domingo, fevereiro 10, 2013

O lado obscuro do milagre chinês.







por Luis Dufaur




O “milagre” chinês tem um lado sombrio. A coluna vertebral de seu salto econômico são os mais de 200 milhões de migrantes que abandonaram o campo para buscar trabalho na cidade – revelou a BBC.
Esses migrantes constituem um terço da população economicamente ativa (de 15 a 65 anos de idade) e não têm acesso à saúde ou à educação. Para eles, o “milagre” chinês é uma utopia ou um pesadelo.
A BBC Mundo entrevistou a escritora Hsiao Hung-pai, autora de Scattered Sands e Chinese Whispers, dois estudos-chave sobre o fenômeno da migração chinesa.

BBC – A Sra. descreve uma marginalização e grande vulnerabilidade dos migrantes no setor de mineração, onde mais de três mil morrem por ano, nas fábricas ou nas construções.

Hsiao Hung-pai – Os trabalhadores migrantes ganham a metade do salário típico urbano e não têm nenhuma proteção trabalhista ou legal.

Não têm contrato, as condições de segurança são precárias ou inexistentes, o salário é baixo e, dada a ausência de direitos trabalhistas, muitas vezes simplesmente não são pagos.
A isso se soma o tema do registro domiciliar, o Hukou, que dá acesso à saúde e à educação públicas. Um camponês se ficar doente, deve pagar como paciente particular ou voltar à sua região de origem para ser atendido. Uma operação de emergência pode ser uma tragédia.
Estes mais de 200 milhões de migrantes internos são fantasmas que circulam pelas cidades chinesas sem qualquer tipo de direitos.

BBC – Eles migram porque na cidade estão melhores que no campo.

Hsiao – Trata-se de uma decisão desesperada. A saúde está nas mãos do Estado, mas desde que Deng Xiaoping lançou sua Gaige Kaifan – abertura pró-capitalista da economia – ela é gerenciada com critérios de benefício econômico e o atendimento médico é caro e inacessível para muitos.
Outra razão típica da migração é o confisco de terra. As autoridades municipais confiscam a terra sem pagar a compensação de acordo com a lei. Sem essa terra, os camponeses migram para a cidade.

BBC – A China precisa de consumidores que sem acesso à saúde e à educação terão de economizar em vez de consumir. 

Hsiao –Na China não existe o conceito de que esses camponeses são cidadãos.Na saúde, a situação é dramática, os camponeses ficaram sem cobertura médica.

BBC – O grau de conflitos sindicais é muito alto.

Hsiao – Com a crise econômica de 2008 milhões perderam seus empregos, muitas vezes sem que lhes pagassem o que lhes deviam. Segundo as autoridades, houve uma média de 80 mil incidentes por ano desde 2008, entre eles distúrbios, protestos, greves e ocupações.
O sindicato oficial não representa os trabalhadores e se opõe a qualquer tipo de protesto, e os trabalhadores se organizaram informalmente e obtiveram várias vitórias.
Mas na China não é possível ter organizações independentes. Cerca de 80% das ONGs são ilegais.
Hsiao – Não há mudança à vista. As mudanças não podem ocorrer.

BBC – Não é uma ironia que depois de mais de 60 anos de uma revolução encabeçada pelos camponeses, eles sejam os grandes excluídos?

Hsiao –Durante [o governo de] Mao, a coletivização do campo serviu para manter o crescimento industrial e a população urbana.
O mundo fala de um milagre chinês. Mas se alguém vai aos mercados de trabalho informais das grandes cidades, a história que ouve é totalmente diferente. Os migrantes falam da exploração, da corrupção, da discriminação e da marginalização em que vivem. É um mundo totalmente diferente que afeta a mais de 200 milhões de pessoas.
Como é possível considerar milagroso um modelo que explora um terço de sua população economicamente ativa?
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E tudo começou em novembro de 2004:



O Brasil reconheceu a China como uma economia de mercado durante a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao (China), em Brasília, como queria o governo chinês.


"O presidente Lula anunciou (durante a reunião) o reconhecimento do status de economia de mercado para a China", disse Hu Jintao, depois do encontro. No fim do dia, Lula confirmou a informação.

"O Brasil hoje deu uma demonstração de confiança, deu uma demonstração de que a nossa relação estratégica é para valer. Isso é a demonstração mais inequívoca da objetividade, da seriedade e da prioridade que nós damos à relação Brasil-China", afirmou Lula.

Hu Jintao elogiou a decisão brasileira. "Essa postura do Brasil vai certamente criar as condições para uma relação estratégica muito mais rica e vai favorecer a cooperação econômica e comercial (entre os dois países)."
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A modernidade chinesa:


Uma agência de notícias chinesa, o Shanghai Evening Post, conseguiu retratar uma realidade muito pouco conhecida pela população mundial. No início do mês de setembro, o veículo infiltrou um de seus jornalistas na fábrica da Foxconn em Taiyuan, na China, onde é produzido o novo iPhone 5, lançado no último dia 12. 

O jornalista se passou por um funcionário novato durante dez dias, reunindo informações e imagens sobre o trabalho da fábrica, o processo de produção e a rotina intensa e desumana imposta aos profissionais. A empresa realiza a montagem de outros aparelhos eletrônicos como o iPad e o Xbox 360 e é conhecida pelas péssimas condições de trabalho que oferece aos seus empregados. 



Alojamentos destinados aos funcionários não possuem limpeza e conforto mínimos. (Foto: Reprodução)



Os funcionários trabalham sobre a pressão de cumprir uma meta de 57 milhões de iPhones fabricados ao ano, prazo este estipulado e fiscalizado com rigor pela Apple. Logo no primeiro dia, o jornalista passou por um rápido processo de seleção, pouco depois de responder questões sobre suas faculdades mentais. Em seguida foi levado à fabrica, onde teve início o período de treinamento.

Os alojamentos, por sua vez, chamaram ainda mais a atenção do repórter do que a rigidez na empresa. Todos eram sujos e apresentavam mau cheiro, além de não possuírem condições mínimas de conforto e estarem infestados de baratas. Já no segundo dia de trabalho todos os novos funcionários foram obrigados a assinar contratos após se alimentarem num refeitório superlotado. Neles, haviam cláusulas a respeito do vazamento de informações adquiridas no local, sem ao menos citar assuntos como acidentes de trabalho e horas extras. 


Funcionários se alimentam com comida de má qualidade e em um refeitório superlotado. (Foto: Reprodução)

  




Ao longo dos outros dias de treinamento o repórter ressaltou a naturalidade com que os funcionários responsáveis pela supervisão do trabalho de produção tratavam mal os operários.
Segundo o jornalista, os instrutores afirmavam que o tratamento era adotado daquela forma para o bem de todos. O estresse era aliviado em uma área livre, reservada para os gritos guardados dos trabalhadores durante o período de trabalho, enquanto que tentativas de suicídios eram combatidas com a instalação de grades em todas as janelas da fábrica.


Operários passam por revista diária antes de acessar a linha de produção do novo iPhone 5 (Foto: Reprodução)


   

Após a fase de treinamento, os novos operários conheceram a linha de produção do novo iPhone. Para entrar no local, cuja segurança é máxima, todos são revistados e passam por detectores de metais, obrigando todos a retirar fivelas de cintos, correntes, brincos e aparelhos eletrônicos. Vale lembrar que cada operário ganha em média R$ 8 a cada duas horas, mesmo que sejam realizadas durante a madrugada.

O repórter retratou também passagens onde funcionários descarregaram a raiva esmurrando aparelhos ainda na esteira de montagem, enquanto seus supervisores não estavam por perto. Ainda segundo o jornalista, apenas dois dos 36 operários que iniciaram o processo de seleção permaneceram no trabalho. Após o 10º dia, ele não suportou o cansaço e o estresse e pediu demissão da empresa.


Fontes: IPCO; BBC Brasil e br.finanças.yahoo

Um comentário:

"Política sem medo" disse...

E ainda falta falar CAntonio que na China os bebes do sexo feminino sao assassinadas no hospital mesmo, caso o casal ja tenha um filho, o segundo filho nao pode ser menina que levara uma injecao de alcool na nuca. Caso eles descubram que um casal de agricultores, la longe tive uma menina, a segunda, eles a tomam e colocam em um lugar onde ela ficara presa a uma cadeira ate morrer de fome. Alias eu sempre soube que a China e uma farsa. Afinal governo comunista age diferente? Sempre e genocida, sem duvida. Conheco historias cabeludas de estudantes que vem ao Canada estudar e nao podem contar para ninguem como vive a populacao aqui. Ela so dira aos seus chefes que informarao a autoridade sobre tudo o que ela conseguiu assimilar. Nem para os pais ela pode dizer nada.