quinta-feira, abril 10, 2014

A frustração dos israelenses.



por Osias Wurman(*) (publicado em O Globo-Quinta-feira, abril 10, 2014 - Pág. de Opinião)

A pergunta que não cala: estão os palestinos verdadeira e sinceramente com vontade de atingir a paz com Israel?




O texto de Rasheed Abou-Alsamh “A frustração dos palestinos”, publicado no GLOBO, no dia 4 de abril de 2014 (texto abaixo em azul), reflete, lamentavelmente, o extremismo de alguns setores anti-israelenses. Utilizar expressões como “nazistas” ou “apartheid” é totalmente repugnante e inaceitável, e seu único objetivo é dar continuidade ao cultivo do ódio, incitando à violência e ao enfrentamento.

O Estado de Israel é a única e verdadeira democracia no Oriente Médio. Parece-nos que, cada vez que os palestinos chegam a uma encruzilhada, onde é necessário tomar decisões importantes e, muitas vezes, difíceis, eles preferem dar um passo para trás e deixar passar mais uma oportunidade de alcançar um acordo com Israel.

Nos idos de Yasser Arafat, que precedeu Mahmoud Abbas na presidência da Autoridade Palestina, analistas internacionais especializados nos temas do Oriente Médio diziam que “Arafat nunca perdeu a chance de perder uma chance”.

Assim foi, com governos israelenses de tendência política de direita e de esquerda. Os palestinos viveram o período anterior a 1967, quando não existiam assentamentos, e Jerusalém Oriental, bem como a Cisjordânia, era ocupada pela Jordânia, e nunca desejaram encontrar uma paz verdadeira com Israel, usando os argumentos que estavam “na moda” à época.

Desta vez, quando estávamos a ponto de avançar em uma etapa das conversações de paz, os palestinos decidiram abandonar o diálogo pelo caminho das decisões unilaterais, conduzindo assuntos através da ONU.

As pesquisas de opinião sempre demonstraram amplamente que o povo de Israel quer a paz. O governo de Israel busca a paz. Israel demonstra agora, como já mostrou muitas vezes no passado, abertura, flexibilidade e disposição para fazer muitas concessões objetivando à paz. Porém, como sabemos, para isso, são necessárias abertura e flexibilidade da parte palestina também.

A pergunta que não cala: estão os palestinos verdadeira e sinceramente com vontade de atingir a paz com Israel? Estão eles abertos a reconhecer Israel como o lar nacional do povo judeu? Estarão dispostos a deixar, definitivamente, o caminho da violência e do terrorismo?

A tendência refletida no artigo de Rasheed Abou-Alsamh, que lança todas as culpas da situação dos palestinos contra Israel, e terceiros, precisa ter um fim.

Vale lembrar que hoje os palestinos de fato têm dois Estados: um da Autoridade Palestina, liderado por Mahmoud Abbas, e outro na Faixa de Gaza, controlada pelo grupo terrorista Hamas. Está na hora de os palestinos começarem a pensar em termos de paz e de convivência pacífica e que, de uma vez por todas, deixem para trás a cultura de ódio e de ressentimento contra tudo e todos. É importante repetir que Israel quer a paz. Israel busca a paz. Israel está disposto a fazer muitos sacrifícios para chegar à paz.

Irão deixar os palestinos passar mais esta nova chance?


(*)Osias Wurman - é consul honorário de Israel no Rio de Janeiro







por Rasheed Abou-Alsamh (publicado em O Globo em 4/04/2014)


Exigências israelenses não deixam dúvida de que o seu atual governo não quer ver um Estado palestino viável ao seu lado

A interrupção das negociações de paz entre os israelenses e os palestinos esta semana se deu quando o presidente palestino Mahmoud Abbas — frustrado com a não libertação de um último grupo de prisioneiros palestinos por Israel — assinou papéis pedindo a adesão do Estado da Palestina a 15 agências da ONU e tratados internacionais, incluindo as convenções de Viena e Genebra. Com isso, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o mediador das negociações, cancelou sua ida a Ramallah e voou para Bruxelas.

Mas foi também o anúncio por Israel que tinha relançado uma licitação para a construção de 708 casas em um bairro de Jerusalém Ocidental, que é considerada ocupada e anexada, que forçou a reação palestina. Os palestinos tinham aceitado adiar o pedido de admissão para essas entidades internacionais por nove meses. Israel teme que os palestinos o critiquem, mas Abbas disse que eles tinham que reagir ao anúncio israelense.

Com essa última rodada de troca de acusações e ações unilaterais, muitos já estão tocando o sino do fim desse último período de negociações que somente começou em julho de 2013 depois de estar parado por cinco anos. Eu acho cedo para anunciar o fim das tentativas de negociar um acordo final para o estabelecimento de um Estado da Palestina, livre e independente, dentro da Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967, e a Faixa de Gaza. Os maiores obstáculos são o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e sua coalizão de partidos ultraconservadores e nacionalistas, que insistem que os palestinos reconheçam Israel como um Estado judeu, que renunciem à sua reivindicação histórica de que a parte leste e árabe de Jerusalém seja a capital do Estado palestino e que Israel possa deixar tropas na Cisjordânia por tempo indeterminado.

Ora, essas exigências israelenses não deixam dúvida de que o seu atual governo não quer ver um Estado palestino viável ao seu lado. Os levantes da Primavera Árabe nos últimos três anos e o confronto do Ocidente com o programa nuclear do Irã têm tirado o foco do mundo do conflito israelense-palestino. Mas o Estado de Israel nunca vai ser seguro enquanto não resolver a questão palestina. Como, eu pergunto, os judeus de Israel, que interminavelmente evocam as atrocidades cometidas contra eles pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial na Europa, podem tratar os palestinos na Cisjordânia como cidadãos de segunda categoria com pouquíssimos direitos civis, políticos ou econômicos? Esse apartheid israelense está corroendo a alma do Estado judeu, que é supostamente liberal, progressista e democrático. Talvez seja, mas somente por cidadãos israelenses que são judeus.

O presidente americano Barack Obama deu luz verde a John Kerry para botar a possível libertação do espião americano Jonathan Pollard na mesa de negociação com os israelenses. O pensamento é que, com isso, Netanyahu poderia soltar ainda mais prisioneiros palestinos, incluindo 400 mulheres e crianças, sem ser muito criticado pela opinião pública israelense, que não tem visto a libertação de palestinos presos em Israel com bons olhos. Mas é um erro oferecer Pollard aos israelenses. Ele já vai poder pedir sua liberdade provisória em 2015, e toda a comunidade de inteligência americana tem ficado irredutível quanto ao presidente americano perdoar Pollard desde os anos 1980, por causa dos milhares de páginas de segredos militares que ele vendeu para Israel e outros países. Em todo caso, Netanyahu tem sempre pedido muito mais dos americanos quando lhe é oferecida uma recompensa para um ato que adianta as negociações.

Eu acho que Abbas e Kerry são sinceros em querer avançar as negociações para um acordo final que veria as fronteiras de Israel, com um estado palestino, definidas. Infelizmente, Obama não parece ter muita paciência com os dois lados, e Netanyahu não leva a sério o processo. Mesmo assim, não podemos ser tomados pelo desespero. Uma solução justa para os dois lados é o único caminho para um Oriente Médio mais seguro e equitativo para todos. Mas também não podemos nos manter parados em negociações sem fim, e ficar falando só para falar. Talvez seja tempo de introduzir um negociador além dos EUA, que nunca escondeu sua predileção por Israel. Um interlocutor europeu talvez seja a solução.

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