domingo, janeiro 31, 2016

Palestinos: viés e ignorância da mídia ocidental.









por Khaled Abu Toame(*).




Recentemente dois jornalistas pediram para que fossem escoltados até a Faixa de Gaza para entrevistarem colonos judeus que lá residem.

Não, não é o começo de uma piada. Esses jornalistas se encontravam em Israel no final de 2015 e estavam falando sério.

Imagine o constrangimento deles ao serem informados que Israel tinha se retirado totalmente da Faixa de Gaza há dez anos.

Convenhamos que se faz necessário ter certa compaixão para com eles. Esses colegas estrangeiros eram novatos que desejavam causar sensação por estarem se dirigindo para um lugar "perigoso" como a Faixa de Gaza, para fazer uma reportagem sobre os "colonos" que lá residem. O pedido deles não causou nenhuma surpresa a ninguém, nem mesmo aos meus colegas locais.

Esses "jornalistas paraquedistas", como são às vezes chamados, são soltos na região sem terem recebido o mínimo de informações sobre os fatos básicos do conflito israelense-palestino. Lamentavelmente, correspondentes dessa estirpe são a regra e não a exceção. Um repórter britânico, particularmente sem noção, vem à mente:

Quando Israel assassinou o líder espiritual e fundador do Hamas, Ahmed Yasmin, em 2004, um jornal britânico despachou seu repórter investigativo para cobrir o caso. Para esse repórter, a região, bem como o Hamas, eram terra virgem. Seus editores enviaram-no ao Oriente Médio, segundo ele, porque ninguém estava disposto a ir.

Muito bem, nosso herói fez a reportagem sobre o assassinato de Ahmed Yassin no bar do Hotel American Colony. O subtítulo da sua reportagem assinalava que ele se encontrava na Faixa de Gaza e que tinha entrevistado parentes do líder morto do Hamas.

Não é raro se sentir como um para-raios desse tipo de histórias. Outro colega radicado em Ramala verbalizou que há alguns anos foi contatado por um correspondente novato para que intermediasse uma entrevista com Yasser Arafat. Só que naquela época Arafat já estava morto há vários anos. Recém formado na escola de jornalismo e desinformado sobre o Oriente Médio, o jornalista, ao que tudo indica, foi considerado pelos editores um ótimo candidato para cobrir o conflito israelense-palestino.

Em três décadas cobrindo a mesma ladainha, fiquei bem familiarizado com esse tipo de jornalista. Eles pegam um avião, leem um ou dois artigos no Times e acham que estão aptos a se tornarem especialistas no que tange o conflito israelense-palestino.

Alguns até me garantiram que antes de 1948 havia aqui um estado palestino cuja capital era Jerusalém Oriental. A exemplo dos mal informados jovens colegas que desejavam entrevistar os não-existentes colonos judeus na Faixa de Gaza de 2015, eles ficaram um tanto surpresos ao saberem que antes de 1967 a Cisjordânia estava sob o controle da Jordânia e que a Faixa de Gaza era governada pelo Egito.

Há alguma diferença entre um cidadão árabe de Israel e um palestino da Cisjordânia ou da Faixa de Gaza? Meus colegas estrangeiros podem muito bem não serem capazes de saber se há ou não há. A carta magna do Hamas realmente preconiza que o movimento islâmico objetiva substituir Israel por um império islâmico? Se for este o caso, meus colegas de trabalho de diversos países, não terão condições de elucidar a sua dúvida.

Há alguns anos, uma memorável jornalista pediu para visitar a "destruída" cidade de Jenin, onde "milhares de palestinos foram massacrados por Israel em 2002". Ela estava se referindo à operação das Forças de Defesa de Israel (IDF) no campo de refugiados em Jenin onde cerca de 60 palestinos, muitos deles milicianos e 23 soldados da IDF foram mortos em um combate.

Deixando a compaixão de lado, é difícil imaginar que na era da Internet ainda haja esse grau de desinformação e preguiça profissional.

Mas quando se trata de cobrir o conflito israelense-palestino, aparentemente a ignorância é a glória. Ideias equivocadas sobre o que acontece aqui assolam a mídia internacional. A dualidade da designação mocinho/bandido é o norte por aqui. Alguém tem que ser o mocinho (os palestinos foram incumbidos para esta tarefa) e alguém tem que ser o bandido (esta ficou para os israelenses). E tudo é refletido através deste prisma.

No entanto o buraco é mais embaixo. Muitos jornalistas ocidentais que cobrem o Oriente Médio não sentem a necessidade de disfarçar seu ódio contra Israel e contra os judeus. Mas em se tratando dos palestinos, esses jornalistas não veem mal nenhum. Jornalistas estrangeiros que fazem suas coberturas a partir de Jerusalém e Tel Aviv têm se recusado, por anos a fio, a expor a corrupção financeira e as violações dos direitos humanos tão comuns nos regimes da Autoridade Palestina (AP) e do Hamas. Eles provavelmente temem ser considerados "agentes sionistas" ou "propagandistas" de Israel.

Para completar há os jornalistas locais contratados pelos relatores ocidentais e veículos de mídia para auxiliarem na cobertura do conflito. Esses jornalistas podem se recusar a cooperar em qualquer história que possa ser considerada "antipalestina". O "sofrimento" palestino e o "mal" da "ocupação" israelense são os únicos tópicos admissíveis. Os jornalistas ocidentais, por sua vez, estão propensos a não irritarem seus colegas palestinos: eles não querem ver seu acesso às fontes palestinas ser negado.

Portanto, não deveria causar nenhuma surpresa a indiferença da mídia internacional em face da atual onda de esfaqueamentos e atropelamentos intencionais contra os israelenses. Qualquer um teria imensa dificuldade em encontrar um jornalista ocidental ou órgão da mídia que se refira aos homicidas palestinos como "terroristas". Na realidade, as manchetes internacionais, amiúde, demonstram muito mais comiseração com os algozes palestinos que são mortos no ato da agressão do que com os israelenses que são, antes da mais nada, primeiramente atacados.

Obviamente, o exposto acima não se aplica a todos os jornalistas. Alguns jornalistas dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Europa são bem informados e imparciais. Lamentavelmente, contudo, estes representam um grupo extremamente pequeno da grande mídia do Ocidente.

Repórteres ocidentais, especialmente aqueles que são "soltos de paraquedas" no Oriente Médio, fariam um bem a si próprios se não esquecessem que o jornalismo nessa região não gira em torno de ser pró-Israel ou pró-palestino. Melhor dizendo, ele gira em torno de ser "pró" verdade, mesmo que a verdade contradiga o que eles prefeririam acreditar.


(*)Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém.

Publicado no site do The Gatestone Institute.

Tradução: Joseph Skilnik

sexta-feira, janeiro 29, 2016

A origem do Estado Islâmico.









por Carlos I. S. Azambuja(*)


O texto abaixo é um pequeno extrato da apresentação do livro “A Origem do Estado Islâmico – O Fracasso da ‘Guerra ao Terror’ e a Ascensão Jihadista”. O livro foi escrito por Patrick Cockburn, e a apresentação, que recebeu o título de “Uma Serpente entre as Pedras”, foi escrita por Reginaldo Nasser, mestre em Ciência Política (Unicamp) e doutor em Ciências Sociais (PUC-SP), professor do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais – San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC) e chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP.


Patrick Cockburn fez as melhores reportagens sobre o tema. Descreve a situação como uma estratégia de Alice no País das Maravilhas. Os EUA querem destruir o ISIS (Estado Islâmico), mas se opõem a todas as forças que estão combatendo o ISIS. O principal Estado que se opõe ao ISIS é o Irã, que apóia o governo xiita do Iraque. Mas o Irã, como se sabe, é nosso “inimigo”.


Provavelmente as principais tropas terrestres que combatem o ISIS são os curdos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e os seus aliados, que estão na lista de terroristas dos EUA. A Arábia Saudita, principal aliada norte-americana junto com Israel, está comprometida e dominada por uma versão extremista do Islã (a doutrina wahabita, uma forma particular do islamismo sunita), o que a faz ter uma posição omissa ou até de apoio a movimentos como o ISIS, que é, aliás, orientado pela mesma doutrina wahabita. A Arábia Saudita é um Estado missionário. Cria escolas e mesquitas espalhando a sua versão radical do Islã. Assim, eles são os nossos aliados; e os nossos inimigos são os que estão combatendo o ISIS.


O parágrafo acima, que faz parte da orelha do livro, é de autoria de Noam Chomsky (filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna". É também uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica).


----------------


Transcrevemos, a seguir, um pequeno trecho, escrito em junho de 2015, da “Apresentação – Uma Serpente entre as Pedras”,de Reginaldo Nasser:
Cockburn mostra, fartamente, exemplos de ações militares e diplomáticas completamente equivocadas por parte dos EUA, que, ao invés de derrotar o ISIS, só o fortaleceu.


Sim, é possível e é provável que erros de análise e de compreensão de fenômenos sociais e políticos sejam cometidos, mas será que é razoável supor que o aparato diplomático militar dos EUA seja tão despreparado a ponto de cometer, reiteradamente, erros grosseiros?


Ou podemos ter também, como hipótese, que talvez o fracasso da guerra possa ser de fato o seu sucesso? Os líderes políticos e generais em Washington e Londres podem estar recebendo pesadas críticas domésticas por seus erros no Iraque e na Síria, mas alguns analistas do mundo árabe observam que, na verdade, estão sendo muito bem sucedidos na execução de um plano para dividir o país. No fundo, a unidade entre a resistência sunita e xiita sempre foi motivo de preocupação por parte desses líderes. 


Seja como for, o fato é que a ascensão meteórica do ISIS e sua declaração de restabelecer o Califado são algo sem precedentes na história do sistema estatal árabe que teve início após o fim do Império Otomano e a Conferência de Paz de Paris, em 1919. Pela primeira vez, um ator não-estatal islâmico, que agora é simultaneamente nacional e transnacional, esculpiu uma nova unidade política no mundo árabe, onde as fronteiras permanecem relativamente inalteradas aio longo de todo o Século XX.


Embora mencione em vários momentos, Cockburn não explora em profundidade o surgimento de uma nova forma de especialidade política ligada à criação do Estado Islâmico no Oriente Médio, negando claramente a essência geográfica do campo das relações internacionais: o Estado Islâmico com um território claramente delimitado. 


Ainda que se possa duvidar da sua durabilidade, trata-se, evidentemente, de uma demonstração da fraqueza do processo de criação artificial de estados-nação na região do Oriente Médio, caracterizado pelo arroubo das potências ocidentais em construir um sistema político na região à sua imagem e semelhança. O fracasso do nacionalismo como uma ideologia política no Oriente Médio influenciou o surgimento de movimentos radicais islâmicos que reivindicam a constituição de uma nova ordem política nesses territórios: o Califado.


O colapso do Iraque e da Síria como estado-nação tem dado a esses movimentos força para consolidar os seus projetos e alargar os seus objetivos sobre um território que pode cobrir a região do Oriente Médio e além. De fato, esse espaço geopolítico deve ser analisado também sob a perspectiva de que novas possibilidades de exploração de recursos (petróleo, principalmente) podem dar ao novo Califado em termos de Poder dentro do sistema internacional.


O ISIS é especialista em estimular o medo. Os vídeos que produz, de seus combatentes executando soldados e pilotos de avião, tiveram um papel importante para aterrorizar e desmoralizar seus inimigos. Entretanto, esse medo também pode unir um amplo arco de oponentes do ISIS que eram antes hostis uns em relação aos outros.


Como nota Cockburn, se o apelo do Estado Islâmico aos muçulmanos sunitas na Síria, no Iraque e em todo o mundo funciona, em parte, com num sentimento de que suas vitórias são presentes de Deus e inevitáveis, isso também pode ser sinal de fragilidade, já que qualquer derrota pode afetar a alegação de apoio divino.


Ainda que seja improvável cumprir a promessa de garantir a viabilidade de seu Califado no Iraque e na Síria contra o poderio militar dos EUA e sua coalizão dentro do território governado por dois governos xiitas, sua ideologia provavelmente continuará a inspirar seguidores. Quer se trate de um ISIS abrigado nos centros urbanos de Mosul e Raqqa ou espalhado nas periferias, mesmo assim será capaz de lançar ataques esporádicos dentro das cidades iraquianas e sírias, em particular por meio de carros-bombas e ataques suicidas. O Estado Islâmico poderia rasgar o Oriente Médio e causa ainda mais agitação, para as gerações futuras, onde os Estados não têm uma ideologia que lhes permita competir com um foco de lealdade baseada em seitas religiosas ou grupos étnicos. 


A capacidade do ISIS para apelar a um imaginário islâmico através de fronteiras e sua restauração do Califado representa a cristalização de uma ideologia jihadista que se desenvolveu ao longo dos últimos 30 anos. Seu líder, Abu Bakr AL-Baghdadi, propaga que o Califado é um tipo de Estado onde “árabes e não árabes, homens brancos e negros, orientais e ocidentais são todos irmãos...A Síria não é para os sírios e o Iraque não é para os iraquianos. A Terra é de Alá”.


O grande pensador da guerra, Karl Von Clausewitz, julgava que sempre reinará uma grande incerteza durante os confrontos armados, já que é simplesmente impossível ter conhecimento pleno de todas as informações em jogo. Como conseqüência, toda a ação, em certa medida, será planejada na “névoa da guerra”, que pode dar aparência deturpada às coisas.


É impossível dissipar a névoa, mas o leitor perceberá com certeza que, após a leitura dessa obra, poderá acompanhar com mais segurança as inúmeras peças em movimento nesse verdadeiro xadrez geopolítico do Oriente Médio.



(*)Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
Publicado no Alerta Total

Uma alma desonesta








por Demétrio Magnoli(*) 
para O Globo (28jan2016)

Há muitas coisas incomuns nas atividades de Lula e nos negócios de seus filhos




A melhor coisa do Brasil é Lula, segundo Lula. “Se tem uma coisa de que eu me orgulho neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu”, confessou o ex-presidente a uma plateia de blogueiros aduladores. Na conversa, ninguém produziu uma tentativa de distinção entre honestidade pessoal e honestidade política. Mas são conceitos diferentes. No plano pessoal, o julgamento da honestidade de Lula não cabe a ele — e permanece em suspenso. No plano político, provavelmente “não tem uma viva alma” mais desonesta que ele “neste país”.

Um boneco de FH com trajes de presidiário surgiu muitos anos atrás, carregado por sindicalistas da área de influência de Lula. O precedente não torna menos reprováveis os “pixulecos” que representam Lula em condições similares. Aquilo que, nos tempos de oposição, o PT classificava como parte da luta política legítima deve ser entendido como um elemento da degeneração sectária de nossa vida democrática. Lula é inocente até que, eventualmente, sua culpa seja provada no curso do devido processo legal. Mas, como disse Dilma Rousseff, o ex-presidente não está acima da lei e pode ser investigado, tanto quanto qualquer cidadão.

Não é, aparentemente, o que pensa o próprio Lula. Dias atrás, seu fiel escudeiro Gilberto Carvalho denunciou uma suposta “politização” das investigações que miram Lula e seus familiares. De acordo com ele, tudo não passaria de uma sórdida campanha destinada a impedir a “volta de Lula” no ano da graça de 2018. As declarações, altamente “politizadas”, implicam uma grave acusação contra o Ministério Público, que comanda as investigações, a Polícia Federal, que as conduz, e o Poder Judiciário, que as controla. Carvalho, a voz de Lula, está sugerindo que as três instituições operam segundo um ardiloso plano político-partidário. É uma alegação paralela à de Eduardo Cunha — e um sintoma de temor típico dos que têm algo a esconder.

Há muitas coisas incomuns nas atividades de Lula e nos negócios de seus filhos. Quando um ex-presidente que continua a exercer influência decisiva no governo profere palestras patrocinadas por empreiteiras condenadas no escândalo do petrolão e remuneradas em valores extraordinários, emerge uma natural desconfiança. Quando os negócios de um de seus filhos recebem impulso notável de uma empresa de telefonia beneficiada por alteração no marco regulatório decidida pelo governo de Lula, algo parece fora de lugar. Quando os negócios de outro filho se misturam aos de um lobista preso por corrupção, a coincidência solicita investigação. Lula é, pessoalmente, desonesto? A pergunta tornou-se razoável, mas uma resposta negativa carece de fundamento e, antes de um processo, deve ser marcada com a etiqueta da calúnia.

A imputação de desonestidade política, por outro lado, depende da opinião pública e, em certos casos, do Congresso, não dos tribunais. O tema pertence ao universo da ética e varia, no tempo e no espaço, ao sabor dos valores sociais hegemônicos. Nas repúblicas democráticas contemporâneas, a sujeição do Estado a interesses políticos particulares e o desvio de recursos públicos para fins partidários caracterizam a desonestidade política. Nesse sentido, Lula é uma alma desonesta.

As provas estão à vista de todos, a começar da “entrevista” concedida aos bajuladores. A existência de blogueiros chapa-branca não é um problema, mas seu financiamento com recursos de empresas estatais (a Petrobras, a Caixa, o Banco do Brasil, os Correios) infringe o princípio da impessoalidade da administração pública. A nomeação de diretores da Petrobras segundo critérios partidários, conduta defendida por Dilma, que está na raiz do petrolão, é uma forma de privatização do Estado. O uso da Petrobras como patrocinadora do Fórum Social Mundial, um encontro de ativistas de esquerda simpáticos ao PT, faz parte da mesma classe de práticas. Jaques Wagner nunca criticou tais iniciativas, mas reconheceu que o PT “se lambuzou” no poder. Lula chefiou a farra dos “lambuzados”, assegurando para si mesmo um lugar de honra no panteão de nossa “elite de 500 anos”.

“A curiosidade é condição necessária, até mesmo a primeira das condições, para todo trabalho intelectual ou científico”, escreveu Amós Oz, acrescentando que “em minha opinião a curiosidade é também uma virtude moral”. Uma face ainda mais relevante, se bem que menos evidente, da desonestidade política de Lula é seu esforço para, em nome de seus interesses políticos, abolir a curiosidade do debate público brasileiro. Lula instaurou um paradigma nefasto na linguagem política que consiste em retrucar a qualquer crítica por meio de uma acusação de preconceito dirigida ao crítico.

O argumento do interlocutor não interessa. Ele critica para reagir à ascensão ao poder de um pobre que conheceu a fome, de um operário metalúrgico filho de mãe analfabeta. Ou para contestar a competência da primeira mulher a chegar à Presidência. Ou, alternativamente, com a finalidade de sabotar as políticas de combate à pobreza, de inclusão dos negros ou de proteção aos índios. O crítico é intrinsecamente mau. Se não o for, está a serviço da elite, de ambições estrangeiras ou de ambas. A linguagem política lulista, um relevo inescapável na paisagem brasileira, espalhou-se tão rapidamente quanto a dengue, as obras superfaturadas e o vício do crack. O assassino de nossa curiosidade é uma alma desonesta.

Lula colhe os frutos da árvore que plantou e, metodicamente, irrigou. Os fabricantes de “pixulecos” aprenderam a lição de sectarismo que ele ensinou. Aceitaram a divisão do país segundo as linhas do ódio político. Chamam-no de “ladrão” e “bandido” para circundar o caminho difícil do argumento. No país do impropério, do grito e da palavra de ordem, identificaram a escada do sucesso. O principal legado do lulismo é essa espécie peculiar de devastação ambiental.

(*)Demétrio Magnoli é sociólogo


Artigo original em:O Globo
© 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Os ataques palestinos Internos e Externos contra Israel





por Rachel Ehrenfeld




Imagem postada na página de Facebook de QudsN, após o ataque letal por esfaqueamento em Otniel (Leão de Deus), em que Dafna Meir, 39, mãe de seis filhos, foi assassinada na entrada de sua casa, enquanto seus filhos assistiam, impotentes. A única palavra no centro do post diz: "Otniel." A inscrição na parte superior lê, "Morte de uma assentada em um ataque de esfaqueamento e a retirada do esfaquiador do assentamento de Otniel, 17/1/2016" - Dois dias depois, o assassino, Abdallah Murad Badr Idi de, 16 anos, foi detido pelas forças de segurança israelenses em sua aldeia, Bayt Amra, perto da cidade de Yatta, ao sul Monte Hebron, e levado para interrogatório.




A liderança palestina está muito ocupada travando guerra política, econômica e de propaganda contra Israel.


Em Ramallah, a Autoridade Palestina está realizando funerais oficiais dos "heróis" que matacam a faca israelenses, e incentivando outros a também se tornarem mártires.


Na arena internacional, a Autoridade Palestina está trabalhando arduamente para obter uma resolução da Liga Árabe, da União Europeia e do Conselho de Segurança da ONU que irá condenar e declarar todos os "assentamentos" israelenses na Cisjordânia ilegais sob a lei internacional e um obstáculo à paz. No entanto, ao mesmo tempo, os defensores palestinos na Europa e nos EUA estão fazendo esforços para deslegitimar o Estado judeu de Israel. Eles estão orgizando com sucesso grupos profissionais e universidades para banir os israelenses.


Hoje, "71 médicos britânicos apresentaram um pedido para a Associação Médica Mundial para que a Associação Médica de Israel seja expulsa. No Kings College, em Londres, em 16 de janeiro de 2016, um grupo do KCL Action Palestine (1), invadiu um evento onde o ex-chefe do serviço secreto de Israel Shin Bet e o comandante-em-chefe da Marinha, Ami Ayalon estava falando. Eles jogaram cadeiras, quebraram janelas e dispararam alarmes de incêndio. Pelo menos 15 policiais MET foram necessários para evacuar o edifício. Apesar da violência e danos ao imóvel não foram feitas detenções. Aparentemente, a polícia considerou esta uma manifestação da liberdade de expressão.


No resto da Europa e nos EUA o movimento Palestinians BDS (2) para expulsar os israelenses do meio académico e empresarial, bem como produtos israelenses de judeus da Judéia e Samaria e das Colinas de Golan, está em pleno andamento. Em novembro passado, a União Europeia decidiu permitir que tais etiquetas de advertência e cadeias de supermercados em toda a Europa parassem de transportar produtos israelenses. Nos EUA, o mais recente a aderir ao movimento BDS, foi o fundo de pensões para a Igreja Metodista Unida, uma das maiores denominações protestantes nos Estados Unidos. Eles removeram cinco bancos israelenses de sua carteira de investimentos.


Em Israel, o esfaqueamento de israelenses por palestinos continua. Em 18 de janeiro de 2016 - Tekoa - Um terrorista palestino entrou em uma loja de vestuário, na aldeia de Tekoa (sul de Jerusalém). Ele esfaqueou uma mulher grávida, ferindo-a gravemente. O terrorista foi baleado por um residente local e levado para um hospital. A mídia palestina informou que tratava-se de Othman Muhammad Shalan, 19 anos, da aldeia de Hindaza, a sudeste de Belém (Radio Al-Rabia, Hebron, 18 de janeiro, 2016)


17 janeiro de 2016 - A facção Islamic Bloc afiliada ao Hamas na Universidade Al-Najah, em Nablus, organizou uma feira do livro na universidade para encorajar ataques terroristas contra Israel. Exemplos são os seguintes (página do Facebook do Islamic Bloc do Hamas em Al-Najah, na Universidade de Nablus, 17 de janeiro, 2016). Veja alguns exemplos abaixo:




A Autoridade Palestina (AP) realizou um funeral militar formal para ele (Agência de Notícias Wafa, 15 de janeiro, 2016)

Envolvimento crescente do Irã: s e Hamas e a PIJ (3)

O Movimento Al-Saberin para a vitória da Palestina afiliado ao Hezbollah e ao Irã é uma rede terrorista fundada em 2014 por agentes que deixaram a PIJ. Ele é afiliado ao Hezbollah e ao Irã, que aparentemente financia suas operações na Faixa de Gaza.

De acordo com Hashem Salem, chefe do Movimento Al-Saberin, a organização recebe fundos do Irã, mas eles são destinados principalmente para atividades dawah (divulgação) .... Ele se recusou a comentar se a organização também recebeu apoio militar do Irã, mas disse que seus agentes não recebem salários. Quanto às relações com o Hamas, afirmou que as relaçoes de segurança e militares eram boas e positivas, e que Al-Saberin, como as outras organizações, estava comprometida com o acordo de trégua com Israel. Quanto a suas relações com a PIJ (a maioria dos agentes da Al-Saberin veio da PIJ), ele alegou que eles eram bons, mas que eles tinham "divergências técnicas". Relativamente a outras atividades da Al-Saberin, ele alegou que operava na Judéia, Samaria e Jerusalém. Tinha, segundo ele, uma ala militar cujo objetivo era lutar contra Israel e que tinha participado ativamente dos recentes acontecimentos (Agência de Notícias Maan, 14 de janeiro, 2016). Em 17 de janeiro de 2016 o Movimento Al-Saberin emitiu uma declaração felicitando o Irã sobre o acordo nuclear e o levantamento das sanções (Site do Movimento Al-Saberin, 17 de janeiro, 2016).

Em 16 de dezembro de 2015, ele assumiu a responsabilidade pelo ataque uma patrulha das IDF com um IED (4) perto da cerca de segurança fronteiriça no sul da Faixa de Gaza não houve vítimas. Foi a primeira vez desde que a Operação de Proteção de Fronteira em que um ataque em larga escala contra as forças das IDF ao longo da fronteira da Faixa de Gaza foi evitado. Agentes da Al-Saberin reivindicaram que o ataque fora parte da "intifada de Jerusalém" e uma resposta às ameaças israelenses contra a Faixa de Gaza (Site do Movimento Al-Saberin, 18 de janeiro, 2016).

(1) KCL Action Palestine (KCLAP) grupo de estudantes de esquerda do King College London.
(2) BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel.
(3) PIJ – Palestine Islamic Jihad
(4) IED – Improvised Explosive Device – Dispositivo Explosivo Improvisado.


Tradução: Wiliam Uchoa

segunda-feira, janeiro 18, 2016

Islamofobia & O Politicamente Correto









Islamofobia & O Politicamente Correto.
por Herbert London









De acordo com um plano de 10 anos da Organização da Cooperação Islâmica (OCI) para implementar a Resolução das Nações Unidas 16:18 que criminaliza toda a crítica ao Islam em todo o mundo, a Casa dos Representantes dos EUA emitiu a H. Res. 569 condenando a violência, intolerância e "retórica de ódio" para com os muçulmanos nos Estados Unidos.
Esta proposta vem na esteira da promessa da Procuradora Geral da República Loretta Lynch pós San Bernardino prometendo processar alguém culpado de discurso anti-muçulmano. É claro que a Sra Lynch está disparando um canhão numa mosca. De acordo com o relatório Uniform Crime Report do FBI, houve 1014 casos de crimes de ódio motivados por preconceito religioso em 2014. Desses, 154 – 15,2 por cento – foram anti-islâmicos. Mais da metade foram incidentes anti-semitas. Não só isto é mais um exemplo de que a administração Obama exagera ameaças menores, mas sugere também uma ignorância ou evasão insensível da Primeira Emenda.


As elites progressistas acusam aqueles que condenam o extremismo muçulmano de serem eles mesmos extremistas – alegando que a censura ao Islam radical é uma crítica indiscriminada de todos os muçulmanos. Aqui está um exemplo do que os progressistas chamariam de "islamofobia", apelidado apropriadamente por Andrew Cummins como uma palavra "criada por fascistas, usada por covardes, para manipular idiotas."


De acordo com uma pesquisa da Pew Research 2013, 10 por cento dos muçulmanos (160 milhões) apoiam a violência de motivação religiosa contra os civis em determinadas situações. Quinze por cento acreditam que a execução é justificada para apostasia e quase 23 por cento justificam a matança de mulheres que fazem sexo extraconjugal. Desde 11/9, houve mais de 20.000 ataques terroristas ligados ao Islam.


Por que então as elites progressistas acusam os críticos do Islam radical de islamofóbicos? De acordo com o primeiro-ministro francês Valls esta tática é uma arma dos apologistas do Islam para silenciar seus críticos. É um porrete do politicamente correto para silenciar a oposição.


O que surgiu com esta campanha do politicamente correto é um ataque frontal à liberdade de expressão. Neste paradigma emergente se você criticar o Islam, você é um racista. O Islam tornou-se inatingível, exceto para elogios, ou, pelo menos, aceitação neutra.


Esta tentativa de silenciar as vozes de oposição e de análise crítica ganhou a adesão como a Resolução Casa sugeriria. Claramente uma resolução não é uma lei e, presumivelmente, os membros do Senado vão rejeitar esta proposta no entanto, é preocupante que uma Casa liderada por republicanos tenha sequer considerado a idéia de se opor ao discurso anti-muçulmano. Todo americano, obviamente incluindo os muçulmanos, tem o direito inalienável de viver sem medo e intimidação e praticar idéias religiosas sem interferência.


A questão é a prática da fé de alguém que possa ser incompatível com as disposições da Constituição, incluindo a manutenção das leis da terra e esperando o cumprimento pelo cidadão dessas leis. Tashfeen Malik e Syed Pizwan Farook que mataram 14 dos colegas de trabalho de Farook e feriram dezenas de outros em San Bernardino, Califórnia, foram radicalizados em uma mesquita de acordo com relatórios recentes. Eles não respeitaram as leis desta terra, apesar do fato de que Farook era um cidadão americano. Aqui está o busílis. Os muçulmanos são livres para buscar a sua fé, mas quando ocorre radicalização que desafia a segurança nacional e nosso modo de vida, a censura é apropriada. Isto não é islamofobia é senso comum. A retórica deve ser condenatória, mesmo que muitos membros da Casa não vejam dessa forma.


A liberdade de expressão não é apenas leve e doce representa as dimensões ásperas da vida. A preocupação com a islamofobia é parte da degradação cultural. Vários anos atrás, o filósofo Mortimer Adler disse: "A cultura não é morta por conflitos políticos, mesmo quando eles atingem a violência avassaladora da guerra moderna, e nem por revoluções econômicas, mesmo quando envolvam os deslocamentos de levantes em massa modernos. Uma cultura morre de doenças que são elas próprias culturais. Pode nascer doente, como a cultura moderna o foi, ou pode decair vitalidade insuficiente para superar forças destrutivas presentes em todas as culturas, mas em qualquer caso, a desordem cultural é uma causa e não um efeito de perturbação política e econômica que assolada o mundo hoje em dia. “Se Adler está certo, pode-se perguntar como pode a cultura ser imunizada contra um politicamente correto que protege a violência potencial e corrói os alicerces da nação”?

Tradução: William Uchoa 


(*)Herbert London é Presidente do London Center for Policy Research, senior fellow do Manhattan Institute e autor do livro The Transformational Decade (University Press of America).

terça-feira, janeiro 12, 2016

A Bíblia prega pacifismo e desarmamento?


por Adriano Gama, pastor da Igreja Reformada de Colombo, no Paraná.




Se fosse contrário à vontade de Deus um crente ter uma arma para sua defesa, por que o Filho de Deus ordenou a aquisição de espadas e não mandou Pedro jogar fora a sua?

No segundo dia do ano, duas notícias no Portal G1 chamaram a atenção. Numa delas, “Carro passa atirando e mata 4 em bar em SP”. No meio da manhã, parecem ter descoberto que a culpa não era do carro: havia alguém dentro dele puxando o gatilho, e o título foi alterado para “Ataque a tiros em bar deixa 4 mortos em Guarulhos, na Grande SP”.

Em outra manchete, um fato que causou ainda mais perplexidade do que o ataque do carro que atirava sozinho: “Policial militar é preso após atirar e matar homem que invadiu sua casa”. Dessa vez, o título está correto, a narração dos fatos é que parece confusa. Mas, se tudo correu como se conta, o que aconteceu com o direito à legítima defesa no Brasil?

Estamos num país com quase 60.000 homicídios anuais, no qual a grande mídia e o governo são flagrantemente a favor de que se desarme o cidadão de bem, mesmo contra a opinião majoritária dos brasileiros.

Qual a opinião dos cristãos?
Muitos cristãos, especialmente evangélicos, têm endossado essa postura pacifista e anti-armas alegando bom-senso ou razões de fé. Quem não lembra de Magno Malta e Silas Malafaia demonizando a flexibilização do estatuto do desarmamento, às vésperas da votação na Câmara?

De modo geral, não é difícil encontrar crentes e pastores se opondo à liberdade de portar armas e maculando aqueles que desejam armar-se para defesa da vida, patrimônio ou mesmo para lazer.

Eles advogam que ter uma arma de fogo é contra a vontade de Deus, é idolatria, falta de fé, e algo que Deus proíbe, pois armas só serviriam para matar… E afirmam que tais argumentos estão em acordo com o que a Bíblia ensina.

Exemplo disso foi o post que me chegou de um desses pastores, que usava os textos de João 18.1-13, Salmo 127.1, Romanos 12.19 e Tiago 1.20 para provar o que dizia, escrevendo:

“Vejo pastores, teólogos e deputados pessoas renomadas que sobem aos púlpitos das igrejas para prega [sic] o amor e o perdão divino, mas nas rede [sic] sociais se declaram abertamente e como discípulos e até apóstolos de Jesus, porém na primeira oportunidade que tivessem sacaria [sic] uma arma e atiraria na orelha de Malco alegando legítima defesa. A Bíblia ensina o contrário a isso entenda. Fico com a Palavra de Deus a realizar os desejos do meu coração”.

Por trás de tantos erros de ortografia e concordância, estão os vários outros erros de interpretação que surgem quando se tenta fazer a Bíblia ensinar pacifismo e desarmamento:

1. Ele não considera o que a Escritura fala sobre legítima defesa:

“Se um ladrão for achado arrombando uma casa e, sendo ferido, morrer, quem o feriu não será culpado do sangue. Se, porém, já havia sol quando tal se deu, quem o feriu será culpado do sangue; neste caso, o ladrão fará restituição total” (Êxodo 22.2-3).

2. Ele confunde legítima defesa com vingança:

A vingança é pecado e pertence a Deus. A legítima defesa não é pecado, mas é um direito. Dependendo da situação, pode se tornar um dever. Pois, Deus ama a vida e odeia o sanguinário (Salmo 5.6)

3. Ele provavelmente não estudou João 18.1-13 seriamente:

O que Jesus reprovou foi ter uma espada, ou, a tentativa de Pedro usar a espada para impedir a prisão do Senhor? Essa prisão não devia ser impedida para que se cumprisse a Escritura para a nossa salvação. E o Senhor Jesus não precisava de um espada humana para ser livrado da morte, pois, ele tinha poder para se livrar e destruir toda a terra (Mt 26.53-54)! Não dá para ver no texto que a ordem de Jesus não foi “jogue a espada fora”, mas “guarde a espada” (Jo 18.11)? A reprovação de Jesus foi contra a tentativa de Pedro em cortar a orelha de Malco, para impedir a prisão do Filho de Deus.

4. Ele desconsidera que Pedro usou uma das espadas que o Senhor Jesus ordenou que os discípulos comprassem (Lc 22.36-38):

E o malfeito de Pedro não estava em ter uma espada, mas fazer mau uso dela. E na Providência, esse mau uso fazia parte do cumprimento da profecia para a condenação do Senhor em nosso favor (Lc 22.37,38). Se fosse contrário à vontade de Deus um crente ter uma arma para sua defesa, por que o Filho de Deus ordenou a aquisição de espadas e não mandou Pedro jogar fora a sua? Por que a Escritura concede o direito a legítima defesa e proibiria os meios eficazes para essa defesa?

5. Ele não entende que armas de fogo não são feitas apenas para assassinar:

Elas também servem para nos guardar de homens perversos. Não é isto que a experiência bíblica nos mostra? O que fez Mordecai e os judeus para resistir ao malvado estadista Hamã? Os crentes se organizaram em defesa armada para se proteger do genocídio (Ester 9.1-16). E a atitude não pacifista deles resultou em salvação. A ação não foi contra a vontade de Deus, mas, para a preservação da vida da igreja ali naquela parte do Império persa.

6. Ele não entende que não se proteger é tentar ao Senhor:

O Senhor Deus ordenou ter exércitos armados para a defesa do povo e não proibiu seus filhos de terem armas. O Senhor ordenou murar Jerusalém. O Senhor, no Salmo 127, condena o ter sentinelas ou, na verdade, o trabalho que deposita toda confiança no homem? Ter uma arma de fogo não é idolatria e nem falta de fé no poder do Senhor. Assim como não é idolatria, não é falta de fé usar o cinto de segurança quando dirigimos nosso carro, ou termos cadeados e grades em nossas casas. A nossa experiência de vida também comprova que armas de fogo são uma bênção. Os vigilantes nas lojas e bancos usam armas para quê? Para fazer mal ou para nos proteger dos maus? O artigo feito pelo pastor pacifista faz a Escritura entrar em contradição e não respeita o contexto da passagem de João. E é contra o bom senso de nossa experiência humana. Não tentarás o Senhor teu Deus.

7. Ele não enxerga que a Bíblia não advoga o pacifismo:

É bom tomarmos muito cuidado para não usarmos a Bíblia como pretexto para pacifismo. Pacifismo não é a pregação da paz. Davi era um homem pacífico, mas era um guerreiro usado por Deus. O pacifismo não tem respaldo na verdade de Deus. E é reprovável usar a Escritura para promover pacifismo e macular aqueles que defendem a liberdade de, quem quiser, crente ou descrente, ter e portar uma arma de fogo como instrumento de defesa (ou lazer).

8. Ele não respeita a liberdade alheia:

Se alguém não quer ter uma arma de fogo: assim o faça. Mas, se um crente ou descrente deseja ter: assim o faça. Nesse caso, aquele que não quer ter, não condene quem quer ter. Pois, condenar o ter ou o uso de arma de fogo por crentes é impor uma regra humana como sendo a Palavra de Deus.

Graças a Deus, sua Palavra é a Escritura Sagrada, e não as postagens de pastores pacifistas e desarmamentistas. A Escritura é a espada do Espírito, não uma arma a serviço do pacifismo e do desarmamento do cidadão de bem sob pretexto de piedade.

Fonte: MÍDIA SEM MÁSCARA.

domingo, janeiro 10, 2016

Um terrorista no Brasil.











Condenado por planejar atentados terroristas na França, Adlène Hicheur hoje vive como professor no Brasil, para onde veio com bolsa do governo federal e é investigado pela PF

por Filipe Coutinho, Ana Clara Costa e Hudson Corrêa




De sandálias de couro, instalado numa sala pequena no 3º andar do departamento de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o físico Adlène Hicheur, 39 anos, tem o physique du rôle atribuído aos cientistas. É magro, tem olheiras profundas e trabalha em uma pequena escrivaninha aboletada de livros. Disciplinado, Hicheur, toda sexta-feira, se desloca para fazer suas orações numa mesquita na zona norte do Rio de Janeiro. Argelino de nascimento e naturalizado francês, Hicheur tem um segredo em sua biografia que o pôs sob investigação da Polícia Federal brasileira. Em 2009, ele foi preso e condenado na França a cinco anos de detenção pela acusação de planejar atentados terroristas.




Até ser preso, Hicheur era considerado um cientista brilhante, especialista em física das partículas elementares. Ele integrava a equipe da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em francês) que mantém em Genebra, na Suíça, o maior laboratório de aceleração de partículas do mundo, uma espécie de santuário para os PhDs da área. Em 2009, ele teve uma crise de dores na coluna, tirou uma licença médica e foi para a casa dos pais, na França. Lá, passou a frequentar um fórum na internet usado por jihadistas e a trocar mensagens com um interlocutor apelidado de “Phenix Shadow” (fênix da sombra, numa tradução literal). Sob essa alcunha, escondia-se a identidade de Mustapha Debchi, apontado pelo governo francês como um membro da Al Qaeda na Argélia.

O site já era investigado pela polícia francesa, que identificou potencial de risco nas mensagens enviadas por Adlène Hicheur e passou a monitorá-lo. ÉPOCA obteve os 35 e-mails trocados
por ele e decriptografados pela inteligência francesa. Eles usavam um programa de criptografia chamado Asrar, criado pela Al-Qaeda para trocar informações e armazenar conversas sigilosas.
As mensagens entre “Phenix Shadow” e Hicheur começaram genéricas. “Phenix Shadow” menciona o governo do então presidente francês Nicolas Sarkozy, para quem, diz ele, a sua hora chegaria “em breve”. Na sequência, “Phenix” pergunta a Hicheur se ele estaria disposto a fazer um ataque suicida. Recebe uma negativa como resposta. Ao longo da conversa, “Phenix” fez uma abordagem sem rodeios a Hicheur: “Caro irmão, vamos direto ao ponto: você está disposto a trabalhar em uma unidade de ativação na França? Que tipo de ajuda poderíamos te dar para que isso seja feito? Quais são suas sugestões?”.

A resposta de Hicheur veio cinco dias depois. “Sim, claro”. Ele esclarece ainda que planejava deixar a Europa nos próximos anos, mas que poderia rever o plano. Para permanecer, Adlène Hicheur colocou uma condição: a criação de uma estratégia precisa: “Trabalhar no seio da casa do inimigo central e esvaziar o sangue de suas forças”. Para o plano da “unidade de ativação” na França, Hicheur sugere diversos alvos. “Precisamos trabalhar para acelerar a recessão econômica, ou seja, atingir as indústrias vitais do inimigo e as grandes empresas, como Total, British Petroleum, Suez”, escreveu Hicheur, que também menciona também ataques a embaixadas. Os alvos seriam os governos que ele classificou de “incrédulos”: “Executar assassinatos com objetivos bem estudados: personalidades europeias ou personalidades bem definidas que pertençam aos regimes incrédulos (em embaixadas e consulados, por exemplo)”.

Com mensagens tão claras, a polícia francesa decidiu prender Hicheur. Afastou-se a possibilidade de que a conversa seria apenas uma postura crítica ao governo - ou o exercício da liberdade de expressão. A polícia ainda encontrou em seu computador um arquivo criptografado no qual se discutia o envio de € 8.000 euros para a Al Qaeda. Ao ser preso, ele disse que era um “bode expiatório”. Muitos de seus colegas ficaram ao seu lado. Em uma carta enviada em 2011 para Sarkozy, um grupo de cientistas questionou a prisão de Hicheur. Imaginavam que o franco-argelino era apenas um usuário a mais navegando em fóruns na internet. Naquele momento, contudo, a polícia francesa ainda não tinha divulgado os e-mails sobre os ataques, que nunca foram desmentidos por Hicheur e revelaram-se decisivos para que a Justiça francesa o condenasse como terrorista.

Em 2012, o caso de Hicheur foi citado num estudo da ONU sobre o uso da internet em atentados terroristas. Virou exemplo das “diferentes formas em que a internet pode ser usada para facilitar a preparação de atos de terrorismo, incluindo comunicações entre organizações que promovem o extremismo violento”. Depois de obter a liberdade condicional, em 2012, Hicheur dedicou-se a duas coisas: mudar informações na Wikipedia a seu respeito, que mencionam o caso de terrorismo, e a tentar recuperar o emprego no CERN. Ele foi barrado, porém, pela polícia suíça. Em abril de 2015, ao julgar um recurso de Hicheur, a Justiça suíça manteve a proibição da presença do cientista no país até abril de 2018. “A gravidade dos fatos leva o tribunal a considerar que a manutenção da interdição de entrada se justifica por motivos ligados à segurança interior e exterior da Suíça. As atividades executadas pelo recorrente são, com efeito, objetivamente de uma gravidade suficiente para justificar a decisão de afastamento”, diz a decisão da Justiça.

O que a Suíça considerou grave não foi impedimento para que Hicheur viesse para o Brasil, onde ele entrou em 2013 depois de obter uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq). O órgão diz que, ao contratar, faz “análise baseada no mérito científico da proposta e no currículo do candidato”. Desde então, Hicheur vive no Rio e tem visto de trabalho garantido pela Universidade Federal do Rio Janeiro até julho deste ano. Entre 2013 e 2014, Hicheur recebeu R$ 56 mil como bolsista do CNPq. Depois, tornou-se professor visitante da UFRJ, com salário de R$ 11 mil por mês. Questionada por ÉPOCA sobre os antecedentes de Hicheur, a UFRJ disse que a sua contratação seguiu as normas usuais para professores visitantes estrangeiros, de quem são exigidos passaporte com visto.
Mohamed Zeinhom Abdiem, presidente da Mesquita da Luz
(Foto: Stefano Martini/ÉPOCA)


No Brasil, Hicheur leva uma vida discreta. Mas isso não impediu que ele virasse alvo de uma operação secreta do grupo antiterrorismo da PF, em outubro. Sua casa e seu laboratório na UFRJ sofreram uma busca e apreensão, com autorização da Justiça. A investigação da PF começou quase por acaso - depois de uma reportagem da CNN em espanhol, que entrevistou frequentadores de uma mesquita no Rio de Janeiro sobre o atentado ao semanário Charlie Hedbo, em Paris, em janeiro de 2015, que deixou 12 mortos. Durante a reportagem, um dos entrevistados defendeu o ataque e tirou a camisa. Por baixo, ele estampava outra roupa com o símbolo do Estado Islâmico. Na tentativa de identificar o autor da mensagem pró-terrorismo, a PF descobriu que Hicheur frequentava a mesquita. O cientista passou então a ser um alvo prioritário da polícia, que apura se há ligações dele com o ato registrado no vídeo. ÉPOCA descobriu que Hicheur procurou o Ministério da Justiça, em setembro de 2014, para pedir a alteração da sua nacionalidade, no visto de permanência no Brasil, de francesa para argelina. Isso significa que, no caso de uma expulsão de Hicheur do Brasil, ele seria deportado para a Argélia e não para a França, onde foi condenado.

Uma das listas da Interpol, a polícia internacional, é a chamada difusão verde, com informes sobre pessoas que já cometeram crimes e que representam uma ameaça. ÉPOCA questionou a embaixada da França em Brasília se Hicheur foi alvo de comunicações desse gênero e se outros países foram informados da condenação, como forma de fazer controle na fronteira - a exemplo do que fez a Suíça. A embaixada não se pronunciou especificamente sobre o caso. “A Embaixada da França não se manifestará sobre a situação atual do senhor Adlène Hicheur”. De acordo com a nota, “tratando-se da luta contra o terrorismo, as autoridades francesas competentes mantêm um diálogo estreito, direto e útil com as autoridades brasileiras competentes”. A instituição informou ainda que, como ele tem nacionalidade francesa, ele não está impedido de voltar à França.

No Rio, Adlène Hicheur mora em um prédio de quatro andares de classe média numa rua tranquila do bairro da Tijuca. Por ainda tropeçar na língua portuguesa, o porteiro tem dificuldades para compreendê-lo e, sem gravar o nome do inquilino, o identifica “como um rapaz barbudinho” que costuma sair por volta das 7h e só voltar à noite. Segundo vizinhos, houve uma mudança brusca na rotina do cientista, que mandou um familiar de volta para a Europa e passou a viver sozinho. Na UFRJ, Hicheur ocupa uma sala pequena no final de um corredor mal iluminado, no terceiro andar do Instituto de Física.ÉPOCA o localizou lá no começo da tarde da última quinta-feira. A surpresa da visita o deixou nervoso. Começou a tremer e se recusou a dar entrevista. “Não posso falar e gostaria de ser deixado em paz. Se você escrever ou falar qualquer coisa, você não imagina as consequências para você e para mim. É só isso”, disse o professor, sem explicar a que se referia exatamente. “Esse tipo de assunto hoje em dia não é assunto tratado de maneira analítica e com razão. Estamos numa época de histeria”, afirmou. “Eu decidi não falar nada só para reconstruir minha vida. Não é porque eu não tenha razão. Eu tenho razão. Tenho muita coisa para falar. Mas deixa o tempo falar sobre isso.” Em seguida, acrescentou: “Não sou uma pessoa pública. Estou protegendo minha vida privada e de minha família. Não tenho qualquer impacto sobre o destino do mundo.” Por fim, deixou uma incógnita no ar sobre a operação de busca e apreensão feita pela PF em sua casa e no laboratório da universidade: “Sua informação não vem da Polícia Federal. São eles que contataram você (de ÉPOCA)”. Ele não esclareceu quem seriam “eles”.

Os líderes da Mesquita da Luz, no Rio, querem que a Polícia Federal descubra a identidade e o paradeiro do homem que se manifestou a favor de terroristas, dentro do templo, logo após o atentado contra o Charlie Hebdo no ano passado. A Sociedade Muçulmana do Rio de Janeiro, responsável pela mesquita, tem repudiado publicamente os ataques do Estado Islâmico, em especial o que ocorreu de novembro passado em Paris. Para o presidente da entidade, Mohamed Zeinhom Abdien, muitas pessoas não distinguem terroristas dos seguidores do islamismo e isso aumenta a estigmatização dos muçulmanos. “Denunciamos a ação do simpatizante do Estado Islâmico à Polícia Federal. Queremos mostrar que a gente não concorda com essas coisas. Nossa religião não é essa. Queremos viver em paz com o próximo”, diz Abdien, que não foi informado sobre o resultado da investigação pela PF.

A investigação da PF sobre Adlène é baseada na suspeita de incitação ao crime e propaganda em favor da guerra. Embora a Constituição de 1988 cite terrorismo, até hoje o Congresso Nacional não criou uma lei para classificar o que seria um ataque terrorista. Por isso, as investigações sobre ameaças terroristas no Brasil têm de se basear em crimes laterais, sempre com penas mais brandas. Com os ataques a Paris em novembro, ganhou força a discussão de um projeto de lei para enfim criminalizar o terrorismo. Mas, por causa da situação política atribulada do país, sua votação pela Câmara ficou para este ano – se o debate sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff não atrapalhar. O projeto prevê penas duras para quem executar, financiar, preparar ou fazer apologia a atos terroristas. Há um ponto específico que interessa aos especialistas em terrorismo: o combate aos chamados “atos preparatórios”. Ou seja, planejar - antes mesmo de executar um atentado - já será considerado crime. Com esse enquadramento, as autoridades policiais esperam viabilizar operações para que os atentados sejam evitados. Se a nova lei for aprovada, mensagens como a de Hicheur (“executar assassinatos com objetivos bem estudados”) possivelmente teriam o mesmo entendimento dado pela Justiça francesa. Hoje, contudo, há um vácuo jurídico. No ano passado, a PF realizou pelo menos quatro operações antiterrorismo, sempre baseadas em crimes menores. Enquanto as Olimpíadas se aproximam e o Congresso não se apressa em votar uma legislação anti-terror, o Brasil vive uma situação diferente de outros países: combate um terrorismo sem dispor de uma lei.




terça-feira, janeiro 05, 2016

Sete princípios cristãos para uma política realista.









Sete princípios cristãos para uma política realista.
por Kevin D Young




Estamos em um mundo caído. As coisas não são como deveriam ser. A utopia não é possível.
Portanto, as decisões políticas devem lidar com o equilíbrio, pesando os prós e contras das várias políticas.



A Bíblia é um livro grande, de modo que há uma série de coisas que podem ser ditas no esforço de formar uma visão política de mundo a partir dos princípios bíblicos. Mas isto aqui é um blog, não um livro. Então deixe-me tomar apenas uma área doutrinária e destrinchar algumas implicações possíveis.

Creio que nossas mais importantes considerações políticas nascem de uma compreensão apropriada da pessoa humana. Quanto mais nossos políticos e instituições políticas agirem em acordo com o modo como as coisas realmente são e o modo como nós realmente somos, mais cresceremos como nação.



Considere estes princípios antropológicos à medida que desenvolve sua práxis política:

1O homem é feito à imagem de Deus (Gn 1.26-27). Não importa quão pequeno, frágil, velho ou deficiente, todo ser humano tem valor e dignidade. O governo deve proteger a vida humana e punir aqueles que a prejudicam (Rm 13.4; Gn 9.6);


2O homem é feito para o trabalho (Gn 2.15). Devemos maximizar os incentivos ao trabalho árduo e remover os incentivos que encorajam a preguiça (2Ts 3.6-12);


3A parte própria do ser humano, da qual Deus não compartilha, é que estamos sujeitos às devidas autoridades. Isso inclui a sujeição ao governo e a exigência de pagar impostos (Rm 13.1-7);


4Os seres humanos são motivados pelo interesse pessoal. Jesus compreendia isto quando nos disse para amar ao próximo como já amamos a nós mesmos (Mt 22.39). Interesse pessoal não é automaticamente o mesmo que avareza ou ganância, e essa é a razão porque Jesus não hesitou em motivar os discípulos com a promessa de serem os primeiros ou com a garantia de recompensa (Mt 6.19-20; Mc 10.29-31). É preciso dizer que nosso interesse pessoal nem sempre é virtuoso. A obra do evangelho é ensinar às pessoas como esse interesse pessoal (satisfação) pode casar com o interesse de Deus (glória). Mas as melhores políticas são aquelas que podem solapar o poder do interesse pessoal em favor de um bem maior;


5Os seres humanos não são apenas consumidores do planeta; também somos também criadores. O mundo físico é uma dádiva e uma ferramenta. Temos a capacidade de espoliar, mas também a responsabilidade de subjugar (Gn 1.28);


6Por causa do pecado de Adão, estamos em um mundo caído (Rm 5.12; 8.18-23). As coisas não são como deveriam ser. A utopia não é possível. Portanto, as decisões políticas devem lidar com o equilíbrio, pesando os prós e contras das várias políticas. Não podemos eliminar as realidades de viver em um mundo caído (Jo 12.8), mas boas políticas podem ajudar a mitigar algumas dessas piores realidades;


7A natureza humana é inclinada para o mal (Gn 6.5; Jr 17.9). Isso significa que não podemos contar com a boa vontade dos outros ou das outras nações, não importa quão bem intencionados possamos ser ou o quanto cuidemos apenas daquilo que é da nossa conta. A questão não é de onde virá a guerra. Ela deve ser esperada, dada a nossa natureza. A questão é saber quais instituições e políticas são mais efetivas em estabelecer a paz.


É claro que há mais coisas que poderíamos dizer sobre a natureza da liberdade, a importância da justiça, e o direito à propriedade privada. Esses são três temas bíblicos cruciais. Mas os sete princípios acima podem nos ajudar a começar a compreender o mundo, tomar decisões no mundo, e eleger políticos que entendam o modo como o mundo funciona.



Tradução: Márcio Santana Sobrinho

sexta-feira, janeiro 01, 2016

A perspectiva Cristã.











por Rodorval Ramalho




Provavelmente, nunca vivemos um tempo tão temeroso da verdade. Esse temor se expressa através do relativismo, do niilismo, do cinismo, do ceticismo e várias outras doenças do espírito. Tais enfermidades têm um canto de sereia envolvente – a facilidade com que se chega ao cume dos seus argumentos.

Por outro lado, emergem versões das mais variadas formas de cientificismo, tentando nos convencer de que o império do conceito é a única maneira de nos relacionarmos com o mundo que nos envolve. Para estes, esse mundo pode ser, gradativamente, resumido a uma idéia, um sistema, uma equação. Assim, o que não vier dos esforços experimentais da ciência é considerado futilidade, ilusão, engano, delírio.

O cristianismo tem sido a maior e mais consistente alternativa a essas patologias modernas do espírito; não é à toa que é a religião mais perseguida do mundo, por mais que isso não figure com o devido destaque nas manifestações da imprensa.

Assim, em tempos de tanta desorientação e numa conjuntura de perseguição sistemática, a permanência e a força do cristianismo me parecem um milagre e uma necessidade. Faz lembrar-me de uma passagem do texto sagrado que se refere à crucificação e à desistência do soldado romano de quebrar os ossos do Cristo, após ter quebrado os dos homens que lhe ladeavam, como mandava a tradição.

Cumpria-se mais uma profecia: “Iahweh guarda seus ossos todos, nenhum deles será quebrado.” (Salmo 33). Bela imagem da história do cristianismo: conseguem até saturá-lo de dores e perseguições, mas não eliminá-lo, como foi (e continua sendo) a vontade de setores importantes das “luzes” modernas.

Portanto, não é demais lembrar, principalmente aos cristãos, que a afirmação dessa tradição depende, profundamente, de uma busca permanente da verdade, da pesquisa incansável e de um esforço racional sistemático. Nada disso exclui a fé.

O brilhante historiador inglês Paul Johnson, em seu incontornável 'Uma História do Cristianismo', nos chama a atenção.

“O cristianismo é, por essência, uma religião histórica. Baseia suas alegações nos fatos históricos que declara. Se estes forem abolidos, ele não é nada. Assim sendo, poderá um cristão examinar a verdade desses fatos com a mesma objetividade que apresentaria com relação a qualquer outro fenômeno? Poder-se-á esperar dele que cave a sepultura de sua própria fé, se for esse o caminho apontado por suas investigações? No passado, poucos estudiosos cristãos tiveram coragem ou a confiança de colocar a livre perseguição da verdade antes de qualquer outra consideração. Quase todos estabeleceram um limite em algum ponto. Não obstante, como seus esforços defensivos provaram-se fúteis!”.

E segue o erudito historiador inglês.

“Afinal, o cristianismo, identificando verdade com fé, deve ensinar –e, adequadamente compreendido, de fato o faz – que qualquer interferência à verdade é imoral. Um cristão com fé nada tem a temer dos fatos; um historiador cristão que estabelece limites para o campo de investigação, em qualquer ponto que seja, está admitindo os limites de sua fé. E, naturalmente, também destruindo a natureza de sua religião, qual seja uma revelação progressiva da verdade. Por conseguinte, o cristão, a meu ver, não deve ser impedido, nem no mais leve grau, de seguir o fio da verdade; com efeito, é positivamente fadado a segui-la.”

Não nos enganemos, entretanto, sobre o alcance dos conceitos humanamente formulados. Não nos deixemos levar pelos malefícios de uma atitude que imagina ser possível capturar o mundo com as palavras e enclausurá-lo numa gaiola conceitual.

O interesse pela verdade, ao qual se refere o historiador inglês, é semelhante ao que nos propõe Olavo de Carvalho em texto recente:

“Hoje, quando nos preparamos para contemplar uma vez mais o Menino Deus em seu berço humilde, por favor lembrem-se: Ele é a fonte e o limite do nosso conhecimento. Ele é a medida, a régua e a balança. Ele é o alfa e o ômega. Para além desses limites, existe apenas o mistério insondável da Liberdade Divina.”

Portanto, a tradição cristã nos orienta a nunca temer ou abandonar a busca da verdade, seja qual for o momento, o diálogo e os interlocutores. Ao mesmo tempo, nos indica que não devemos cair na tentação herética de reduzir a criação a conceitos, fórmulas ou equações.

É este o fio da navalha no qual se movimenta o cristão.


Imagem: São Paulo na Prisão, de Rembrandt, 1627.

José Rodorval Ramalho é sociólogo.