segunda-feira, abril 29, 2013

Paulo Vanzolin, o samba com a cara de São Paulo se foi.




São Paulo, 25 de abril de 1924 - 28 de abril de 2013


Sempre achei meio estranho um zoólogo, formado em medicina, ser um compositor de tão rara inspiração, como o Paulo Vanzolin. Mais estranho ainda é que esse grande compositor de música de qualidade não entende nada de acordes, cifras e coisas que tais.

Vanzolin também sempre foi alguém que não media as palavras, era sincero e dizia sempre o que pensava. Aliás quem mais poderia dizer de Caetano Veloso algo tão contundente?:

- "E baiano faz homenagem a alguém? (risos) No começo, provavelmente, ele não percebeu. Mas depois resolveu não tirar a melodia de Ronda, porque sabia que eu não ia dizer nada. Não gosto muito dele, mas ele precisava ganhar a vida de algum jeito. Aliás, desses músicos baianos eu não gosto de nenhum..."
Ou, quando perguntado se gostava de João Gilberto:
- "Como músico não, porque ele é muito fresco, mas como pessoa eu gosto demais. Conheci o João Gilberto por intermédio do Henrique Lobo, um disc-jóquei que era meu primo e muito amigo dele. Uma vez, fui visitar o João em Nova York. Chegando lá, no chão da casa dele, tinha vários violões Ovation que a fábrica tinha mandado para ele experimentar. Fiquei lá das 10h30 da noite às 6h das manhã. Aí ele disse para mim: "Paulinho, eu sempre toquei esse acorde deste jeito, mas agora descobri que não era assim. Veja como é o certo..." (continue lendo aqui)

Vanzolin compôs sua última canção em 1997 (Quando Eu For, Eu Vou Sem Pena) e encerrou sua carreira de compositor: 

- "Perdeu a graça, porque a música era uma coisa que eu fazia com os amigos", explica o  zoólogo Paulo Vanzolini, um dos cientistas mais respeitados do país, que apesar de ter sido aposentado compulsoriamente de seu cargo de diretor do Museu de Zoologia, em 1993, continua trabalhando religiosamente em suas pesquisas. De segunda a sábado, das 8h30 às 19h, ele pode ser encontrado nas dependências do museu, onde começou a trabalhar em 1946, como auxiliar, e que dirigiu durante 31 anos. "A música é um caso encerrado para mim", decreta o compositor paulistano.(continue lendo aqui).

Quem mais a não ser um "genioso" pode se dar ao luxo de dizer sobre a canção símbolo de São Paulo:
É uma besteira que fiz aos 21 anos. Não gosto dela porque é uma música muito piegas. Minha filha sempre fala: "Fez, agora aguenta" 

Ronda, foi tão importante para Vanzolin que toda a sua biblioteca de Zoologia (das melhores do mundo na área de répteis e anfíbios da América do Sul), foi comprada por causa de Ronda e Volta Por Cima.

O amor e a dedicação à Zoologia começou aos 10 anos, quando fez com seu presente - uma bicicleta - o primeiro passeio ao Instituto Butantan: nascia ali um zoólogo mas também o grande compositor, que não vai levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, vai sim - como disse em entrevista em 2001- ouvir sua músicas no céu.


São Paulo fica sem alguém a Rondar a Cidade, mas ele certamente - lá com o Criador - vai dar a Volta por Cima.


O documentário (84 min) é uma grande homenagem a Paulo Vanzolin, mas também ao samba e a São Paulo:



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