Supermercado no Texas |
por Flávio Morgenstern (*)
Si vis pacem, para bellum. Tocar Imagine pode render um show gratuito para ricos com consciência social, mas terrorismo se combate com armas.
No dia 22 de março de 2017, Khalid Masood, um muçulmano que já ensinou inglês na Arábia Saudita, passou com um carro pela Westminster Bridge em Londres, matando 5 pessoas e ferindo mais de 50. No dia 22 de maio de 2017, um muçulmano explodiu uma bomba de pregos em um show da diva adolescente Ariana Grande em Manchester, matando 24 pessoas e ferindo 119, sendo 23 em estado crítico. No dia 3 de junho de 2017, três muçulmanos passaram com uma van pela London Bridge, matando 4 pessoas, e depois sendo mortos quando feriram mais algumas no Borough Market.
Em todos os casos, o que se seguiu foi o velho roteiro: pessoas chocadas com abstrações, como “o ódio”, “a intolerância”, a falta de “direitos humanos”, alguma hashtag no Twitter modelo #PrayForLondon, cores trocadas em avatares de Facebook, prédios iluminados a noite com cores do país, e logo alguma celebridade fazendo um show público tocando alguma música com platitudes genéricas e abstratas – risco estupendo de a música em questão ser Imagine, do John Lennon.
Logo a seguir, esquece-se tudo, volta-se a acreditar que tudo ficará melhor se importarmos mais “refugiados” que não sabemos o que fazem e que o maior risco é espalhar o “preconceito”, e que qualquer visão minimamente negativa (ou, na verdade, não-aquiescente) de muçulmanos é “islamofobia”. E basta não fazer nada, esperando que o próximo terrorista, dessa vez, imagine um mundo sem paraíso e sem fronteiras e passe a adorar os infiéis que estava pensando em matar.
Ou seja: para o Ocidente, o problema dos atentados terroristas é que as pessoas ficam com medo de terroristas, e talvez até passem a cogitar votar em candidatos que façam alguma coisa contra terroristas, ao invés de não fazer nada (ou cantar Imagine).
Se é para acreditar no poder pacificador de Imagine, ou seja, da imaginação, seria necessário que o Ocidente voltasse a ter a imaginação que tinha antes do reducionismo venenoso da tríade marxismo-psicanálise-estruturalismo, que tanto afetou a mentalidade do homem comum.
Família de deputada americana posa para Cartão de Natal |
A primeira coisa a se imaginar é que a mentalidade, visão, valores, objetivos, padrões, comportamento e entendimento de uma religião completamente distinta do Ocidente, não vai ser a mesma mentalidade de quem costuma habitar grandes centros urbanos capitalistas, seja Londres ou Orlando, Manchester ou Paris, Munique ou Boston, a London Bridge ou a Avenida Paulista. Talvez, apenas talvez, cantar Imagine e falar de um mundo sem religiões, fronteiras e paraíso possa acabar não convencendo o suficiente terroristas.
O europeu já soube imaginar outros povos, sabendo que vivia na complexa e delicada civilização, e que fora do complexo judaico-cristão, com Direito romano e filosofia grega, não havia diplomacia –havia provavelmente força. Basta pensar nas histórias que podiam variar de Robson Crusoé a Johnny Quest, de Tarzan a Tintin, de Dança com Lobos a Indiana Jones. Seus melhores personagens, muitas vezes mais admiráveis do que os protagonistas, tinham virtudes e caráter, retidão e amabilidade, mas justamente por aprenderem a viver em um mundo inóspito, diferente de Londres, Nova York ou Paris.
Hoje, o Ocidente enxerga o muçulmano, o “refugiado”, como apenas um rapper da periferia com o agravante de já vir com sobrenome impronunciável de nascença. Na busca por abraçar a ideologia do “multiculturalismo” e tratar todos como “iguais”, acabam só caindo no preconceito do zoológico, tratando uma cultura que desconhecem de todo como animais a serem observados em jaulas.
A primeira coisa a se imaginar é que a mentalidade, visão, valores, objetivos, padrões, comportamento e entendimento de uma religião completamente distinta do Ocidente, não vai ser a mesma mentalidade de quem costuma habitar grandes centros urbanos capitalistas, seja Londres ou Orlando, Manchester ou Paris, Munique ou Boston, a London Bridge ou a Avenida Paulista. Talvez, apenas talvez, cantar Imagine e falar de um mundo sem religiões, fronteiras e paraíso possa acabar não convencendo o suficiente terroristas.
O europeu já soube imaginar outros povos, sabendo que vivia na complexa e delicada civilização, e que fora do complexo judaico-cristão, com Direito romano e filosofia grega, não havia diplomacia –havia provavelmente força. Basta pensar nas histórias que podiam variar de Robson Crusoé a Johnny Quest, de Tarzan a Tintin, de Dança com Lobos a Indiana Jones. Seus melhores personagens, muitas vezes mais admiráveis do que os protagonistas, tinham virtudes e caráter, retidão e amabilidade, mas justamente por aprenderem a viver em um mundo inóspito, diferente de Londres, Nova York ou Paris.
Hoje, o Ocidente enxerga o muçulmano, o “refugiado”, como apenas um rapper da periferia com o agravante de já vir com sobrenome impronunciável de nascença. Na busca por abraçar a ideologia do “multiculturalismo” e tratar todos como “iguais”, acabam só caindo no preconceito do zoológico, tratando uma cultura que desconhecem de todo como animais a serem observados em jaulas.
Neste neo-iluminismo, nenhum muçulmano é salvo, Imagine só vale como um teatrinho e um showzinho gratuito para ricos com “consciência social” (e integral inconsciência civilizacional) e a civilização só é enfraquecida.
Se queremos que menos pessoas sofram com ataques terroristas, e se partimos da premissa óbvia de que nem todos os muçulmanos são terroristas, a primeira coisa a fazer é falar a única linguagem que incíveis, selvagens e assassinos entendem: a força. Imagine não soa bem em árabe.
Tal como civilizados ordeiros não têm medo da polícia – pelo contrário, tiram selfies com ela, ficam honrados quando seus filhos se juntam à corporação – a força policial, o poder físico do Estado, a potestas romana, não há de assustar e incomodar muçulmanos ordeiros. Pelo contrário, países muçulmanos, mesmo os mais literais, até costumam cooperar com a América e o Ocidente na guerra contra o terrorismo.
Um terrorista que tenha um plano que ocidentais nem sonham em sequer admitir (islamizar o Ocidente), que mate franceses às dezenas no dia em que estes comemoram sua Revolução atéia, que degole um padre no meio de uma missa em Rouen, que atire em uma boate gay em Orlando (para ocidentais fazerem críticas… à Igreja Católica), que mate adolescentes com uma bomba de pregos (!) e não veja reação nenhuma do Ocidente só pode entender que o nocaute no inimigo virá no próximo round.
Este espírito de versão matinê-micareta de Revolução Francesa ocidental para lidar com o terror, a força bruta de uma religião que é pura vontade e pura potência, não tem como dar mais errado. E não há como o Ocidente já não ter entendido o recado do Estado Islâmico – que eles querem um califado, e só não o terão se forem derrotados pela força numa nova batalha nos Portões de Viena. Mas que ocidental hoje conhece a história da Batalha de Viena, que impediu que toda mulher européia (e, posteriormente, de qualquer país nas Américas) usasse burca ou fosse apedrejada?
O Ocidente precisa voltar a ter honra de ser o Ocidente, ao invés de pedir desculpas por ser o Ocidente. Precisa amar o que é, ao invés de inventar toda hora um novo -ismo e uma nova -fobia para aceitar qualquer coisa, exceto ele próprio, a única cultura que permite um espaço interno para outras culturas.
Sobretudo: o Ocidente precisa ser forte. Voltar a lidar não apenas com retórica, academicismo de ressentimento, inveja sexual e sentimentalismo de aceitação social. Se o próprio Ocidente quer tanto ignorar a islamização e pensar erroneamente apenas na dicotomia terrorista/não-terrorista, deve admitir a força tal como ela garante a civilização intra-muros, ao invés de derrubá-la.
Cada atentado terrorista deve ser seguido de uma massiva campanha para alistamento no Exército, com foco declarado em combater o Estado Islâmico e qualquer tentativa de conquista territorial muçulmana. A cada morte ocidental, uma campanha de arrecadação para fundos militares deve ser organizada, pois o califado tem medo de drones armados, não de Imagine. Cada Allahu akbar ouvido deve lembrar os ocidentais de honrarem a tradição cultural que permite sua liberdade, dobrando seus joelhos a quem possui um reino que não é deste mundo, e não a quem trata as mortes em nome do califado como acidente urbano.
A civilização, do cristianismo à geladeira, da penicilina ao sensor de estacionamento, do microchip ao Merthiolate-que-não-arde, permite que o fraco também sobreviva, que nem tudo seja resolvido pela força. Mas nossa diplomacia que não põe o cotovelo na mesa só funciona para quem entende nossa abstrata linguagem cada vez mais frescurenta.
A força, nas franjas da civilização, sempre foi o que manteve o fraco protegido. Os fortes, caçadores e guerreiros, sempre permitiram que os lavradores e poetas vivessem em paz. E hoje, a fronteira que protege a civilização é frágil como uma calçada.
O Ocidente precisa parar de cantar Imagine e pedir hashtags e tolerância e paz. Não funciona com racistas, como qualquer leitor de Caros Amigos sabe, por que funcionaria com terroristas? Os antigos já sabiam: Si vis pacem, para bellum. Passou muito da hora de pensar menos em Academia e mais em academia de ginástica. Em comprar rifles. Em aprender a atirar. Em fazer abdominais e flexões. Em se matricular em aulas de kung fu, muay thai e krav magá. Em aprender a caçar, como seus antepassados aprendiam a se proteger. Em sobreviver na selva e correr e nadar quilômetros por dia. Em proteger sua família.
O autor de Imagine teve uma morte prematura diante de um bárbaro. O Ocidente que não protege crianças e velhos em suas ruas, e nem reage a uma bomba de pregos contra jovens, simplesmente está caminhando para uma morte prematura em escala continental.
Ao invés de imaginar um mundo sem fronteiras, imagine um mundo com bíceps e fuzis nas fronteiras para proteger os seres amados?
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Fonte: sensoincomum.org
(*)Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs" (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen
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