quarta-feira, fevereiro 29, 2012

INTEGRA DE NOVO MANIFESTO DE MILITARES DA RESERVA.




Verás que um filho teu não foge à luta

“ELES QUE VENHAM. POR AQUI NÃO PASSARÃO!”

Este é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria, tendo como guia o seu juramento de por ela, se preciso for, dar a própria vida. São homens que representam o Exército das gerações passadas e são os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente.

Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo.

O Clube Militar é uma associação civil, não subordinada a quem quer que seja, a não ser a sua Diretoria, eleita por seu quadro social, tendo mais de cento e vinte anos de gloriosa existência. Anos de luta, determinação, conquistas, vitórias e de participação efetiva em casos relevantes da História Pátria.

A fundação do Clube, em si, constituiu-se em importante fato histórico, produzindo marcas sensíveis no contexto nacional, ação empreendida por homens determinados, gerada entre os episódios sócio-políticos e militares que marcaram o final do século XIX. Ao longo do tempo, foi partícipe de ocorrências importantes como a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República, a questão do petróleo e a Contra-revolução de 1964, apenas para citar alguns.

O Clube Militar não se intimida e continuará atento e vigilante, propugnando comportamento ético para nossos homens públicos, envolvidos em chocantes escândalos em série, defendendo a dignidade dos militares, hoje ferida e constrangida com salários aviltados e cortes orçamentários, estes últimos impedindo que tenhamos Forças Armadas (FFAA) a altura da necessária Segurança Externa e do perfil político-estratégico que o País já ostenta. FFAA que se mostram, em recente pesquisa, como Instituição da mais alta confiabilidade do Povo brasileiro (pesquisa da Escola de Direito da FGV-SP).

O Clube Militar, sem sombra de dúvida, incorpora nossos valores, nossos ideais, e tem como um de seus objetivos defender, sempre, os interesses maiores da Pátria.

Assim, esta foi a finalidade precípua do manifesto supracitado que reconhece na aprovação da “Comissão da Verdade” ato inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo.

Assinam, abaixo, os Oficiais Generais por ordem de antiguidade e os Oficiais superiores por ordem de adesão.
OFICIAIS GENERAIS

Gen Gilberto Barbosa de Figueiredo
Gen Amaury Sá Freire de Lima
Gen Cássio Cunha
Gen Ulisses Lisboa Perazzo Lannes
Gen Marco Antonio Tilscher Saraiva
Gen Aricildes de Moraes Motta
Gen Tirteu Frota
Gen César Augusto Nicodemus de Souza
Gen Marco Antonio Felício da Silva
Gen Bda Newton Mousinho de Albuquerque
Gen Paulo César Lima de Siqueira
Gen Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira
Gen Elieser Girão Monteiro

OFICIAIS SUPERIORES
T Cel Carlos de Souza Scheliga
Cel Carlos Alberto Brilhante Ustra
Cel Ronaldo Pêcego de Morais Coutinho
Capitão-de-Mar-e-Guerra Joannis Cristino Roidis
Cel Seixas Marques
Cel Pedro Moezia de Lima
Cel Cláudio Miguez
Cel Yvo Salvany
Cel Ernesto Caruso
Cel Juvêncio Saldanha Lemos
Cel Paulo Ricardo Paiva
Cel Raul Borges
Cel Rubens Del Nero
Cel Ronaldo Pimenta Carvalho
Cel Jarbas Guimarães Pontes
Cel Miguel Netto Armando
Cel Florimar Ferreira Coutinho
Cel Av Julio Cesar de Oliveira Medeiros
Cel.Av.Luís Mauro Ferreira Gomes
Cel Carlos Rodolfo Bopp
Cel Nilton Correa Lampert
Cel Horacio de Godoy
Cel Manuel Joaquim de Araujo Goes
Cel Luiz Veríssimo de Castro
Cel Sergio Marinho de Carvalho
Cel Antenor dos Santos Oliveira
Cel Josã de Mattos Medeiros
Cel Mario Monteiro Campos
Cel Armando Binari Wyatt
Cel Antonio Osvaldo Silvano
Cel Alédio P. Fernandes
Cel Francisco Zacarias
Cel Paulo Baciuk
Cel Julio da Cunha Fournier
Cel Arnaldo N. Fleury Curado
Cel Walter de Campos
Cel Silvério Mendes
Cel Luiz Carvalho Silva
Cel Reynaldo De Biasi Silva Rocha
Cel Wadir Abbês
Cel Flavio Bisch Fabres
Cel Flavio Acauan Souto
Cel Luiz Carlos Fortes Bustamante Sá
Cel Plotino Ladeira da Matta
Cel Jacob Cesar Ribas Filho
Cel Murilo Silva de Souza
Cel Gilson Fernandes
Cel José Leopoldino
Cel Evani Lima e Silva
Cel Antonio Medina Filho
Cel José Eymard Bonfim Borges
Cel Dirceu Wolmann Junior
Cel Sérgio Lobo Rodrigues
Cel Jones Amaral
Cel Moacyr Mansur de Carvalho
Cel Waine Canto
Cel Moacyr Guimarães de Oliveira
Cel Flavio Andre Teixeira
Cel Nelson Henrique Bonança de Almeida
Cel Roberto Fonseca
Cel Jose Antonio Barbosa
Cel Cav Ref Jomar Mendonça
Cel Nilo Cardoso Daltro
Cel Carlos Sergio Maia Mondaini
Cel Nilo Cardoso Daltro
Cel Vicente Deo
Cel Av Milton Mauro Mallet Aleixo
Cel José Roberto Marques Frazão
Cel Luiz Solano
Cel Flavio Andre Teixeira
Cel Jorge Luiz Kormann
Cel Aluísio Madruga de Moura e Souza
Cel Aer Edno Marcolino
Cel Paulo Cesar Romero Castelo Branco
Cel CARLOS LEGER SHERMAN PALMER
Capitão-de-Mar-e-Guerra Cesar Augusto Santos Azevedo
TCel Osmar José de Barros Ribeiro
T Cel Mayrseu Cople Bahia
TCel José Cláudio de Carvalho Vargas
TCel Aer Jorge Ruiz Gomes.
TCel Aer Paulo Cezar Dockorn
Cap de Fragata Rafael Lopes Matos
Maj Paulo Roberto Dias da Cunha

OFICIAIS SUBALTERNOS
2º Ten José Vargas Jiménez

domingo, fevereiro 26, 2012

MUITO OBRIGADO, SENHORES MINISTROS!.



Percival Puggina

Em fins de 2006, o STF julgou inconstitucional a lei que estabelecera cláusula de barreira para os partidos chamados nanicos. Essa lei fora aprovada pelo Congresso Nacional em 1995 para viger dez anos mais tarde. Foi uma das muitas vezes em que os ministros estiveram mais para opiniáticos do que para constitucionalistas. Caramba! Se o Congresso Nacional não tiver autonomia sequer para legislar sobre partidos políticos, então que se fechem suas portas e se transfiram suas atribuições para os Onze Sábios da República. A surpreendente decisão fundamentou-se no direito de representação das minorias. Entenderam suas excelências que a cláusula restringia direito fundamental das parcelas minoritárias da cidadania. Como resultado, graças ao STF, já contamos com a inestimável contribuição ao bem comum prestada por 29 partidos. O 30º está na reta de chegada para completar seu registro. Trata-se do PEN, o Partido Ecológico Nacional. Muito obrigado, senhores ministros. Valeu!

Abro parêntesis. É interessante notar que pelo menos dois dos partidos que impetraram aquela Ação Direta de Inconstitucionalidade acolhida pelo STF (PCdoB e PSOL) consideram perfeitamente normal e democrático o monopartidarismo cubano, mas acham que, no Brasil, não pode haver democracia sem um multipartidarismo que os inclua como representação de certas minorias ideológicas. Fecho parêntesis.

Como recusar o fato de que o excessivo número de partidos complica a política em todos os seus níveis e em todas as suas etapas? Anoto algumas dessas mazelas: 
1) o custeio das legendas; 
2) as cada vez mais difíceis e onerosas campanhas eleitorais; 
3) as extravagantes coligações com que convivemos; 
4) a multiplicidade de espaços em rádio e tevê; 
5) a sobrecarga incidente na Justiça Eleitoral; 
6) o excessivo número de candidatos que poluem a vitrine das campanhas e dificultam a escolha do eleitor; 
7) a formação de um número demasiado de bancadas nos parlamentos; 
8) a descaracterização filosófica das siglas; 
9) o tumulto que geram na constituição dos governos e no processo legislativo, e por aí vai.

Vinte e três partidos políticos têm representação na Câmara dos Deputados! Os 86 deputados da maior bancada, a do PT, representam apenas 15% do plenário... Ou seja, nesse modelo que seduziu a maioria do STF, a maior bancada acaba sendo, também ela, uma pequena minoria. Como organizar de modo adequado atividade tão relevante ao bem comum quanto é a política com um sistema que só produz minorias irrelevantes? Como erguer essa atividade a um patamar mais elevado se a necessária formação de maiorias leva os partidos a se debruçarem sobre um cada vez mais seboso e menos digno balcão de negociações onde, a cada ano, é necessário criar novas moedas de troca?

É certo, o grau de civilidade de um país tem a ver, entre outras coisas, com a forma como trata suas minorias. Sair-se daí, porém, para transformar o sistema partidário em instrumento dessa organização e representação é clara demasia. As minorias deveriam compor-se dentro dos partidos que as acolhessem em suas plataformas e diretórios. Isso evitaria todos os males do multipartidarismo e mais este: a possibilidade de que o acesso ao poder seja franqueado a uma minoria organizada. Atenção! O nosso modelo permite que circunstancialmente, um partido minoritário, nanico, sectário (quem sabe até totalitário!) tendo cooptado para seus quadros uma figura carismática e popular qualquer, chegue ao governo trazendo na manga do casaco posições filosóficas, ideológicas e morais sem aceitação social. Governar é tarefa para partido grande. É direito e dever das maiorias.


* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

sábado, fevereiro 25, 2012

"MANIFESTO INTERCLUBES MILITARES"


"Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada.
Estendo minha mão a eles.
De minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.
A partir da minha posse, serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política."

No dia 31 de outubro de 2010, após ter confirmada a vitória na disputa presidencial, a Sra Dilma Roussef proferiu um discurso, do qual destacamos o parágrafo acima transcrito.
Era uma proposta de conduzir os destinos da nação como uma verdadeira estadista.
Logo no início do seu mandato, os Clubes Militares transcreveram a mensagem que a então candidata enviara aos militares da ativa e da reserva, pensionistas das Forças Armadas e aos associados dos Clubes.
Na mensagem a candidata assumia vários compromissos.
Ao transcrevê-la, os Clubes lhe davam um voto de confiança, na expectativa de que os cumprisse.
Ao completar o primeiro ano do mandato, paulatinamente vê-se a Presidente afastando-se das premissas por ela mesma estipuladas. Parece que a preocupação em governar para uma parcela da população sobrepuja-se ao desejo de atender aos interesses de todos os brasileiros.
Especificamente na semana próxima passada, e por três dias consecutivos, pode-se exemplificar a assertiva acima citada.
Na quarta-feira, 8 de fevereiro, a Ministra da Secretaria de Direitos Humanos concedeu uma entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no dia imediato no jornal Correio Braziliense, na qual mais uma vez asseverava a possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à semelhança ao que ocorre em países vizinhos.
Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia.
E, a Presidente não veio a público para contradizer a subordinada.
Dois dias depois tomou posse como Ministra da Secretaria de Política para as Mulheres a Sra Eleonora Menicucci.
Em seu discurso a Ministra, em presença da Presidente, teceu críticas exarcebadas aos governos militares e, se auto-elogiando, ressaltou o fato de ter lutado pela democracia (sic), ao mesmo tempo em que homenageava os companheiros que tombaram na refrega.
A platéia aplaudiu a fala, incluindo a Sra Presidente.
Ora, todos sabemos que o grupo ao qual pertenceu a Sra Eleonora conduziu suas ações no sentido de implantar, pela força, uma ditadura, nunca tendo pretendido a democracia.
Para finalizar a semana, o Partido dos Trabalhadores, ao qual a Presidente pertence, celebrou os seus 32 anos de criação.
Na ocasião foram divulgadas as Resoluções Políticas tomadas pelo Partido.
Foi dado realce ao item que diz que o PT estará empenhado junto com a sociedade no resgate de nossa memória da luta pela democracia (sic) durante o período da ditadura militar.
Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bi-partidarismo.
Os Clubes Militares expressam a preocupação com as manifestações de auxiliares da Presidente sem que ela, como a mandatária maior da nação, venha a público expressar desacordo com a posição assumida por eles e pelo partido ao qual é filiada e aguardam com expectativa positiva a postura de Presidente de todos os brasileiros e não de minorias sectárias ou de partidos políticos.

Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2012
- V. Alte Ricardo Antonio da Veiga Cabral
- Gen Ex Renato Cesar Tibau da Abilde Costa
- Ten Brig Carlos de Almeida Baptista .
Presidente Clube Naval
Presidente Clube Militar
Presidente Clube de Aeronáutica"


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TÂNIA MONTEIRO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Os presidentes dos Clubes Militares foram obrigados ontem a publicar uma nota desautorizando o texto do "manifesto interclubes" que criticava a presidente Dilma Rousseff por não censurar duas de suas ministras que defenderam a revogação da Lei da Anistia. Logo depois, porém, tanto o comunicado original como o desmentido foram retirados do site em que foram divulgados.
Dilma não gostou do teor da nota por não aceitar, segundo assessores do Planalto, qualquer tipo de desaprovação às atitudes da comandante suprema das Forças Armadas.
A presidente convocou o ministro Celso Amorim (Defesa) para pedir explicações. Ele se reuniu com os comandantes das três Forças, que negociaram com os presidentes dos clubes da Marinha, Exército e Aeronáutica a "desautorização" da publicação do documento, divulgado no site do Clube Militar no dia 16, como revelou o Estado na terça-feira.
No dia seguinte, houve a reunião de Amorim com os comandantes das três Forças e uma conversa com a presidente. Paralelamente a essa movimentação, os comandantes telefonaram aos presidentes dos três clubes a fim de que a nota crítica a Dilma fosse suprimida.
Ontem, o "comunicado interclubes" foi retirado do site no início da tarde. Por volta das 16 horas, foi divulgado um outro texto, em que os presidentes desautorizavam o comunicado anterior. Esse desmentido, porém, não chegou a ficar meia hora no ar. O Clube do Exército, para tentar encerrar a polêmica, retirou a nota e o desmentido, mas a celeuma já estava criada.
Críticas. Apesar de terem sido obrigados a recuar e, com isso, não criar uma crise militar, os presidentes dos clubes não se conformam com as críticas que têm recebido e temem que a Comissão da Verdade só ouça um dos lados na hora de trabalhar.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Israel moderno: o maior milagre da história humana?.



por Joseph Farah

Se você acredita na Bíblia, como eu acredito, o retorno de Israel como nação depois de 2.000 anos é um milagre maior do que o milagre que ocorreu com a saída do povo de Israel do Egito.
É isso o que Deus diz em Jeremias 16:14-15:
“Portanto, eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que nunca mais se dirá: Vive o SENHOR, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito”.
“Mas: Vive o SENHOR, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais.”
Pense nisso.
A restauração da nação de Israel em 1948 e o ajuntamento dos judeus dispersos de todas as partes do mundo é um milagre maior do que todos os seguintes milagres:
* a divisão do mar Vermelho;
* o maná do céu;
* a água das rochas;
* a entrega da lei no monte Sinai.

Penso que a maioria dos cristãos e judeus do século 21 não aprecia de modo pleno o que significa serem testemunhas de tal milagre estupendo.
Às vezes quando lemos a Bíblia zombamos da cegueira que o povo do passado demonstrava para o que estava ocorrendo na época. Mas acho que somos tão culpados quanto eles — talvez até mais.
O milagre do ajuntamento é maior do que os milagres da saída do povo de Israel do Egito. Quem diz isso não sou eu. É o Senhor quem diz isso. E é um milagre que tivemos o privilégio de experimentar de primeira mão. Mas esse privilégio vem com uma responsabilidade — a responsabilidade de reconhecer o que Deus está fazendo e reconhecer sem demora que foi uma obra poderosa.
Os Estados Unidos têm hoje muitos cristãos que não entendem isso. Eles não estão ficando do lado dos filhos de Israel, nossos irmãos cuja aliança experimentamos e vivemos pela virtude de sermos enxertados, como Paulo explica no livro de Romanos.
Os cristãos que não mostram gratidão por estarem conectados a esse milagre são cristãos que em última análise não são gratos pelo presente da salvação e redenção oferecido ao mundo inteiro. Eles não são completamente gratos por quem é seu Senhor e Salvador — por que Ele veio e que Ele está voltando!


Eles não são gratos pelo lugar que Ele escolheu para voltar.
Ele não estará indo para Washington, D.C., para governar o mundo. Ele estará indo para Jerusalém.
Quando e por que Ele estará vindo? Ele estará vindo num tempo em que Israel estará enfrentando desastre, e Ele estará vindo para salvar Israel.
A teologia da substituição não é apenas uma teologia perigosa. É uma teologia rasa — é uma teologia que tentou interpretar a maior parte da Bíblia como irrelevante e retratar Deus como um quebrador de alianças que muda de ideia e até Sua personalidade.
Mas hoje boa parte das igrejas está confusa sobre quem somos como crentes e a rica herança bíblica que serve como o alicerce da nossa fé e nossa esperança.
Alguns cristãos não têm certeza se nosso Salvador estará mesmo voltando — sem mencionar que duvidam que Ele estará voltando para salvar e preservar Israel.
Alguns cristãos estão confusos sobre se o moderno milagre de Israel é verdadeiramente uma manifestação profética.
Alguns cristãos até veem mais conexão entre sua fé e o islamismo do que veem entre sua fé e o judaísmo, muito embora o Cristianismo não faça sentido fora do contexto da promessa messiânica do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Cabe a todos nós como crentes ler e estudar as ricas e abundantes passagens das Escrituras que lidam com a Segunda Vinda, pois suspeito que haverá crentes despreparados e pegos de surpresa.
Muitas pessoas não compreenderam nem enxergaram a primeira vinda dEle porque estavam antecipando um rei conquistador. Suspeito que muitos cristãos não reconhecerão o rei conquistador quando Ele voltar porque estarão antecipando, em vez disso, um servo sofredor.
O que Yeshua vai fazer quando voltar?
A Bíblia nos diz que Ele estará voltando para fazer justiça. Suas vestes estarão com manchas de sangue. Ele vai destruir nações. Ele vai impor Sua vontade com vara de ferro.
Estamos preparados para esse Yeshua?
Ele vai julgar indivíduos e nações, conforme lemos em Mateus 25. As nações serão divididas em nações de ovelhas e nações de bodes em grande parte com base no modo como trataram Seu precioso Israel.
Ele abençoará aqueles que abençoam Israel e amaldiçoará aqueles que o amaldiçoam.
Nossa fé cristã — e nossa própria redenção — foi construída num alicerce de promessa feita pelo Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Sem uma compreensão e apreciação dessa conexão, nossa fé nem faz sentido. Nosso Salvador não apareceu de repente certo dia em Belém 2.000 anos atrás sem nenhuma expectativa. Ele veio como o messias judeu há muito tempo esperado, o Rei dos Judeus, da linhagem de Davi, e Ele no final reinará no trono de Davi por 1.000 anos no futuro.
A propósito, Ele não veio para começar uma nova religião chamada Cristianismo. Ele veio para cumprir a lei e os profetas e oferecer salvação aos judeus e aos não judeus igualmente.

Se você crê que a Bíblia é a infalível Palavra de Deus, você também reconhecerá que quando Ele voltar você, eu e outros crentes vamos guardar o Sábado e observar a Festa dos Tabernáculos. Estaremos visitando Jerusalém regularmente — e se não visitarmos, não haverá chuva alguma. Acho que alguns cristãos vão ficar chocados com o fato de que, no reino de mil anos, o centro de nossa vida será Israel.
Quantos cristãos nos Estados Unidos hoje realmente compreendem a realidade de que nosso Deus e Salvador é judeu? Ele não estará comendo sanduíches de presunto nas lanchonetes das igrejas.
Quantos de nós O reconheceremos quando Ele voltar?

Traduzido por Julio Severo do artigo de WND: Modern Israel: Greatest miracle ever?
Fonte: juliosevero.blogspot.com

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Mais Cedo ou Mais Tarde, Todos os Seres Humanos Serão Refugiados Palestinos

Mais Cedo ou Mais Tarde, Todos os Seres Humanos Serão Refugiados Palestinos.

por Daniel Pipes
The Washington Times
21 de Fevereiro de 2012

De todas as questões que movem o conflito árabe-israelense, nenhuma é mais central, maligna, primordial, duradoura, emocional e complexa do que o status das pessoas conhecidas como refugiados palestinos.

As origens desse caso único, observa Nitza Nachmias da Universidade de Tel-Aviv, remonta ao Conde Folke Bernadotte, mediador do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ao referir-se àqueles árabes que fugiram do Mandato Britânico da Palestina, sustentava ele em 1948, que a ONU tinha a "responsabilidade em aliviar seu sofrimento" pelo fato de ter sido uma decisão da ONU a criação de Israel, que os tornou refugiados. Por mais incorreto que seja esse enfoque, ele ainda permanece vivo e muito forte e ajuda a explicar porque a ONU dedica essa atenção inigualável aos refugiados palestinos aguardando seu próprio estado.

Folke Bernadotte

Fazendo jus ao legado de Bernadotte, a ONU instituiu uma gama de instituições especiais exclusivamente para os refugiados palestinos. Dessas, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, fundada em 1949, se destaca como a mais importante. É simultaneamente a única organização de refugiados a lidar com um povo específico (o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados trata de todos os refugiados não palestinos) e a maior organização da ONU (em termos de staff).

A UNRWA aparentemente define seus departamentos com grande especificidade: "Refugiados palestinos são pessoas cujo local habitual de residência era a Palestina entre junho de 1946 e maio de 1948, que perderam outrossim suas casas e seus meios de vida em conseqüência do conflito árabe-israelense". O número desses refugiados (que inicialmente incluía alguns judeus) diminuiu, obviamente, muito nos últimos 64 anos. Admitindo o número (exagerado) da UNRWA de 750.000 refugiados palestinos iniciais, apenas uma fração deles, cerca de 150.000, estão vivos.

O staff da UNRWA tomou três medidas importantes no decorrer dos anos para expandir a definição de refugiados palestinos. Primeiro, e contrario à prática universal, manteve o status de refugiados àqueles que se tornaram cidadãos de um país árabe (particularmente na Jordânia). Segundo, tomou uma decisão em 1965, pouco notada, que estendeu a definição de "refugiado palestino" aos descendentes do sexo masculino desses refugiados, um artifício que permite aos refugiados palestinos passarem seu status de refugiado às gerações subsequentes. O governo dos EUA, que mais contribui para a agencia, protestou apenas discretamente a essa monumental mudança. A Assembléia Geral das Nações Unidas endossou-a em 1982, de forma que agora a definição de refugiado palestino oficialmente inclui "descendentes do sexo masculino de refugiados palestinos, inclusive filhos adotados legalmente". Terceiro, em 1967 a UNRWA incluiu refugiados da guerra dos seis dias a sua lista, hoje eles constituem cerca de um quinto do total de refugiados palestinos.

Essas mudanças resultaram em dramáticas consequências. Diferentemente de todas as outras populações de refugiados, cujo número diminui à medida que as pessoas se acomodam ou morrem, a população de refugiados palestinos vem crescendo com o passar do tempo. A UNRWA reconhece esse fenômeno bizarro: "assim que a agência iniciou seus trabalhos em 1950, respondia pelas necessidades de aproximadamente 750.000 refugiados palestinos. hoje, 5 milhões de refugiados palestinos são elegíveis para receber ajuda da UNRWA". Além disso, segundo James G. Lindsay, ex-consultor jurídico da UNRWA, conforme a definição da UNRWA, esses 5 milhões representam somente metade dos elegíveis ao status de refugiados palestinos.

Em outras palavras, ao invés de diminuir cinco vezes em dez décadas, a UNRWA, por sua conta, aumentou a população de refugiados quase sete vezes. Esse número poderá aumentar com mais rapidez ainda, devido ao crescente sentimento de que as refugiadas também deveriam passar adiante seu status de refugiada. Mesmo quando, daqui a 40 anos, o último efetivo refugiado da época do mandato na Palestina falecer, os pseudo-refugiados continuarão a proliferar. Consequentemente o status de "refugiado palestino" está posicionado a avolumar-se indefinidamente. Colocado de outra maneira, conforme observa Steven J. Rosen do Middle East Forum, "segundo os padrões da UNRWA, mais cedo ou mais tarde, todos os seres humanos serão refugiados palestinos".
Uma chave gigantesca  encontra-se no topo da entrada do Campo de Refugiados Aida em Belém,
lembrando os residentes a insistirem no seu "direito de retorno".

Se o status de refugiado palestino fosse de prosperidade, essa expansão infinita não teria a menor importância. Mas esse status acarreta implicações destrutivas aos dois lados: Israel, que sofre a ação destrutiva de pessoas cujas vidas estão truncadas e distorcidas por um sonho impossível de retorno às casas de seus bisavôs e, os próprios "refugiados", cujo status implica em uma cultura de dependência, ressentimento, raiva e futilidade.

Todos os outros refugiados da era da Segunda Guerra Mundial (incluindo meus próprios pais) já se assentaram e se integraram há muito tempo, o status de refugiado palestino já perdura tempo demais e precisa ser enxugado a fim de refletir os reais refugiados antes que promova mais destruição.

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Correa quer um regime totalitário, diz jornalista condenado.


Por Janaina Lage (janaina.lage@oglobo.com.br)

Diga-me com que ditadores anda

RIO - Para Emilio Palacio, ex-editorialista do "El Universo" e um dos quatro condenados nesta quinta-feira por injúria ao presidente Rafael Correa, a pressão internacional pode evitar o fim do jornal. Palacio, que vive hoje nos Estados Unidos após pedir asilo político, avalia que a ação do presidente está instituindo a autocensura na imprensa equatoriana.
Como recebeu a decisão?

EMILIO PALACIO: Estou esgotado. Recebi com tristeza, mas sem surpresa. A Corte Nacional de Justiça foi renovada há pouco tempo por Correa, e praticamente todos os membros foram substituídos por outros escolhidos pelo presidente. Correa entra, então, na Justiça e pede uma multa de US$ 40 milhões.

Isso representa o fim do "El Universo"?
PALACIO: O patrimônio total do "El Universo" é de US$ 30 milhões. O que os Pérez terão que fazer? Pegar a chave do "El Universo", entregar e dizer: "Aqui está o jornal". É isso o que Correa quer. Mas, de outro lado, a solidariedade internacional tem sido impressionante. Não descarto que essa pressão sobre Correa faça com que haja algum retrocesso. Não em relação a mim porque ele já decidiu que tem de me destruir, mas tomara que isso permita salvar o jornal. Se a manifestação internacional continuar, talvez isso seja possível.

Para Correa, a decisão é histórica. O que ela significa para a imprensa do país?
PALACIO: Ele tem razão em dizer que é uma decisão histórica. Não conheço outro presidente que peça US$ 40 milhões para seu patrimônio pessoal por um processo contra um jornalista que o criticou por sua ação no governo. Os presidentes mais corruptos roubavam dinheiro, mas não faziam essa palhaçada. Isso está criando uma autocensura extremamente perigosa. Se você fosse jornalista no Equador, com filhos para criar e alguém mandasse escrever sobre alguma irregularidade de um ministro, poderia preferir escrever sobre outra coisa para não ter problemas.

A liberdade de expressão corre risco?
PALACIO: A liberdade de expressão está em perigo em diversos países, inclusive em governos democráticos que dizem respeitá-la, mas somente a toleram.

A interferência de Correa contra a imprensa pode levar o país a uma ditadura?
PALACIO: Ele quer um regime totalitário. Na pior das ditaduras, sempre há um pequeníssimo espaço para crítica porque as ditaduras sabem que é preciso uma válvula de escape. Nos governos totalitários, não. Há somente um partido, dono de todos os meios de comunicação. É o que está começando agora.




Palácio, definitivamente não é bobo e não quis pedir asilo aqui na provávelfutura ditadura:

Panamá, 16 fev (EFE).- O presidente panamenho, Ricardo Martinelli, concedeu nesta quinta-feira asilo diplomático ao diretor do jornal equatoriano "El Universo", Carlos Pérez, condenado pela Justiça desse país a três anos de prisão e ao pagamento de US$ 40 milhões por conta de supostas injúrias ao presidente do Equador, Rafael Correa.

Uma fonte da Chancelaria panamenha confirmou à agência Efe que Martinelli outorgou o asilo para Carlos Pérez, que junto de seus irmãos Nicolás e César e do jornalista Emilio Palacio, foram acusados de injúrias por Correa.

O asilo diplomático permite a um Estado oferecer proteção a uma pessoa perseguida na sede de sua legação diplomática em outro Estado, segundo a definição jurídica.

"Acabo de dar asilo ao jornalista do jornal 'El Universo' Carlos Pérez Barriga, que foi multado com 3 anos de prisão e 40 milhões de multa no Equador", escreveu o líder panamenho em sua conta de Twitter.

Na última quarta-feira, a máxima corte do Equador ratificou a condenação a três anos de prisão e ao pagamento de US$ 40 milhões aos irmãos Pérez e ao ex-editor Emilio Palacio.

O caso contra os donos do jornal equatoriano e contra Palacio começou quando este último, em 2011, afirmou em uma coluna publicada pelo "El Universo" que Correa poderia ser acusado de "cometer crimes contra a humanidade por haver ordenado fogo à vontade" contra um hospital cheio de civis durante uma revolta policial no final de setembro de 2010.

Os irmãos Pérez se encontram nos Estados Unidos, da mesma forma que Palacio, que pediu asilo nesse país.

Fonte: Uol

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Entrevista com Eleonora Menicucci de Oliveira.

Entrevista com Eleonora Menicucci de Oliveira. 

A "professora" e socióloga Eleonora Menicucci de Oliveira é a nova ministra chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Antes da entrevista, convém ressaltar um ponto. Eleonora cita nominalmente Frei Betto como sendo quem a indicou para a Diocese de João Pessoa no Centro de Direitos Humanos. É por essas e outras que a Igreja Católica brasileira é o que é hoje: um emaranhado de bispos que já se esqueceram do que seja a Biblia, que mal sabem quem foi Cristo e creem piamente que Direitos Humanos é defender a esquerda e endossar tudo o que esta faz. 

Entrevista em 14/10/2004, feita por Joana Maria Pedro em Cárceres, MT.
Transcrita por Joana Borges
Conferida por Luciana Fornazari Klanovicz
Mini-Biografia

Eleonora Menicucci de Oliveira, nasceu em Lavras, Minas Gerais, em 1944, é Professora de Ciências Humanas em Saúde da Universidade Federal de São Paulo, atuou em grupo clandestino durante a ditadura sendo militante da POLOP e da POC. Reside em São Paulo.
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (1983) e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1990) e Livre Docência em Saúde Coletiva pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Atualmente é servidor publico da Universidade Federal de São Paulo lotada como docente no Departamento de Medicina Preventiva da UNIFESP. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: direitos humanos, direitos reprodutivos e sexuais, autonomia, aborto-escolha, violência doméstica e sexual, políticas públicas, avaliação qualitativa e autodeterminação.


Joana: Hoje é dia 14 de outubro de 2004 e nós estamos em Cárceres no evento que se chama Corpo,Sexualidade e Gênero, ou qualquer coisa nessa direção, promovido pela Universidade Estadual de Cárceres, e eu estou aqui conversando com a Eleonora Menicucci. E eu gostaria que tu começasses falando de onde é que tu nasceste, porque o que eu quero mesmo é que tu me contes quando é que tu achaste que tu eras feminista, que é essa a minha discussão, a identificação com o feminismo.
Eleonora: Uhum.
Joana: Tá certo?
Eleonora: Entendi.
Joana: Mas eu queria que tu falasses primeiro com que nome tu nasceste, Eleonora Menicucci mesmo?
Eleonora: Eleonora Menicucci de Oliveira. Eu nasci em Lavras, interior de Minas, sul de Minas, no dia 21 de agosto de 1944, no ano do final da Guerra, da Segunda Guerra. Eu sou a segunda de seis filhos, cinco mulheres e um homem,(uma morreu ainda pequena) e fui basicamente educada só por mãe porque meu pai morreu quando eu tinha onze anos.
Joana: Há é?
Eleonora: Com quarenta e quatro anos e minha mãe tinha trinta e cinco.
Joana: Tu eras a mais nova então?
Eleonora: A segunda.
Joana: A segunda.
Eleonora: A segunda de cinco filhos. Sendo quatro mulheres e o mais novo homem.
Joana: Tá.
Eleonora: Eu atualmente resido em São Paulo na rua João Moura, 476 apartamento 51 em Pinheiros.
Eu atualmente sou socióloga sanitarista, professora livre docente do Departamento de Medicina
Preventiva, dedicação exclusiva na Universidade Federal de São Paulo ligada à disciplina de Ciência Humanas em Saúde.
Joana: Faculdade de Medicina, no caso?
Eleonora: Antiga Escola Paulista de Medicina, hoje chama Universidade Federal de São Paulo. E atualmente eu também estou exercendo a vice pró-reitoria de pesquisa na minha universidade. 
Joana: É?
Eleonora: É, recentíssimo, há dois meses. Eu sempre fui professora. Lecionei na Universidade Federal
da Paraíba.
Joana: Tu começasses no primário, nada?
Eleonora: Eu fiz o colegial, eu fiz o curso normal até então...
Joana: Há é, fizeste o curso normal?
Eleonora: É, em Belo Horizonte. E do curso normal...não, em Lavras. E me formei em 1963 como professora primária, imediatamente depois eu fui pra Belo Horizonte e aí me... Imediatamente eu fui lecionar num colégio de primeiro e segundo grau particular e entrei para o partido comunista.
Joana: Isso era que ano mais ou menos?
Eleonora: 1964, no ano do Golpe.
Joana: 64.
Eleonora: 64, no ano do Golpe. Ai entrei pra universidade neste mesmo ano.
Joana: Tá. Fosse fazer faculdade.
Eleonora: Fui fazer faculdade.
Joana: Sociologia, no caso?
Eleonora: Não, eu fiz Pedagogia. É porque...aí um mês depois o partido achou que eu deveria pedir transferência para Ciências Sociais, aí teve um novo vestibular...
Joana: Tá.
Eleonora: ...no mesmo ano em abril eu entrei para Ciências Sociais, chamada Ciências Sociais, né? E lecionava, fiz concurso pra ser professora de escola pública...
Joana: Há tu fosse professora de quinta à oitava série.
Eleonora: em Belo Horizonte, fui professora primária de quinta à oitava série numa favela que
chamava Morro do Papagaio, em Belo Horizonte. E neste ano em 65 também por decisões partidárias, depois do Golpe, eu também fiz vestibular pra Medicina e passei e cursei quatro anos de Medicina junto com Ciências Sociais.
Joana: Olha só!
Eleonora: Por isso que eu estou na Escola Paulista de Medicina..
Joana: Certo.
Eleonora: Tem algo do retorno, né?
Joana: Sim, sim.
Eleonora: E daí é...eu tenho...eu sou separada, tenho dois filhos, uma moça com 35 anos que tem uma filhinha de 2 anos, e um rapaz de 29 anos, né?
Joana: Jóia.
Eleonora: Ela mora em Nova York, é cineasta e ele é... ele mora em São Paulo tem uma fábrica de fazer prancha...
Joana: uhum.
Eleonora:... de surf, né?
Joana: uhum.
Eleonora: E...bem, aí você me pergunta, tá aqui a primeira questão: no período de 64 a 85 se eu me identifiquei com o feminismo?
Joana: Sim. A partir de quando você achou que era feminista?
Eleonora: Pois é Joana, eu me descobri feminista na cadeia...
Joana: Tá.
Eleonora: ... em 1971, em São Paulo ? DOI-CODI porque...só pra fazer um...
Joana: Você já era casada nessa época?
Eleonora: Já. Só pra fazer um gancho, eu entrei pro Partido Comunista depois rachei com o Partido Comunista, fui pra luta armada e... 
Joana: Você fez parte de qual organização?
Eleonora: Eu fiz parte da dissidência do Partido Comunista, depois da POLOP, e depois do POC, Partido Operário Comunista.
Joana: Certo.
Eleonora: E em 67 eu já clandestina em Belo Horizonte eu casei com um companheiro, de organização quando eu digo, e casei porque eu precisava...eu queria mudar de nome porque eu já estava muito queimada.
Joana: uhum.
Então eu passei a me chamar Eleonora de Oliveira Soares, né? E neste momento em 67 até 68, final de 67 início de 68, ainda estava em Belo Horizonte, quando foi julho eu entrei pra clandestinidade em 68 fui pra cidade industrial, e no final de 68 nós, quando a situação da luta contra a ditadura apertou
muito, nós fomos para São Paulo já clandestinos, e eu fui grávida.
Joana: Tu e teu marido?
Eleonora: Eu e ele. Os dois nas mesmas condições. E eu fui grávida é...e eu fiquei
69inteira...inteiro clandestina grávida fazendo ações...
Joana: uhum.
Eleonora: ...em São Paulo. A minha filha nasceu em 27 de setembro de 69, próximo ao seqüestro do embaixador americano e do homem ter ido à Lua, tá vendo?
Joana: uhum.
Eleonora: ...do Yuri Gagarin. Eu tive clandestinamente essa filha na maternidade de São Paulo.
Joana: Com outro nome, é isso?
Eleonora: Eu tive com outro nome, ela tinha outro nome.
Joana: Certo.
Eleonora: E o meu companheiro, que era o meu ex-marido, ele só pode vê-la depois que eu sai da
maternidade.
Joana: Certo.
Eleonora: né?
Joana: Por que vocês estavam sendo procurados, evidente?
Eleonora: Procurados por três processos.
Joana: uhum.
Eleonora: Já morávamos na cidade...no ABC com nome falso, com tudo falso. E ela nasce de cesária, em 69. E nós ainda ficamos, ai era no POC, nós ficamos clandestinos até julho de 71. Sendo que em maio de 71 quando o POC, começou a queda do POC na OBAN em São Paulo, a organização decidiu é...que a gente deveria, eu era da direção e eu também participei dessa decisão, que deveríamos sair do país.
Joana: Certo.
Eleonora: Eu saí até o Chile e ele ficou em São Paulo e eu voltei com a menina um mês depois.
Joana: Certo.
Eleonora: Porque a minha avaliação era que eu tinha que fazer...
Joana:...a luta armada aqui.
Eleonora:...a luta armada aqui. E um detalhe importante nessa trajetória é que seis meses depois dessa minha filha ter nascido eu fiquei grávida outra vez. Ai junto com a organização nós decidimos, a organização, nós, que eu deveria fazer aborto porque não era possível...
Joana: Certo.
Eleonora: ...na situação ter mais de uma criança, né? E eu não segurava também. Aí foi o segundo aborto que eu fiz.
Joana: uhum.
Eleonora: Tinha um cara, Isac Abramovicht, um ano depois ele vai ter...ele vai ser uma figura destaque na minha vida.
Joana: Esse cara quem? 
Eleonora: O médico que me fez a primeira consulta de pré-natal na clandestinidade , indicado por uma companheira.
Joana: ...que fez teu aborto.
Eleonora: Não, eu fiz aborto em outra clínica de Pinheiros, também de um médico militar, vim a saber depois. Eu vou presa dia 11 de julho de 71.
Joana: uhum.Espera, tu tinhas ido pro Chile...
Eleonora: Pro Chile e voltei.
Joana: e voltaste? E teu marido ficou lá?
Eleonora: Ficou em São Paulo. Eu fui sozinha com minha filha.
Joana: Tu fosse sozinha. Ai tu voltasse...
Eleonora: Com o grupo do POC.
Joana: Tá. Tu voltasses um mês depois...
Eleonora: Um mês depois...
Joana: E aí fosse presa em seguida?
Eleonora: Fui presa três meses depois.
Joana: Vocês estavam certos em querer sair.
Eleonora: Sim. Completamente certos de querer ficar no Brasil.
Joana: uhum.
Eleonora: Aí eu fui presa em 1971 dia 11 de julho com ela...
Joana: Tavas com ela.
Eleonora: Ela tinha um ano e dez meses.
Joana: Fosse presa como? Em casa?
Eleonora: Eu fui presa na casa de uns tios do meu ex-marido porque nesse mesmo dia ele tinha ido pra Uberaba clandestino pro velório da mãe dele. E eu fui deixar a Maria na casa desses tios. Aí quando nós chegamos a OBAN já estava lá.
Joana: Tsiiii.
Eleonora: E aí eram dezessete homens armados pra me prender. E isso era uma hora da tarde. Às seis horas eu fui pra OBAN, e eu me separei dessa minha filha dizendo que ia para o dentista bruscamente.
Joana: E ela tava com o que?
Eleonora: Um ano e dez meses.
Joana: Um ano e dez meses.
Eleonora: E aí no processo foi todo mundo preso. Meu ex-marido foi preso no enterro. E durante o processo de tortura, que durou 72 dias na OBAN, de todas as formas de tortura a minha filha com um ano e dez meses foi torturada na minha frente tomando choque. Então este foi o episódio. O que fez o pré-natal e poderia ter feito o meu aborto era médico da OBAN – o torturador, ele ainda hoje tem uma clínica de aborto em São Paulo.
Joana: Barbaridade.
Eleonora: E ele que me...e ele que nos dava a injeção pra gente voltar da tortura. Então é esta figura hoje que o CRM está sempre...tá caçando, o CRM e eu tenho ido no CRM várias vezes e na Justiça depor contra ele na Comissão dos Mortos e Desaparecidos. É aí eu fiquei, minha filha foi morar pra com a minha mãe, e eles não torturaram a minha filha na frente do meu ex-marido.
Joana: Tá. Foi só na tu frente.
Eleonora: Só na minha frente. E isso foi o momento decisivo pra eu descobrir a importância que a
maternidade tinha pra mulher e a importância que qualquer instância social de poder...
Joana: uhum.
Eleonora:... fazia uso do corpo da mulher e da maternidade, né? Isso me fez a pensar... me colocou a pensar e refletir muito no sentido de que qual era a relação do centralismo democrático, da esquerda com a questão da mulher. Por que eu fui me descobrir feminista na tortura?
Joana: uhum. E tu percebestes a diferença. 
Eleonora: Eu percebi absolutamente a diferença, e não só a diferença na tortura, porque a tortura de homens e mulheres ela foi completamente diferente, tinha o uso do corpo da mulher o que não tinha o uso do corpo do homem.
Joana: uhum.
Eleonora: Tinha o uso da suposta fragilidade materna.
Joana: uhum.
Eleonora: Né? E em detrimento da suposta força de virilidade masculina...do pai.
Joana: uhum.
Eleonora: E também ao repensar toda a minha trajetória de esquerda eu pude perceber as relações de
poder muito forte de gênero na esquerda.
Joana: uhum.
Eleonora: Então essas duas coisas foram fundamentais pra eu me tornar feminista. E evidentemente
que o meu encontro com o feminismo ele nasce muito com uma transversalidade da questão de classe
social.
Joana: uhum, uhum.
Eleonora: Porque eu vim desse lugar.
Joana: Certo. Tu estavas entrando por questão de classe.
Eleonora: Eu vim desse lugar.
Joana: uhum.
Eleonora: E...
Joana: Mas eu queria saber mais, por favor.
Eleonora: Pode continuar.
Joana: Tu me falaste que tu começasses também a observar a questão da mulher, das relações no
interior da tua própria organização, das organizações das quais tu participastes, além da questão dos
órgãos de repressão havia também. Tu poderias, porque há pouco tu me contaste que a tua filha foi torturada na tua frente, e que também usaram contigo uma tortura diferente da do teu marido.
Eleonora: Sim, sim.
Joana: E com relação ao fato de...
Eleonora: Só ao fato dela ter sido torturada só na minha frente e não na dele...
Joana: e não na dele... é...
Eleonora: ... já é... tem um significado.
Joana: Já. E com relação às organizações das quais tu participavas?
Leonota: Há... primeiro que as mulheres dificilmente chegavam a um cargo de poder...
Joana: Mas tu eras a chefe?
Eleonora: Eu era. Fui uma das poucas. Por que? Eu me travesti de masculino...
Joana: É? Como era?
Eleonora: Eu tinha atitudes masculinas, eu tinha atitudes...Quais são as atitudes masculinas?
Determinar entre... simbolicamente e a representação do masculino...
Joana: uhum, uhum.
Eleonora: Era decidida, determinada, forte, sabia atirar...
Joana: uhum.
Eleonora: Entendeu?
Joana: Entendi.
Eleonora: Sendo que muitas mulheres sabiam isso tudo.
Joana: Certo.
Eleonora: Transava com vários homens.
Joana: Certo.
Eleonora: Essa questão do desejo e do prazer sempre foi uma coisa muito libertária pra mim, e por isso
eu fui muito questionada dentro da esquerda.
Joana: É?
Eleonora: É. 6
Joana: Dentro do mesmo grupo do qual tu eras a líder?
Eleonora: Sim. Porque o próprio... por questões de segurança eu só poderia ter relação sexual com os companheiros da minha organização.
Joana: Certo.
Eleonora: Num determinado momento sim, mas na história do movimento estudantil também já existia isso.
Joana: Certo. Eu acho que tem alguém tocando a porta. (Interrupção)
Joana: Então, nós estávamos na organização. Tu estavas dizendo que tu sentiste isso a partir do fato de que tu observasses que as mulheres nunca ocupavam ou dificilmente ocupavam...
Eleonora: Em sua maioria não ocupavam um cargo de direção.
Joana:... e também a questão da transa.
Eleonora: A questão da transa e a outra questão, por exemplo...
Joana: Mas, estavas me contando que para...por questões de segurança só transava no interior do grupo.
Eleonora: Isso muito, muito recente, muito próximo à prisão.
Joana: Certo.
Eleonora: Porque ao longo do movimento estudantil...
Joana: uhum.
Eleonora:... eu transava com todos...
Joana: Sim.
Eleonora:... independente da minha organização.
Joana: Certo.
Eleonora: À medida que a situação de repressão foi ficando cada vez mais forte...
Joana:... uhum.
Eleonora:... aí, evidentemente, que eu mesma tinha os meus critérios...
Joana. Certo, de seleção de parceiros.
Eleonora:...de seleção de parceiros daqueles que estavam na mesma organização que eu.
Joana: Tá.
Eleonora: Mas existia uma regra.
Joana: Que regra era essa?
Eleonora: Que você só podia ter relação sexual entre as pessoas da sua célula.
Joana: Tá. E os homens, acontecia isso também? Ou era só com as mulheres?
Eleonora: Há, era só com as mulheres.
Joana: Porque os homens transavam com outras.
Eleonora: Transavam, transavam, transavam, transavam. E a outra coisa que era muito marcante na esquerda... na clandestinidade na esquerda, se por um lado a esquerda, veja bem eu não tenho a menor dúvida disso, nos liberou...
Joana: uhum.
Eleonora:... nos colocou um horizonte de vida, nos liberou
Joana: uhum.
Eleonora:... do ponto de vista político, sexual, de mentalidade com um projeto de sociedade, isso gera um combate muito forte entre família nuclear e a esquerda. Militar na esquerda tinha uma questão
muito... o centralismo democrático era muito forte.
Joana: Tá.
Eleonora: Então a sua opinião... a sua percepção, os seus sentimentos não poderiam ser extravasados.
Joana: uhum.
Eleonora: Os seus medos, suas dores, suas saudades.
Joana: Certo.
Eleonora: Não poderiam. E as mulheres, eu digo isso muito, para serem aceitas e ascenderem cargos
de direção elas tinham que ter atitudes muito consideradas pela esquerda que os homens é que tinham.
Joana: Certo. Certo 7
Eleonora: E ao longo do processo da esquerda, e ao longo do processo de cadeia, porque eu fiquei três anos e oito meses presa.
Joana: E o teu marido?
Eleonora: Também ficou quatro.
Joana: uhum.
Eleonora: Na cadeia que as... foram se desmanchando as organizações e a convivência se tornou mais íntima entre nós de outras organizações? Ficou muito claro a questão da relação com as mulheres.
Joana: Certo.
Eleonora: Era uma relação de poder.
Joana: uhum.
Eleonora: Agora nós ocupamos cargos, mas a maioria de mulheres que era aceita, transvestia-se de
masculina.
Joana: Certo.
Eleonora: Ela era, você podia dizer, que era um reflexo das relações de poder da sociedade, mas essa
questão não se colocava pra nós, hoje é uma leitura que eu faço...
Joana: uhum
Eleonora:... bem pós pós pós pós...
Joana: uhum. Uhum.
Eleonora:... pós- o período....
Joana: Certo.
Eleonora:... não pós-modernidade, pós- o período.
Joana: Pós- o período. Entendo.
Eleonora: Pós- o período. Então nesse sentido as únicas mulheres que eram direção da minha
organização era tres.
Joana: Bom começo.
Eleonora: Todos masculinos.
Joana: Certo.
Eleonora: Todos homens.
Joana: Eu quero voltar a tua filha. Eles torturaram ela na tua frente, mas a tua família não a recuperou?
Eleonora: A minha filha... a minha família a recuperou após dez dias.
Joana: Dez dias. Então ela ficou contigo dez dias.
Eleonora: Ela não ficou comigo, ela ficou no exército e eu fiquei no DOI-CODI.
Joana: Certo.
Eleonora: Eu não sei com quem ela ficou.
Joana: Certo.
Eleonora: Hoje sei.
Joana: Certo.
Eleonora: Que a irmã do meu ex-marido ficava indo muito lá.
Joana: Certo.
Eleonora: Isso me transmitiram.
Joana: uhum
Eleonora: Depois ela foi recuperada pela minha mãe. Ela foi criada pela minha mãe esses...
Joana: Esses três anos e pouco que tu ficaste lá.
Eleonora: É. Ela ficou até os cinco anos de idade ela ficou com a minha mãe, cinco e pouco. Depois eu sai da cadeia em 74, fui pra Belo Horizonte, morei com a minha mãe uns meses e depois meu exmarido saiu e nós começamos um processo de recuperação dela.
Joana: Certo.
Eleonora: Que foi ...
Joana: Que não deve ter sido fácil, não é?
Eleonora: Isso foi muito doloroso porque o sentimento de perda dela era absurdo...
Joana: Porque ela não reconhecia vocês? 8
Eleonora: Não, ela não nos reconhecia como pai e mãe nem como pessoas..né?...
Joana: Em suas relações.
Eleonora: Em minhas relações. E depois imediatamente eu quis ter outro filho...
Joana: uhum.
Eleonora:... e muito no sentido de pra provar para os torturadores, mesmo que fosse simbolicamente, que o que eles tinham feito comigo não tinha me tirado a possibilidade de reproduzir e de ter uma escolha sobre meu próprio corpo...
Joana: uhum.
Eleonora:... então eu tive mais um filho e logo que ele nasceu também de cesária eu me laqueei.
Joana: Certo.
Eleonora: então...eu tinha...eu fui presa com 24 para 25 mais ou menos...
Joana: Nossa senhora.
Eleonora:...e sai com 30.
Joana: Certo.
Eleonora:... assim, da história toda e com 30 para 31 tive o meu segundo filho e fiz a laqueadura de trompas...
Joana: Certo.
Eleonora:... já em Belo Horizonte.
Joana: E tu continuaste com o teu marido mais tempo?
Eleonora: Não.Ai quando esse meu filho Gustavo nasceu, a menina chama Maria, eu fiquei mais um ano...
Joana: uhum.
Eleonora:... e nós nos separamos.
Joana: uhum.
Eleonora: E... ao longo da cadeia e depois da readapta...da reabilitação (risos), da resociabilização no mundo social nós tivemos várias crises, porque é muito difícil ser casal que vai preso junto, que sofre tudo junto, que vê as forças e as fragilidades um do outro, e de todo um projeto que se desmoronou continuar junto.
Joana: Imagino.
Eleonora: Muito difícil, muito difícil. Hoje eu sou muito amiga dele. Nós temos uma relação muito boa, mas é uma relação em que eu criei os filhos.
Joana: Entendi.
Eleonora: É uma relação muito de ele aparece.
Joana: Certo. Como na maioria dos casos.
Eleonora: Na maioria, ele aparece. E os meus filhos tiveram que depois de adultos criar uma relação com este pai que era um pai ausente no sentido da manutenção.
Joana: Certo.
Eleonora: Do prover.
Joana: E então, tu saísses da cadeia em 74.
Eleonora: Certo.
Joana: Tu tiveste algum contato com o feminismo dentro da cadeia, com leituras feministas...
Eleonora: Não.
Joana:... ou depois?
Eleonora: Não, não. Ao longo da cadeia eu tive... Durante a cadeia? Eu tive muitas reflexões com as minhas companheiras de cadeia...
Joana: Tá.
Eleonora:... uma delas é a Dilma Roussef (atual ministra de Minas Energia)
Joana: uhum.
Eleonora:... que é Ministra das Minas e Energia, e hoje outras que são do PSDB, mas todas feministas, se tornaram feministas...
Joana: Certo, dentro da cadeia elas estavam? 9
Eleonora: Dentro da cadeia porque nós começamos...
Joana: Fizeram uma espécie de grupo de consciência?
Eleonora: Grupo de reflexão lá dentro...
Joana: Grupo de reflexão.
Eleonora:... por que fomos nós que estamos...
Joana: uhum.
Eleonora:... que fizemos, voltaríamos a fazer sim, mas e o nosso corpo e a nossa sexualidade.
Joana: uhum.
Eleonora: Entendeu?
Joana: E antes disso tu nunca tinhas participado de uma coisa dessa, um grupo de reflexão?
Eleonora: Nunca, nunca, nunca, nunca.
Joana: E tinhas lido em algum momento antes algumas das obras?
Eleonora: Não. Nenhuma, nenhuma. Eu li pela primeira vez em 75...
Joana: Certo. Já estavas fora da cadeia um ano.
Eleonora: Porque eu já saí...é...eu já saí em 74 eu saí em outubro...
Joana: Certo.
Eleonora:... no dia 12, Dia da Criança, eu saí já bem claro que eu era feminista.
Joana: Certo.
Eleonora: E logo que eu saí da cadeia, eu em Belo Horizonte eu fui procurar um grupo de mulheres.
Joana: Esses grupos de consciência?
Eleonora: É, só que era um grupo de lésbicas...
Joana: Certo.
Eleonora:... e eu não sabia. Era um grupo de pessoas amigas minhas...
Joana: uhum.
Eleonora: e que era...era o único grupo feminista que tinha lá.
Joana: Que tinha lá. Uhum.
Eleonora: E eu de cara fui maravilhosamente bem acolhida, e eu me senti muito bem
Joana: Certo.
Eleonora: Me senti muito bem. E então eu recuperando...é...no processo de recuperação minha póscadeia...
Joana: uhum.
Eleonora: Porque eu voltei a estudar!
Joana: Ah, legal!
Eleonora: Eu parei de estudar em 68.
Joana: uhum.
Eleonora: Eu parei no quarto ano de Medicina e no quarto de Ciências Sociais.
Joana: Fosse concluir?
Eleonora: Fui, aí eu voltei pra concluir...
Joana: Certo.
Eleonora:...na UFMG, e optei por acabar Sociologia.
Joana: Sociologia.
Eleonora: Porque a Medicina estava um caos...um horror.. eu estava questionando muito e o que eu
havia passado na cadeia, me afastou mito da medicina, do cuidado, etc,......
Joana: uhum.
Eleonora:... porque durante a cadeia, eu pós-tortura eu fui...eu fiquei sem andar muitos... uns dois anos
e fui fazer...é...
Joana: Tu andavas de cadeira de roda ou de muleta?
Eleonora: De cadeira de roda e de muleta.
Joana: Nossa.
Eleonora: É. E fui... eu tratava no Hospital das Clínicas, e o Hospital das Clínicas de São Paulo estava sob intervenção.
Joana: uhum.
Eleonora: E eu...eles decidiram que eu seria operada da coluna. E aí um ex-companheiro de cadeia que
tinha saído, que era médico, descobriu que eu ia ser...
Joana: Operada.
Eleonora:... operada e impediu a cirurgia.
Joana: uhum.
Eleonora: Eu já estava anestesiada.
Joana: Báhhh.
Eleonora: Porque eu não tinha hérnia de disco e eles diziam que eu tinha. Eles iam me aleijar...
Joana: Claro.
Eleonora:...e me tirou. Então isso mexeu muito comigo...
Joana: Certo.
Eleonora:... do ponto de vista de profissão...
Joana: Imagino.
Eleonora: O quê que eu vou fazer com a Medicina?
Joana: uhum, uhum.
Eleonora: Ai que terminei Sociologia, e quando eu fui terminar Sociologia os meus calouros de
Ciências Sociais eram os meus professores.
Joana: Ah!
Eleonora: Então foi muito legal, muito bacana, porque eles... primeiro que eles tinham o maior orgulho
de serem os meus professores...
Joana: Certo.
Eleonora:...e eu de estar lá terminando.
Joana: Sentiste entre amigos, no caso?
Eleonora: Entre amigos e tudo. E aí fiquei em Belo Horizonte, terminei, tive meu segundo filho.
Joana: uhum.
Eleonora: E não quis imediatamente me integrar a nenhum grupo de esquerda que tinha...
Joana: Tá.
Eleonora:...como eu não quis até agora.
Joana: Mas te integrasse nesse grupo...
Eleonora: De mulheres.
Joana:...de mulheres?
Eleonora: Não, aí começa a minha trajetória...
Joana: Certo.
Eleonora:...feminista.
Joana: Tu te lembras quando foi que tu foste nesse grupo?
Eleonora: Lembro, foi maio de 75. Aí eu tive...
Joana: 75. Bem no Ano Internacional da Mulher.
Eleonora: É. Aí eu tive o contato com “A Dialética do Sexo” da Sulamita Firestone.
Joana: Era isso que eu queria ouvir.
Eleonora: Me enlouqueceu!
Joana: Como foi que você leu? Você teve o livro na mão? É isso?
Eleonora: Elas me...
Joana: Elas te emprestaram?
Eleonora:... me emprestaram o livro, e eu sai louca e fui para comprar.
Joana: Foste comprar.
Eleonora: E aí elas dizem “Não, compra O Segundo Sexo também”, e eu falei “Ah, aquela bobagem?”,
assim.
Joana: Aquela bobagem?
Eleonora: É, porque perto da Sulamita é bobag...
Joana: Certo. 11
Eleonora:... naquela época. E eu era muito...eu já era muito libertária nessa sentido...
Joana: Certo.
Eleonora: ... então eu fui atrás, Minto, desculpa, um equívoco, na minha formação marxista eu li a
Alessandra Kolontai...
Joana: Certo.
Eleonora:... muito, a Juliet Mitchel...
Joana: Certo.
Eleonora:...e.... a Alessandra e a Juliet Mitchel.
Joana: Isso quando tu eras estudante?
Eleonora: Estudante e militante. Eu lia muito.
Joana: Certo. Mas não leste como uma feminista? Leste por causa do Partido.
Eleonora: Não. Li como esquerdista. Li como esquerdista. Que queria ler e achava a vida delas
fantástica.
Joana: O que tu lesse das duas?
Eleonora: A Alessandra Kolontai eu li “Minha vida” na época, da Sulamita eu li “A Revolução da
Psicanálise”, é... não, da Juliet Mitchel eu li “A Revolução da Psicanálise”, e depois eu vim ter um
contato que mexeu muito comigo, como eu criticando, mais eu não tinha muitos parâmetros para
criticar, foi é a história da família, da propriedade...
Joana: Engels.
Eleonora:... e do Engels.
Joana: Isso foi durante a tua formação de esquerda.
Eleonora: Minha formação.
Joana:... de esquerda? E aí depois...
Eleonora: É. Não, formação comunista.
Joana: Pois é, formação de esquerda, no caso.
Eleonora: De esquerda.
Joana: Quando tu entrasses neste grupo foi que tu tivesses contato com a Sulamita?
Eleonora: Sulamita.
Joana: Tá.
Eleonora: Sulamita é um marco na minha vida.
Joana: Tá bem.
Eleonora: E...
Joana: E comprasse O Segundo Sexo também?
Eleonora. Aí eu comprei O Segundo Sexo ...
Joana: E leste em seguida?
Eleonora: Li O Segundo Sexo. Fiquei muito apaixonada ...
Joana: Certo.
Eleonora:... também...
Joana: Betty Friedan Não?
Eleonora:...teve... não porque a Betty Friedan...
Joana: É 71 ela aqui no Brasil.
Eleonora: “A Mística Feminina”.
Joana: Isso.
Eleonora: Não, “A Mística Feminina” eu li em 76.
Joana: Certo. Um pouco depois, talvez?
Eleonora: Um pouco depois, quando foi traduzido.
Joana: Sim, mas foi traduzido em 71.
Eleonora: 71? Bem, eu tive acesso...
Joana: Certo. Não lembras quando?
Eleonora: Não, mas foi tudo nessa época de final de 74 até eu entrar para esse grupo...é...75...
Joana: Tu passaste a ter várias leituras. 12
Eleonora: Eu a ter várias leituras. Reli...
Joana: uhum.
Eleonora... a Alessandra. Reli a Juliet, e já fui mais generosa com elas.
Joana: Certo:
Eleonora: Do ponto de vista de mulher.
Joana: Sim, sim.
Eleonora: E eu fui nesse ni... ai já nessa época eu radicalizei meu feminismo. Eu comecei a militar.
Joana: Onde?
Eleonora: Em Belo Horizonte eu comecei a militar neste grupo.
Joana: Neste mesmo grupo?
Eleonora: É
Joana: O quê que se fazia além de discutir?
Eleonora: Nós discutíamos o corpo...
Joana: Certo.
Eleonora:... discutíamos a sexualidade, eu tive a minha primeira relação com mulher também...
Joana: uhum.
Eleonora: Quer dizer, que foi bastante precoce pra essa...e transava com homem...
Joana: Certo.
Eleonora:...pra minha trajetória.
Joana: Mesmo porque tu também estava com o teu marido eu acho, não estavas?
Eleonora: Sim, sim.
Joana: Estavas. Aham.
Eleonora: Mas nós nunca tivemos esse... e ele era um cara muito libertário. Nós nunca tivemos essa
questão de relação...
Joana: Certo.
Eleonora:... muito marginal em Belo Horizonte....
Joana: Sim. A militância em que no sentido que tu estas dando é no sentido de discussão?
Eleonora: No sentido de discussão e de priorizar a minha vida.
Joana: Certo.
Eleonora: Eu deixei de militar em organizações de esquerda...
Joana: Certo.
Eleonora:... e fui militar no feminismo...
Joana: Certo.
Eleonora:... em grupos de reflexão.
Joana: uhum.
Eleonora: Ali junto com esse grupo de mulheres feministas lésbicas.
Joana: uhum.
Eleonora: Ai esse grupo foi se ampliando...
Joana: uhum.
Eleonora:... e se desdobrando em grupos de reflexão, em grupos de criar um jornal, mesmo que fosse
um jornal de divulgação mão-a-mão, né?
Joana: E vocês chegaram a escrever isso?
Eleonora: Chegamos a escrever...
Joana: E como é que se chama esse jornal?
Eleonora: “Pensando a mulher”, era um jornalzinho de Belo Horizonte...
Joana: hum...
Eleonora: É.
Joana: Tu não tens ele?
Eleonora: Eu devo ter na minha casa.
Joana: É. 13
Eleonora: Devo ter uma cópia. Depois em 76 eu começo o processo de articulação mais nacional com
o feminismo...
Joana: Tá.
Eleonora:... via Belo Horizonte 75, 76.
Joana: De que jeito?
Eleonora: Começo com o S.O.S Mulher do...
Joana: Tu começasses a participar do S.O.S Mulher lá dentro de Belo Horizonte, é isso?
Eleonora: S.O.S. de Belo Horizonte fazendo a ponte com o S.O.S Mulher de São Paulo.
Joana: Tá.
Eleonora: Ai que eu conheço a Jacira, a Schuma...
Joana: Diga o nome completo delas, por favor?
Eleonora: Jacira Melo, Maria Aparecida Schumarer, a Teresa Verardo, um reencontro com a Iara
Prado, que era minha ex-companheira de cadeia...
Joana: Certo.
Eleonora:... que hoje é tucana, mas muito feminista com a Bete Vargas...
Joana: Certo.
Eleonora:... que é de Porto Alegre. É...com a... já estabelecendo um vínculo muito forte com a Celina
Albano em Belo Horizonte, que hoje é secretária de cultura da prefeitura. E aí nesse processo entra a
discussão do Ano Internacional da Mulher...
Joana: Certo.
Eleonora:... em 75. E aí começam os encontros feministas.
Joana: Tu participaste?
Eleonora: Participei de todos eles. O de Belo Horizonte...não...aí participei do de Valinhos que foi um
boom do ponto de vista de levantar as questões da sexualidade, o de Belo Horizonte que foi na
faculdade de Filosofia, depois o do Rio de Janeiro, e aí eu me mudo final de 77 princípio de 78, e eu
me separo, e nessa época eu trabalhava em Belo Horizonte na...num órgão do governo estadual por
ajuda... que ajuda assim que mesmo eu sem ter ainda o processo de anistia...
Joana: uhum.
Eleonora:... eu fui contratada como técnica de um órgão superintendente de planejamento urbano, o
XXX, então eu trabalhava lá. E aí no início de 78 eu já tinha me separado do meu ex-marido e resolvo
sair de Belo Horizonte. Aí quando eu saio de Belo Horizonte eu busco um lugar bem longe porque eu
não queria mais ser referência para a esquerda.
Joana: Entendi.
Eleonora: Porque é uma carga muito pesada.
Joana: Imagino.
Eleonora: Muito pesada.
Joana: Todo mundo te espia.
Eleonora: Me espia e me demanda.
Joana: E cobra.
Eleonora: Me chupa e me demanda, e eu não queria mais aquilo naquele momento. Eu queria viver a
minha individualidade, a minha sexualidade...
Joana: uhum.
Eleonora:...e eu não podia. Então eu procurei isso sou muito amiga, por incrível que pareça, a vida
inteira do Frei Beto e pedi a ele pra me encontrar um lugar o mais longe possível de Belo Horizonte.
Aí ele falou “Eu tenho dois lugares onde a Diocese é muito aberto, em Vitória com Dom Luís ou em
João Pessoa com Dom José Maria Pires. Eu falei “Eu quero João Pessoa”, quanto mais longe melhor.
Não tinha nem avião, eu fui de ônibus gastei 58 horas.
Joana: Foste com teus filhos?
Eleonora: Com os dois filhos.
Joana: Sim. 14
Eleonora: E João Pessoa foi... eu digo que João Pessoa de 78 a 84 foram anos fundamentais na minha
vida e no meu reencontro comigo mesma.
Joana: uhum.
Eleonora: Porque eu cheguei lá sem cartão de apresentação e sem...
Joana: A Frei Beto?
Eleonora: É... mas assim, eu cheguei, eu. Eu tive que construir minha vida.
Joana: uhum. Fosse trabalhar?
Eleonora: No Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba.
Joana: Tá legal.
Eleonora: E aí eu comecei a trabalhar com as mulheres rurais de Alagamar, que era o que eu queria, na
época muito pesado trabalhar com os movimentos de trabalhadoras rurais, e comecei , logo depois retomei um grupo, a minha atividade de grupo de reflexão feminista com algumas mulheres em João Pessoa. A maioria de fora de João Pessoa e duas de dentro...
Joana: uhum.
Eleonora:... de João Pessoa. Então nós criamos o primeiro grupo feminista lá em João Pessoa chamado Maria Mulher.
Joana: Olha só!
Eleonora: É. Esse Maria Mulher...
Joana: Já ouvi falar.
Eleonora:... foi um grupo fortíssimo que teve desdobramento, hoje o CUNHA é um desdobramento
dele. Críamos esse grupo, esse grupo foi fortíssimo...
Joana: Também teve um jornal?
Eleonora: Não.
Joana: Não chegou a ter?
Eleonora: Esse grupo não chegou a ter. Esse grupo chegou a ter várias publicações chamadas Maria Mulher...
Joana: É?
Eleonora: É. Esse termo de história em quadrinho...
Joana: uhum.
Eleonora: E...
Joana: Tipo divulgação?
Eleonora: É, da questão da mulher.
Joana: uhum. Divulgação da questão da mulher.
Eleonora: É. Nós trabalhávamos com a questão da violência, contra a violência contra a mulher. Fizemos uma enorme...um enorme movimento de visibilidade contra o assassinato de uma poetisa lá chamada Violeta formiga que foi assassinada por um cara de classe alta, seu ex-marido...
Joana: uhum.
Eleonora:... senhor do engenho rural e da alta burguesia. E nós fomos pra rua. Fomos pra “quem ama não mata” naquela insígnia que o Brasil estava...
Joana: Estás falando da Diniz?
Eleonora: É. “Quem ama não mata” e O silêncio é cúmplice da violência, e aí começamos a nos
articular dentro do Nordeste.
Joana: Tá.
Eleonora: Era o S.O.S Mulher...o S.O.S Corpo e um grupo de reflexão que tinha em Natal...
Joana: uhum.
Eleonora:... de auto-reflexão, e o Maria Mulher o quê que nós fazíamos? Nós fazíamos auto-exame de colo de útero, auto-exame de mama...
Joana: O que tu fez de Medicina estava ajudando?
Eleonora: Estava ajudando muito. Trabalho com violência contra a mulher e trabalho de sensibilização e cursos de educação pra mulheres da periferia e mulheres rurais.
Joana: Vocês tinham apoio financeiro?
Eleonora: Nenhum.
Joana: Quer dizer, por conta própria.
Eleonora: Eram grupos de auto-ajuda. Naquela época não tinha as agências financiadoras.
Joana: Não tinha é.
Eleonora: Grupos de auto-ajuda. Com esse grupo nós colocamos o feminismo paraibano no nível
nacional, e ele foi se fortalecendo muito, esse grupo. Por causa desta militância toda... aí eu feminista, eu tive minha casa em João Pessoa incendiada.
Joana: Nossa!
Eleonora: É.
Joana: Isso foi em que ano?
Eleonora: Foi em 81.
Joana: 81.
Eleonora: Foi durante a primeira greve de professores, eu era da ANDES e também era feminista.
Joana: A essas alturas tu já eras professora de novo?
Eleonora: Ai eu entro para a Universidade Federal da Paraíba como colaboradora 80 que existia...
Joana: Tu ainda não tinhas mestrado?
Eleonora: Não. Eu fui fazer...fiz o meu mestrado na Paraíba, em Sociologia do Trabalho...
Joana: Depois de 81?
Eleonora: É. Terminei em 82, 83...aí encontro na Paraíba a Lourdes Bandeira que já estava na Paraíba
também. E aí eu entro para a Universidade...
Joana: Certo.
Eleonora:...eu faço concurso e entro pra Universidade.
Joana: uhum.
Eleonora: Não, eu entrei pra Universidade mais cedo. Eu entrei pra Universidade em 78, eu chego em
78. E nesse momento da primeira greve com as questões feministas, a minha participação em... (toca
um celular)
Eleonora: Só um minutinho.
(Interrupção da gravação)
Joana: Tu estavas dizendo que entraste na Universidade pra dar aulas como...
Eleonora: Colaboradora.
Joana:...colaboradora em 78.
Eleonora: Em 78. E na greve de 82, que fomos todos incorporados, eu entro para o quadro permanente da Universidade.
Joana: Ah tá.
Eleonora: Entendeu? Mas eu dava aula até naquele contrato de colaboradora 80.
Joana: uhum.
Eleonora:...que tinha nas universidades federais. Foi durante a primeira greve nacional, eu era do comando de greve , eu estava voltando de Olinda com o Francisco Julião e quando cheguei , minha casa havia sido destruída por uma bomba...
Joana: Certo.
Eleonora:...e voltei junto com ele. Eu dei carona pra ele, e quando eu chego a minha casa estava incendiada.
Joana: Nossa. E foi incêndio criminoso?
Eleonora: Foi criminoso, teve processo, teve...
Joana: Nossa.
Eleonora: Foi.
Joana: Não descobriram quem era?
Eleonora: Não, mas há ainda suspeitas bem...bem claras que foi um latifúndiário.
Joana: Certo.
Eleonora: Exatamente por causa, não só do meu trabalho feminista, mas meu trabalho de mulheres com as trabalhadoras rurais.
Joana: Certo.
Eleonora: E aí é que eu conheço a Margarida Alves, a Penha, que morreu com a Bete Lobo, e eu passo a ter uma...elas passam a ter uma importância muito grande na minha vida e vice-versa.
Joana: uhum, uhum.
Eleonora: E aí eu...
Joana: Fala, e daí tu fosse fazer mestrado...
Eleonora: Não, eu fiz mestrado na Paraíba.
Joana: Na Paraíba mesmo.
Eleonora: Na Paraíba mesmo.
Joana: Isso em 81, 82...
Eleonora: Eu terminei de 82 para 83.
Joana: Certo.
Eleonora: Meu mestrado foi O Feminismo:o reinventar da educação...
Joana: Certo.
Lenora:...a partir de práticas feministas.
Joana: E isso foi na Educação?
Eleonora: Não, foi na Sociologia.
Joana: Na Sociologia.
Eleonora: Na Sociologia do Trabalho.
Joana: Tá.
Eleonora: Eu fiz com um grupo de mulheres da periferia...
Joana: Tá.
Eleonora:...em João Pessoa mesmo.
Joana: Tá.
Eleonora: Depois em 84 eu venho pra São Paulo fazer doutorado na Ciência Política, já
articuladíssima...
Joana: Imagino.
Eleonora:...com o feminismo, e com linhas de pesquisa bem definidas do ponto de vista feminista.
Joana: Quem é que te orientou em São Paulo?
Eleonora: Em São Paulo foi a Maria Lúcia Montes, uma antropóloga. Embora na época ela fosse da Ciência Política. E em 84 eu faço, entro para o doutorado com uma tese que era sobre Direitos Reprodutivos e Direitos Sexuais a partir...é...a construção da cidadania a partir do conhecimento sobre o próprio corpo.
Joana: Isso por conta do teu trabalho com as mulheres? Certamente, claro.
Eleonora: Por conta do meu trabalho com as mulheres em uma favela chamada Favela Beira-Rio.
Joana: Certo.
Eleonora: Lá em João Pessoa.
Joana: uhum.
Eleonora: Que hoje é um bairro. Então nesta época eu fiquei quatro anos em São Paulo fazendo a tese e voltando a João Pessoa
Joana: Por que os meninos ficaram lá?
Eleonora: Comigo em São Paulo.
Joana: Em São Paulo.
Eleonora: Em São Paulo. E aí fui coordenadora do grupo de Mulher e Política da ANPOCS, do GT.
Joana: uhum.
Eleonora: Dois anos...dois mandatos seguidos, e voltei pra João Pessoa. Aí em São Paulo eu integrei um grupo do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Eu a Maria José Oliveira, a Vera Soares, a Tereza Verardo a Margareth Lopes, a Magali Marques, críamos o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, que é uma ONG, para atender as mulheres de forma diferenciada com respeito a... E nesse período estive também pelo Coletivo fazendo um treinamento de aborto na Colômbia.
Joana: Certo. 17
Eleonora: O Coletivo nós críamos em 95...
Joana: Como é que era esse curso de aborto?
Eleonora: Era no Clínicas em Aborto...a gente aprendia a fazer aborto...
Joana: Aprendia a fazer aborto.
Eleonora: Com aspiração AMIU
Joana: Com aquele...
Eleonora: Com a sucção.
Joana: Com a sucção. Imagino. Uhum.
Eleonora: Que eu chamo de AMIU . Porque a nossa perspectiva no Coletivo, a nossa base...
Joana: Que as pessoas se auto...auto...fizessem
Eleonora: Auto-capacitassem, e que pessoas não médicas podiam...
Joana: Claro.
Eleonora:...lidar com o aborto.
Joana: Claro.
Eleonora: Então vieram duas feministas que eram clientes, usuárias do Coletivo, as quais fizeram o primeiro auto-exame comigo. Então é uma coisa muito linda...
Joana: uhum.
Eleonora:...muito bonita, descobrirem o colo do útero e...
Joana: uhum.
Eleonora:...ter uma pessoa que segura na mão.
Joana: Certo.
Eleonora: E elas dão esses depoimentos em vários encontros. E depois em São Paulo, em... ...em 89...
Joana: Já devias ter defendido a tese a essas alturas?
Eleonora: Não, eu defendi em 90.
Joana: Defendesse em 90.
Eleonora: 90. Em dezembro de 90. Eu voltei pra Recife. Voltei pra João Pessoa e morei em Recife.
Joana: uhum.
Eleonora: Trabalhei tanto no Maria Mulher e na volta, em 90, eu pedi transferência pra Universidade Federal de São Paulo, a então Escola Paulista de Medicina, porque meus filhos queriam ficar em São Paulo...
Joana: Certo.
Eleonora: Eu pedi transferência....
Joana: E foi tranqüilo?
Eleonora: Não, foi difícil transferência na época do Collor.
Joana: Imagino.
Eleonora: E ai eu me...eu fui uma das que teve direito de transferência garantida porque eu vim liberada com a seguinte questão, se o Collor ganhar a presidência, e assumir e exigir que todos retornem, a sua transferência é será dada.
Joana: uhmm.
Eleonora: Ele exigiu, ele ganhou e exigiu e a minha transferência foi incentivada. Eu volto...eu
venho...aí nós críamos em 90 a Rede Nacional Feminista de Saúde, em Itapecerica da Serra
Joana: Certo.
Eleonora: E...dentro da Escola Paulista nós temos um núcleo.de estudos e pesquisas em saúde e
realções de gênero. Eu não tinha um Departamento de Medicina Preventiva que me acolhesse ainda, aí eu fiz a escolha de ir para o Departamento de Enfermagem na perspectiva de contribuir com a melhoria da qualidade de assistência das mulheres.
Joana: uhum.
Eleonora:...na ponta dos serviços. Na Escola Paulista eu tive...e nós críamos o Núcleo de Estudo em
Saúde da Mulher e Relações de Gênero, e junto com outro grupo de mulheres feministas, inclusive a
Margareth Rago, a Miriam Grossi, e a Magda Neves, nós fizemos parte de um núcleo que com um
recurso da Ford a partir de um encontro de São Paulo, da Fundação Carlos Chagas... 18
Joana: Certo.
Eleonora:...cria a REDEFEM, cria a Revista de Estudos Feministas...
Joana: Sim.
Eleonora:...e cria esse grupo que ia pensar o ensino feminista através dos núcleos de estudos.
Joana: uhum.
Eleonora: Esse grupo era composto por essas pessoas...
Joana: Sai aquele livro inclusive, “Questão de Gênero”...
Eleonora Exatamente. Exatamente.
Joana: uhum.
Eleonora: E eu continuo com duas linhas....hoje eu sou professora livre docente, do Departamento de Medicina Preventiva com uma tese que se transformou em livro, eu fiz meu pós-doutorado em Milão, na Itália, na Faculdade de Medicina na área de Saúde, Trabalho e Gênero.
Joana: uhum.
Eleonora: Hoje eu coordeno um diretório de pesquisa que é Saúde e Relações de Gênero no CNPq. Eu sou pesquisadora 1B do CNPq, e toda a minha atividade de pesquisa é na área de Saúde e Relações de Gênero, e Saúde da Mulher, com um olhar feminista.
Joana: uhum.
Eleonora: Tem um impacto disso na construção do conhecimento da saúde.
Joana: uhum.
Eleonora: E...no ativismo eu faço parte da Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivo, uma das fundadoras, e até novembro eu ocupo lugar de relatora das Nações Unidas do Direito a Saúde no Brasil.
Joana: Certo.
Eleonora: Fui indicada pela Rede...
Joana: Certo.
Eleonora:...e selecionada curricularmente. E toda a minha produção, tanto acadêmica como o meu pé na militância, no ativismo feminista, ele se dá via duas grandes linhas de pesquisa que é Feminismo, e Saúde e Relações de Gênero. Dentro da Saúde e Relações de Gênero tudo o que diz respeito a Direitos Reprodutivos e Sexuais, Saúde e Trabalho.
Joana: Certo.
Eleonora: E Violência. Hoje eu faço parte da coordenação de um dos serviços de violência que atende mulheres vítimas de violência sexual, que é o da UNEFESP, o da Casa de Saúde, atendemos mulheres que foram vítimas de violência sexual e fazemos o aborto nesses casos.
Joana: Certo.
Eleonora: E também hoje faço parte das Jornadas Brasileiras pela Legalização do Aborto,no grupo de
coordenadoras.
Joana: uhum, uhum. Essa é tua militância atual?
Eleonora: É minha militância atual.
Joana: Tu também fazes parte da REDEFEM eu acho.
Eleonora: Faço, faço parte da REDEFEM, exatamente.
Joana: Estás em várias frentes.
Eleonora: Sou consultora de várias.Revistas e Agências de Fomento..
Joana: Imagino.
Eleonora: Capes, CNPq, barará...barará...barará...Fundação Carlos Chagas.
Joana: uhum.
Eleonora: Agora esses últimos dois anos eu concentrei nesse trabalho de relatoria da ONU...
Joana: uhum.
Eleonora:...e onde foi fantástico porque nós definimos...isso até eu gostaria de dizer, nós definimos como eixo estruturador dessa relatoria, são seis relatorias pra Educação, a Saúde, Água, Terra e
Alimentação, Moradia, Trabalho e Meio Ambiente...
Joana: uhum. 19
Eleonora:... e só sou eu de relatora, o resto tudo é homem. E na relatoria da saúde nós definimos como
os dois grandes eixos estruturadores dos casos paradigmáticos de violência a questão da saúde da mulher e a saúde no trabalho. Na saúde da mulher nós visitamos vários municípios do interior de Recife onde a morte materna é altíssima pra sair do eixo Rio, São Paulo e de Minas Gerais, e a questão do aborto.
Joana: uhum.
Eleonora: Visitamos várias maternidades: duas grandes maternidades do Rio de Janeiro, duas
maternidades do Rio, duas de Belo Horizonte, uma de Fortaleza, onde nós tínhamos recebido notícia que mulheres tinham morrido por aborto e as profissionais tinham sido presas. Na do Rio mais grave, que a profissional algemou a mulher na cama e chamou a polícia.
Joana: Meu Deus!!!
Eleonora: É. Pra prender. Isso foi há seis meses. E a outra Saúde e Trabalho são questões de
contaminação e da questão de método, e essas denúncias são levadas pra ONU. Nós vamos agora para
Genebra, como fomos no ano passado. E duas dela foram para a Organização dos Estados Americanos
para responsabilizar o Estado por essas relações. O Estado brasileiro, é uma questão...a minha questão
feminista faz parte da minha vida integral.
Joana: Eu tô vendo.
Eleonora: Completamente.
Joana: Tu te lembras de mais alguma coisa? Eu acho que eu esgotei as nossas questões.
Eleonora: Eu completei?
Joana: Uhum, completaste.
Eleonora: A não ser que você tenha...
Joana: Bom, eu iria te perguntar se tu autorizas a divulgação da entrevista. Eu vou te mandar de qualquer maneira a transcrição, se tu quiser acrescentar ou tirar alguma coisa.
Eleonora: Quero. Quero. E pra mim, uma questão que eu acho que é importante, é dizer que hoje eu tenho 60 anos e sou avó.
Joana: uhum.
Eleonora: E eu digo que a questão feminista é tão dentro de mim, e a questão dos Direitos
Reprodutivos também, que eu sou avó de uma criança que foi gerada por inseminação artificial na mãe
lésbica.
Joana: uhum, uhum.
Eleonora: Então eu digo que sou avó da inseminação artificial...
Joana: (risos)
Eleonora:...alta tecnologia reprodutiva.E aí eu queria colocar a importância dessa discussão que o
feminismo coloca, no sentido do acesso às tecnologias reprodutivas.
Joana: Certo.
Eleonora: Entendeu? E eu diria...eu fiz dois abortos, e também digo que sou avó do aborto, também porque por mim já passou.
Joana: Sim
Eleonora: Também já passou nesse sentido. E diria que eu sou uma mulher muito feliz e muito
realizada, e eu pauto em duas questões: na minha militância política e no feminismo.
Joana: Certo. A tua história, né?
Eleonora: Que é a minha história de vida e eu acredito que os sujeitos são construídos a partir de sua própria história.
Joana: Claro. Tá certo.
Eleonora: Tô falando isso pra historiadora...
Joana: (risos). Tá certo. Bom, Eleonora eu te agradeço bastante, e se a gente tiver uma outra questão a gente volta a conversar.
Eleonora: Sem dúvida. Estou a disposição.


Gostaram? Isso é Brasil Petralha.