sábado, março 31, 2018

31 de março: o dia em que o Brasil disse não ao Comunismo















por Gen Div (Res) Ulisses Lisboa Perazzo Lannes


Episódio decisivo de nosso passado recente, a Revolução Democrática de 31 de Março há 54 anos recebe do Clube Militar, singela e justa homenagem.
Introdução

Em nossos dias, diante da avassaladora campanha há décadas conduzida pelos derrotados de 1964, “Comemorar a Revolução” adquire ainda maior significância, especialmente porque as gerações mais novas, expostas aos ventos da revolução cultural gramcista, foram ensinadas a ver, no 31 de Março, a data do “golpe que implantou no país os anos de chumbo de sanguinária ditadura militar.”

“Comemorar a Revolução” representa, portanto, preciosa oportunidade para refutar falsificações, exageros e mentiras; e, sobretudo, para recordar, compreender, avaliar, exaltar e escutar os acontecimentos, os feitos e os ensinamentos daquela momentosa quadra da História pátria.

31 de Março: Tempo de Recordar e de Compreender

Antecedentes. Nos primeiros anos da década de 1960 o Brasil passou a viver período de crescente instabilidade política, militar e institucional. Após o governo Juscelino Kubitschek, as eleições presidenciais de 1960 haviam consagrado o nome do Sr. Jânio Quadros. Vestido, ao longo da campanha, com a capa da moralização das práticas políticas e do combate à corrupção, desde logo o novo presidente revelou seu temperamento instável e autoritário e passou a assumir atitudes que pouca dúvida deixavam quanto a suas reais intenções de investir-se de poderes discricionários. Cerca de seis meses após assumir o governo, simulou renunciar à presidência, alegando não poder enfrentar as “forças ocultas” que o impediam de cumprir os compromissos assumidos com o povo brasileiro.

Sabedor das sérias objeções e restrições que se faziam ao vice-presidente — o João Goulart (o“Jango”) — contava Jânio que a simulada renúncia não seria aceita e que o clamor público o faria retornar ao Palácio do Planalto com plenos poderes, livre e desimpedido das amarras constitucionais.

O estratagema não funcionou! O Congresso aceitou a renúncia e preparou-se para empossar o vice-presidente, então em viagem pela China Comunista. Visto pela oposição e pelas Forças Armadas como herdeiro da política varguista e simpático ao comunismo, a posse de Goulart enfrentou sérias resistências, dividiu o Exército e colocou o país à beira da guerra civil. Diante do impasse, adotou-se o parlamentarismo, e Goulart, finalmente, assumiu a presidência em 7 Set 1961, como chefe de estado, mas não de governo.

De duração efêmera, o regime parlamentarista foi rejeitado pela esmagadora maioria da população, em plebiscito realizado em janeiro de 1963.

O caos programado. Investido dos plenos poderes presidenciais, João Goulart rapidamente passou a conduzir ações no sentido de implementar projeto golpista que desaguaria em um regime totalitário de esquerda. Insuflado e orientado por seu cunhado, Leonel Brizola, pregava a necessidade de “reformas de base” e a implantação de uma “república sindicalista”. Controlando o aparelho sindical, o governo promovia o grevismo, a anarquia e o caos, e o país passou a viver dias de intranqüilidade, estagnação econômica e inflação descontrolada. Enfrentar e debelar tão graves problemas, afirmavam Jango e seus aliados, impunha a necessidade urgente de “reformas de base”, “com ou sem o Congresso, na lei ou na marra!” A mensagem não poderia ser mais clara!


Os comunistas. 

Aliado ao esquema governista, porém com seus próprios objetivos, identificava-se ainda um projeto revolucionário marxista-leninista, conduzido pelo Partido Comunista Brasileiro e seu líder, Luiz Carlos Prestes. A manobra revolucionária buscava uma “frente única” e a concretização de uma “Revolução Democrática Burguesa”, ao aliar-se à insurreição “burguesa” de Goulart e Brizola. Ao adotar esse processo, o PCB revelava fiel e rígida observância às diretrizes de Moscou, que recomendavam o “assalto ao poder pela via pacífica”, em contraposição a linhas de ação mais açodadas e radicais (foguistas, trotskistas e maoístas), defensoras da luta armada.

As Forças Armadas. 

Curiosamente, ambas as correntes — a janguista-brizolista e a comunista — viam na adesão e participação das Forças Armadas e, em especial do Exército, condição imprescindível para a conquista de seus objetivos.


Para isso, fazia-se mister neutralizar, enfraquecer e solapar as lideranças contrárias aos seus desígnios e montar um “dispositivo militar” confiável, capaz de permitir e apoiar a ensandecida marcha no rumo do totalitarismo. Os chefes militares foram classificados em dois grandes grupos: havia os “generais do povo” e os “entreguistas”; as divisões internas foram fomentadas; e criou-se artificial e perigosa cisão entre oficiais e graduados. Os sagrados princípios da hierarquia e da disciplina passaram a sofrer permanente ataque.

Em janeiro de 1964, em viagem a Moscou, Prestes deixou claro o papel e a importância dos militares brasileiros no processo revolucionário vermelho:

... Oficiais nacionalistas e comunistas assegurarão, pela força, um governo nacionalista e antiimperialista... As reformas de base acelerarão a conquista dos objetivos revolucionários... O grande trunfo será o dispositivo militar.

A Escalada e os Cenários Prováveis.
Em março de 1964, a desordem e a intranqüilidade atingiram novos patamares. Sucediam-se as greves, e aumentavam as arruaças e ameaças de intervenção de grupos armados ligados a Brizola. A população sofria com o desabastecimento, os freqüentes e inopinados cortes de energia elétrica e a quase diária paralisação do transporte público.

Arregimentada pela grande imprensa, pela Igreja católica e por líderes políticos, a opinião pública começara a protestar e a participar, maciçamente, de manifestações contra aquele estado de coisas. Em tão conturbado ambiente, três eram os cenários mais prováveis para a evolução do quadro nacional: a implantação de um regime ditatorial de esquerda; o agravamento do anarquismo sindical; e a eclosão de uma guerra civil com conotações ideológicas. Claramente, a sucessão democrática normal, prevista para ocorrer no ano seguinte (1965) tornava-se a cada dia mais distante e implausível.Confiantes nas “forças populares” e no apoio do “dispositivo militar”, Jango, Brizola e Prestes buscaram escalar a crise, na certeza de alcançar, em curto prazo, desfecho favorável a seus propósitos.

Três episódios caracterizariam essa decisão: o comício realizado em frente ao prédio da Central do Brasil, em 13 de março, marcado pela agressividade e radicalização das posições; o motim de marinheiros e fuzileiros navais, em 25 de março; e o discurso pronunciado por João Goulart no Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército, em 30 de março.

O desfecho: um golpe? 

Dos três acontecimentos, os dois últimos influenciariam decisivamente a evolução dos acontecimentos, ainda que de maneira diametralmente oposta à imaginada por Goulart e seus companheiros de viagem. A incitação ao motim; o estímulo à quebra da hierarquia e da disciplina; a virulência de Jango; e a clara intenção de aprofundar a anarquia e a desordem despertaram nas forças vivas da nação a necessidade de pronta e enérgica reação, ainda que à custa da quebra da ordem constitucional. A destemida e intrépida decisão dos Generais Mourão e Guedes de iniciar, em Minas Gerais, com absoluta inferioridade de meios, o deslocamento em direção ao Rio de Janeiro e a Brasília, aglutinou e catalisou a resposta da sociedade brasileira aos desmandos e à subversão. A rapidez com que o movimento se fez vitorioso, sem encontrar a menor resistência de nenhum setor da sociedade, constitui a melhor prova do repúdio popular ao esquema golpista engendrado por Goulart e seus aliados.

A momentânea quebra da ordem institucional, respaldada e legitimada pelo Congresso e pelo imenso apoio popular, salvou a democracia, ameaçada pela intimidação do parlamento, pela pressão das massas sindicalizadas e pela anarquia das Forças Armadas. Desse modo, o 31 de Março de 1964... é, primordialmente, um fato político e não uma quartelada, como insinuam seus adversários e detratores...*

Não pode, pois, ser rotulado como golpe militar, como, aliás, atestou o jornalista Roberto Marinho, em editorial do jornal O Globo de 7 de outubro de 1984:

”Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada... Sem o povo, não haveria revolução, mas apenas um “pronunciamento” ou “golpe” com o qual não estaríamos solidários". 
Gen José S. Fábrega Loureiro e Cel Pedro Schirmer, em “A Revolução de 1964” - Correio Brasiliense, 29 Mar 04.
31 de Março: Tempo de Avaliar

Uma ditadura? 

Desencadeada para impedir a implantação do totalitarismo de esquerda, a Revolução demoraria muito mais do que o inicialmente previsto e desejado por seus líderes para devolver o poder a um civil eleito democraticamente.


A causa principal do alongamento do regime reside, sem dúvida, na necessidade de enfrentar a subversão e a luta armada, intensificadas a partir de 1968 por organizações comuno-terroristas. Pela mesma razão, viu-se obrigado a lançar mão, em momentos extremos, de recursos amargos para impedir o país de mergulhar em prolongada guerrilha urbana e rural, deflagrada com o claro objetivo de implantar no país a “ditadura do proletariado”. Não obstante o necessário e eventual uso de medidas de força, a Revolução sempre teve como meta o restabelecimento pleno da democracia. Aliás, é bom lembrar que seu último presidente, o General Figueiredo, governou durante seis anos sem nenhum dos poderes discricionários outorgados por atos revolucionários.

Não parece justo, portanto, acoimar de ditatorial um regime que exigiu o rodízio de lideranças, não praticou o culto da personalidade, não adotou o modelo do partido único, manteve os instrumentos de legalidade formais e, por fim, auto-limitou-se. Mais uma vez, a palavra do jornalista Roberto Marinho ilustra e esclarece:

Não há memória de que haja ocorrido aqui, ou em qualquer outro país, um regime de força, consolidado há mais de vinte anos, que tenha utilizado seu próprio arbítrio para se auto-limitar, extinguindo os poderes de exceção, anistiando adversários, ensejando novos quadros partidários, em plena liberdade de imprensa. É esse, indubitavelmente, o maior feito da revolução de 1964.” (Julgamento da Revolução - O Globo - 7 de outubro de 1984)

Os êxitos. Ao restabelecer o clima de ordem e paz e o princípio da autoridade, o período revolucionário propiciou profundas, benéficas e duradouras transformações. Nunca antes, na história deste país (e nem depois), viveu-se tempo de tão acelerado progresso e concretas realizações. O quadro abaixo permite esclarecedora comparação:

Período 1964/84 1985/89 1990/94 1995/02 2003/07
Média/Ano 6,29 4,39 1,24 2,31 3,78
Taxa Média/Ano de Crescimento Econômico Real Expresso em % do PIB - Fonte: IBGE

Apresentando taxas de crescimento não mais atingidas, o Brasil passou do 49º para o 8º lugar, entre as economias do mundo. Dentre outros feitos, a infra-estrutura do país foi modernizada e ampliada; todas as capitais estaduais passaram a ser interligadas fisicamente, por estradas de muito boa qualidade; incorporou-se efetivamente a Amazônia ao patrimônio nacional; desenvolveram-se as indústrias navais e aeronáuticas; criaram-se a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrária e a Empresa Brasileira de Telecomunicações; multiplicou-se por 9 a potência elétrica instalada, por 6 as reservas de petróleo e por 15 as receitas com exportações; e as fronteiras econômicas expandiram-se, com a adoção do Mar de 200 Milhas.

Iguais êxitos foram alcançados na área social, por intermédio de medidas como, por exemplo, a incorporação à Previdência Social de 20 milhões de trabalhadores rurais; a promulgação do Estatuto da Terra; a criação de órgãos e instrumentos de ação social como o FGTS e o PIS/PASEP; e a instituição do MOBRAL e do Projeto Rondon.

Diante de tão expressivas e incontestáveis realizações, não é exagero afirmar-se que a Revolução modernizou o Brasil e plantou as bases físicas que, ainda hoje, alicerçam a caminhada do país no rumo do pleno desenvolvimento, como sociedade livre e democrática.

Certamente, equívocos foram cometidos. O balanço, todavia, é inquestionavelmente positivo, e a análise isenta do período, “descompromissada com o emocionalismo próprio dos perdedores”, certamente revela resultados extremamente favoráveis, muito diferentes da “versão construída pelas esquerdas, com bases em referências ideológicas inconsistentes e ultrapassadas”.

31 de Março: Tempo de Exaltar

Comemorar a Revolução Democrática de 31 de Março de 1964 é também exaltar!

Exaltar e homenagear as lideranças civis e militares que há quarenta e quatro anos demonstraram a visão, o arrojo e o destemor para arrostar os perigos da hora presente e arrastar a nação pelos caminhos que haveriam de possibilitar a preservação da democracia e a preservá-la do comunismo.

Exaltar e homenagear os chefes militares que exerceram a presidência da república com os olhos postos, somente, na grandeza e nos interesses da pátria. Que pautaram suas atitudes pelo comedimento e pelo decoro; que levaram uma vida austera, sem jactâncias ou demonstrações de arrogância; que não se entregaram a conchavos, buscando reeleger-se ou perpetuar-se no cargo; que não permitiram o culto a suas personalidades; que não vacilaram em adotar medidas duras e impopulares, em vez de ceder às práticas do assistencialismo e do populismo voltados para a manutenção de vantagens eleitorais; que selecionaram equipes administrativas com base no mérito, e não para atender interesses subalternos; que se portaram com altivez e independência, sem se preocupar em agradar grupelhos e corriolas ideológicas; que procuraram servir, e não servir-se do cargo para enriquecer ou enriquecer seus familiares; e que, ao término dos mandatos, saíram de cena com a serenidade própria de quem soube cumprir a missão.


Exaltar e homenagear, principalmente, os incontáveis brasileiros, militares e civis, heróis anônimos que travaram e venceram o “Combate nas Trevas” contra a luta armada desencadeada em nossas cidades e no campo por ensandecidos brasileiros cooptados por facções do comunismo internacional.

A expressiva frase cunhada pelo General Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, antigo Ministro do Exército, hoje gravada nas paredes de várias de nossas organizações militares, sintetiza a exaltação e a homenagem devidas a esses compatriotas:

“Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora de agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se opor a agitadores e terroristas, de armas na mão, para que a Nação não fosse levada à anarquia”
Sim, estaremos sempre solidários, enquanto proclamarmos, com a força e o vigor possíveis, a “Grande Mentira” contida na afirmação de que a luta armada originou-se da opressão exercida pelos governos revolucionários, sobretudo a partir da edição do Ato Institucional Nr 5. Pois, como revela o corajoso e franco depoimento de ex-integrante de um grupo guerrilheiro (sublinhados acrescentados),

Não compartilho a lenda de que no fim de 1960 e no início de 1970 nós (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentem como instrumento da resistência democrática.*

Estaremos sempre solidários, enquanto lembrarmos que o sacrifício supremo feito por tantos brasileiros tombados na defesa da democracia e da legalidade não recebe ou recebeu as vultosas e obscenas indenizações pagas com dinheiro público aos que roubaram, assaltaram, seqüestram e mataram.

Estaremos sempre solidários enquanto repudiarmos as tentativas de opor o “Exército de hoje, democrático e profissional”, ao “Exército de ontem, golpista e torturador”.

Estaremos sempre solidários, enquanto não permanecermos em acovardado silêncio diante da farsa de meliantes que, em vez de se envergonharem de seus crimes ganham redobrada ousadia e organizam-se para difamar e até levar às barras dos tribunais honrados militares que cumpriram o duro dever de combatê-los.

Estaremos sempre solidários, enquanto compreendermos que a democracia impõe a convivência harmoniosa e respeitável entre contrários, mas não exige a bajulação, a subserviência, as homenagens e as condecorações a antigos agitadores e terroristas que, de armas na mão, procuraram levar a Nação à anarquia e ao comunismo.


31 de Março: Tempo de Alertar

Comemorar o 31 de Março, finalmente, convida-nos a ouvir vozes de alerta! Alerta, porque (para usar as palavras de respeitado Chefe militar) “No momento em que carece o país de exemplos de lealdade, de prática da verdade, de honestidade, de probidade e de seriedade; no momento em que ventos antidemocráticos sopram na América do Sul; no momento em que se no momento em que se reescreve e distorce a História, com vil visão marxista”, é preciso relembrar e meditar sobre os ideais de 1964.

Depoimento prestado por Daniel Aarão Reis, ex-militante do MR-8, atualmente Professor de História Contemporânea na Federal Fluminense, em entrevista a O Globo reescreve e distorce a História, com vil visão marxista”, é preciso relembrar e meditar sobre os ideais de 1964.

➤Alerta, porque, apesar de todas as demonstrações de tolerância, respeito à ordem democrática e perdão aos criminosos de ontem, as Forças Armadas continuam marginalizadas e tratadas com descaso e mal disfarçada hostilidade. Alijadas das esferas decisórias da República, em nome da concórdia tudo têm aceito, até o inaceitável, como o pagamento de régias recompensas a traidores e desertores que se levantaram para implantar, em nosso país, ditadura de modelo castrista, maoísta e soviética.

➤Alerta, porque, na revolução cultural gramcista, “Heróis não são mais os que morreram pela liberdade, mas os que mataram pela escravidão, e as homenagens não são mais para os homens da lei, mas para os homens sem lei”.

➤Alerta, porque enquanto o banditismo alimentado pelo tráfico de drogas aterroriza cidades, ceifa vidas e enluta milhares de famílias; o país integra foro de países que trata como aliada organização narco-guerrilheira de país vizinho, com claras e evidentes ramificações em nosso território.

➤Alerta, porque, tolerados e apoiados pelo Estado e pelo estrangeiro, grupos revolucionários atuam livremente em todo o país e com invulgar capacidade de mobilização, invadem terras produtivas, destroem propriedades, incendeiam instalações e depredam preciosos laboratórios, na certeza de que estão acima e além da lei.

➤Alerta, porque a pretexto de defender etnias indígenas, organizações não-governamentais e entidades com sede no estrangeiro controlam, na prática, ponderáveis porções do território nacional; e, recentemente, conseguiram, até mesmo, proibir um oficial-general do Exército de acompanhar, em área sob sua jurisdição, visita de autoridade ministerial.

➤Alerta, porque a sociedade, anestesiada por décadas de intoxicante doutrinação, assiste, impassível, a omissão e a cumplicidade criarem, no país, clima de desapreço à verdade e à ética, de desrespeito à justiça, de desmoralização de instituições, de negociatas e escândalos.

Que o Brasil de todos” (Todos os brasileiros de bem), o Brasil verde e amarelo azul e branco, o Brasil que soube dizer “Não!” à cor vermelha em 1964, ao ouvir essas vozes de alerta, possa responder como as sentinelas das velhas fortalezas portuguesas, que em suas rondas rompiam o silêncio da noite com o brado: “Alerta estou!”.

Conclusão

Como qualquer data histórica, comemorar a Revolução de 31 de Março de 1964 requer serena reflexão, para que possamos efetivamente entendê-la, avaliá-la, exaltá-la e dela retirar ensinamentos.

Não se esgota, porém, nesses verbos, a tradicional comemoração promovida pelo Clube Militar.

Porque, ao comemorá-la e proclamar seus feitos e ideais, o que fazemos é buscar a fé e a inspiração para continuar a lutar pela preservação das liberdades democráticas da Nação e a trabalhar pela construção de uma Pátria justa... E pelo bem do Brasil!

Fonte: www.militar.com.br - Publicado originalmente em 29 de março de 2012

sexta-feira, março 30, 2018

A voz que imortalizou a luta dos brasileiros na segunda guerra





por DefesaNet.



Um engenheiro se transformou no correspondente que imortalizou a voz e a luta dos soldados brasileiros na 2ª Guerra.

'Chico da BBC' usava um aparelho que gravava sons diretamente em discos | Foto: BBC Archive



Quando tomou a decisão de se mudar para a Grã-Bretanha, o gaúcho e filho de ingleses Francis Hallawell, que vivia no Rio de Janeiro, mal sabia que em poucos anos se tornaria o "Chico da BBC", o único correspondente de guerra a gravar as vozes dos pracinhas brasileiros.

Assim como muitos integrantes da comunidade britânica na cidade e no país, queria colaborar com o esforço de guerra do Reino Unido, um dos poucos inimigos da Alemanha nazista na Europa a resistir às tentativas de invasão pelas tropas de Hitler.

Ele era engenheiro e trabalhava na Metropolitan-Vickers, uma empresa inglesa que fabricava de locomotivas a equipamento elétrico industrial - como torres e geradores - e que fora contratada para eletrificar os trens da Central do Brasil.

"Ele já tinha uma certa idade, 29 anos, quando se ofereceu para lutar na infantaria inglesa, e não foi aceito", conta à BBC Brasil Rose Esquenazi, professora da PUC-RJ, pesquisadora sobre TV e rádio no Brasil e autora de O Rádio na Segunda Guerra: no ar, Francis Hallawell, o Chico da BBC. "Como era muito espontâneo e falava bem, fez teatro uma época no Brasil, achavam que ele podia trabalhar na BBC."

Além disso, falava inglês - chegou a estudar por um tempo em um internato na Inglaterra - e português com fluência.

Nos arquivos da BBC, não foi possível encontrar registros de atividades de Hallawell na Seção Brasileira, que completa 80 anos neste mês, até seu envio ao front, em 1944. Mas Esquenazi conta que ele fez um programa no estilo de séries de aventuras sobre guerra dirigidas ao público infanto-juvenil chamado As Aventuras de Fred Perkins, um personagem "intrépido" que lembra um pouco o famoso repórter Tintim.

"Na história, Fred Perkins monta um miniaparelho de rádio com o poder de transmitir ao vivo as suas aventuras", diz Esquenazi.








"Tratava-se de algo inimaginável nos anos 40, antes dos satélites, transistores e chips. O personagem embarca em um avião construído por um amigo e vai até a Alemanha, onde um avião inimigo derruba seu teco-teco. Fred cai em solo alemão, é ameaçado de morte e acaba na antessala de Hitler, ouvindo seus ataques histéricos. Na prisão, Fred é salvo por uma bomba inglesa atirada de um avião da RAF (Força Aérea Real, na sigla em inglês). Assim ele consegue fugir."

E em um caso típico de vida imitando a arte, Hallawell acaba seguindo passos parecidos aos do personagem ao receber a missão de cobrir a campanha dos soldados brasileiros na Itália.

Hallawell (à esq.) gravando depoimento de um dos comandantes da FEB, general Zenóbio da Costa, em outubro de 1944.
Foto: BBC Archive


Missão secreta

Quando já trabalhava na BBC em Londres, Hallawell se casou com uma funcionária da casa, a belga Julienne, que, entrevistada por Esquenazi, disse que todos os arranjos em torno dessa missão eram "secretos".

"Eles tinham acabado de se casar, estavam apaixonados, e ele dizia que estava proibido de dar detalhes. Ele recebeu treinamento em algum lugar. A viagem para a Itália era perigosíssima."

Em julho de 1944, Hallawell se juntou ao grupo de cerca dez correspondentes brasileiros que passaram a acompanhar a FEB, com quem manteve uma relação profissional próxima.

Em depoimento prestado à BBC Brasil em 1995, ele conta que além de gravar reportagens em áudio sobre os pracinhas, tinha de enviar pelo menos uma crônica por dia - que era enviada pelo telex do Exército americano e lida por um locutor durante a transmissão de Londres para o Brasil.

'As pessoas queriam que a guerra acabasse, e o Chico trazia as informações lá do front, onde estavam os filhos, os maridos e os noivos'Foto: BBCBrasil.com


"Eu tinha, por semana, cinco ou seis dos melhores jornalistas me dando todos eles alguma coisa todos os dias... Em pouco tempo, eu tinha um estoque em Londres de uns dez, quinze programas para eles irem colocando no ar. Nós fazíamos crônicas e, se acontecesse alguma coisa especial, a gente passava por telegrama."

Entre esses correspondentes estavam Rubem Braga (Diário Carioca), Joel Silveira (Diários Associados), e Egydio Squeff (O Globo). A crônica, o texto em primeira pessoa descrevendo acontecimentos do cotidiano de forma mais leve, uma mescla entre o texto noticioso e a literatura, acabou dando o tom das informações escritas que vinham do front, em boa parte por causa da forte censura a que os correspondentes eram submetidos.

Vários estudos acadêmicos dão conta da influência da censura - do Exército e do Departamento de Imprensa e Propaganda, seja na Itália ou no Brasil - sobre o material enviado pelos correspondentes.

O próprio Joel Silveira alerta o leitor, em seu livro Histórias de Pracinha: Oito Meses com a Força Expedicionária Brasileira, que "se não tem visto reportagens minhas com prisioneiros tedescos (alemães), a culpa é exclusivamente da censura. Material é que não falta".

Nos programas com as reportagens de Hallawell essa influência é nítida. As referências a derrotas ou aos horrores da guerra são raras.


Além dos correspondentes, ele teve a preciosa ajuda do jovem engenheiro de som inglês Douglas Farley, da BBC, que operava a unidade móvel de gravação - uma ambulância convertida - e o aparelho que a realizava, um Midget Disc Recorder, que gravava os sons captados por um microfone diretamente em um disco especial de alumínio coberto por um laque especial de acetato.

"Foi projetado pelos engenheiros da BBC especialmente para seus correspondentes na linha de frente", contou Hallawell em seu depoimento em 1995.

"Constituía-se de uma caixa, pesando uns quinze quilos, muito parecida com aquelas vitrolas portáteis que nos anos 1920 e 1930 a gente levava para piqueniques. Havia uma manivela para dar corda e uma bateria para o microfone e o gravador. A gravação era feita num disco virgem e não era possível ouvir o que a gente tinha gravado mais do que duas vezes, para não inutilizar o disco."

Quando gravados, esses discos eram transportados "de jipe" para Florença, uma "viagem de mais ou três horas", e de lá, levados pelo malote do Exército Americano para Roma, ao sul, cidade na qual eram irradiados para Londres, onde eram novamente gravados e preparados para entrar nas transmissões para o Brasil.

Hallawell se casou em Londres com belga Julienne,
que conheceu na BBC | Foto: Arquivo Pessoal


Na época, essa era a única forma de gravar e transmitir áudio da frente italiana para o Brasil. Por isso, as gravações colhidas por Hallawell tem um valor tão especial para a história dos pracinhas.

"As pessoas queriam que a guerra acabasse, e o Chico trazia as informações lá do front, onde estavam os filhos, os maridos e os noivos", diz Esquenazi.

O "Chico da BBC" era um bom comunicador, tinha jeito no microfone e empatia com os entrevistados. Para a pesquisadora, apesar do sotaque inglês, sua voz, quando surgia no rádio, "tinha certa intimidade com o ouvido do brasileiro".

De volta para casa

Com o fim da guerra, Hallawell retornou ao Brasil, mas nunca mais trabalhou como jornalista. Voltou à Metropolitan-Vickers e foi seu gerente-geral no Brasil de 1953 a 1968.

Mas antes, em 1947, lançou um livro, Scatolettas da Itália - scatolettas, ou escatoletas, era o nome dado a caixas dadas pelo Exército americano aos pracinhas contendo alimentos enlatados, chocolates e cigarros; depois, elas eram usadas como moeda de troca com civis italianos.

A obra reúne sete crônicas suas e outras 37 escritas por colegas correspondentes e usadas pela BBC, com capa e ilustrações de Carlos Scliar, cabo da FEB que depois se tornaria um conhecido pintor no país, e prefácio do diretor-geral da BBC na época, William Haley.


Em 1999, aposentado e morando com a esposa em um chalé em Petrópolis (RJ), ele foi entrevistado pela equipe que fazia o documentário A Cobra Fumou,baseado em depoimentos de ex-combatentes e correspondentes, como Joel Silveira.

Em entrevista à BBC Brasil, o diretor do filme, o cineasta Vinícius Reis, contou ter encontrado "um senhor amável e generoso", mas que parecia não ter se libertado ainda - talvez por ter mudado completamente de área de atividade nos últimos 60 anos - das amarras impostas pela censura nos tempos da guerra.

"Um pesquisador do filme tinha encontrado com ele antes, e disse que 'o Francis é ótimo, tem muita história para contar'. Era para ele ser um personagem do filme. Quando cheguei para entrevistá-lo, ele estava super à vontade. Mas assim que liguei a câmera, ele tinha um roteiro pronto sobre o que queria falar. Era uma fala dura, institucional. Parecia uma propaganda, um texto que tinha de ser aprovado por algum censor. Acabou ficando fora do filme."

Antes, em 1963, o "Chico da BBC" tinha prestado um tocante depoimento à Seção Brasileira da BBC para a ocasião de seus 25 anos, lembrando os seus oito meses de correspondente de guerra, trabalho que via como uma "ponte" entre os combatentes na Itália e suas família em um país ansioso por notícias.

"Tive a oportunidade de sentir de perto o quanto valia esse contato entre homens de frente e famílias na retaguarda, uma verdadeira ponte falada de anseios, expectativas e emoções... Iniciava-se ali, através de palavras, gestos e expansões, certa maneira nova de amar o Brasil."

Francis Hallawell morreu em Petrópolis, em 2004.

Fonte: DefesaNet/BBC





quinta-feira, março 29, 2018

Jornal paranaense alertou em janeiro que Lula sofreria “falso atentado” em Quedas do Iguaçu




por Flávio Morgenstern(*).



O jornal O Paraná, em reportagem publicada no dia 7 de janeiro, havia alertado que as autoridades investigavam um “falso atentado” que estava sendo promovido pelo MST para tentar causar uma aura de vitimização em Lula. A reportagem possui uma cópia no WebArchive em 2 de fevereiro, e a cidade marcada é Quedas do Iguaçu exatamente a mesma de onde o ônibus de Lula saiu e, supostamente, teria levado tiros que não feriram ninguém.


Ainda em janeiro, o jornal O Paraná alertou que o MST planejava um "falso atentado" contra Lula em Quedas do Iguaçu. Exatamente onde um ônibus de sua campanha levou tiros.





Disse o jornal à época, já falando de Quedas do Iguaçu



“No Paraná, um dos principais redutos do MST, que comanda uma das – se não a maior – maiores concentrações de sem-terra “do Brasil, em Quedas do Iguaçu, a situação é ainda mais tensa. A reportagem do Jornal O Paraná teve acesso com exclusividade “a informações que revelam um elaborado e até macabro plano elaborado por pessoas envolvidas com a alta cúpula petista “e que conta com a “mão de obra” dos sem-terra instalados em Quedas.


“Uma fonte que transita livremente pelos acampamentos revelou, em detalhes, que está sendo traçado um falso atentado “contra o ex-presidente para aquele dia. A reportagem procurou os líderes de segurança estadual, mas eles estão em férias. “Contudo, descobriu que o serviço de inteligência do Paraná acompanha essas articulações e “que, por motivos de segurança, não podem dar detalhes. Entretanto, ninguém desmente informação alguma.





A reportagem ainda alerta que, caso Lula seja condenado em segunda instância, futuras invasões de terra em massa a partir do Paraná, berço do MST, podem ocorrer, além de ataques a torres de transmissão de energia, o que é da ciência do delegado-chefe da Polícia Federal em Cascavel, Marco Smith, que considera que tais práticas são um procedimento “nada incomum”.






Claro, tudo pode ser a boa e velha “mera coincidência”, mas é no mínimo suspeito que um jornal tenha acertado com tamanha precisão um suposto atentado contra Lula bem em Quedas do Iguaçu, o que não é exatamente uma obviedade para todo o país, e com três meses de antecedência. A Teoria da Mera Coincidência precisa de muita força de vontade para ser aplicada, num possível atentado sem vítimas, e que de repente está em todos os canais de TV (bem ao contrário das ovadas que Lula recebeu no caminho).


Hoje, o jornal lembrou a sua reportagem, mostrando que as únicas diferenças foram de alguns dias (as forças de segurança presumiam que o falso atentado ocorreria antes do julgamento dos embargos pelo TRF-4, e não dois dias depois), e que um grande enfrentamento era esperado em Porto Alegre no dia do julgamento. Como hoje sabemos, foi um dia tranqüilo, o que não pode ser dito do restante de campanha eleitoral ilegal de Lula pelo sul.

A única cidade onde foi bem recebido foi, justamente, em Quedas do Iguaçu, reduto do MST de onde o “atentado” teria ocorrido. A reportagem conseguiu a informação justamente de dentro de um acampamento do MST na cidade.




Um ônibus com jornalistas que acompanhavam a caravana teria até desviado da rota “por segurança”, e foi alvejado com três tiros. Misteriosamente, a mudança de rota não foi avisada à polícia, que então não acompanhou o que acontecia com o ônibus.

Aquilo que os americanos chamam de false flag para manipular a opinião pública são estudados há séculos.

De acordo com o maior especialista em segurança pública do país, Bene Barbosa (ouça entrevista em nosso podcast), a perfeição dos furos é insuficiente para dizer se o ônibus estava parado ou em movimento.

Fonte: Sensoincomum.org


(*)Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs" (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen

quarta-feira, março 21, 2018

Que Justiça queremos?




por Jaime Pinsky(*)



Qual a função da Justiça em uma sociedade? Deve normatizar a relação entre os cidadãos, fazer cumprir as leis determinadas pelos legisladores, e interpretá-las de modo impessoal. Em uma sociedade democrática não deve privilegiar amigos, parentes ou pessoas pelas quais sinta afinidade. É uma tarefa difícil. Para realiza-la é necessário que os juízes não apenas conheçam as leis (muito complexas, em um país em que a própria constituição é um calhamaço), mas serenidade, equilíbrio, para não falar de honestidade e até desapego aos bens materiais, já que não faltam em nosso país aqueles que são conhecidos agora como corruptores ativos.

Aplicar penas é a arte de enquadrar aquele que transgrediu as leis em algum item específico do código existente. O juiz não pode criar uma lei para punir alguém, é claro, mas cabe a ele determinar qual item dela o camarada transgrediu. E isso pode fazer uma enorme diferença na pena a ser cumprida. Vejam um caso recente:

Um homem jovem atravessa a rua na faixa de pedestres na Vila Madalena. Ele é colhido por um automóvel, em alta velocidade, conduzido por uma motorista embriagada. O impacto foi tão forte que, após ferir de morte o rapaz, o carro capotou. O episódio aconteceu em 2011. Após cuidadosa deliberação (durou espantosos 6 anos) o Tribunal de Justiça de São Paulo chegou à conclusão que não se tratou de homicídio doloso, mas sim culposo. Em outras palavras, a Justiça entendeu que dirigir bêbada, em velocidade muito acima da permitida no local (o carro estava entre 60 e 90 km/hora em local onde eram permitidos apenas 30 km/hora), invadir a faixa de pedestre e matar um jovem de 24 anos de idade é algo feito sem intenção de matar. Ou seja, para os homens que interpretaram a lei, a motorista nem imaginou que conduzir uma máquina em alta velocidade, com a cara cheia, poderia ser uma ameaça mortal para seres humanos sem blindagem...

Não é necessário ser doutor em leis para saber que a motorista, ao se alcoolizar e sair dirigindo um veículo sabia dos riscos que corria e resolveu corre-los. Tinha conhecimento de que matar gente no trânsito, em nosso país, raramente é considerado crime. E porque isso acontece? Porque os juízes se recusam a dar um passo adiante para romper essa justiça de classe que “entende” mais facilmente a falha do homem ao volante do que do pedestre. Que, de resto, já está morto...

Juízes frequentemente declaram que não podem julgar a partir do clamor popular. Podemos até concordar com a ideia, mas a imagem que se quer vender é a de massas semelhantes às manadas, agindo de forma irracional, turbas dispostas a linchar sem dar ao acusado o direito à defesa. Do outro lado estariam essas figuras togadas impolutas, gentes plácidas, equilibradas e sapientes praticando a verdadeira justiça, permitindo o contraditório, sem afoiteza, garantindo o estado de direito, impermeáveis a influencias espúrias e a clamores populares. Infelizmente, não é assim que a coisa tem funcionado. Temos frequentes notícias de juízes frequentando espaços e personagens de outros poderes: são churrascos, festas de casamento, casas de veraneio, jatos executivos... Se o clamor popular pode contaminar sentenças, conversas discretas em ambientes elegantes não contaminam? E aqui chegamos à questão central, a relação entre Justiça e a Sociedade.

Quem vem antes, a lei ou a prática social? Em outras palavras, cabe à lei fazer cumprir os costumes de uma sociedade, ou cabe a ela determinar qual deveria ser o comportamento da sociedade diante de diferentes desafios? A História nos ajuda a entender essa diferença. O código de Hamurabi, era uma codificação das leis já existentes na Mesopotâmia e estas, por seu turno, retratavam as práticas da sociedade mesopotâmica. Já na Torá, o Pentateuco, que antes de se tornar livro sagrado para judeus e cristãos era um código de leis e práticas sociais, vemos algo distinto: o legislador tem a intenção de orientar o comportamento da sociedade daquela época, de estabelecer novas normas, de apresentar leis que representam um avanço nas práticas e comportamentos de então. Enquanto o Código de Hamurabi é um retrato, a Torá tem um compromisso com a ética, quer uma sociedade mais justa, pessoas mais honestas, um mundo melhor.


Esse é o dilema dos legisladores e dos aplicadores da lei. Se apenas trabalharem considerando nossas práticas sociais atuais corremos o risco de continuar achando “normal” que assassinos motorizados e alcoolizados continuem a matar. E, por que não, que ladrões instalados no poder, continuem a se apropriar de bens públicos.



(*)Jaime Pinsky - Historiador e editor. Professor Titular da Unicamp. Doutor e livre docente pela USP. Foi também professor na Unesp (Assis) e na USP. Colaborou na criação das revistas Debate & Crítica, Contexto,Anais de História e Religião e Sociedade.

Concebeu e dirige a Editora Contexto . Concebeu e dirigiu a Editora da Unicamp. Foi colaborador das editoras Brasiliense, Global e Atual. Autor, co-autor ou organizador de mais de duas dezenas de livros, entre os quais História da Cidadania, As primeiras civilizações, O Brasil tem futuro? e Origens do Nacionalismo Judaico.

Articulista do jornal Correio Braziliense. Tem colaborado em jornais e revistas como Aventuras na História, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo e tem feito conferências em instituições acadêmicas e não-acadêmicas por todo o Brasil e no exterior.

segunda-feira, março 19, 2018

Lula e o direito ao deboche






por Ipojuca Pontes(*).



“Procurei cascavilhar as razões pelas quais o chefão da quadrilha do PT se mostra tão confiante na sua impunidade.”

A pergunta que se faz é a seguinte: por que Lula, metido em camisa de onze varas, condenado por juízes e desembargadores em 1ª e 2ª instâncias a cumprir pena de 12 anos e um mês de cadeia (pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro), continua tão arrogante e cheio de si? Seria uma forma de avançado desespero? Ou teria a proverbial insensatez comunista tomado de vez sua cabeçorra de toucinho?

Em data recente, questionado por um assecla sobre como encarava ver um seu pedido de habeas corpus negado por unanimidade pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Lula partiu para o deboche: 

– “Meu querido, tô interessado em saber o resultado do jogo do Real Madrid e PSG”.

Admitamos que o condenado estivesse sob os eflúvios de uns bons tragos do importado Royal Salute ou mesmo estimulado por umas boas talagadas da arrepiante aguardente “51” – perdoável “revival” etílico dos tempos do ABC paulista. Ou ainda, quem sabe, se julgasse, por todos os motivos, o genuíno Cão do Segundo Livro (de preferência, o descrito por Felisberto Carvalho), entidade suprareal imbatível em matéria de trapaças e fingimentos.

Mesmo assim, de um modo ou de outro, tal nível de descaramento não fazia nem faz o menor sentido, sobretudo quando se sabe improvável, senão impossível, que os magistrados do TRF-4, de Porto Alegre, aceitem os embargos engendrados pelos advogados de Lula para livrá-lo da cadeia – condenação, de resto, almejada por ampla maioria da enraivecida população brasileira.

Assim, procurei cascavilhar as razões pelas quais o chefão da quadrilha do PT se mostra tão confiante na sua impunidade e, mais que isso, na sua inelegibilidade mesmo depois de enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Esmiuçando um pouco mais encontrei uma possibilidade na composição orgânica do Supremo Tribunal Federal (SFT), a mais alta corte do país, no qual o ex-presidente aposta suas últimas fichas para escapar de ser preso.

O quadro é de arrepiar: dos 11 ministros que compõem o STF, 7 foram nomeados pela dupla Lula-Dilma, a saber:

Carmem Lúcia:
Presidente, que a Wikipédia informa ser parente distante de Sepúlveda Pertence, “ex-ministro do STF, que recomendou seu nome à Lula para ocupar uma vaga no tribunal”. Em 2012, a ministra votou pela absolvição dos 12 condenados do Mensalão, entre eles Zé Dirceu;

Dias Toffoli:
Em breve substituto de Carmem Lúcia, ex-advogado do PT, ex-assessor de Zé Dirceu, esteve envolvido em ilícitos e processado na 2ª Vara Cível do Macapá. Tem mais: considerou as penas infligidas aos réus do mensalão, no qual livrou a cara do corrupto Zé Dirceu, dignas do tribunal da Inquisição;

Ricardo Lewandowski:
Secretário de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de São Bernardo do Campo, preservou os direitos políticos da cassada Dilma Rousseff e votou pela absolvição de Zé Dirceu por corrupção ativa no escândalo do Mensalão justificando que o réu, entre outras, “abandonou as lides partidárias ao assumir a Casa Civil”;

Luiz Fux:
Apoiado na indicação para o posto pelos encarcerados Sérgio Cabral e Antonio Palloci, foi contra a aplicação da Lei da Ficha Limpa em 2010. Entusiasta do desarmamento, parece sensível defensor de Dirceu em eventual julgamento pelo STF: – “Mato no peito”, teria dito;

Luís Roberto Barroso:
Defensor de Cesare Battisti, terrorista italiano condenado pelo assassinato de 4 pessoas, dentre elas duas crianças. Favorável ao aborto no “primeiro trimestre” e pela descriminalização das drogas, concedeu indulto a Zé Dirceu porque não via como “negar a concessão do indulto”;

Rosa Weber:
Elogiada pelo encalacrado petista José Pimentel após respostas medíocres em sabatina no Senado, livrou a cara de Lula por fazer campanha eleitoral antes do tempo, enquanto condenou Bolsonaro por fazer declarações como pré-candidato presidencial. Em agosto, assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e decidirá, sob pressão dos advogados do PT, se Lula vai cumprir ou não a lei da Ficha Limpa);

Edson Fachin:
Ex-filiado do PT e militante da candidatura de Dilma, embora católico, é favorável ao casamento gay. Na sabatina do Senado para o posto de ministro, foi recusado pela bancada religiosa e ruralista por seus vínculos com o MST e, em especial, pelo senador Ricardo Ferraço, do PMDB, que o acusou de “não ter reputação ilibada”. Considerado contraditório, suspendeu na Câmara o processo de impeachment contra Dilma a pedido do PCdoB e, agora, no “jogo de empurra-empurra”, negou o pedido de Habeas Corpus de Lula feito pelo advogado amigo Sepúlveda Pertence, mas o remeteu à Carmem Lúcia que, por sua vez, o fez voltar às mãos de Fachin. Agora, ele prepara-se para enviar o HB ao plenário tido como simpático ao lulopetismo.

Os outros 4 ministros do STF que devem julgar Lula, são os seguintes:

Gilmar Mendes:
Nomeado por FHC – fervoroso “macaca de auditório” de Lula – é odiado pela cúpula petralha e a gang da CUT, que pediu seu impeachment. Dado curioso: é a favor da prisão dos condenados em 2ª instância, caso de Lula;

Marco Aurélio Mello:
Nomeado por Fernando Collor – detonado do poder pela tropa de choque de Dirceu – tem mania de habeas corpus. Concedeu-os ao contraventor “Turcão”; ao miliciano “Deco”, terror da zona oeste do Rio; ao goleiro Bruno, homicida da amante; a Suzaane Richthofen, assassina dos pais, e ao banqueiro estelionatário Salvatore Cacciola que, livre pelo HC, fugiu para Roma após rombo de R$ bi e meio fraudado dos cofres públicos. Ele vota sempre contra a prisão em 2ª instância e acha que a “prisão de Lula incendiará o país”;

Celso de Mello:
Nomeado pelo “honorável” Sarney, é o decano do STF e, nos últimos dias, se dedica a pressionar Carmem Lúcia para que ela acione na Corte o debate sobre a prisão em 2ª instância – o que só favorece a Lula e corruptos já condenados);

Alexandre de Moraes:
Nomeado por Michel Temer e que quer ver Lula fora das grades por motivos óbvios – tem histórico ligado ao PSDB e já foi acusado de copiar trechos de outros autores sem citar fontes na confecção do seu livro “Direitos Humanos Fundamentais”. A viúva do autor plagiado, Rubio Llorante, condenou a cópia.

Em suma: se Lula for visto como inocente, depois do que fez e ainda pretende fazer, tudo será permitido.

Aliás, no Brasil de hoje, já o é.


Fonte - MidiaSemMáscara
(*)Ipojuca Pontes, cineasta, jornalista, e autor de livros como ‘A Era Lula‘, ‘Cultura e Desenvolvimento‘ e ‘Politicamente Corretíssimos’, é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e foi secretário Nacional da Cultura.

sábado, março 17, 2018

Desembargadora diz que Marielle era ligada ao CV e é cadáver comum

por Redação, com Estadão Conteúdo
redacao@correio24horas.com.br



A desembargadora Marilia Castro Neves, do Rio de Janeiro, publicou nesta sexta-feira (16) no Facebook que a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), morta esta semana no centro da cidade, "estava engajada com bandidos". A informação é da colunista Monica Bergamo, de Folha de S. Paulo.

No post, a desembargadora afirma que o comportamento de Marielle, "ditado por seu engajamento político", foi determinante para seu assassinato. Diz também que a esquerda tenta "agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro". Apesar das afirmações fortes, ela diz que nunca conheceu ou ouviu falar da vereadora antes do crime e que sua fonte de informação seria um texto enviado por uma amiga

Ela não conhecia vereadora e se baseou em "texto enviado por uma amiga"


A mensagem foi deixada como comentário em um texto postado por um advogado, que afirmava que a comoção causada pela morte se trata pela vítima ser 

"uma lutadora dos direitos humanos e líder de uma população sofrida". "A questão é que a tal Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu 'compromissos' assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa 'longe da favela' sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava", escreveu a desembargadora.

E finalizou: 

▶"Até nós sabemos disso. A verdade é que jamais saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora mas temos certeza de que seu comportamento, ditado por seu engajamento político, foi determinante para seu trágico fim. Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro".

À Folha, a desembargadora afirmou que deu sua opinião como cidadã, por não atuar na área criminal, e que não conhecia nem tinha ouvido falar de Marielle anteriormente. "Eu postei as informações que li no texto de uma amiga. A minha questão não é pessoal. Eu só estava me opondo à politização da morte dela. Outro dia uma médica morreu na Linha Amarela e não houve essa comoção. E ela também lutava, trabalhava, salvava vidas".

O comentário gerou críticas no próprio texto e sugestões de que a desembargadora fosse denunciada ao Conselho Nacional de Juízes (CNJ).


Como se a vida na Maré, antes da intervenção federal, sempre tivesse sido uma tranquilidade. Para
a vereadora PSOLISTA não é o tráfico que estraga a vida dos habitantes
mas a policia que reprime o tráfico.


▶O Crime
Uma execução premeditada, ligada à atividade política da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), é investigada pela Polícia Civil do Rio como hipótese para explicar o assassinato da parlamentar quarta-feira, 14. Ela foi morta com três tiros na cabeça e um no pescoço quando ia para casa, de carro, com o motorista Anderson Gomes, de 39 anos, assassinado com três tiros pelas costas. Uma assessora, que estava ao lado de Marielle, sobreviveu e prestou depoimento à polícia. 

"Uma das possibilidades, sim, é essa da execução. Mas não descartamos ainda outras (possibilidades) até porque o crime aconteceu há 10, 12 horas", disse o chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, na manhã de quinta-feira, 15. Ele se reuniu com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), os delegados Fábio Cardoso, que está assumindo a Divisão de Homicídios, e Gineton Lages, titular da Delegacia de Homicídios

Antes de ser morta, Marielle foi a uma reunião de mulheres negras na Lapa, no centro. Saiu por volta das 21h30, acompanhada de Gomes e da assessora. Elas se sentaram no banco de trás e Gomes ficou no volante. O veículo seguia para a casa de Marielle, na Tijuca, zona norte.

Na altura da Praça da Bandeira, na Rua Joaquim Palhares, um Chevrolet Cobalt prata emparelhou à direita do veículo em que Marielle seguia. Um dos ocupantes disparou nove vezes contra a parlamentar, atingindo o vidro e parte da porta traseira direita do automóvel.

O carro onde estava a vereadora andou mais alguns metros, e os assassinos fugiram. Marielle e Gomes morreram imediatamente. A assessora foi atingida só por estilhaços e prestou depoimento ainda de madrugada, por cinco horas. 

Outra testemunha, alguém que passava pelo local na hora do ataque, também teria prestado depoimento. A arma usada no crime foi uma pistola 9 milímetros, segundo a perícia, que recolheu cartuchos no local do crime. A polícia acredita que o carro foi seguido pelo veículo onde estava o assassino desde que ela saiu da reunião na Lapa. 

O motivo é que, embora os vidros do automóvel de Marielle estivessem cobertos por película escura, os bandidos pareciam saber exatamente onde ela estava sentada - a vereadora não costumava ir atrás. Foi na direção daquele ponto que os disparos foram feitos. A exatidão dos tiros também chamou a atenção dos investigadores. 

Imagens de câmeras mostram que um carro parado por duas horas perto de onde Marielle participava do evento. Esse automóvel teria saído quando o veículo de Marielle deixou o local. 

A possibilidade de ter sido reação das milícias à intervenção chegou a ser repassada ao Palácio do Planalto nesta quinta, mas depois perdeu força. A informação recebida pelo Planalto é de que a principal de linha de investigação é mesmo de execução. 

▶Ajuda federal

A Polícia Federal vai auxiliar a investigação, mas a chefia da apuração fica a cargo da Polícia Civil. A possibilidade de federalizar o caso havia sido cogitada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, mas não foi à frente. Investigações são federalizadas quando há delito contra os direitos humanos e incapacidade do Estado para apurar. Então, a PF apura e a Justiça Federal julga. "É um caso que precisa do apoio de todas as forças investigatórias", disse Raquel. 

De manhã, Rivaldo não demonstrou entusiasmo sobre a ajuda da PF. "Temos nossos protocolos estabelecidos. Quem quiser nos ajudar, receberemos a ajuda, de qualquer instituição. Entretanto, quero dizer que a Polícia Civil do Rio tem capacidade para resolver esse caso." 

O Disque-Denúncia do Rio recebeu na quinta-feira dez telefonemas com informações sobre o crime. O conteúdo não foi divulgado.


Atualizado: 16.03.2018, 23:12:52
Fonte - www.correio24horas.com.br

O cidadão a sós




Aqui no artigo de José Roberto Guzzo, uma triste constatação sobre os filhos da tábua. São as meninas dos morros que são obrigadas a manterem relações sexuais COM VÁRIOS integrantes do tráfico e curiosamente nem a vereadora assassinada e muito menos as feministas saem em defesa dessas futuras mães que jamais saberão quem é o pai de seu filhos

por J.R. Guzzo, publicado na edição impressa de VEJA (27 fev 2018)

A intervenção do Exército no Rio de Janeiro, em mais uma tentativa de combater a ocupação armada da cidade pelos criminosos, recebeu a aprovação de 80% da população ─ é o que mostram os primeiros levantamentos feitos logo após a chegada das tropas federais a este pedaço do território brasileiro onde o crime está em guerra aberta contra os cidadãos. Houve, naturalmente, reações preocupadas por parte de muita gente ─ e não apenas da esquerda. 

(Com aquele seu instinto que nunca falha na hora de ficar contra a opinião da maioria, o PT e sua periferia, automaticamente, se escandalizaram com a intervenção. O que fizeram é o que sempre fazem quando se trata de escolher entre a criminalidade, que a seu ver toma parte nas “lutas populares”, e a ordem pública, que consideram coisa de “direita”: ficaram, de olhos fechados, a favor do crime)

Junto com a reação habitual dos nossos revolucionários, veio o espanto apreensivo de uma parte do Brasil “civilizado”. O apoio maciço à intervenção no Rio, segundo dizem, mostraria uma angustiante e apressada inclinação do brasileiro a acreditar que os militares são “a solução” para tudo ─ crime, corrupção, incompetência e todas as demais taras do Estado e da sociedade no Brasil. Seria uma expectativa ruim, mesmo porque é impossível de ser atendida.


Não dá para medir com exatidão se os brasileiros acreditam mesmo em soluções militares. Mas, com certeza, uma população que há muito tempo não tem o mínimo motivo para levar a sério o governo, é insultada abertamente pelas decisões de um Supremo Tribunal Federal que presta vassalagem a condenados por corrupção e é tratada como débil mental pelo pior conjunto de deputados e senadores hoje presentes sobre a face da Terra, não poderia mesmo pensar como se estivesse vivendo na Inglaterra. Que raio se pretende, então, que as pessoas achem? Está cada vez mais difícil para o cidadão, e daqui a pouco pode tornar-se impossível, ficar a sós ─ vendo em silêncio os seus direitos mais básicos serem violados pelos criminosos, com a proteção de leis feitas para atender os interesses de bandidos e seus defensores. Salvo os próprios criminosos à mão armada, as quadrilhas que roubam o Erário e o resto dos marginais em circulação por aí, ninguém pode permanecer calmo enquanto o sistema Judiciário, a partir de seu degrau mais alto, solta sistematicamente quem deveria estar preso, ou mantém fora da prisão quem foi condenado e deveria estar lá dentro. Para a população brasileira, no fim das contas, a situação criada no país é simplesmente incompreensível. “Volta dos militares”, para consertar isso? Todo mundo está no direito de achar que se trata da pior opção, mesmo porque é o tipo da coisa que tem tudo para dar errado. Mas é inútil esconder que todo o mundo também está no direito de achar exatamente o contrário. Na verdade, tem um número cada vez maior de motivos concretos para pensar assim.

O que querem, sinceramente, que o cidadão pense quando vê uma assassina que ajudou a matar o próprio pai a golpes de barra de ferro ser solta, com o apoio enfurecido do Ministério Público, para passar fora da prisão o Dia dos Pais ─ justamente o Dia dos Pais? É a lei, dizem advogados, promotores e juízes ─ mas não lhes passa pela cabeça que uma coisa dessas está acima do entendimento de qualquer ser humano deste planeta. O recado que dão é o seguinte: se a lei é demente, problema seu. Obedece e cala a boca. Como condenar alguém por sonhar com “os militares”, quando uma promotora de Justiça, que é paga (com todos os “adicionais”) para nos defender dos criminosos diz que “bandido bom é bandido vivo, e com direitos?” Concorde com a promotora, se quiser ─ mas não estranhe que alguém discorde, e um dia passe a achar que “o único jeito é chamar o Exército”. Mais: é razoável esperar que alguém concorde, ou entenda, que um homicida tenha o direito de cumprir apenas um sexto da pena a que foi condenado? De vinte anos de cadeia, por exemplo, só cumpre três. Faz sentido um negócio desses? Para que serve um Código Penal se ele é anulado pelas leis de “progressão da pena”, regime semi-aberto, prisão domiciliar ou tornozeleiras para ladrão que rouba o Tesouro Nacional?

A população brasileira, na verdade, vem sendo provocada, cada vez mais, pelo crime e por seus protetores. No Rio de Janeiro os policiais continuam sendo assassinados na média de um a cada três dias, e 90% das autoridades acham isso perfeitamente normal. Cerca de 40% dos moradores não recebem mais o correio, pois a entrega foi suspensa por causa dos ataques da bandidagem. As seguradoras não aceitam mais fazer seguros para cargas destinadas ao Rio. Se isso não é desafiar as pessoas e abrir a porta para o desespero, o que seria, então? Os cidadãos, ainda por cima, são humilhados diariamente pelo apoio público que os seus opressores recebem da elite “civilizada”, da mídia, da Igreja Católica e por aí afora. Dizem, estes todos, que o grande problema do Rio de Janeiro não são os crimes praticados contra a população, mas as mortes de criminosos em confrontos com a polícia. (Quando morrem em brigas entre si próprios não há maiores comentários.) Ficam indignados com os “excessos da legitima defesa”, e exigem mais rigor contra quem usa a força para defender sua propriedade e sua vida dos ataques de criminosos.

Que provocação maior se poderia fazer às pessoas do que o estímulo aos bailes “funk” e seu principal derivado, o estupro coletivo de garotas menores de idade? Tornou-se um símbolo de orgulho “do morro”, e de seus admiradores do Leblon, a “tábua do sexo”: 


─ um banco de maneira onde os homens ficam sentados nos bailes, enquanto meninas de até 12 anos de idade se ajoelham sobre suas coxas para fazer sexo, em público, com o maior numero possível de machos. São chamadas de “preparadas”; as que já têm “dono”, e por isso não participam, são as “cachorras”. Há garotas que ficam grávidas ─ seus bebês são os “filhos da tábua”. 

A polícia, obviamente, está proibida de entrar. Os formadores de opinião consideram que isso seria um ato de repressão contra o “lazer popular”. Nenhuma feminista, até hoje, abriu o bico para fazer qualquer objeção à prática desses crimes em massa contra a mulher ─ sexo com menores de 14 anos é estupro, haja ou não consentimento da vítima. Os grandes astros do “funk”, que animam os bailes da “tábua” e pregam a favor do crime em suas letras de música, têm circulação triunfal nos programas de variedades da Rede Globo; dão entrevistas à imprensa e são bajulados pelas classes intelectuais. A ideia-mãe é a seguinte: tudo isso forma hoje o que seria uma nova manifestação cultural, a chamada “cultura da comunidade”. Ela é sagrada. Não pode sofrer a mínima restrição. Qualquer crítica é “preconceito” da “elite branca”.

O que há de estranho, diante de tudo isso e muito mais, no fato de 80% da população aprovarem a intervenção militar no Rio? O mundo descrito acima não é normal, nem desejável, para a imensa maioria, por mais que a “esquerda” insista em dizer o contrário. Não é normal em nenhuma outra cidade do Brasil. Porque seria aceitável no Rio? A chance de dar certo é zero.