domingo, março 23, 2014

Dilma e Petrobrás: quanto mais se mexe pior fica.












Eu não sou o único a tentar entender a tumultuada cabeça de Dilma Rousseff — nos limites, deixo claro, de sua atuação pública (sou um homem de ambições modestas…). Outros tentam fazê-lo sem chegar a um desfecho satisfatório. Alguém consegue explicar por que ela mandou demitir, em 2014, um diretor que lhe teria dado um truque em 2006, induzindo-a e aos demais conselheiros ao erro? Por que agora e não antes?

A hoje presidente da República demorou oito anos para concluir que Nestor Cerveró não teria agido, então, com a devida transparência? A gente sabe que membros de conselhos administrativos não leem milhares de páginas eventualmente disponíveis sobre determinados investimentos. Contentam-se, nem poderia ser diferente, com memoriais executivos, pareceres de analistas, dos bancos etc. É assim em qualquer lugar do mundo. O ponto não está aí. A questão é saber por que Dilma demorou tanto para agir. E, ao fazê-lo, CONFESSA A SUA OMISSÃO DE OITO ANOS. Reitero: COMO ADMINISTRADORA E SENHORA ABSOLUTA DO SETOR ENERGÉTICO, DILMA DESMORALIZA DILMA AO DEMITIR CERVERÓ SÓ AGORA.

Parafraseando Ricky em Casablanca, ao se despedir de Ilse, “US$ 1,18 bilhão (na verdade, um pouco mais) é um punhado de feijão quando a empresa perdeu mais de R$ 200 bilhões em valor de mercado de 2010 a esta data, despencando de R$ 380 bilhões para R$ 179 bilhões. Era a 12ª maior empresa do mundo em 2010 e agora é a 120ª. Performance tão desastrada e desastrosa não é corriqueira. Ainda que fossem verdadeiras todas as bobagens que o petismo disse sobre a privatização de estatais no governo FHC, só o tombo dado na Petrobras já faria do PT um vitorioso no campeonato da dilapidação da patrimônio público. E, não custa notar, eram acuações falsas, num misto, em doses idênticas, de ignorância e pilantragem ideológica. Mas a dilapidação da Petrobras é verdadeira.

Reportagem da VEJA desta semana intitulada “Um poço de suspeitas” agrega um documento novo ao imbróglio de Pasadena — aquele que está lá no alto da página. No dia 2 de julho de 2008, o então procurador-geral da Fazenda Nacional, Luis Inácio Adams, que é hoje advogado-geral da União, enviou à então secretária-geral da Casa Civil, Erenice Guerra, um e-mail em que solicitava que se incluíssem na ata de uma reunião do conselho de administração da Petrobras duas ressalvas sobre a compra da refinaria de Pasadena. A primeira advertia que a tal Cláusula Marlim (aquela segundo a qual a Petrobras garantia à sua sócia, Astra, uma rentabilidade anual de 6,9% independentemente dos resultados da refinaria) não havia sido objeto de aprovação. A segunda informava que a diretoria executiva da empresa havia aberto um procedimento para investigar a falha.

O e-mail reforça a informação de que o conselho acabou aprovando, originalmente, uma operação sem ter conhecimento de todos os dados. Mas, então, que fique claro: a partir de 2 de julho de 2008, Dilma não poderia alegar ignorância de mais nada. E ATENÇÃO! NÃO SE TRATA DE EVOCAR, NESTE MOMENTO, A ENTÃO PRESIDENTE DO CONSELHO, MAS A CHEFE DA CASA CIVIL, A GERONTONA DO PAC, A SABICHONA, A QUE DECIDIA TUDO, A DAMA DE FERRO, A SENHORA DO ÓLEO, DOS VENTOS, DAS ÁGUAS, DOS RAIOS…

Compra tudo!
Mas Dilma nem precisaria ter esperado o e-mail de Adams para saber de tudo. Reportagem da Folha publicada neste domingo informa que a direção da Petrobras defendeu diante do conselho, no dia 3 de março de 2008, a compra da outra metade da refinaria — e de seu estoque de óleo — por US$ 788 milhões. Sabem quem foi, de novo, o orador da turma? Nestor Cerveró — sim, o tal senhor que Dilma mandou agora demitir. Era ele quem falava, mas o fazia em nome de toda a direção executiva da Petrobras, a saber: José Sérgio Gabrielli, então presidente, e os diretores Graça Foster, Almir Barbassa, Renato Duque, Cerveró (afastado da diretoria da BR Distribuidora) e Paulo Roberto da Costa (preso em operação que apura lavagem de dinheiro).

Note-se: isso aconteceu no dia 3 de março de 2008. O que se debateu, então, nessa reunião era a tal cláusula “PuT Option”. Até porque, ATENÇÃO PARA OUTRO DADO, a Astra já havia recorrido à Justiça americana no ano anterior: 2007! Se Dilma não sabia de nada em 2006 porque o resumo executivo de Cerveró era incompleto, ela certamente tomou ciência — NEM QUE FOSSE COMO MINISTRA DA CASA CIVIL, NÃO COMO PRESIDENTE DO CONSELHO — da ação judicial. Não fosse isso, teria sido informada de sua existência no dia 3 de março de 2008; se escapou de ficar sabendo ali, o e-mail de Adams, do dia 2 julho, era mais uma advertência.

Dilma não apenas se omitiu como ouviu a nova exposição de Cerveró. O conselho se recusou a pagar o que pediam os belgas, e a Petrobras teve de ir à Justiça se defender. Contratou um escritório de advocacia por US$ 7,9 milhões ligado a ex-integrantes da cúpula da empresa.

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