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segunda-feira, abril 02, 2018

Por que ir às ruas no dia 3 de abril



por Lucas Berlanza(*).




O inimigo, em 2015 e 2016, era claro. O Brasil precisava se livrar de uma governante inepta que, representando um hediondo projeto de poder, cometeu crime fiscal e mergulhou o país em recessão profunda. Precisava reagir a um espúrio estelionato eleitoral. O alvo imediato era claro: Dilma Rousseff – e, ao mesmo tempo, o PT.

Alvo justo, necessário, prioritário e que precisava ser desesperadamente expurgado. Fomos às ruas de forma pacífica tomar a parte que nos cabia na História. Saímos triunfantes, o objetivo foi alcançado, a figura contra quem nos uníamos todos – conservadores, liberais, bolsonaristas, Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua, sociais democratas – foi removida. O país respirou ares de maior liberdade, aliviado por ter impedido os riscos imediatos que corria. Retificou o erro histórico primordial que havia sido confiar à quadrilha vermelha a sua condução.

Entrementes, apenas os muito iludidos suporiam que os esforços estariam então concluídos. Não nos referimos aqui apenas à necessidade de reformas estruturais, de projetos de nação que venham substituir o vácuo deixado pelos meliantes autoritários destronados. Não nos referimos também tão-somente à obviedade de que, à queda do PT, seguiu-se um incremento de disputas entre os diferentes poderes da República, invadindo-se mutuamente as prerrogativas. Tampouco unicamente ao fato de que, conquanto não esposem socialismos embolorados ou doutrinas genocidas e tenham conseguido resgatar alguma razoabilidade nos indicadores econômicos, os fisiológicos que permanecem no comando da política nacional não são exatamente as figuras mais recomendáveis.

O próprio PT, ou, por outra, a própria extrema esquerda, em seus artifícios de reinvenção, não deixaram de ser entrave, mesmo tendo perdido o Poder Executivo, mesmo sofrendo duras derrotas nas urnas. A sombra de Lula permaneceu esvoaçando sobre nós, desrespeitando a lei eleitoral desbragadamente, vociferando ameaças, tentando constantemente nos lembrar de que este país não pertence a ninguém senão a ele. Derrotamos sua criatura, obrigada a abandonar o Planalto antes do término de um mandato a que jamais deveria ter sido reconduzida. Ganhamos espaço, nós, os que divergem, os que contestam, os que se indignam, como poucas vezes o tivemos antes. Ele, por sua vez, decaiu de seu pedestal megalômano sob as bordoadas da verdade pura e simples, desnudada pelas investigações policiais e consagrada pelo juízo de duas instâncias.

E aí sobreveio o Supremo Tribunal Federal – em boa medida, na constituição de seu time atual, também ele criatura do lulopetismo. A instância máxima da Justiça, o guardião da Constituição: epítetos que se provam, a cada dia, tão hiperbólicos quanto despudoradamente falsos. Em aparente tentativa de tatear nosso senso de propósito e nossa tolerância ao escárnio público, os distintíssimos ministros decidiram deixar para depois, exatamente para o dia 4 de abril, a fim de saborearem as delícias de um feriado prolongadíssimo, a continuidade de uma votação de pedido de habeas corpus da defesa de Lula, concedendo-lhe um esquizofrênico “habeas corpus provisório” que impede a aplicação de sentença já definitivamente estabelecida. O tribunal “acovardado”, como o próprio Lula a ele se referiu, decidiu prestar um novo serviço ao mestre decaído, com uma deferência que, todos sabemos, não seria oferecida ao Zé das Couves se ele estivesse no lugar do ex-presidente.

Abate-se sobre nós o risco redobrado. Um ministro do STF pode simplesmente “pedir vistas” e permitir que o fantasma da impunidade sobre Lula se adense sobre nós, prolongando suas zombarias de nossa decência, revigorando as palavras de Rui Barbosa sobre a “vergonha de ser honesto”. O tribunal pode, por outro lado, conceder o habeas corpus – e, sem sombra de dúvida, se esforçar por abrir um perigosíssimo precedente, capaz de beneficiar, mais adiante, sobretudo se revisarem igualmente a prisão após segunda instância, outros caciques políticos criminosos de diferentes partidos, bem como outros tipos de crápulas, incluindo traficantes. Está nas mãos da suprema esfera do Judiciário, que já agiu de modo a privilegiar Lula, o poder de decretar o deboche institucionalizado, transformar a impunidade em cláusula única da Constituição brasileira e estabelecer de vez a insegurança jurídica.

O mesmo STF que aliviou as punições do impeachment para a presidente Dilma; o mesmo STF que dispõe de membros ávidos por legislar, por surrupiar competências que não lhes cabem; o mesmo STF, paradoxalmente, o Poder Judiciário, pode decretar o vale tudo. Pode estabelecer o caos completo. Pode aniquilar toda a previsibilidade e fomentar a ruptura institucional.

Pode fazer tudo isso se der um simples recado: a lei não é para todos. Alguns merecem mais cuidados do que outros. Lula não estava nutrindo delírios de grandeza: o Brasil é dele mesmo. Dele e de toda a excelentíssima escória que se beneficiará das deliberações arbitrárias de insanos de toga.

Essa situação periclitante nos encontra divididos, arrefecidos pela tímida melhoria do peso sobre os bolsos, mas enfrentando-nos uns aos outros por preferências eleitorais. Até certo ponto, tudo isso é naturalmente compreensível; até certo ponto. Para além deste, passará a ser irresponsabilidade. Passará a ser a mais completa falta de percepção de prioridades.

Ir às ruas no dia 3 – e no dia 4, em Brasília – não é apoiar esse ou aquele candidato. Não iremos às ruas para que tal ou qual plataforma triunfe. Não iremos para que tal ou qual movimento organizado tenha sucesso. O momento é de clareza cristalina, na mesma proporção em que dolorosa, e não demanda grande complexidade para ser compreendido: a manifestação para que Luiz Inácio Lula da Silva seja preso, para que o STF não nos subtraia os mínimos fundamentos de uma sociedade organizada sob a égide da lei, é uma manifestação tão ou mais importante, tão ou mais decisiva, quanto aquelas que empreendemos pelo impeachment.

Se há bandeira que nos deve unir, à revelia de partidos e desavenças por quinquilharias, é o combate a este drama capital. A hora é de sermos grandes, não de nos atarmos os pés e nos quedarmos na pequenez. O STF nos desafiou, mais uma vez. Ele desdenha de nós. Sente-se inteiramente fora do alcance do homem comum. Acredita que pode fazer, julgar e executar a lei, todo-poderoso, sem consequências.

Se não queremos que nossos descendentes olhem para trás e se envergonhem do silêncio desonroso com que teremos respondido, temos o dever de estar nas ruas novamente. O inimigo, desta vez, é mais poderoso que uma presidente da República e acredita que nosso grito não pode encontrá-lo. Acredita que suas chicanas medíocres tem o condão de pairar ilesas sobre a consciência do povo.

Pelo nosso futuro como nação, pelos nossos filhos, netos e bisnetos e, talvez de forma ainda mais gritante, pela nossa honra pessoal, é hora de provar que estão errados. É hora de declamar nosso apreço pela impessoalidade da lei. Hora de deixar registrado, em verde e amarelo, que nossa bandeira não é uma excrescência sobre a qual esses senhores têm o direito de cuspir, a que possam dar de ombros. 18h, dia 3, e em Brasília, dia 4, nós temos um compromisso. Não faltemos.

Fonte - www.revistaamalgama.com.br/

(*)Lucas Berlanza é Jornalista, colunista do Instituto Liberal e editor da Sentinela Lacerdista. Autor do Guia bibliográfico da Nova Direita.

domingo, janeiro 21, 2018

Antes de candidatos, precisamos discutir as eleições



por Lucas Berlanza(*).



Já iniciando o tão aguardado 2018, aqueles que se dizem sequiosos por modificar o curso do Brasil se engalfinham e vociferam acusações, em plena pré-campanha por candidatos preferidos. Em um mar de trocas de agressões virtuais entre militantes absolutamente convencidos do voto que depositarão nas urnas – por um candidato, qualquer que seja, que nem se sabe com segurança se chegará ao pleito em condições de disputar -, parece imperar a sensação de que o de que precisamos é de nomes.

Precisamos mesmo, não há negar. No entanto, há pelo menos um tópico que soa soterrado nessa avalanche e que, se não discutido como deveria, a fará parecer ainda mais precipitada. Pouco importa o nome do sujeito que vamos depositar na urna, seja para presidente, seja para deputado, governador ou senador, se não confiarmos no sistema eleitoral e se as regras do jogo não forem cumpridas. Esse é o ponto básico donde importa partir – e, ao que tudo indica, não estamos começando por ele.

As recentes decisões repugnantes do Tribunal Superior Eleitoral nessa matéria, sob comando de Gilmar Mendes, não estão atraindo a atenção que deveriam. Se não acreditamos no sistema através do qual a nossa vontade se deve expressar no apontamento de nossos representantes, toda a credibilidade dos alicerces básicos de nossa comunidade política degenera (ainda mais do que já está degenerada) e corremos o risco de cogitar imprevisíveis soluções de força. Se queremos confrontar os nossos problemas sem recorrer a isso, não há assunto mais importante no momento para o Brasil do que esse.

Em 2014, sobretudo com a penetração das redes sociais e do mundo da Internet no cenário da política, muitos relatos de fraudes nas urnas e problemas graves no registro dos votos foram divulgados e registrados, ensejando até um pedido de auditoria feito pelo PSDB. Considerou-se que nada estava confirmado, mas as alegações das autoridades não aplacaram as dúvidas da população e de movimentos da sociedade civil, insatisfeitos também com a apuração secreta em sala fechada acessível apenas a técnicos.

Desde 2015, porém, a questão de haver ou não fraude nas urnas foi rebaixada para um segundo plano; isso porque não se deveria mais estar discutindo se há ou não necessidade de oferecer instrumentos que reforcem a credibilidade do sistema. O Brasil já decidiu que sim. A Lei 13.165, acolhida durante a minirreforma eleitoral daquele ano, respeitou a desconfiança popular e, no seu art. 59-A, determinou que a urna deverá imprimir o registro de cada voto, que será depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local lacrado anteriormente. Se isso não é uma garantia empírica absoluta, também é verdade que aumenta e muito a confiança geral no processo e não existe mesmo um sistema perfeito.

Nossas potestades jurídicas, lamentavelmente, julgando-se sempre senhoras do supremo juízo, acima do bem e do mal, já há muito ignoram sua principal atribuição, que é a de fazer cumprir as leis, não manipulá-las ou rechaçá-las como bem entenderem. Eis porque Gilmar Mendes se achou no direito de “decidir” que as urnas com impressão seriam “muito caras” e, por isso, só incluiria impressoras em 5 % das cerca de 600 mil urnas no país!

A rebeldia de Mendes foi alvo de artigo do jurista Modesto Carvalhosa publicado em O Globo no início de dezembro do ano passado. Carvalhosa chamou Mendes de “prevaricador”, contestou a estimativa de que o custo seria de R$ 2 bilhões (para ele, na verdade, não passaria de R$ 125 milhões) e apontou uma “clara intencionalidade delituosa” na não-destinação de recursos do Orçamento para a iniciativa.

Temos ciência da escalada de nossas dívidas, de que nossos gastos públicos continuam elevadíssimos e de que todo o equacionamento da recessão empreendido com sucesso pela equipe econômica do governo Temer não significou pôr um ponto final a nenhuma dessas preocupações. Ainda despendemos recursos demais em atividades e estruturas que não deveriam estar nas mãos do Estado de maneira alguma. Ainda há muitas estatais para privatizar e ministérios para aniquilar. Contudo, se há um gasto que não é supérfluo, é aquele que contribui para melhorar a respeitabilidade, aos olhos do povo, do próprio sistema de exercício da nossa democracia. A não ser assim, repetimos, tudo desmorona. A concepção de Gilmar Mendes de que se trata de gasto excessivo não poderia ser mais injustificável; se há algo importante em que vale a pena gastar recursos do Estado neste momento, é isso.

A tal desatinada decisão, vieram se somar algumas notícias vergonhosas publicadas pelo site O Antagonista – vergonhosas, é claro, para o nosso querido TSE. Uma delas dá conta de uma ação civil sendo movida pela União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf) para obrigar o TSE a suspender um pregão eletrônico que estava marcado para começar no último dia 12 (sexta-feira) para a aquisição de 30 mil impressoras. O documento pede, claro, que Gilmar cumpra a lei de uma vez e use recursos do Orçamento para introduzir a impressão em todas as malditas urnas. Porém, antes fosse só isso! O juiz Eduardo Rocha Cubas ainda acusa o TSE de superfaturar o valor das urnas e direcionar a licitação, incluindo ainda itens que restringem a concorrência!

Segundo o mesmo site, Gilmar Mendes fechou um contrato sem licitação em 2016 com a Flextronics Instituto de Tecnologia por R$ 7 milhões para “a criação de um novo modelo de urna eletrônica”. A equipe de Modesto Carvalhosa também está atenta e denunciou que o projeto não está funcionando a contento, enquanto dinheiro público está sendo torrado para pagar a essa empresa. A tal da Flextronics pertenceria ainda ao filho do ex-ministro da Fazenda de Sarney, Dilson Funaro, que já teve seu nome envolvido em denúncias de fraudes. O contrato ainda incluiria “cláusulas que chamam atenção de especialistas, como o pagamento de diárias do contratado e a liberação de pagamento (R$ 1,7 milhão) pela simples entrega de um ‘plano de trabalho’”. É estarrecedor!

Não é só isso (!!!). O pregão para escolher a empresa que fornecerá as desprezíveis impressoras para apenas 5 % das urnas se arrastou até o início da tarde de sexta, quando foi suspensa para a empresa do lance vencedor poder refazer seus cálculos. Adivinha que empresa foi? A “má e velha” Smartmatic! Sim, a infame empresa venezuelana que com muito custo admitiu fraudes nas suas urnas naquele país. A novela se repete, sem ter graça nenhuma.

Até o momento, aparentemente, apenas Modesto Carvalhosa e os juristas e advogados em seu entorno estão realmente focando neste problema. É necessário que esse quadro se modifique. Declaramos apoio à denúncia de Janaína Paschoal e outros juristas contra a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, situação em que o Brasil pode ter impacto, dada a sua posição histórica de liderança na região, ainda que hoje tão combalida. Também queremos aqui declarar apoio às mobilizações de Carvalhosa contra uma evidente movimentação do TSE de Gilmar Mendes na direção contrária aos interesses do cidadão brasileiro.

Os movimentos populares precisam estar totalmente conectados a essa demanda. Se o escárnio persistir, isso pode se tornar motivo para voltar às ruas.




(*)Lucas Berlanza é Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),  editor dos sites “Sentinela Lacerdista” e “Boletim da Liberdade” e autor do livro “Guia Bibliográfico da Nova Direita – 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro”.
Fonte - InstitutoLiberal.org.br

quinta-feira, novembro 02, 2017

Ciro Gomes: falso patriota, verdadeiro vendido






por Lucas Berlanza(*).




Aquilo que Gustavo Corção chamava de “patriotismo” (e Roberto Campos de “nacionalismo de fins”) não pode ser confundido com o que o próprio Corção chamava de “nacionalismo” (e Campos alcunhava “nacionalismo de meios”). Esta é, no entanto, uma confusão recorrente no Brasil, desde Getúlio Vargas. Associando a experiência de pertencimento e apreço pela pátria a uma devoção irracional pelos “minerais” e pela sua exploração mediante a burocracia estatal, muitos de nossa gente se tornam presas fáceis de demagogos que se dizem os legítimos defensores das potencialidades da nação contra os traidores “entreguistas”, vendidos ao “imperialismo americano”, dispostos a retirar de “nosso controle” todos os nossos bens.

Tais demagogos, não raramente, são, eles próprios, não apenas os maiores falsos patriotas, como também os verdadeiros vendidos. Foi o que demonstrou, se alguém ainda precisava de mais alguma evidência, o pedetista Ciro Gomes, aventado como possível esperança das esquerdas na disputa eleitoral de 2018, em discurso que fez em evento tão emblemático quanto repulsivo: a inauguração do Memorial Luiz Carlos Prestes, em Porto Alegre, que fizemos questão de denunciar em artigo anterior. Em uma tentativa de recapturar a atenção do grosso do povo e não enfatizar tanto as pautas mais próprias à esquerda “pós-moderna desconstrucionista lacradora”, preferindo regressar um tanto ao “Petróleo é nosso”, ao perceber que o outro discurso sofre uma reação no Brasil e no mundo, Ciro Gomes quer agora posar de grande brasileiro, apaixonado por seu país.

O que Ciro Gomes não entende é que o verdadeiro patriotismo não está em querer preservar, nas mãos da máquina estatal e das castas políticas, o controle de empreendimentos vultosos, cujos prejuízos são repartidos com a população. A aposta no mercado e na iniciativa privada não equivale e nunca equivaleu ao desprezo pela nacionalidade, na medida em que justamente conduz a nacionalidade, através de sua constituição fundamental – os indivíduos que a compõem, por óbvio – a mais riqueza e mais prosperidade. Só neomercantilistas paralisados no passado pensariam o contrário. Uma nação não se resume ao seu Estado; é muito mais que isso. É a esfera cultural, simbólica, civilizacional, de valores da sua sociedade. É tudo o que o comunismo, esse sim, não respeita. Que dizer do senhor Ciro Gomes, prestando homenagens a um comunista assassino?



Diz ele em seu discurso: “A sociedade gaúcha se afirma para a admiração de quem ama o Brasil e conhece a sua história. O que fazem as sociedades sadias civicamente? Elas homenageiam os seus do passado. Elas homenageiam seus ancestrais. Elas consolidam ícones, memórias, para guardar a lembrança, imortalizar o exemplo dos seus maiores. E é o que estamos fazendo hoje, em tempos tão trágicos como os que estamos vivendo. (…) O que vocês estão fazendo é imortalizar a memória de um brasileiro absolutamente extraordinário. (…)”. Enaltece a coragem de Prestes ao se lançar pelo país, arriscando a carreira de tenente, saindo do comodismo, para batalhar no Tenentismo por uma alternativa, ainda sem ser comunista. Segundo Gomes, ele foi “aprendendo a ser” comunista “vendo inclusive que nas áreas mais miseráveis, a que ele mais devotadamente dedicava seu entusiasmo, o risco da sua vida, foi onde encontrou a mais encarniçada resistência reacionária, manipulada pelo terror, pela mistificação, pela propaganda. Olha como muda pouco o Brasil”, ressaltou. “Estamos reunidos aqui, enquanto a maioria simplesmente se aquieta em casa assistindo ao vilipêndio e à venda pura e simples do futuro da pátria brasileira”. Saudou então a petista Maria do Rosário, orgulhou-se de caminhar ao lado de pessoas como Lula (sim, exatamente!) e frisou que, apesar das diferenças (até parece!), eles estarão sempre juntos no “debate fraterno” para que “eles” (os inimigos, a direita, o PMDB, o Donald Trump, o Satanás, seja lá o que for, qualquer um que ache que a Petrobras deveria ser privatizada) não triunfem. Luiz Carlos Prestes, para ele, faz falta, pelo seu exemplo de “patriotismo”, de “inquietude”, de inconformidade com as “mazelas e desigualdades”. Termina, é claro, se referindo a Temer, sem usar seu nome, como o “vagabundo golpista” que roubou o Brasil e perguntando ao jovem brasileiro o que fará para ser amanhã “lembrado como Prestes”.

Comecemos pelo final dessa brilhante peça de venenosa oratória. Nada faremos, Ciro Gomes. Não queremos ser lembrados no futuro como Luiz Carlos Prestes. Não queremos ser lembrados como o Cavaleiro da (Des)Esperança que, no limiar dos dramas do século XX, ficaria ao lado do Komintern e da União Soviética, traindo a sua pátria, em nome de uma ideologia fanática e sangrenta que despreza as sensibilidades e as bases mais primordiais da nossa civilização. Não queremos ser lembrados como o assassino da jovem Elza Fernandes. Fosse quem fosse e como fosse esta jovem senhorita sobre quem pouco sabemos e que, aos dezesseis anos, foi executada em nome da maravilhosa “Revolução” de Prestes, ela certamente faz mais falta que ele próprio. Como fazem mais falta ao mundo os milhões de mortos pelo comunismo que as dezenas de ditadores e lunáticos que perpetraram a nefasta trama vermelha sobre a face planetária.

Decerto que concordamos em que uma sociedade civilizada homenageia seus heróis e ícones, cultiva os valores dos exemplos. E nós os temos. Temos a sábia antevisão de um Bonifácio, a bravura de um Pedro I e uma Maria Quitéria, a generosidade e sensibilidade ímpares de um Nabuco, o ardor pelo saber de um Pedro II, a eloquência de um Rui Barbosa, a solidariedade de uma Isabel, a lucidez de um Roberto Campos, o vigor combativo de um Lacerda, o espírito realizador de um Mauá, o pioneirismo de um Donald Stewart Jr. Não precisamos das armas de Prestes, a desfraldar a bandeira da tirania.

Fala Ciro Gomes que Prestes foi desafiado por uma encarniçada “resistência reacionária” no seio dos miseráveis, manipulados pelo “terrorismo” e pela “propaganda”. Admitindo a expressão “reacionária” no pior dos sentidos, constatamos o quanto isso é ainda possível no Brasil diante do terrorismo perpetrado pelos governos petistas, dos quais Ciro não se envergonha, pretendendo ganhar o Planalto em 2014 à base da ameaça de que a vitória adversária seria o fim imediato do Bolsa Família.

Disposição e inquietude poderiam ser virtudes até em nazistas, pouco ou nada dizendo sobre o resultado das pregações de quem as experimentasse. De fato, Lula já expressou, em certa oportunidade, admiração pela disposição de Adolf Hitler em “ir lá e fazer o em que acreditava”. “Patriotismo”, esse não dá as caras, nem em Luiz Carlos Prestes, nem em Lula e Maria do Rosário. Que patriotismo é esse que submete o país ao projeto soviético, que suplanta as aspirações nacionais em prol das tramoias sub-reptícias do comando central stalinista, ou que, modernamente, constrange a dignidade diplomática nacional aos ditames da “Pátria Grande”, do delírio bolivariano, do Foro de São Paulo? Que patriotismo é o do próprio PDT de Ciro Gomes, flagrado recentemente em conversas estranhas com o Partido Comunista chinês, aquele mesmo que parece muito interessado em difundir pelo mundo as maravilhas do seu modelo autoritário e socialista?


Ciro Gomes nada sabe sobre o significado de patriotismo. O defensor da privatização não é o verdadeiro “entreguista”. O verdadeiro “entreguista” e “vendido” é aquele que comercializa a sua honra, a sua verdade, a sensibilidade geral de seu país, a projetos ideológicos estranhos à sua gente e às aspirações de seus fundadores. O Brasil de Prestes seria um “puxadinho” da União Soviética. Seu exemplo tem de ser lembrado, sim, apenas, e realmente apenas, para jamais ser repetido.

Fonte:institutoliberal.org.br


(*)Lucas Berlanza-Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é carioca, editor dos sites “Sentinela Lacerdista” e “Boletim da Liberdade” e autor do livro “Guia Bibliográfico da Nova Direita – 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro”.

segunda-feira, setembro 18, 2017

Até onde a imprensa vai para atacar um desafeto como Bolsonaro?








por Lucas Berlanza (*).




Por esses dias, tivemos acesso a um artigo publicado no The New York Timescom o título The End of the Left and the Right as We Knew Them. A tese principal do autor, o jornalista e acadêmico “liberal” (da esquerda americana) Thomas Edsall, é de que as divisões políticas tradicionais seriam insuficientes para dar conta do quadro contemporâneo, em que as principais divisões se centrariam, grosso modo, em uma espécie de nacionalismo de modos tradicionais, nalguns países majoritariamente rural, presa de um populismo avesso ao cosmopolitismo; e uma esquerda “bem-formada, educada, instruída e prafrentex”, aberta a abraçar todo tipo de causa nomeadamente progressista.

A despeito de todos os preconceitos (no sentido mais negativo do termo), da ausência mal-intencionada de nuances e do proporcional excesso de simplificações, o texto de Edsall sugere um ponto digno de reflexão: o descolamento de uma certa elite intelectual (e mesmo econômica) dos sentimentos e referenciais simbólicos, culturais e políticos da população em geral, algo que assumiu contornos de ampla alienação. Tal descolamento levou ao horror e à surpresa, por exemplo, diante da eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos – mas não sem antes um dos principais canais de veiculação das agendas dessa “elite”, a grande imprensa, disseminar uma série de “notícias” de toda sorte distorcendo, exagerando ou por vezes até inventando afirmações falsas sobre o presidente.

O mal das fake News não se limita aos Estados Unidos. Pense-se o que se queira a respeito de lideranças como Trump, a imprensa pode ser tão ou mais perigosa quanto um político à testa do Estado a partir do momento em que consideramos sua prerrogativa forjar historietas para difamar seus desafetos. Antes que certas imaginações afetadas pelas mesmas sensibilidades idiossincráticas alastradas em meio a essa “elite intelectual-econômica” nos acusem de estímulo à censura, como a histeria as tem levado a fazer em relação a certos episódios, estamos apenas apontando um fato preocupante. Considerando que para muitos, embora felizmente cada vez menos numerosos, a grande imprensa ainda detém o poder de estabelecer a verdade, e mesmo nós, pessoalmente, na pressa, já incorremos em nossos enganos graças a ela, é uma realidade gravíssima para a qual devemos estar atentos, também em nosso país.

Jair Bolsonaro, cotado para concorrer à presidência da República, esteve em Minas Gerais, onde, falando ao público, enfatizou suas conhecidas bandeiras, como o combate ao desarmamento, a “exploração das nossas riquezas” e o enfrentamento das hipocrisias dos militantes de entidades que se dizem defensoras dos “direitos humanos”. A imprensa repercutiu a sua presença por lá, mas da pior maneira possível: distorcendo e descontextualizando o que disse. Como infelizmente temos que ser muito pedagógicos e redundantes nos dias que correm, insistimos: fosse Bolsonaro, Caiado, Doria ou até mesmo o Lula o personagem envolvido, por menos apreciado ou respeitável aos nossos olhos, precisamos reagir ao embuste. Neste caso, os canais e páginas liberais e conservadores, dentro de suas possibilidades, têm o dever de retificar o que é espalhado por essas redações onde escasseia o caráter, se quiserem dar testemunho de seus valores.

O Globo, o Yahoo, o Hoje em Dia, o Estado de Minas e, obviamente, o Brasil 247, para ficar nos exemplos que encontramos até o momento, reproduziram como notícia uma declaração de Bolsonaro dando conta de que ele prometeu aos mineiros a patética e surreal medida de criar uma abertura do estado para o mar. “Vamos explorar nossas riquezas, quem sabe até abrindo uma saída pro mar para Minas Gerais. Nós vamos satisfazer o desejo do mar de ganhar Minas, podem ter certeza disso”, teria dito o parlamentar.

Realmente, Jair Bolsonaro disse essas palavras. Porém, como poderá constatar quem assistir ao vídeo (logo abaixo), aguardou as gargalhadas para complementar “brincadeiras à parte”. Ninguém que assista a esse registro dos fatos poderá testemunhar que Bolsonaro falava sério, a não ser que: 

1) tenha seríssimas deficiências cognitivas e desconheça o conceito de “piada”; ou 
2) seja desonesto.





Nota do Blogando Francamente:
Marco Antonio Villa, o professor, comentarista da Jovem Pan (junto com Joseval Peixoto) tomaram a "fake news" da saída para o mar como verdadeira, sem evidentemente terem visto o vídeo, baseando-se em noticia do Globo ou agindo de má fé.


É estarrecedor que tantos jornalistas, de veículos diferentes, tenham compartilhado uma interpretação tão primariamente equivocada; o automatismo na pretensão de ridicularizar uma figura indesejável se sobrepôs, sem a menor ética, à preocupação com averiguar os acontecimentos – ou, no caso de quem esteve efetivamente no local e veiculou a informação, ficou claro que temos muitos repórteres enquadrados nos dois problemas acima mencionados, no mínimo danosos ao ofício.

Apesar da persistência nas mentiras por parte da imprensa ser uma seríssima constatação, na experiência americana, isso acabou fortalecendo o seu alvo. Essa consequência provou que os “toscos e caipiras” aos quais sub-repticiamente se refere a análise de Edsall estão, em significativa parcela, cansados dessa fina elegância revestindo as mentiras mais sórdidas. Edsall encerrou seu artigo como que dizendo que a esquerda precisa aprender a falar um tanto mais a esse “povão” para voltar a ganhar espaço – ou seja, basicamente lhe deu um conselho. Achamos que seria decente acrescentar que essa “esquerda iluminada” nas redações de jornal deveria simplesmente parar de mentir, principalmente porque, hoje em dia, não é mais tão difícil apanhá-la em suas travessuras.


(*)Lucas Berlanza - Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lucas Berlanza é carioca, editor dos sites “Sentinela Lacerdista” e “Boletim da Liberdade” e autor do livro “Guia Bibliográfico da Nova Direita – 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro”.

Fonte: institutoliberal.org.br

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Você está bem, Reinaldo Azevedo?






por Lucas Berlanza do Instituto Liberal


Foto Montagem de OAC




Nos anos que imediatamente antecederam meu ingresso à faculdade, bem como no seu começo, sempre estive a favor do colunista da VEJA, Reinaldo Azevedo, autor de O País dos Petralhas, diante dos ataques constantes que o via receber na universidade. Achava – e continuo achando – que ele era um articulista talentoso, capaz de irritar profundamente as esquerdas radicais por ser uma das poucas vozes a questionar sem dó suas articulações políticas.


Reinaldo se portou como guerreiro em seus textos, combatendo as artimanhas do petismo com desenvoltura e até, nalguns momentos, certa poesia. Estava certo de ser esse o único motivo para merecer o escárnio e a zombaria com que era tratado. Eram de sua autoria algumas das melhores sentenças e definições irônicas do entulho lulista. Não que concordasse com ele o tempo todo, e é natural sempre haver alguma discordância entre duas pessoas que se dispõem a verdadeiramente pensar; mas eu o admirava como colunista.


De uns tempos para cá, porém, a partir do momento em que Lula e Dilma se reduziram aos trapos que merecem ser, comecei a pensar que Reinaldo estava um tanto esquisito em sua eleição de prioridades. Quando teceu suas primeiras críticas a Sérgio Moro e aos procuradores da Lava Jato, observei aquilo com cautela e respeito. Não endosso qualquer discurso, afinal de contas, que santifique pessoas e as torne automaticamente impolutas, por maiores sejam os seus méritos; Moro e os procuradores podiam e podem, de fato, estar equivocados em alguns aspectos. Por que não criticá-los, se este fosse o caso?


O prosseguimento das publicações de Reinaldo, porém, mudou bastante a minha percepção. Percebi que, na contramão de muitos articulistas e colunistas, diante de todos os nossos problemas, ele elegeu as figuras por trás da Operação Lava Jato como alvos prediletos de seus vitupérios, como que numa verdadeira perseguição inveterada. Chovem acusações de que seja tucano, e me sinto bastante desconfortável em fazer ilações sobre sua ética profissional, mas é impossível não vir à cabeça a triste dúvida se, no momento em que quase todos os partidos, e não apenas o PT, ficam com a água no pescoço nas delações avaliadas, a recorrência dessas publicações se tornou tão intensa.


Quando quase todos estavam torcendo para Carmen Lúcia homologar as delações da Odebrecht, Reinaldo deu um chilique na Jovem Pan, taxando-a de aventureira; sobre Donald Trump, ele engole todas as deformações que a imprensa de esquerda fabricou a respeito; numa das últimas de sua lavra, escrachou Moro por ter comentado à imprensa, em nota protocolar, depois de questionado insistentemente, que Fachin é um jurista eficiente e de elevada qualidade. Isso, para ele, foi ir “além das sandálias”. Moro estaria muito vaidoso. Ninguém compreende a lei, apenas ele, Reinaldo, e os especialistas que consulta. Sua forma de criticar quem mereceria um pouco mais de consideração e alardear certezas jurídicas, particularmente na rádio, quase como, com o perdão da expressão, uma franga tendo um ataque histérico, só o tornou ainda mais antipático aos meus olhos.


Agora, comentando o governo Temer, Reinaldo, que se diz liberal, acredita quase em que não é relevante a palhaçada de aumentar o número dos ministérios, abrigando uma desembargadora no Ministério de Direitos Humanos – como se lei já não houvesse – e Moreira Franco, oportunamente premiado com um foro privilegiado, na Secretaria Geral da presidência, alçada a Ministério. Une-se àqueles que me decepcionam ao emular os petistas e fechar os olhos para os eventuais malfeitos de tucanos ou peemedebistas.


Tudo isso, a meu ver, é um erro grosseiro de posicionamento, mas ainda pode ser visto como bastante subjetivo; o mesmo não se pode dizer de bobagens como a que segue, em que, comentando a reeleição de Rodrigo Maia para a Câmara – que, justiça seja feita, Reinaldo afirmou ter sido ilegal -, o colunista disse: “é certo que eu e Maia pertencemos a um mesmo universo mental em matéria de política: somos liberais – o que se chamaria na Europa de ‘conservadores’ e, nos EUA, de ‘direita’. Infelizmente, no Brasil, rematadas bestas reivindicam essa condição e só criam embaraços à agenda liberalizante, com seus direitos fascistoides e regressivos”.


O que Reinaldo diz é de tal maneira uma enormidade de bobagens que fica difícil definir por onde começo. Em primeiro lugar, é discutível se o que é chamado de “liberal” no Brasil é chamado de “conservador” na Europa e de “direita” nos EUA; esse é o tipo de frase que não diz coisa alguma, porque esses termos têm um uso tão elástico entre nossos pobres tupiniquins, quiçá no resto do mundo. Contudo, se é para nos preocuparmos com o que se diz por aí ou como as coisas são chamadas, aquilo que a imprensa mundial faz, e Reinaldo aqui, sub-repticiamente, também, é chamar qualquer coisa que esteja “à direita” de tipos como Rodrigo Maia de “extrema direita” ou “fascista”.


A “direita saudável”, para Reinaldo Azevedo, é Rodrigo Maia, do partido Democratas do Rio – cujo pai fez, há pouquíssimo tempo, campanha em nome da legenda no estado clamando por um “governo público” e contra as privatizações. Rodrigo Maia que foi eleito em entusiástico apoio tanto do governo quanto de forças à esquerda que desejam manter engavetadas coisas como a CPI da UNE. Rodrigo Maia que é uma figura tão “liberal” que se ornou de pedantismo quando disse que quem manda na Câmara é ele, quando o relatório da Comissão que julgou o pacote de 10 medidas chegou à casa legislativa, como se fosse uma espécie de ente superior e o povo que assinou (certo ou errado) o tal pacote não fosse o mesmo a pagar seu salário.

Já escrevi aqui tantas vezes e reitero: acho que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) tem sido um bom presidente da Câmara, ainda que eu discorde disso ou daquilo. Mais: penso ser ele, de longe, o melhor dos três postulantes até agora conhecidos — e isso pode mudar até o dia da votação, 2 de fevereiro. Os outros dois são Jovair Arantes (PTB-GO), que tem a simpatia de parte do Centrão, e André Figueiredo (PDT-CE).
Por Reinaldo Azevedo
30 jan 2017, 05h43



Quer dizer que qualquer um que esteja à direita de figuras fisiológicas como Rodrigo Maia – fisiológicas e sem qualquer carisma, diga-se de passagem –, com quem o próprio Reinaldo se compara, é um fascista? Então quer dizer que Rodrigo Maia é a referência de liderança saudável da direita para Reinaldo Azevedo, e ambos, na cabeça do colunista, são a mesma coisa que, digamos, os Republicanos dos Estados Unidos e os conservadores britânicos. Rodrigo Maia seria uma Margaret Thatcher ou um Ronald Reagan. É isso?

Reinaldo Azevedo, você está bem?



sexta-feira, novembro 11, 2016

Imprensa e “elite iluminada”: You’re fired!.











por Lucas Berlanza(*).




O mundo se dividiu entre a estupefação e a euforia, unindo-se no reconhecimento da importância histórica do episódio, ao assistir, na madrugada do dia 8 para o dia 9 de novembro, à eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América. O polêmico magnata, empresário e ex-apresentador de televisão, um autêntico outsider, que jamais ocupou cargo público, se sentará, a partir de janeiro, na cadeira mais importante do planeta.

Deixando para trás já nas primárias opções mais fiéis ao conservadorismo clássico americano, ao conservadorismo propriamente liberal, tais como Ted Cruz, representante do Tea Party, e o cirurgião Ben Carson, os americanos, a nosso ver, já não tinham feito a melhor das escolhas. Porém, Trump não passou adiante apenas por sua retórica inflamada e boquirrota e seus apelos incensados; os ditos conservadores também erraram. Ted, por exemplo, apontou o dedo para Trump quando manifestos contra seus comícios saíram do controle, encampando a narrativa da esquerda. Do ponto de vista daperformance, portanto, embora não nos parecesse o ideal, a sua nomeação à disputa final foi justa.

E então os americanos chegaram à sua grande decisão com duas opções impopulares. De um lado, a Democrata Hillary Clinton, defensora de estupradores, capaz de se gabar de clientes que mentiram no tribunal e de ironizar vítimas, como os áudios comprovam; envolvida em uma vasta soma de acusações de corrupção e tráfico de influência contra ela, seu marido e a Fundação Clinton; alvo de investigações do FBI e de um sem-número de revelações do Wikileaks. Mais do que isso, e talvez mais importante até: tendo o poder de fazer com que, por muito tempo, a Suprema Corte, a instância suprema da Justiça no país, estivesse dentro das rédeas do projeto dos Democratas, que, em uma inflexão indiscutível para a esquerda, atiçaram as minorias, instauraram os devaneios belicistas do politicamente correto, acabaram levando ao aumento da violência no país e pretendiam, tal como dissera o ainda presidente Barack Obama, “transformar fundamentalmente a América”, deformando de vez o maior bastião do Ocidente, e instigando um confronto aquecido com a Rússia de Putin.

Do outro lado, estava Donald Trump. Felizmente, o povo fez a única escolha possível e, mesmo com todos os defeitos que possui, o candidato Republicano – que já teve ligações com os Democratas no passado – cumpriu a obrigação de vencer uma mulher de índole no mínimo duvidosa e sem carisma, que representava um projeto perigoso para a América e o mundo. O partido ainda conseguiu a maioria em todas as casas do Legislativo.

Vencendo dos males o menor, o que esperar agora, olhando para o futuro, de Donald Trump? É difícil cravar o que a vitória do “trumpismo” e seu mandato representarão para o mundo. Alguns analistas o comparam ao antigo presidente Andrew Jackson (1767-1845), um líder militar e herói de guerra que, durante o período conhecido como Democracia Jacksoniana, mobilizou parcelas do sentimento popular, olhando particularmente para o homem branco provinciano e declamando contra as “elites” corruptas. Não que nos deixemos iludir por esse discurso racista de que somente brancos votam em Donald Trump, mas de fato ele cresceu numa cruzada contra o que chamou de “establishment” globalista, uma faixa que engloba os esquerdistas Democratas e mesmo alguns Republicanos mais tradicionais na crença em que é preciso reforçar núcleos de poder supranacionais sobre as soberanias nacionais mundo afora, e de que os EUA têm que se incumbir decisivamente desse papel.

Se por um lado Trump fala ao conservadorismo real, aquele com que pessoalmente nos identificamos – ataca o aborto, o politicamente correto, defende o ideário de nação e pátria, defende um juiz conservador para a Suprema Corte, defende o porte de armas, defende cortar impostos e regulações, chama o “terrorismo radical islâmico” pelo nome -, por outro, seu lado populista, com direito à proposta ridícula da construção do muro entre o México e os EUA financiado parcialmente pelos mexicanos, sugere um isolacionismo um pouco além da conta que, conquanto alveje com razão as pretensões ideológicas globalistas, sustentadas desavergonhadamente pelos burocratas de Bruxelas e por outros magnatas como George Soros, pode gerar tensões nas relações comerciais e incrementar as incertezas já naturais num cenário em que não se sabe o que significará o seu governo. Se a direita mundial ganha com Trump? Ganha, por um lado, pela derrota do projeto Democrata. Por outro: o triunfo de Trump instigará a emergência, em outros países, de uma direita liberal-conservadora autêntica, ao melhor estilo Reagan, Thatcher e Carlos Lacerda (com os quais Trump tem pouco a ver), ou animará movimentos nacionalistas e protecionistas que, em reação extremada ao status quo degenerado do Ocidente, cairão no colo do autoritarismo ao estilo russo-eurasiano? É o que nos resta aguardar para ver.

Descrito o cenário de dúvidas, há, porém, ao menos mais um motivo, esse realmente retumbante e indiscutível, para comemorar esse resultado: a derrota da imprensa e da “elite iluminada”, dos tiranos do bom mocismo, daqueles que, no Jornalismo, na classe artística ou na intelectualidade, se consideram a inteligência superior e saneadora dos males da humanidade. Estou falando, naturalmente, da Globo News, da imprensa brasileira, de comentaristas como Guga Chacra e Eliane Cantanhêde, que publicou, em seu Twitter, que, diante da derrota do acordo de paz com as FARC na votação popular colombiana, do Brexit e da vitória de Trump, se questiona “que democracia é essa” – ou seja, só é democracia quando ganha quem ela prefere. Estou falando de Caio Blinder e do pessoal do Manhattan Connection – e até do Antagonista. Também de boa parte da própria imprensa americana, particularmente a emissora CNN. Dessa gente que tinha absoluta certeza de que o resultado seria outro, que menosprezou o fenômeno Trump desde o começo e fez mais torcida que apuração – em espaços em que se espera ler reportagem e não, como neste blog, análises opinativas. Refiro-me também aos artistas chorões de Hollywood que falaram em se mudar para o Canadá se os americanos “deploráveis”, tal como Hillary os chamava, elegessem o Republicano.

Não somos apenas nós; dessa ou daquela forma, virando nessa ou naquela direção, o mundo não está mais tolerando discursos engomadinhos de quem afronta todos os valores ocidentais e as referências mais basilares sob o pretexto de estar “defendendo o povo e os mais pobres” – mas não consegue o voto destes últimos. A reação pode ser, nalguns lugares, extremada, desagradavelmente à altura do desastre contra o qual ela se volta; mas que não se esqueça de quem é a culpa. You’re fired.

Fonte: Mises

(*)Lucas Berlanza

Jornalista, graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela UFRJ e colunista. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.
Nota: Artigo publicado originalmente em Sentinela Lacerdista