segunda-feira, agosto 27, 2012

Pesquisas: apenas o começo de uma possível fraude.






Primeiro de uma série de reflexões sobre o assunto Pesquisas no Brasil.

Quem já foi pesquisado alguma vez na vida? É óbvio que tendo um universo no pais de 2002 entrevistas espalhadas por mais de uma centena de municípios pelo Brasil, a chance de alguém ser entrevistado pelos inúmeros Institutos de Pesquisa é equivalente a ganhar na Mega Sena. Mas isso não ameniza a "revolta" dos não pesquisados que, costumeiramente ficam indignadas com esse ou aquele resultado das pesquisas; já que conhecem, no seu dia a dia, muitas pessoas contrárias ao resultado divulgado. As redes sociais mostram aos indignados com esses resultados que não é um pequeno universo de pessoas que pensam igual; que há realmente um furo enorme nessas pesquisas.

Some-se a isso, o fato de comumente as pesquisas serem "encomendadas" por órgãos públicos (Confederações são órgãos públicos sim) que teoricamente - e na prática também - não deveriam assim agir. Ou é a Confederação dos Transportes ou a CNI, estas até bem pouco tempo - e ainda hoje - comandadas por pessoas que de alguma forma tinham e têm interesse nos resultados positivos ao governo. Nada mudou na CNI, já que o titular (Robson Braga de Andrade) faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES); portanto nada isento ao encomendar pesquisas que sempre "presenteiam" o mandatário de plantão com bem mais popularidade do que se pode auferir nas ruas. Quanto ao outro "encomendador" de pesquisas, a CNT presidida por Clésio Andrade, é preciso que se diga que o senador faz parte da base aliada do governo. Clésio já passou pelo PFL, concorreu em 2006 pelo PL, voltou ao DEM e com a morte de Eliseu Rezende assumiu a vaga e mudou para o PMDB; ou seja, mais um senador que não foi eleito nem por ele próprio.

Outro grande interessado nas pesquisas, Marcos Coimbra, proprietário de um grande negócio chamado Vox Populi (fragmento de um ditado falacioso; já que a voz do povo nunca foi a voz de Deus) dá uma precisa dica de como não devem ser as pesquisas, mas não deixa claro se ele mesmo assim não faz no seu Instituto.

O artigo intitulado Resultados de Encomenda de 2 de agosto de 2012:

Na primeira aula do curso de pesquisa de opinião, o aluno aprende as coisas básicas da profissão. Uma é ter cuidado com as perguntas indutivas.

É esse o nome que se dá às que são formuladas com um enunciado que oferece informação ao entrevistado antes que responda.

Há diversos tipos de indução, alguns dos quais muito comuns. Quem não conhece, por exemplo, a pergunta chamada de “voto estimulado”, feita habitualmente nas pesquisas eleitorais? Ela solicita ao respondente que diga em quem votaria, tendo em mãos uma lista com o nome dos candidatos.

É claro que, assim procedendo, avalia-se coisa diferente do “voto espontâneo”. (Ele não disse mas isso também se chama induzir o voto)

Para diminuir o risco de que a indução conduza os entrevistados a uma resposta, recomenda-se evitar que o pesquisador leia nomes (Isso eu já vi em uma feira livre em São Paulo). Mesmo inadvertidamente, ele poderia sugerir alguma preferência, seja pela ordem de leitura, seja por uma possível ênfase ao falar algum nome. Daí, nas pesquisas face a face, o uso de cartões circulares, onde nenhum vem antes. (E quem garante que o entrevistador faz exatamente assim?)

Essa cautela - e outras parecidas - decorre da necessidade de ter claro o que se mede. Sem ela, podemos confundir o significado das respostas. (Eis aí o outro lado das pesquisas: perguntas dirigidas para um determinado resultado)

Dependendo do nível de indução, o resultado da pesquisa pode apenas refletir a reação ao estímulo. Em outras palavras, nada nos diz a respeito do que as pessoas genuinamente pensam quando não estão submetidas à situação de entrevista.

Para ilustrar, tomemos um exemplo hipotético.

Vamos imaginar que alguém quer saber se as pessoas lamentaram a derrota da equipe de vôlei masculino na disputa pela medalha de ouro na Olimpíada. A forma “branda” de perguntar talvez fosse começar solicitando que dissessem se souberam do resultado e como reagiram - sem informar o placar.

Outra, de indução “pesada”, seria diferente. A pergunta viria a seguir a um enunciado do tipo “O Sr./A Sra. ficou triste ao saber que o Brasil perdeu para a Rússia, depois de liderar o jogo inteiro e precisar apenas um ponto para se sagrar campeão olímpico?”.

Nessa segunda formulação, ela não somente induz um sentimento (mencionando a noção de “tristeza”), como oferece um motivo para ele (a ideia de ter estado perto de alcançar algo desejável).

É muito provável que os resultados das duas pesquisas fossem diferentes. Na primeira, teríamos a aferição da resposta espontânea - e mais real. Na segunda, a mensuração de uma reação artificialmente inflada. Em última instancia, fabricada pela própria entrevista. (E diametralmente diferente)

É o que aconteceu com a recente pesquisa do Datafolha (lavando roupa suja quem tem um cesto enorme)sobre os sentimentos da opinião pública a respeito do “mensalão” e seu julgamento.

Contrariando o que se esperaria de um instituto subordinado a um jornal, não deixa de ser curioso que decidisse fazer seu primeiro levantamento sobre o assunto dez dias depois do início do processo no Supremo. Dez dias depois de ter sido pauta obrigatória nos órgãos da “grande imprensa”. Dez dias depois de um noticiário sistematicamente negativo - como aferiram observadores imparciais. (Marcos Coimbra gostaria que fosse feito sem que ninguém ou poucos soubesse do julgamento?)

Preferiu pesquisar só depois que a opinião pública tivesse sido “aquecida”. Foi à rua medir o fenômeno produzido. (O que Marcos Coimbra chama de "aquecida" se apenas um ínfima parcela da população lê jornais e os Telejornais passaram informações tão distantes da realidade do mensalão??!!!)

Não bastasse a oportunidade, a pesquisa abusou de perguntas indutivas, que tendiam a conduzir os entrevistados a determinadas respostas. Como diz a literatura em língua inglesa, fornecendo-lhes “pistas” sobre as respostas “corretas”.(Exatamente como em todas as pesquisas que buscam a unanimidade em torno do governo petista, de quem Marcos Coimbra, é fã ardoroso)

Mas o mais extraordinário foi seu uso editorial, na manchete que ressaltava que a maioria desejava que os acusados fossem “condenados e presos”.

Parecia de encomenda: embora o resultado mais relevante da pesquisa fosse mostrar que 85% dos entrevistados sabiam pouco ou nada do assunto, o que interessava era afirmar a existência de um desejo de punição severa.

E quem se importa com o que estabelecem as normas das boas pesquisas! (Boa pergunta que ele mesmo deveria responder ao final de cada pesquisa já feita por seu instituto)

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Não deixa de ser interessante ler algo de Marcos Coimbra, já que ele mesmo é um fã incondicional de Lula e do Petê; afinal é o único "dono de Instituto" (embora os outros sigam os ditâmes do Ibope e diferem muito pouco em resultados) que está no site oficial da campanha de João Paulo Cunha, exatamente porque sempre quis a absolvição de todos. É também oportuno lembrar que um grande "encomendador" de pesquisas do senhor Coimbra é a Revista Carta Capital, onde também é articulista. Deu para entender sem desenhar?

Afinal o que tem a ver Pesquisa de Popularidade, de Intenção de Voto e Fraude? Tem tudo a ver, mas essa é uma história que fica para uma outra vez.

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