por Deborah Srour
Agora já sabemos: a Irmandade Muçulmana é senhora do Egito. A grande questão é como o novo presidente Mohamed Morsi poderá resolver o paradoxo que o acordo de paz com Israel representa para a ideologia deste grupo islâmico radical.
Uma das promessas de campanha que o elegeu foi de cancelar ou no mínimo, re-examinar o tratado de paz com Israel. A Irmandade Muçulmana tem como objetivo maior a restauração do Califado Islamico que eles chamam de Estados Unidos dos Árabes com capital em Jerusalem. Em seus discursos Morsi nunca deixou de repetir o mantra do grupo: “o Korão é a Constituição, o Jihad é o caminho e a morte por Allah sua maior aspiração”. No entanto, em inglês, a estória é outra. Em Dezembro de 2011, ele afirmou ao senador americano John Kerry que o Egito tinha a obrigação de honrar os acordos assinados.
Então o que fica: a revisão ou o cumprimento do tratado de paz com Israel? Numa entrevista há um mês atrás, ele explicou a discrepância: Para que o Egito continue a respeitar o acordo, Israel por seu lado, teria que respeitar “todos” seus acordos. Para Israel há 2 acordos: o de paz com o Egito e o acordo com os palestinos. Como para Morsi Israel não tem mantido suas obrigações para com os palestinos, então o Egito não precisaria manter o seu acordo de paz com Israel.
Mas isto é uma besteira. O próprio tratado de paz estabelece no seu Artigo VI(2) que “as partes se obrigam a cumprir suas obrigações em boa-fé independentemente de qualquer ação ou omissão de qualquer outra parte ou de qualquer instrumento estranho à este Acordo.” Mas a comunidade internacional obviamente não sabe destes detalhes. Os Estados Unidos, como intermediários, se obrigaram a tomar todas as medidas para garantir que as partes observassem o Acordo de Paz. O que a América fará se Morsi decidir colocar o Acordo com Israel na mesa para ser renegociado ou num referendo nacional?
Agora tudo depende do que a Irmandade Muçulmana acha que pode fazer. Apesar da plataforma profundamente antisemita que é consenso geral, a vitória apertada da Irmandade mostra que metade da população não concorda com a imposição da lei islâmica no país. Os partidos seculares do Egito e a imprensa jordaniana e palestina têm expressado ira e desapontamento pelo apoio e reconhecimento da administração Obama à Irmandade Muçulmana.
Agora Morsi e seu governo terão que equilibrar seu profundo ódio aos judeus e à existência de Israel com os limites impostos pela comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos. Como cumprir o que prometeu em sua campanha sem ameaçar a continua ajuda americana que alimenta milhões de egípcios? Os outros países da região estarão prestando atenção. A mídia e líderes muçulmanos já não se incomodam com o politicamente correto e publicam artigos abertamente anti-semitas. Não mais sob a máscara do anti-sionismo mas profundamente anti-judaicos. É o que aconteceu esta semana no Irã.
Apesar de ter uma das maiores populações judaicas num país muçulmano, o vice-presidente do Irã disse num forum das Nações Unidas contra as drogas que os Judeus controlam o tráfego internacional de entorpecentes. Ele disse que os judeus vendem drogas para cumprir um mandato do Talmud: “de destruir qualquer um que se oponha aos judeus”. Para ele, a conspiração é obvia já que segundo suas fontes, não existem judeus drogados. Ele chegou ao ponto de dizer que “a Republica Islamica do Irã pagará qualquer um que encontrar um só sionista viciado. Eles não existem. Esta é a prova do seu envolvimento no tráfego de drogas”.
E a reação da mídia à este discurso? Os jornais do mundo livre ou não se incomodaram ou tentaram minimizar o efeito destas palavras. De acordo com o jornal the New York Times, o vice-presidente não odeia judeus, só os sionistas. Seu reporter, Thomas Erdbrink não mediu esforços para nos convencer que tirando esta pequena aberração, o regime iraniano é perfeitamente respeitável. Nós sabemos que este não é o caso. O Supremo Líder rotinamente se refere à Israel como um câncer que deve ser removido. Vários jornalistas escreveram sobre os discursos antisemitas do vice-presidente Mohamed-Reza Rahimi como prova de que o Irã não pode adquirir armas nucleares.
É óbvio que um regime de fanáticos religiosos que procura efetuar um genocídio messiânico não pode adquirir armas nucleares. Mas da mesma forma que Hitler chegou a ser nomeado “O Homem do Ano” pela revista Time em 1939, os jornalistas de hoje continuam a desconsiderar ataques antisemitas de líderes fanáticos que prometem aniquilar o povo judeu. 70 anos mais tarde, nada une mais os muçulmanos do que o ódio aos judeus e mesmo assim, o antisemitismo é o assunto menos divulgado do planeta.
A mídia ocidental acha que o mundo islâmico deve ser apaziguado e que devemos encontrar meios para acomodar a Irmandade Muçulmana e o Irã. Reportar ataques antisemitas não ajuda. Outros dizem que o ódio aos judeus é justificável por causa dos palestinos. Ambas as desculpas para o ódio aos judeus são escandalosas. E a contínua presença de dignatários estrangeiros dando legitimidade à Teherã é ainda pior.
Se Rahimi tivesse direcionado seu ódio à qualquer outro povo, raça, credo, estado ou cor, nenhum diplomata ocidental teria ficado para escutar outra palavra saída desta latrina. A mídia, por seu lado, em vez de denunciar o racismo, a discriminação e a campanha de incitação contra os judeus, ela colabora com os perpetradores.
Nesta última terça-feira, o New York Times publicou um artigo sobre os esforços dos palestinos de Battir, um vilarejo ao sul de Jerusalem, que quer que seu sistema de irrigação em terraços da época romana, seja reconhecido pela UNESCO como herança mundial. Eles dizem que se isso não acontecer, Israel poderá construir a barreira de separação pelo vilarejo e danificar o sistema. Só que o sistema não é romano. É judaico da época do segundo templo. Battir é a pronuncia árabe de Betar, o local aonde Bar-Kochba liderou a última batalha dos judeus contra o Império Romano.
Como sempre, o New York Times não falou nada disso pois feriria o nacionalismo palestino e levantaria questões sobre o direito dos judeus à terra. Assim, tudo bem fazer uma reportagem errada. E eu que pensava que a mídia estava aí para reportar os fatos e não redesenhar verdades.
São órgãos da mídia como a revista Time e o jornal The New York Times, de certa respeitabilidade que se sentem no direito de negar, reportar mal ou enganosamente a razão mais importante por trás dos eventos do Oriente Médio hoje: o ódio islâmico aos judeus. O mesmo ódio que levou os nazistas a exterminarem 6 milhões de homens, mulheres e crianças. O mesmo ódio que temos a obrigação de combater por todos os meios possíveis. Só depende de nós.
Fonte: Pletz
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