mas o verdadeiro problema, segundo eles, decorre de pais que se opuseram à escola lidar com seu filho.
"Eu diria que seu professor tem sido muito correto em parar o assédio moral, pelo menos na sala de aula. Eu sei que ele vem para a escola agor de vestido desde o mês passado”, disse o pai de Holden, Dave Edwards, durante a entrevista. Ele adicionou:
Sinto-me confortável com o que está acontecendo em seu pequeno mundinho da sala de aula. Então estes outros pais entram e contestam ou iniciam petições. E eu acho que realmente vem de um lugar de medo e ignorância da parte deles.
"Entendendo Diversidade de Gênero"
Eric Williams, diretor executivo da escola, confirmou ao The Daily Signal que, em dezembro, a Nova Classical Academy convidou o presidente da Associação Nacional de Psicólogos Escolares, Todd Savage, "para educar os funcionários e a comunidade sobre a não-conformidade de gênero e os estudantes transexuais."
Os pais que participaram do evento e falaram com o Daily Signal disseram acreditar que a sessão veio, nas palavras de um dos pais, "numa perspectiva muito progressista."
Durante a sessão, Savage destacou uma série de "questões escolares" que estudantes lésbicas, gays, bissexuais e transexuais enfrentam.
O pai terminou tirando a filha do jardim de infância em Nova Classical Academy devido à situação disse que não tinha "nenhum problema" com a apresentação, mas achou que ficou aquém ao abordar suas preocupações pessoais.
"Ele abordou alguns detalhes sobre como as crianças transexuais têm sido oprimidas no passado, e eu acho que eles são legítimos", disse o pai sobre Savage. "Mas ele não apresentou nada sobre formas de lidar com o argumento de como a questão poderia ser prejudicial para a educação, especialmente das crianças pré-adolescentes. Ele não abordou essa questão mesmo. "
Em uma tentativa de aprender mais, os pais que se opuseram ao livro "My Princess Boy" organizaram a sua própria sessão informativa com um grupo conservador, o Conselho de Família de Minnesota. Ao contrário da sessão com Savage, a escola recusou-se a se associar ao evento.
Várias fontes disseram ao The Daily Signal que os defensores de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros – filiadas com Out Front, Gender Justice, e Transforming Famíly – participaram da sessão. Cinco minutos antes do evento terminar, disseram os pais, os defensores LGBT em fila nos corredores que levam até a saída seguravam cartazes que diziam: "Nós amamos nossos filhos transexuais."
"Uma parte disso foi difícil, porque eu só queria dizer que eu amo as crianças transexuais também", disse o pai, que participou da reunião com uma filha mais velha, que continua a frequentar a Nova Classical Academy. Ele adicionou:
Isto foi obviamente orquestrado e o único propósito era tentar intimidar. E minha filha da oitava série se intimidou. Causou-lhe estresse e ansiedade. E se você olhar para a definição de bullying, a ironia de tudo isto é o que se qualifica como bullying.
"Ninguem está tendo essa conversa"
Quatro meses após o diretor da escola elementar ter enviado o e-mail inicial, a situação está em curso. Em uma tentativa de acalmar as preocupações, a Nova Classical Academy adotou uma política de "emergência" para os alunos transexuais e com não-conformidade de gênero.
Um pai na escola disse que a política afirma:
1) Meninos e meninas podem usar qualquer uniforme que quiserem.
2) Aos estudantes que solicitarem acesso a um banheiro em conformidade com a sua identidade de gênero será concedida ou negada a permissão caso-a-caso.
3) Pronomes de gênero preferidos também serão requeridos caso-a-caso.
Alguns pais estavam descontentes com a solução temporária e chamaram a escola a responder a uma simples pergunta: Será que os seus filhos da escola primária se encontram com um estudante do sexo oposto em banheiros e vestiários?
Até agora, os administradores escolares evitaram essa pergunta, dizendo pais numa apostila de perguntas e respostas que "nenhum estudante ou família fez essa exigência."
Outros pais estão perguntando à escola uma questão mais difícil: Que tipo de impacto a introdução do conceito de transgênero e identidade de gênero têm em seus filhos de 5 e 6 anos de idade?
"Eu não acho que alguém tenha tido tempo para pensar sobre o que são os estágios de desenvolvimento de cada faixa etária, e como isso pode se sobrepor a algo que não é natural para o seu desenvolvimento?" A mãe que tirou a filha da escola disse. "Essa parte para mim, como mãe, é muito, muito valiosa. Ninguém está tendo essa conversa ".
A mãe acrescentou:
Se fisiologistas e médicos não entendem muito bem a fluidez de gênero, então por que tentar impor isto em pessoas que estão apenas tentando descobrir como amarrar seus sapatos? Não é honesto. Não é justo.
O Daily Signal soube que a partir da última reunião do conselho da escola, alguns alunos deixaram a escola desde que a disputa sobre o "My Princess Boy" começou. E pela primeira vez na história de 12 anos da Nova Classical Academy, as matrículas caíram significativamente.
Em um e-mail ao Daily Signal, o Dr. Eric Williams, diretor executivo da Nova Classical Academy, procurou explicar o declínio.
Embora seja correto que um punhado de pretendentes a pais indicassem que a razão pela qual eles não se re-matriculariam na Nova para o ano escolar de 2016-17 ou recusaram ofertas de inscrição deveu-se ao problema de não conformidade de gênero na escola, existem várias razões que contribuíram mais significativamente para o menor número de pedidos recebidos neste momento.
Pela primeira vez em quase 10 anos, Nova não acolheu uma escola Showcase / Open House anual - um evento que normalmente atrai mais de 200 futuros pais e seus filhos. Além disso, este ano optamos por não hospedar passeios semanais durante todo o outono e início do inverno para as famílias de crianças que entram jardim de infância até o primeiro grau. Estas decisões foram tomadas quase que exclusivamente com base na alocação de recursos humanos e as longas listas de espera da escola, ano após ano.
Embora a escola tenha finalmente substituído "My Princess Boy", com poemas que retratam uma mensagem semelhante, as três famílias que falaram com o Daily Signal disseram que não há como voltar atrás.
"Parece que eles estão muito influenciados pela forma como a cultura está se movendo", disse a mãe cuja filha permanece inscrita.
Ela e seu marido disseram que pretendem "ficar fora", mas eles estão "tentando decidir em que ponto demais é demais.
"A influência diária deste menino, que muito se parece com uma menina, todos os acessórios ... eles estão realmente fazendo isso com ele", disse ela. "Mas, por agora estamos nos sentindo condenados para ficar e ser uma parte do trabalho de se certificar de que fizemos tudo o que podíamos fazer para salvar essa escola."
Desde a publicação, este artigo foi atualizado para refletir o número de estudantes que se transferiram da Nova Classical Academy por causa de "problemas de não-conformidade.
(1) K-12 designação (nos EUA) para escola que ministra educação primária e a educação secundária como um todo.
Tradução: William Uchoa