por Elton Flaubert (31/10/2016)
Hillary é uma gângster manipuladora, obcecada por controle, poder e dinheiro.
1.
Erguido a inimigo número um da humanidade pela grande imprensa mundial, Donald Trump conquistou esse posto seja por sua personalidade extravagante e discurso boquirroto, seja por representar uma reação popular (não necessariamente no sentido censitário) contra o establishment político, econômico, intelectual e midiático do Ocidente, seja por representar uma resposta aos valores liberais que, em última instância, se tiraniza a toda sociedade enquanto poder integrado. Em fevereiro, expliquei aqui na Amálgama, como ele construiu um personagem com três intenções: a)restaurar os mitos de fundação do país; b)substituir o apelo conservador pelo apelo nacional; e c)apresentar-se como uma personalidade forte, capaz de reunir o povo e falar sua língua contra a iniquidade das elites. Isto num momento de crescente revolta contra as elites do poder integrado.
A figura de Trump não é conservadora, mas antes nacionalista com um forte apelo nostálgico às proteções sacrificiais, remetendo ao tribalismo, ao localismo e ao nativismo. Trump defende, por exemplo, que pessoas transgêneras utilizem o banheiro que acharem adequado. Em 30 de outubro, Trump abriu seu comício no Colorado com uma bandeira do movimento gay e depois garantiu seu apoio ao que chama de “ampliação de seus direitos civis”.
Muitas coisas já foram ditas sobre The Donald e os perigos do que representa seu personagem. No entanto, sua adversária democrata, Hillary Clinton, oferece ainda mais perigos para o país e ao mundo do que ele. Ela faz parte do contexto social e intelectual da esquerda americana que reformou o partido democrata entre o século XIX e XX. O liberalismo moderno americano parte de uma concepção ampla de liberdade, onde o Estado deve assegurar as garantias de que os indivíduos sejam livres e iguais para exercer suas potencialidades, produzindo valores e usando um poder integrado a toda a sociedade. A maior parte do establishment americano prega os valores liberais e um poder integrado que discipline e produza esses valores. E, contra Trump, conseguiu aliar nacos do establishment republicano que estão próximos do liberalismo econômico clássico.
Hillary Clinton representa os interesses desse consórcio e as políticas que consolidam o seu poder integrado, criando – em nome da liberdade – a pior das tiranias. A quintessência desse agrupamento, digno da máfia, aparece claramente nos e-mails revelados pelo Wikileaks. Embora Assange seja um escroque a serviço da Rússia e um perigo para a segurança americana, não se pode negar a realidade do que está sendo apresentado. Como nas escutas de Lula, alegar ilegalidade no que foi apresentado não esconde a realidade dos fatos. O que os e-mails nos mostram é a figura de uma gângster manipuladora, obcecada por controle, poder e dinheiro, que age em nome de um consórcio e, para isto, planeja dissolver as soberanias, a cultura cristã e qualquer lastro com a realidade.
Antes do Wikileaks, a imagem de tecnocrata honesta de Hillary já tinha sido atingida por sua má atuação no governo Obama. Para piorar, em 2015, quando os republicanos abriram um inquérito no Congresso para investigar o atentado em Benghazi na Líbia, descobriu-se que Hillary (já fora do cargo) usava um servidor particular para enviar e-mails no exercício do cargo. Usar um servidor particular é imperícia, por ser facilmente hackeado, colocando em perigo a segurança nacional, como pode ser também indício de atividades criminosas no cargo, pois facilita a exclusão das provas. De nada adiantaram os encontros entre Bill Clinton e Loretta Lynch, ministra da Justiça, para encerrar no nascedouro a investigação conduzida pelo FBI, pois o assunto veio a público antes pelo jornal Washington Post.
Apesar de ter considerado negligência, o diretor do FBI, James Comey, tinha encerrado o caso, mas teve que reabrir as investigações quando novos e-mails de Hillary apareceram noutra investigação: a do escândalo sexual do democrata de Nova York, Anthony Weiner, que era casado com o braço-direito de Hillary, Huma Abedin.
Entretanto, se o FBI tinha encerrado as investigações, o Wikileaks tinha nos dado a certeza que Hillary usava um servidor privado não por negligência, mas para praticar crimes. Além disso, ficamos sabendo também que ela apagou milhares de e-mails comprometedores e que o presidente Obama sabia disso. Tendo ciência desses fatos, houve grande revolta entre os agentes do FBI quando a investigação foi abortada por Comey.
Hillary Clinton utilizava das atribuições do cargo para fazer lobby, acertar negociatas com governos estrangeiros, ditar os passos da imprensa democrata e preparar (ou financiar) sua campanha presidencial. Aqui e aqui, ela confessa que recebeu financiamento da Arábia Saudita e estava ciente de seus interesses mesmo sabendo que este governo e o do Catar patrocinavam o ISIS.
Ela se utilizava da Fundação Clinton para traficar influência. Recebendo dinheiro para projetos inexistentes ou não cumpridos em sua integridade (mesmo ajudas humanitárias para o Haiti), Hillary usava da influência do seu cargo e de sua importância no partido para realizar o desejo dos doadores. A partir desse sistema, criava-se um consórcio, onde Hillary era apenas a representação desses interesses. De extensão internacional, um dos e-mails mostra que a Fundação Clinton recebeu 12 milhões de dólares do Rei do Marrocos para defender seus interesses enquanto ela era Secretária de Estado. Noutro e-mail, seu chefe de campanha, John Podesta, confessa que Hillary defenderá sempre o desejo dos seus doadores.
As opiniões, as chacotas, os desejos, a arrogância de Hillary Clinton e de seu staff nos e-mails traçam um perfil de uma mulher manipuladora, sedenta por poder, que trabalha por ganância, mas também convicção (as duas coisas sempre andam juntas como vimos no petismo), para o establishment liberal e por um poder integrado que opera uma mudança civilizacional – a utopia de uma “liberdade impositiva” promovida por uma governança que produz esses valores.
Para o banco Goldman Sachs, Hillary fez três discursos remunerados. Neles, tratou essencialmente de geopolítica. Admitiu uma estratégia agressiva (através da OTAN) contra a Rússia comandada por Putin e defendeu uma zona de exclusão aérea na Síria. No banco, ela admitiu que essa zona traria muitas baixas civis e subestimou o poderio russo. Hillary é uma estudiosa de geopolítica e conhece bem cada região estratégica do globo. Ao mesmo tempo, ela tem o temperamento arrogante de quem acredita controlar os fatos. A junção desses dois fatores sempre trouxe desastres. Mais do que um perfil hawkish, Hillary promete ser prepotente e controladora na política externa. Subestima a aliança russo-chinesa, superestima o poderio bélico americano e, sobretudo, acredita puerilmente que ameaças no quintal russo irão dissuadir Putin. Ela também desconhece profundamente as motivações ideológicas/espirituais/nacionais das ações de Putin.
Essas revelações alarmaram mesmo a esquerda americana e europeia. No Guardian, Spencer Ackermann mostrou por qual razão o plano da democrata para a Síria pode provocar a Terceira Guerra Mundial. Uma guerra contra a Rússia nunca é uma boa coisa (Hitler e Napoleão que o digam), ainda mais nas atuais condições. Enquanto isso, Putin se prepara para guerra, estendendo sua influência geopolítica e contando com a prepotência e ignorância das elites ocidentais em reconhecer o estado das coisas. Com Trump, as relações entre Rússia e Estados Unidos teriam uma melhora momentânea e, mesmo que isso proporcionasse riscos para parceiros americanos, significaria também uma chance de melhores condições bélicas e geopolíticas em médio prazo.
Hillary e seu staff também demonstraram desaprovação quanto à Israel. O jornalista Sid Blumenthal, pai de Max Blumenthal (um reconhecido antissemita), enviou para Hillary alguns artigos falando do lobby judeu na imprensa, criticando Netanyahu e contando algumas teorias conspiratórias. Hillary enviou-os para um de seus assessores para assuntos internacionais, Jake Sullivan, chamando-os de fascinante.
Nos discursos para Wall Street, Hillary defendeu uma política de irrestrita liberdade econômica e de fronteiras. Um mundo livre de nações, tradições, culturas religiosas, soberanias, mas integrado pelo dinheiro, pelo espírito burguês, por uma cultura e religião biônica, uma moral laica civil. Um mundo livre sustentando por um poder integrado que produza esses valores e criminalize os outros sem contestação. Tudo isto em nome da liberdade, claro. Uma junção de liberdade econômica e social, desejo expresso das elites ocidentais que Hillary se encarrega de encarnar e de realizar; a pior das tiranias ao qual me referia no artigo que indiquei no primeiro parágrafo.
Outra situação onde Hillary atuou como lobista dos interesses desse consórcio, foi na Albânia. George Soros, um bilionário húngaro fundador da Open Society, que patrocina as causas da esquerda liberal e é o maior doador pessoal dos Clinton, pediu para que ela intervisse na política interna da Albânia junto à comunidade internacional.
Coerente com qualquer defesa do aborto, Hillary Clinton deseja que a mulher possa matar o filho a qualquer momento da gravidez. A Planned Parenthood, que patrocina sua campanha, seria uma grande beneficiária, pois lucraria ainda mais com a venda de órgãos fetais e tornaria legal os abortos que já realiza fora do tempo previsto.
Os e-mails revelados pela Wikileaks mostram também como o grosso da imprensa americana (CNN, NYT, NBC, ABC, CBS, Washington Post etc.) age como membro desse consórcio. Donna Brazile (nome é destino), que era analista da CNN e membro do Partido Democrata, conseguiu as perguntas que seriam feitas num dos debates com Donald Trump e entregou com antecedência para a campanha de Hillary. Outros e-mails mostram como esta campanha entregava para imprensa peças difamando Trump e instruções estratégicas de como ele deveria ser atacado. Como veremos, 65 jornalistas participaram de uma reunião com John Podesta para acertar essas questões e manifestar apoio.
Glenn Thrusch, escritor do site Politico, enviava seus artigos com antecedência para Podesta aprovar. E a campanha de Hillary também tinha influência sobre o editor do New York Times e no que ele escolhia publicar. Mesmo uma entrevista dada para Chris Hayes da NBC foi ensaiada palavra por palavra com antecedência. A imprensa também foi utilizada para atacar Bernie Sanders durante as primárias. O noticiário é tão enviesado nos grandes canais que apenas 6% da população acredita na imprensa.
2.
No entanto, se Hillary é a representação das elites americanas (e ocidentais) na implementação de um poder integrado que tiraniza seus valores, há uma mente maligna e estrategista por trás dessa personalidade ambiciosa e prepotente que pretende presidir os Estados Unidos. Essa mente é John Podesta.
Advogado com origem em Chicago, Podesta viu sua carreira de lobista decolar em 1988 quando fundou uma empresa com o irmão para esta finalidade. Desde cedo ligado aos democratas (trabalhou na campanha de McGovern em 1972), Podesta foi chefe de equipe do governo Bill Clinton. Chefe da campanha de Hillary Clinton, ele se viu no centro da crise quando seus e-mails foram hackeados e divulgados pelo Wikileaks.
Mais do que um chefe de campanha, Podesta tem uma ampla visão estratégica para a transformação social e cultural que almejam o consórcio das elites. Ele identifica dois objetivos: transformar as soberanias nacionais e transferir o centro do poder para entidades transnacionais; transformar a religião por dentro, conferindo-lhe novos valores e grupos políticos bem estabelecidos para ditar essa transformação que se aproxime de uma religião universal e neutra.
Para isto, ele estabelece três táticas: controle da informação através da imprensa; vilanizar conservadores, religiosos e nativistas; e infiltração na Igreja Católica. Como chefe da campanha de Hillary, ele confessa nos e-mails que exerce de certo modo essas três táticas.
Antes da campanha aquecer, Podesta se encontrou com 65 jornalistas para acertar as operações. Nos e-mails, ele confessou também que exerce sua influência em pesquisas eleitorais. Num dos jantares com Haim Saban, um dos proprietários da Univision, ele acertou a identidade que a emissora dará a Trump como um racista perigoso aos hispânicos. Outro e-mail mostra também o empenho do Huffington Post em fazer o que for preciso para elegê-la.
A terceira tática era ainda mais sórdida: infiltrar-se na Igreja Católica para criar uma “Primavera Católica”. Podesta associa toda tradicional fé católica e seus rituais a uma “ditadura medieval”. Seria preciso criar uma “primavera católica”, infiltrando-se na Igreja para realizar uma revolução doutrinal que mudasse os valores cristãos. De tal modo que o catolicismo se tornasse uma espécie de religião desprovida de essência e regulamentada por lobbys políticos. Ou seja, uma religião sem Cristo e meramente formal que permitisse e defendesse os valores liberais do poder integrado sem entraves. A “Primavera Católica” seria responsável por tornar o catolicismo numa religião que defenda o casamento gay, o aborto, a igualdade de gênero e todo ideário cultural dos progressistas.
Num dos e-mails, Sandy Newman, outro braço-direito de Hillary e fundador da Voices for Progress, admite que desconhece o catolicismo e, por isto, seria incapaz de dirigir essa infiltração. No entanto, Podesta afirma que já conta com duas organizações com esta finalidade: a Catholics in Alliance for the Common Good e a Catholics United. A primeira foi fundada por Tom Perielle em 2005 e conta com Fred Rotondaro (ligado a John Podesta) no seu conselho. Um dos seus objetivos é promover a igualdade de gênero e a ordenação sacerdotal das mulheres. Podesta se gaba também de ser criador de grupos de pressão política em todo o país.
Nos e-mails também se verifica o desprezo por católicos. John Halpin, do Center for American Progress, goza da fé católica com John Podesta, dizendo que todo aquele “papo tomista”, “sistemático” e “retrógrado” serve para parecer sofisticado, mas que “ninguém entende de que diabos estão falando”.
Portanto, se é verdade que Trump é um pastiche entre a figura do bufão sincero e popular e a figura autocrata que domina o espetáculo, Hillary é ainda pior e mais perigosa. Ela representa o consórcio das elites extremamente iníquas, que pretendem estabelecer cada vez mais um poder integrado com seus valores liberais que unem o materialismo e a desconexão da realidade em todas suas dimensões. Se isso já não bastasse, Hillary – com seu temperamento controlador e arrogante – pode ocasionar uma guerra mundial com as crescentes hostilidades entre essa elite ocidente e a aliança russo-chinesa.
Fonte: www.revistaamalgama.com.br
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