quinta-feira, julho 05, 2012

Dois Estados para dois povos.




por Shimon Peres (Presidente de Israel)

O Oriente Médio está enfermo. A doença deriva da violência onipresente, da escassez de alimentos, água e oportunidades educacionais, da discriminação a mulheres e – a causa mais virulenta de todas – da ausência de liberdade. Não pode haver paz sem liberdade. O crescimento econômico é impossível sem a integração na economia global livre. Tragicamente, essa lógica simples nos escapa no Oriente Médio.

A geração jovem, que constitui a maioria da população da região, insiste em direitos iguais, em acesso à educação e aos empregos criados pela ciência e tecnologia. São essas, e não os exércitos ou a terra, as novas fontes do poder nacional. E nenhuma pode ser alcançada sem liberdade.

O desejo de liberdade está no coração da história humana. O momento definidor para meu próprio povo ocorreu há 3 mil anos com nosso êxodo da escravidão e jornada para a liberdade em nossa terra natal. Da mesma maneira, os Peregrinos que viajaram no Mayflower buscavam a liberdade em sua nova terra prometida. Essa busca comum por liberdade constitui a pedra angular da amizade profunda que une Israel e os EUA.

Mesmo assim, o anseio de liberdade está longe de ser satisfeito. Ele persevera em muitas partes do mundo, e em nenhum outro lugar mais corajosamente que no Oriente Médio. Meu coração se volta aos bravos cidadãos da Síria que a cada dia se arriscam e até sacrificam suas vidas para alcançar a liberdade de um regime assassino. Nós em Israel saudamos a luta histórica para forjar governos democráticos e amantes da paz em nossa região.

Mas nenhuma luta por liberdade no Oriente Médio pode ser bem-sucedida sem aliviar a pobreza que drena a vontade das pessoas. Para conseguir isso, será preciso realizar transformações fundamentais na sociedade, dando prioridade à educação e acabando com a discriminação contra as mulheres. Não existe liberdade onde ela é negada a metade da população.

Em Israel, uma terra carente de recursos naturais, aprendemos a valorizar nossa maior vantagem nacional: nossas mentes. Com criatividade e inovação, transformamos desertos áridos em campos florescentes e desbravamos novas fronteiras em ciência e tecnologia. Estamos ansiosos para compartilhar nossa experiência com nossos vizinhos na medida em que eles usem seu vasto potencial humano. Contudo, nosso potencial não pode ser plenamente alcançado sem a paz.

A paz não é uma mera necessidade nacional, é um imperativo moral. Isso é especialmente verdadeiro hoje quando as forças da liberdade e os perpetradores do extremismo se enfrentam. Alcançar a paz entre Israel e palestinos, por exemplo, fortaleceria os que buscam a liberdade e enfraqueceria os opressores que exploram o conflito para seus próprios fins. Me reuni muitas vezes com o presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, e sei que a paz é possível. Os contornos do acordo estão claros para nós: dois Estados para dois povos lado a lado em mútuo reconhecimento, segurança e paz.

Os inimigos da liberdade no Oriente Médio são também os inimigos da paz. O regime iraniano reprime seu próprio povo e outros na região. Ele impede a paz ao patrocinar o terror em escala global. Com a arma suprema que está insidiosamente desenvolvendo, o regime pretende ganhar hegemonia sobre todo o Oriente Médio e manter refém a economia mundial.

Os israelenses não podem ignorar a negação do Holocausto pelos líderes iranianos e seus repetidos apelos pela nossa destruição. Ao mesmo tempo, acreditamos que o esforço internacional liderado pelo presidente Obama, um amigo da paz e um amigo de Israel, ainda pode mudar o curso destrutivo do Irã. Acreditamos que, como Obama declarou, todas as opções devem permanecer na mesa.

Eu sou um otimista, mas não sou ingênuo. Meus muitos anos no serviço público me ensinaram a dificuldade de conciliar ideias com realidades políticas. Mas também compreendo a necessidade de se guiar por uma bússola moral. Uma nação que luta por liberdade ao final triunfa.

Na semana passada, na Casa Branca, recebi, em nome do povo de Israel, a Medalha Presidencial da Liberdade. Essa honraria é um testemunho do compromisso de Israel com a paz e a liberdade. Esta semana, em Jerusalém, estou recebendo uma conferência anual em que pensadores globais analisarão como assegurar os frutos da liberdade e da paz para gerações futuras em todo o mundo.

O Oriente Médio está enfermo. Mas nós podemos idealizar e criar uma região robusta e próspera eliminando a escassez, gerando oportunidades e assegurando a igualdade para todos. O caminho para a recuperação começa – e termina – na liberdade.

Nenhum comentário: