por Daniel Greenfield (*)
Em 1960, os bispos cubanos, declararam que "o catolicismo e comunismo respondem a dois conceitos totalmente diferentes do homem e do mundo que nunca será possível conciliar." O Papa Francisco, no entanto, afirma que comunismo é na realidade cristianismo. "Os comunistas têm roubado a nossa bandeira", disse ele.
Os bispos cubanos condenaram o comunismo como "um sistema que brutalmente nega os direitos mais fundamentais do ser humano." As críticas do Papa Francisco ao regime de Castro foram limitadas a oblíquas referências, um apelo por liberdade religiosa para os católicos e críticas gerais que poderiam ser aplicadas a Cuba ou a qualquer um de inúmeros outros lugares. Ele não conseguiu sequer reiterar suas velhas críticas ao regime.
Dissidentes cubanos foram impedidos de encontrar o Papa Francisco e até mesmo o "trajeto de boas vindas" que havia sido planejado foi fechado quando as autoridades comunistas detiveram dissidentes políticos. Quando os manifestantes arriscaram sua liberdade para chegar perto dele, foram presos sem receber qualquer reconhecimento do papa. Os Castros conseguiram suas reuniões e sua publicidade.
Os oprimidos, para quem o Papa Francisco alegou que se pronunciaria durante a sua visita e durante suas viagens internacionais, foram deixados de fora no frio. Eles foram tratados com outra referência indireta, quando o Papa Francisco expressou seu desejo de "abraçar especialmente todos aqueles com os quais, por vários motivos, eu não pude me encontrar."
"Simplesmente não nos parece estar certo ou mesmo que o papa não tenha um pouco de tempo para se encontrar com os cubanos que estão defendendo os direitos humanos", disse o chefe da maior organização dissidente do país.
Papa Francisco falou do acordo de Obama com Castro como um "processo de normalização das relações entre os dois povos, após anos de afastamento." Mas ele sabe muito bem que não é nada desse tipo. Os cubanos não são estranhos aos refugiados cubanos na América por falta de relações diplomáticas, mas pela supressão brutal de liberdade política e religiosa pelo regime de Castro.
O acordo de Obama não reúne os "dois povos"; ele põe dinheiro nos bolsos de um regime que o Papa Francisco tinha chamado de corrupto e autoritário. Ele permite que os esquerdistas americanos visitem Cuba para o comércio de prostitutas menores de idade, o que se tornou notório. Esta não é reconciliação. É exploração.
O sinal mais claro do que está por trás do verdadeiro "estranhamento" em Cuba pode ser encontrada na declaração de 1960, que sustentou que "a maioria absoluta do povo cubano, que é formada por católicos... só por engano ou coerção pode ter sida levada a um regime comunista."
Hoje, o inverso é verdadeiro, pois, engano e coerção cobraram seu preço.
Os bispos cubanos desafiaram o regime de Castro como uma questão de consciência. E eles pagaram o preço. A repressão de Castro sobre a Igreja Católica nos anos 60 tem sido amplamente ignorada por uma mídia que está ansiosa para contar uma história muito diferente. Mas ela parece ter sido tão tragicamente esquecida pelo Papa Francisco.
Francisco poderia ter lembrado do bispo Eduardo Boza Masvidal que foi preso várias vezes e cuja igreja foi bombardeada depois de exortar os cubanos a lembrarem de "todos aqueles que lutam e sofrem perseguição sob regimes comunistas." E o papa poderia ter lembrado de suas palavras que o regime comunista de Cuba é "baseado em ódio e luta de classes em vez de amor... é uma coisa terrível ensinar um povo a odiar. É uma das coisas mais anticristãs, que podem ser feitas."
Quando o papa Francisco tenta fazer causa comum com os marxistas em torno da luta de classes, ele está fazendo causa comum com o ódio, em vez de amor, no ressentimento de divisão, em vez da reconciliação. É um plano que não só está fadado ao fracasso, mas está fadado a sair pela culatra, espalhando mais ódio em vez de amor.
Como Che Guevara tinha insistido, "o ódio é o elemento central de nossa luta... O ódio que é intransigente... O ódio tão violento que impulsiona o ser humano além de suas limitações naturais, tornando-o violento e uma fria máquina de matar sanguinária... Para estabelecer o socialismo, rios de sangue devem correr."
Este é o terrível objetivo final de espalhar a luta de classes. O ódio se enraíza e cria monstros.
Padre José Conrado, que realmente vive em Cuba, fornece um modelo muito diferente que desafia a autoridade do regime de Fidel Castro, ao invés de tentar encontrar um terreno comum com ele. Conrado tinha desafiado o ditador de Cuba sobre a existência de "prisioneiros de consciência" e restrições sobre "as liberdades mais básicas: de expressão, de informação, de imprensa e de opinião, e sérias restrições à liberdade de religião"
Ele não fez isso em 1960, mas apenas alguns anos atrás. Antes da visita do papa, ele disse, "Eu não posso ignorar o sofrimento do meu povo, as injustiças que eu acredito que são evitáveis. Dante disse que o nono círculo do inferno, o pior de todos os círculos, é reservado para aqueles que em tempos de crise cruzam os braços e fecham suas bocas".
A mudança política não acontece sem coragem política. E autoridade moral não é exercida tolerando a imoralidade. A autoridade moral de um regime totalitário não repousa sobre o amor, mas no medo. A timidez em face da tirania defende aquela autoridade moral de terror político. Ela cede ao medo.
"O medo gerado por um regime totalitário não está definido. É um medo que provoca uma angústia paralisante porque não se pode até mesmo definir exatamente o que é que se teme. O que eles podem nos fazer? Eles podem tirar nossas vidas? Eles podem tirar a nossa honra, por falarem mal de nós, com campanhas de difamação? Eles fazem isso o tempo todo", disse o padre José Conrado.
A religião pode dar às pessoas a coragem de desafiar esse medo. Ela pode mostrar a um povo oprimido as mesquinhas limitações de tiranos que dependem de intimidação para sua autoridade. Pode dotar o desafiante com autoridade moral. É um grave erro sacrificar essa autoridade moral em troca de conciliação com tiranos.
Em 1960, o clero de Cuba entendeu que não poderia haver uma base comum com o comunismo, que tinha de ser desafiado, mesmo que o desafio fosse condenado, porque a cumplicidade com o mal iria corrompê-los.
Poucos servem como melhor exemplo do que Javier Arzuaga, o ex-padre de esquerda que tinham apoiado Castro, apenas para fugir chocado e horrorizado com a carnificina.
"No dia em que saí, Che disse-me que nós dois tínhamos tentado trazer um ao outro para o seu lado e tínhamos falhado”. Suas últimas palavras foram: "Quando jogarmos fora nossas máscaras, seremos inimigos", lembrou Arzuaga.
Os Castros colocaram suas máscaras de novo, mas por baixo há um regime totalitário baseado na brutalidade e no ódio. Debaixo de suas máscaras, eles são o inimigo. Ajudá-los é arriscar-se a tornar-se cúmplice de seus crimes.
Se o Papa Francisco realmente queria falar para os oprimidos, há onze milhões deles em Cuba. Eles não são oprimidos pelo capitalismo nem pelo aquecimento global. Eles são oprimidos por esse medo, a angústia paralisante que ele traz e a apatia que vem com ele. Eles precisavam de armas contra esse medo.
A visita do papa deu aos Castros o que eles queriam, mas não conseguiu dar ao povo cubano o que eles precisavam.
Publicado no The FrontPage Magazine.
Tradução: William Uchoa
Fonte: Mídia Sem Máscara
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