quarta-feira, julho 25, 2012

Porque o Hezbollah?.



por Deborah Srour (no Pletz)




O ataque de quarta-feira na Bulgaria foi uma dolorosa lembrança de que uns 70 anos depois do Holocausto os judeus mais uma vez não estão seguros no mundo. O fato de não vermos atos como este todos os dias é devido somente ao esforço sobre humano dos serviços de segurança e não do enfraquecimento do inimigo. Imediatamente após o ataque, que se deu no 18º. Aniversário do ataque ao Centro Comunitário Judaico AMIA em Buenos Aires, o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu apontou o dedo para o Irã e seu grupo terrorista em chefe, a Hezbollah.

É muito raro que um chefe de estado faça acusações tão categóricas contra qualquer um, ainda mais um governo, antes de ter em mãos os resultados das investigações. Mas qualquer um que leia os jornais e preste um mínimo de atenção ao que se passa no mundo, sabe que há uma guerra entre o Irã e o mundo ocidental e que se os Ayatollahs colocarem suas mãos em armas nucleares, poderão aniquilar o mundo livre ou exigir sua submissão.

Alguns comentaristas jogaram a possibilidade de Netanyahu ter dito que a guerra do Irã é contra o Ocidente para preparar o terreno para uma ação militar conjunta contra as instalações nucleares iranianas. Acho isso pouco provável. Aqueles “aliados” que deveriam estar preocupados em coordenar tal ação militar estão muito atarefados com os fúteis e improdutivos “diálogos” com Teherã, enquanto os mullas marcham direto para o enriquecimento do urânio.

Sim, estou falando da administração Obama. Mesmo se pudessemos acreditar por um minuto que os Estados Unidos não deixarão os iranianos adiar o momento da verdade indefinidamente, com tantas coisas aparentemente mais urgentes, Israel não consegue que o mundo dê prioridade para o problema da bomba iraniana. Ao norte de Israel, a Síria está transferindo seu arsenal de armas químicas para a Hezbollah no sul do Líbano e os Estados Unidos pediram hoje a Netanyahu de não fazer um ataque preventivo à este arsenal para não dar a Assad uma oportunidade de unir os sírios. Quer dizer, para Obama então é mais importante depor Assad do que proteger Israel de um ataque com armas químicas.

E ao sul de Israel a instabilidade do Egito e sua aproximação com o Hamas complica e estica as defesas do estado judeu. Hoje o gaseoduto entre o Egito, Israel e a Jordania, foi explodido pela enésima vez. Enquanto isso, a secretária de estado Hillary Clinton está ocupada com discursos sobre as dificuldades econômicas do Oriente Médio – apesar deles estarem sentados sobre o petróleo – e como os Estados Unidos continuarão a enviar bilhões de dólares dos seus contribuintes para a região.

Netanyahu sabe que o objetivo principal do Irã é alcançar uma hegemonia com seus vizinhos para liderar uma coalisão muçulmana contra o ocidente restaurando o califato que existia antes da Primeira Guerra Mundial. Uma idéia que ainda é negada e tida como absurda pelo mundo livre. Assim Netanyahu precisa martelar e reiterar o perigo de um Irã nuclear mesmo se Ahmadinejad diz que está pronto a “negociar”.

Alguns analistas disseram que este ataque na Bulgaria reflete a frustração da Hezbollah em não conseguir vencer Israel no campo de batalha e de ter outros ataques prevenidos na India, Georgia, Tailandia, Azerbaijão, Turquia, Chipre e Grécia. Algus outros disseram que este ataque foi em retaliação ao assassinato do terrorista Imad Mughniyeh em Fevereiro 2008 que a Hezbollah atribui ao Mossad. Mughniyeh era um agente senior da Hezbollah responsável por espetaculares ataques terroristas contra alvos Israelenses e Americanos como o ataque ao quartel americano no Líbano em1983 e o ataque à embaixada israelense em Buenos Aires em 1992.

Acho que a desculpa ao ataque, definida como“retaliação” não cabe aqui. Israel negou te-lo matado e ele pode ter sido morto por qualquer outra facção rival do Líbano. Mughniyeh morreu por ter dedicado sua vida a planejar e a cometer assassinatos em massa contra os “infiéis” do Ocidente. A diferença é que a Hezbollah, nesta semana, alvejou um grupo de turistas israelenses num ônibus na Bulgária, como parte de uma estratégia global antisemita de aniquilar ou subjugar judeus. A mesma estratégia que levou Mohamed Mehra a executar uma menina de 9 anos e outros inocentes em Toulouse. O mesmo objetivo do Irã.

A Hezbollah não precisa de uma desculpa para perpetrar um ato de Guerra. Nem Israel poderia fazer algo diferente para evitar a ira dos mullas e seus agentes. É o infinito ódio à própria existência dos judeus e de Israel que faz com que os seguidores de Nasrallah prendam bombas aos próprios corpos e morram só para matar alguns judeus. E isso foi verdade muito antes de Mughniyeh partir deste mundo e ainda o seria se estivesse vivo.

Hoje a França comemorou os 70 anos da prisão e deportação de mais de 13 mil judeus de Paris para Auschwitz e morte. Destes, somente 100 sobreviveram. O presidente francês hoje lembrou a vergonha que seu país teria que carregar já que nenhum soldado alemão participara da operação – conduzida totalmente por policiais franceses. Desde 1995 nenhum presidente francês pensou em marcar desta data. E o antisemitismo volta, com toda a força e com toda a racionalização possível.

E é isso que Netanyahu tem tentando transmitir aos líderes da Europa e Estados Unidos sem qualquer sucesso. Pura e simplesmente. Sem tentar dissecar, analisar, comentar, arrumar explicações ou desculpas para cada evento, cada ataque, em separado. Elas só servem para que o mundo continue a culpar Israel não só por árabes mortos mas por seus próprios mortos também.


Texto publicado no Pletz

Nota Importante: Venezuela e Brasil: principais centros do Hezbollah na América Latina, leia aqui 




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