A Inocência de Luís Roberto Barroso
por Sergio Renato de Mello*
"Já passou o tempo de golpes, quarteladas, quebras da legalidade constitucional”. “Ganhou, leva. Perdeu, vai embora. Não há lugar no Brasil para a não aceitação dos resultados legítimos das urnas eletrônicas.”.
Essas foram palavras de Luis Roberto Barroso que “rolaram” nas redes sociais um dia desses. Ele é ministro do Supremo Tribunal Federal, aqui no Brasil. Sobre o Supremo Tribunal Federal, ou, na correria, simplesmente STF, é órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro, a corte máxima, que julga só questões constitucionais, com grande repercussão social, que envolvem relações jurídicas entre o indivíduo e o Estado. Mas o órgão julgador, aqui neste texto, pouco importa. Importam mais as características de seus componentes, sobretudo de um deles.
Barroso é abertamente contrário ao voto impresso auditável, uma continuação do voto eletrônico com impressão em papel de um recibo de votação. Contrário ao retrocesso também, diz ele, e segundo se denota de suas decisões. E, segundo suas ações, é contrário também ao avanço. Ele confirma que a boca fala do que está cheio o coração. Como pode um ministro do mais alto escalão do Poder Judiciário brasileiro ser contrário ao avanço do ato de votar? Por mais incrível que possa parecer, isso acontece nos melhores e nos piores mundos.
A fala do ministro Luis Roberto Barroso, o maior representante do negacionismo democrático eleitoral brasileiro, contra o voto impresso auditável, é inimaginável diante do atual estágio de exercício do direito de voto, o voto eletrônico. Para ele, ministro, também é inimaginável que possam existir hackers e fraudadores de um sistema eletrônico de votação tão perfeito e infalível. Ainda, segundo ele, é a ciência, novamente, dando o seu ar da graça e acima de qualquer suspeita. Num nível mais altiplano de superioridade tecnológica, como autômatos dominando humanos. Nada falha.
Lendo As leis da natureza humana, de Roger Greene, lembrei de Luis Roberto Barroso.
Greene explica que, apesar das grandes conquistas civilizatórias, somos e sempre continuaremos ser escravos de nossa natureza humana. Apesar desta afirmação que parece incontestável, afirma ele que “O leitor talvez se sinta tentado a imaginar que esse conhecimento é um pouco antiquado. Afinal, você pode argumentar: “Somos hoje tão sofisticados e avançados tecnologicamente, tão progressistas e esclarecidos. Fomos muito além das nossas raízes primitivas; estamos no processo de reescrever a nossa natureza”. No entanto, a verdade é, de fato, o oposto: nunca fomos tão escravos da natureza humana e do seu potencial destrutivo como somos hoje. E, ao ignorarmos esse fato, brincamos com fogo.”.
Para o referido ministro, segundo apontam suas atitudes, não existem hackers, nem gente com vontade ou malícia de fraudar o sistema eleitoral. Segundo ele, não existe gente com tanta maldade assim no mundo, já que o ser humano definitivamente fez as pazes com a natureza humana, dominando-a. É o que se extrai de suas palavras, seus pronunciamentos pueris.
Ao olhar romantizado e infantilizado de Barroso, para quem parece tudo estar na mais perfeita paz e felicidade, o personagem de Dostoiévski, citado por Greene, vem como uma luva: “É como se o seu segundo eu estivesse ao seu lado; um é sensato e racional, mas o outro eu é impelido a fazer algo completamente insensato e, às vezes, muito engraçado; e, de repente, você percebe que tem vontade de fazer aquilo que é divertido, sabe-se lá por quê. Isto é, você quer, desse modo, agir contra a própria vontade; embora você lute contra isso com todas as forças, é o que você quer. – Fiódor Dostoiévski, O adolescente.”.
Greene termina com Freud: “Os homens não são criaturas gentis e amigáveis que desejam o amor, e que só se defendem quando atacadas […]. Um desejo poderoso de agressão tem que ser reconhecido como parte da sua […] capacidade. — Sigmund Freud”.
Tá aí Barroso! Em vez de tentar montar esquemas desconstrutivos do voto impresso auditável, acho que está na hora de você crescer menino.
(*)Sergio Renato de Mello, brasileiro, casado, Defensor Público de Santa Catarina, residente em Rio do Sul, Santa Catarina.
** Artigo extraído do Instituto Conservador Burke
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