por Flavio Morgenstern
É normal acreditar na explicação do "embargo cubano" na adolescência. Na vida adulta, é preciso ser muito tapado para usar essa desculpa.
O presidente americano Donald Trump revogou hoje o acordo quase unilateral entre a América e a ditadura socialista de Raúl Castro, que governa Cuba com mão de ferro. O acordo previa benesses aos cubanos.
O acordo feito pelo ex-presidente Barack Hussein Obama fora realizado a toque de caixa no dia 17 de dezembro último, um mês antes de encerrar os seus oito anos de dois mandatos e provisoriamente após a eleição presidencial, quando o Partido Democrata de Obama/Hillary Clinton sofreu a maior derrota federal desde 1926.
Barack Obama, como se lê em suas dissertações e seus escritos de juventude até a velhice, é um crente da tese do “anti-colonialismo”, crendo que as grandes potências, como a América, prejudicam o mundo ao exigir medidas “imperialistas” e “preconceituosas”, como respeito aos direitos humanos, liberdade política, representatividade ou a xenofobíssima eleição de nações que queiram desfrutar das maravilhas do capitalismo americano.
Graças a tal cabresto, o ex-presidente Obama calcou sua política externa, tendo Hillary Clinton como Secretária de Estado entre 2009 e 2013, na idéia de que a América deve pedir desculpas a países coitadinhos como Venezuela, Síria, Cuba e Irã (estes dois últimos com Acordos vultosos) por sua existência, e “concessões” devem ser feitas com o dinheiro do pagador de impostos americano para que tais países, governados fofamente pela auto-determinação dos povos em criar leis tirânicas, possam finalmente ser grandes países. Como a América.
O anti-colonialismo é a ideologia dominante nos cursos de História no Brasil, que confundem o reducionismo da doutrina com a própria noção do que seria a história (o infame “Eu estudei História”). Para explicar o fracasso do totalitarismo socialista de Cuba, tudo é reduzido a falar no ainda mais infame “embargo cubano” americano sobre a maior propriedade privada do mundo, a ilha particular da família Castro e seus escravos.
Com a patacoada do embargo cubano, tudo é explicado: por que Cuba não tem eleições. Por que Fidel Castro passa o poder a Raúl Castro. Por que o cubano tem dificuldade em fazer 3 refeições por dia. Por que a ilha não tem imprensa livre, não tem acesso à internet, não tem nem sequer o direito a se expressar. E, claro, por que a terra da “igualdade” e das conquistas “sociais” é, fora dos livros do MEC, uma ilha miserável, onde a população usa geladeiras como botes, enfrentando o estreito mais entupido de tubarões do planeta para fugir para o abençoado capitalismo selvagem de Miami.
O embargo cubano é uma série de medidas que impedem que americanos façam negócios com a ditadura socialista de Cuba. Vigente desde 1960, em resposta ao confisco de propriedade americana em Cuba, foi transformado em lei apenas em 1992, já sendo justificado como uma pressão contra a ausência de liberdades civis e violações dos direitos humanos por Fidel Castro e seu socialismo.
Bem ao contrário do que doutrinadores ideólogos dizem, na verdade o comércio entre América e Cuba permaneceu ativo, e sempre que a ilha particular de Fidel e Raúl Castro enfrentou crises e tragédias (o povo, não os Castro), dinheiro americano alimentou os cofres cubanos (os de Castro, não os do povo).
A premissa do embargo cubano não poderia ser mais universalmente aceita: capitalistas continuarão fazendo comércio entre si (o tal livre mercado, a globalização etc), socialistas, que preferem uma economia dirigida e tratam empresas como encarnações do demônio, não farão comércio com capitalistas.
O embargo cubano é um verdadeiro teste de ferro para testar teorias econômicas na prática: será que quem sai prejudicado são aqueles que viverão sob o sistema de livre mercado, ou aqueles abençoados com um governo de esquerda, social, que controle as grandes empresas e permita que o povo tenha acesso a saúde e educação “de graça”?
Ou seja: para se criticar o embargo, exige-se que se defenda o livre comércio. A premissa obrigatória é que o mercado é superior ao Estado em colocar três pratos de comida por dia na mesa do trabalhador, que o capitalismo é infinitamente superior ao comunismo.
Só há possibilidade de se querer comércio, e ainda mais comércio com a América, o grande vilão, se você prefere a delícia do livre mercado desregulado, a produção de comida às pencas com a industrialização, os impostos baixos, o empreendedorismo, investimento e poupança privada que só são possíveis em um regime em que as pessoas valham mais do que o Estado, em que o indivíduo seja soberano ao coletivo, e não o contrário.
Como a prática sempre desmente as superstições da esquerda, e como só se acredita na esquerda através da autoridade de professores de História doutrinando a partir da puberdade, ao invés de investigar, definir ou mesmo apenas pensar no que é o embargo cubano, basta pedir que adolescentes repitam roboticamente que toda a miséria cubana, que desmente as supostas delícias do socialismo a olhos vistos, é culpa do “embargo cubano”.
O púbere em questão estará imediatamente repetindo, sem atentar, que a miséria de Cuba grassa devido à falta de comércio. Que tudo seria melhor se os cubanos pudessem negociar a baixos impostos diretamente com empresas americanas, com pouca interferência do governo capitalista americano e, sobretudo, da brutal ditadura socialista cubana. Que ou se tem um regime de livre mercado, ou se tem miséria.
Exatamente o contrário do que seu próprio discurso repete in abstracto, é apregoado quando se trata de lidar com um único pobre no mundo in concreto. Toda a logorréia anti-capitalista é deixada apenas para o mundo das idéias platônicas, de uma pureza virginal hagiográfica ao menor contato com a realidade factual.
É natural buscar sua tribo, sua turminha de pessoas descoladas, de gente que se descreve pelo coletivo, sempre com um -ista no fim, quando se está na puberdade. Mas é demandado pela natureza e pela realidade que se pense sobre as coisas, que a experiência da vida verifique quais idéias funcionaram e quais são um desastre, apesar das palavras enganosas com as quais são vendidas.
É por isso que, após os terríveis anos de adolescência e de acreditar em qualquer autoridade que não seja a dos pais – como a de um professor de História – os homens vão parando de acreditar em ladainhas como “embargo cubano” para se tornarem questionadores de soluções milagrosas.
Graças a isso que a idade faz com que as pessoas sejam de esquerda quando jovens, e de direita quando experientes. Nunca o contrário ocorre
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Fonte: Sensoincomum.org
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Fonte: Sensoincomum.org
Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs" (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen
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