quinta-feira, março 17, 2016

Grupos terroristas Intensificam seu Interesse por crianças para a Jihad.








por Abha Shankar






As crianças tornaram-se um grupo alvo chave para o recrutamento por grupos terroristas que estão cada vez mais se voltando para as mídias sociais para mostrar seus esforços bem-sucedidos em doutriná-los para a jihad. Em janeiro, por exemplo, Wilayat Khorasan (ou "Província de Khorasan"), a ramificação do Estado Islâmico (ISIS) na região do Afeganistão e Paquistão, divulgou um vídeo de propaganda, intitulado "Filhotes do Campo do Califado" que mostrou meninos passando por treinamento para a jihad (foto).




As imagens de vídeo mostraram garotos vestidos com camuflagem aprendendo a disparar rifles de assalto Kalashnikov. Informa-se que o centro de treinamento, provavelmente localizado na província oriental afegã de Nangarhar, é a quarta instalação desse tipo de treinamento do Estado Islâmico na região.

Acampamentos semelhantes estão florescendo abertamente na Síria e no Iraque, onde as crianças estão sendo ativamente recrutadas pelo ISIS para servir como a próxima geração de combatentes do grupo terrorista. Um novo relatório publicado no CTC Sentinel do Combating Terrorism Center de West Point afirma que, no ano passado, pelo menos 89 crianças-soldados do sexo masculino foram elogiadas como "mártires" no Twitter, bem como no canal oficial do Estado Islâmico, Telegram. As crianças-soldados vieram de países tão variados como Iraque, Síria, Iêmen, Líbia e Nigéria, Iêmen, Arábia Saudita, Tunísia, Líbia, Reino Unido, França e Austrália.

Quatro por cento das crianças-soldados morreram realizando missões suicidas e outros 18 por cento eram inghimasis (que significa "mergulhar" em árabe) – isso significava que as crianças lutaram ao lado adultos para atacar posições inimigas com armas automáticas leves e, posteriormente, se mataram ao detonar coletes suicidas, disse o relatório.

As fotografias publicadas das crianças mártires mostrra um consistente "tema de felicidade com a perspectiva do martírio."




As crianças podiam ser vistas "em pé em pomares e prados, cenário presumivelmente escolhido para ecoar o paraíso para o qual eles achavam que estavam destinados."

Outra conclusão importante do relatório era que, ao contrário de outros conflitos, onde as crianças-soldados são uma "estratégia de último recurso" e servem para substituir adultos em batalha, as "crianças soldados" do ISIS estão lutando lado a lado, mais do que em lugar dos homens adultos. "

O recrutamento de crianças não só garante uma próxima geração de combatentes para um grupo terrorista, mas também torna mais fácil a lavagem cerebral de mentes jovens impressionáveis. "Isso já foi feito pelas mesmas razões por Hitler com a Juventude Hitlerista," Charlie Winter da Fundação Quillam, um think tank contra-terrorista com sede em Londres, disse à NBC News.

"Não há termo mais adequado para isso do que lavagem cerebral", Winters acrescentou. "Essas crianças não terão nenhum ponto de referência diferente do jihadismo de modo que a ideologia vai ser muito mais firme em suas cabeças e muito mais difícil de desalojar."

Em outubro, o Canal de Notícias 4 com sede em Londres publicou um vídeo que mostrou exemplos do ISIS "desenvolvendo uma nova geração para o Califado para lutar contra os infiéis." As crianças passam por um rigoroso treinamento físico e juram lealdade ao grupo terrorista, declarando: "Devo ouvir e obedecer mesmo se eu tiver que morrer."

Um ex-instrutor que escapou de um tal campo depois de ter ficado "desiludido pela escala da violência" perpetrada pelo ISIS confessou que o grupo terrorista convence crianças para a jihad, dizendo-lhes que "Está escrito no Alcorão que você tem que lutar a jihad" e que "todos nós vamos morrer mártires e alcançar o céu, todos nós."

As crianças que se recusam a lutar a jihad em nome do ISIS não apenas se arriscam a morrer, mas também sofrem o risco da tortura e outras penas. Em um exemplo horrível, o ISIS cortou mão e um pé de um menino de 14 anos de idade com uma faca de açougueiro como um aviso para as outras crianças não resistirem em pegar em armas em apoio do grupo. O ISIS disse às crianças e adolescentes reunidos: "Este homem é um infiel por isso vamos cortar a mão e pé", e "todos os que lutam contra nós vão ter suas mãos e pés cortados."

As crianças também são incentivadas a espionar seus pais que, por sua vez, se ariscam a morrer se forem contra os filhos se juntarem ao grupo terrorista.

Em julho, o ISIS divulgou um vídeo mostrando um menino decapitando um soldado servindo no Exército Sírio sob a vigilância de um militante sênior perto da antiga cidade de Palmyra. No início do ano passado, o ISIS divulgou outro vídeo que mostra um menino que parecia ter menos de 15 anos de idade decapitar dois supostos espiões russos. Em outro exemplo, Khaled Sharrouf, que deixou a Austrália para aderir aos combatentes do Estado islâmico na Síria, postou uma foto de seu filho jovem segurando uma cabeça decapitada de um homem.

Grupos como o ISIS têm "agressivamente se interessado pelo recrutamento de crianças, oferecendo palestras gratuitas e instruções que incluíam armas e outros treinamentos militares", disse um relatório da Human Rights Watch.

Isto foi confirmado por um relatório das Nações Unidas, que afirmou que crianças a partir dos 12 ou 13 estão sendo recrutados pelo ISIS para se submeter a treinamento militar em Mosul, Iraque. Os meninos que tinham sido recrutados à força por parte do Estado islâmico, mas conseguiram escapar confessaram às suas famílias que tinham sido "forçadas a formar a linha de frente para proteger" os combatentes, bem como coagidos a doar sangue para combatentes feridos. O ISIS também usa crianças para fins de propaganda, como o exemplo de militantes forçando duas crianças doentes em um hospital de câncer em Mosul a posar para fotos segurando a bandeira do Estado islâmico que foram posteriormente publicadas na Internet.

O Estado Islâmico também tem utilizado a Internet para seduzir as moças para a jihad. Salas de chat online rotineiramente aconselham as meninas "sobre como desobedecer discretamente seus pais e fugirem" para o Estado islâmico. Quando as meninas expressam preocupação com o custo financeiro da viagem, elas são instruídas a "entrar em contato em particular e que vamos ajudá-la." O grupo terrorista também criou um "bureau de casamento" na província de Aleppo, no norte da Síria para "mulheres solteiras e viúvas que gostariam de se casar com combatentes do ISIS."




O recrutamento de crianças para a jihad não se restringe apenas ao Estado Islâmico. Um relatório no Jafrianews.com afirma que o Taliban recrutou centenas de crianças para empreender a jihad no Afeganistão e no Paquistão desde 2006. Vários recrutas juvenis se afiliam ao Talibã de boa vontade para vingar a morte de membros da família. Os novos voluntários, em seguida, passam por um "processo de motivação sistemática" onde "eles os fizeram assistir filmes em vídeo, mostrando a tortura física e morte de mulheres e crianças muçulmanas [sic] em Caxemira, Afeganistão, Chechênia e na Somália por quem eles chamam de infiéis", disse o relatório.

Em uma reportagem de Maio sobre crianças-bomba, o programa 60 Minutes da CBS News observou que crianças a partir dos 7 estão sendo recrutados como homens-bomba no Afeganistão e no Paquistão. "As crianças aceitam o que você diz bastando falar com elas apenas duas vezes", disse um comandante talibã. "Elas podem ser usados em ataques de riquixá (1), bicicleta ou motocicleta."

A formação leva de quatro a sete meses, acrescentou, e os recrutas eram selecionados para tarefas diferentes com base em suas habilidades, incluindo para o trabalho de um homem-bomba.

Documentos do Joint Intelligence Group da prisão militar americana na Baía de Guantánamo incluiu depoimentos de detentos que detalharam os métodos empregados pelo Taliban para doutrinar as crianças. "O Taliban usava a interpretação linha-dura do Alcorão como uma ferramenta de recrutamento" e "Os jovens estão mais dispostos a se martirizar devido à sua falta de raciocínio quanto a tirar vidas inocentes", como mostram os documentos.

No documentário da PBS, Children of the Taliban (Filhos do Taliban), o jornalista Sharmeen Obaid Chinoy entrevistou o comandante talibã, Qari Hussain, que se gabava de recrutar crianças a partir dos cinco anos. "As crianças são ferramentas para alcançar a vontade de Deus. E o que quer que venha à sua maneira, você o sacrifica", disse Hussain.

O recrutamento de crianças também é generalizado entre os grupos terroristas que operam na África. No Mali, os jihadistas recrutam crianças pobres de áreas rurais que foram enviadas para escolas islâmicas distantes de suas famílias, que não têm dinheiro para pagar as suas despesas escolares ou para alimentá-las. Às vezes as crianças se oferecem como voluntárias para se juntarem ao grupo terrorista por dinheiro ou seguindo doutrinação nas escolas religiosas.

Na Nigéria, o Boko Haram está utilizando meninas entre as idades de 11 e 15 como mulheres-bomba para espalhar o terror na região. "É mais fácil para mulheres e meninas escorregarem em multidões onde elas podem realizar atrocidades em massa do que para os homens", Mausi Segun, pesquisador nigeriano do Human Rights Watch na cidade capital de Abuja, explicou. "No norte da Nigéria, a vestimenta da mulher lhe dá a possibilidade de mover-se com todos os tipos de coisas sem serem detectadas Ela usa um longo e volumoso véu na cabeça que chega, às vezes, até os tornozelos – e, além disto, as forças de segurança não são propensas a examinar mulheres. "

O grupo terrorista palestino Hamas tem dado treinamento militar a crianças na Faixa de Gaza para lutarem contra Israel através de acampamentos de verão especificamente criados para a finalidade por vários anos. Em março de 2015, o Centro para Pesquisa de Políticas do Oriente Próximo (CNEPR) com sede em Israel divulgou um documentário, "Children’s Army of Hamas” (Exército de Crianças do Hamas), que mostra profusão de imagens da formação e doutrinação de acampamentos de verão do Hamas, incluindo crianças envolvidas em prática de tiro com rifles de combate, foguetes e equipamentos anti-aeronaves. O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh pode ser ouvido na conclusão do documentário dizendo: "Judeus, cuidado! Esta geração não tem medo de confrontá-los em seus centros Esta é a geração das pedras! Esta é a geração dos mísseis! Esta é o geração dos túneis! Esta é a geração dos homens-bomba!"

O Hamas tem usado seu braço de mídia, Al-Aqsa TV, para doutrinar as crianças palestinas e glorificar a jihad por anos. Em 2007, o programa de televisão, "Pioneiros do Amanhã" contou com uma imitação de Mickey Mouse chamado Farfour. Durante várias semanas, Farfour e seus apresentadores infantis pediram que as crianças resistissem violentamente a Israel, ao mesmo tempo divulgando a supremacia do Islam. Após Farfour se recusar a sucumbir à pressão das "autoridades" para desistir de sua terra, seu colega apresentador Saraa informou aos espectadores que ele tinha sido "martirizado às mãos dos criminosos, assassinos de crianças inocentes ...."

(1) Riquixá – carro de transporte de 2 rodas puxado por uma pessoa. Comum no oriente. O vocábulo "riquixá" vem da palavra japonesa jinrikisha (onde jin =humano, riki= tração, sha = veículo), que literalmente significa "veículo de tração humana".

Tradução: William Uchoa

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