por Felipe Melo
“O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo,
os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu
não fosse entregue aos judeus.
Mas o meu Reino não é deste mundo.”
João 18, 36.
“Eu não sou Cristo nem filantropo, minha velha, eu sou totalmente o contrário de um Cristo... Eu luto pelas coisas em que acredito, com todas as armas à minha disposição, e tento matar o outro homem para que eu não seja pregado numa cruz ou em qualquer outra coisa.” O autor dessas palavras escreveu-as a sua própria mãe em uma carta datada de 15 de julho de 1956. Seu nome era Ernesto “Che” Guevara. Em outra oportunidade, esse mesmo homem proferiu a seguinte pérola: “De fato, se o próprio Cristo ficasse no meu caminho, eu, como Nietzsche, não hesitaria em esmagá-lo como a um verme.”
Che Guevara é tratado ainda hoje como uma espécie de Cristo revolucionário, que deu sua vida por muitos em nome de um projeto divino de Paraíso. Nada demais, uma vez que o culto messiânico a líderes socialistas é uma das características essenciais da mentalidade revolucionária. Esse apelo messiânico é, aqui na América Latina, uma das grandes armas para arregimentar idiotas úteis à causa socialista - afinal, a religiosidade cristã é algo pulsante na cultura e no modus vivendi da população latino-americana. Como bem sabemos, essa estratégia tem dado muito certo. E, para ilustrar, vamos utilizar um exemplo emblemático e bastante prático.
A imagem acima foi publicada nas redes sociais pela (no Facebook)Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Fortaleza/CE– uma organização “católica”. Nada mais apropriado para atrair a simpatia das pessoas do que o sentimentalismo barato: uma criança nos braços, um barbudo sorridente, uma frase “inspiradora”, e pronto, a máquina de agitação e propaganda começa a funcionar. Não há como não se sentir tocado por essa imagem, por seu apelo sentimental, ainda mais em se tratando de nós, latinos, tradicionalmente analfabetos em qualquer assunto importante e nascidos no maior laboratório revolucionário do mundo. Mas não é um tremendo contra-senso defender um sujeito que era claramente anticristão? Bom, seria, se as pessoas que o defendem realmente conhecessem alguma coisa sobre a história recente da América Latina e sobre a Igreja.
O socialismo foi, desde seu surgimento, uma doutrina profundamente anticristã. Em suas origens, esse sentimento anticristão era algo muito mais explícito e aberto, facilmente identificável. Um dos objetivos principais de todas as correntes socialistas foi, desde sempre, a supressão da religião, notadamente a religião cristã, a quem combatiam externamente com todas as forças. No entanto, os socialistas notaram que isso era muito contraproducente, de modo que buscaram outra maneira de destruir a religião cristã: infiltrando-se nela e corroendo-a desde dentro. A chamada Teologia da Libertação é o exemplo mais ilustrativo disso: uma conciliação surreal e herética entre Cristo e Marx.
A Igreja condena o socialismo desde seu princípio. O Papa Leão XIII foi um dos maiores oponentes do marxismo, de que tratou com particular preocupação nas encíclicas Quod Apostolici Muneris e Rerum Novarum. A posição da Igreja acerca do marxismo não mudou: todos os sucessores do Papa Leão XIII não só mantiveram, como reafirmaram o posicionamento da Igreja:
O Papa João XXIII, na carta encíclica Mater et Magistra, por exemplo, relembra o ensinamento da Igreja reafirmando “não se poder admitir de maneira alguma que os católicos adiram nem ao socialismo moderado: quer porque ele foi construído sobre uma concepção da vida fechada no temporal, com o bem-estar como objetivo supremo da sociedade; quer porque fomenta uma organização social da vida comum tendo a produção como fim único, não sem grave prejuízo da liberdade humana; quer ainda porque lhe falta todo o princípio de verdadeira autoridade social.”
Na carta apostólica Octogesima Adveniens, dizia o Papa Paulo VI: “Muito freqüentemente, os cristãos atraídos pelo socialismo têm tendência para o idealizar, em termos muito genéricos, aliás: desejo de justiça, de solidariedade e de igualdade. Eles recusam-se a reconhecer as pressões dos movimentos históricos socialistas, que permanecem condicionados pelas suas ideologias de origem.” Ao esmiuçar as diversas facetas do socialismo, o Papa Paulo VI afirma que o marxismo é “prevalentemente o exercício coletivo de um poder político e econômico, sob a direção do partido único, que intenta ser, ele somente, expressão e garantia do bem de todos, subtraindo aos indivíduos e aos outros grupos toda e qualquer possibilidade de iniciativa e de escolha”. Ou seja: uma ideologia totalitária, pura e simplesmente.
O Papa João Paulo II, que tanto trabalhou pelos jovens do mundo e viveu na pele os horrores do marxismo – seu país, a Polônia, foi um dos que mais sofreu na Europa sob o jugo comunista –, assim escreve na carta encíclica Centesimus Annum: “[...] o erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente subordinado ao funcionamento do mecanismo econômico-social, enquanto, por outro lado, defende que esse mesmo bem se pode realizar prescindindo da livre opção, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem ou do mal. O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral, que constrói, através dessa decisão, o ordenamento social. Desta errada concepção da pessoa, deriva a distorção do direito, que define o âmbito do exercício da liberdade, bem como a oposição à propriedade privada.”
Seria razoável pensar que tudo não se passa de um mal-entendido, algo que poderia ser facilmente corrigido. Antes fosse. E algumas evidências estão abaixo:
E aos que pensam em nos acusar de falta de caridade, de perseguição, de preconceito e quaisquer outras balelas pseudo-cristãs e politicamente corretas, recomendo que meditem as seguintes palavras de São Francisco de Sales: “É verdade que se pode falar abertamente dos pecadores públicos reconhecidos como tais, mas deve ser em espírito de caridade e compaixão e não com arrogância ou presunção por um certo prazer que se ache nisso; este último sentimento denotaria um coração baixo e vil. Excetuo somente os inimigos de Deus e da Igreja, porque a estes devemos combater quanto pudermos, como, são os chefes de heresias, cismas, etc. É uma caridade descobrir o lobo que se esconde entre as ovelhas, em qualquer parte onde encontramos.”
Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UnB.
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