quarta-feira, junho 06, 2012

Holocausto - As almas que perdemos.



                Entrada para Auschwitz-Birkenau e antigo caminho-de-ferro.   m.wikitravel.org


por Silvia Perlov (*)

Um céu de um azul tão puro, o revoar dos pássaros e um leve soprar das pétalas amarelas. Um ambiente bucólico, que encobre um passado mais do que sombrio. É difícil pensar que esse cenário não faz parte da produção de um filme, mas sim, é um dos mais emblemáticos símbolos do Holocausto. Nos campos de Auschwitz-Birkenau, esse último conhecido, também, como Auschwitz II, mais de um milhão e cem mil pessoas morreram, fisicamente. Sim, porquê suas almas já estavam mortas antes de seus corpos chegarem lá.

Isso pôde ser mais do que constatado na viagem que fiz junto ao grupo de jornalistas da América Latina, convidados pelo Congresso Judaico Latino-Americano –CJL, com o apoio fundamental do Fundo Comunitário do Estado de São Paulo e da Fundação Safra, a mergulhar nesse passado tão recente, cuja ferida não pode e, tampouco deve ser fechada pela simples razão de que, atos ou situações como essa, devem servir de exemplo à toda humanidade para que não permitam repeti-las ou que ousem negá-las.

Os jornalistas trabalhavam incessantemente, buscando o melhor ângulo, saber mais detalhes, mas, sobretudo, procuravam entender o que e porquê tudo aconteceu. Para mim, particularmente, mais chocante que ver os campos, foi tentar compreender como o mundo deixou isso acontecer! Qual a razão de toda essa maldade? Conquistar terras? Demonstrar poder?

A máquina da morte que se instaurou, talvez tenha sido mais eficaz, que os pogroms, a inquisição, porque não era uma morte simples e rápida! Ela era precedida pela morte espiritual. Quando vi o gueto de Cracóvia, me ocorreu a pergunta, porque este muro é tão trabalhado? Nosso monitor me respondeu com uma pergunta: “O que ele te lembra, Silvia?”. Na hora, retruquei: “Um cemitério”. Não preciso me delongar…

Dias antes, outro choque, ao adentrar no cemitério de Varsóvia, localizado no final do gueto da cidade, e que é a última morada de grandes personalidades, como I.L Peretz, Lázaro Ludoviko, o que parece um nonsense, estar sepultado nesse espaço, alguém que pretendia criar uma língua universal falada e compreendida por todos, o Esperanto.

Há mais de 150 mil lápides inscritas nos mais diversos idiomas (polonês, alemão, ídish, russo), ele foi fundado por judeus ricos do subúrbio de Praga. E está cheio de histórias, como a de Czerniakow, responsável pelo Judenrat, e que se suicidou, mas está em meio a outros túmulos por ter se recusado a entregar uma enorme lista de seus compatriotas ou a do historiador Meir Balaban, procurado pelos nazistas para identificar quem eram de fatos os judeus do local.

De volta ao fato, percorria o local e observava um grupo de alunos poloneses acompanhados por sua professora relatando o que tudo significava, e de repente, fui chamada a atenção. Estava em meio a uma das muitas valas comuns, que pensava avistar adiante, quando olhei ao redor, me dei conta que, na verdade, estava em um enorme círculo, e abaixo dele, muitos dos que pereceram na miséria do gueto. Fui alertada: “Há mais de 35 mil pessoas enterradas, sem nomes, porque não dava tempo para cumprir os rituais pós-morte”.

Em Varsóvia, senti-me especialmente mal em mais três outros momentos, além desse. Ao chegar, nós, os brasileiros, fomos desbravar um pouco a cidade antes do cair da noite. No caminho, vejo no chão, inscrito: “Muralha do Gueto 1941-1943”. Penso comigo: “Na calçada, e as pessoas tranquilamente passam por cima da história?!”.

Segundo episódio: Vejo um teatro ídish, penso que bom estão revivendo nossa cultura, assim como uma sinagoga, tudo bem próximo ao então gueto. Sim, mas as peças são feitas por poloneses, e os que oram são outros judeus, afinal dos 450 mil judeus que se atolavam nos 75 quarteirões ocupados pelo gueto, muitos se não pereceram nele, tiveram um final, ao que se pode julgar, melhor? Uma morte mais rápida?! Entrei em um dos prédios… Procurei me colocar (isso invariavelmente), no lugar daquelas pessoas, repartindo um minúsculo espaço, derramada no meio-fio.

O terceiro episódio, e que me causa arrepios, a praça de deportação, onde ficavam horas, dias, semanas esperando seu destino final, encostado a ele, funcionava um hospital, em que um médico e uma enfermeira piedosa deram cianureto aos seus pacientes para evitar que lhes roubassem a alma, já que o corpo estava no limite. A praça possui um banco mais baixo, simbolizando o período de luto observado pelos judeus. Hoje, em frente a Auschwitz ou ao bairro judaico de Kazimiersz, ambos em Cracóvia, há um turismo alegre e lucrativo, porém, outro, macabro. Nesse último, encontramos em uma feirinha de artesanato, um senhor vendendo uma estrela com os contornos realçados por borracha, como se fossem originais, e dessem tempo de fazê-los

O museu de Oskar Schindler nos posiciona bem no tempo e espaço. Vida e morte se encontram em Cracóvia, se por um lado temos Auschwitz, Museu de Schindler, gueto; há Kazimiersz, que recria o tempo em que a comunidade gozava de certo prestígio, dado pelo rei Casimiro. Mas, há que se ressaltar que após ver tudo isso, tentar refletir acerca dessa experiência, ainda muito recente, ainda acredito que a essência do homem é boa. Há pessoas como o ‘Justo entre as Nações’ Tadeus Pankiewicz, um farmacêutico, cuja vida não ganhou as telas de Hollywood, mas que seu estabelecimento servia de passagem para medicamentos e outros gêneros a fim de garantir a vida dos que estavam no gueto, e que abrigava um funcionário que falsificava documentos de trabalho.

O que aconteceu nesse período? Por que tantas mortes? E, pior, porque tanto requinte nessa execução? Não sei…. Voltei com mais perguntas, que respostas. Mas, com uma certeza, essa é uma experiência obrigatória para se tornar uma pessoa melhor, para se alegrar com cada pôr-do-sol e alvorada, sorrir ao observar o bater de asas de uma borboleta, ou simplesmente, por sentir seus cabelos ao vento.

(*) Silvia Perlov é assessora de imprensa, jornalista e bacharel em Letras Orientais
Fonte:-Pletz.com

segunda-feira, junho 04, 2012

A ONU e o terrorismo.





Jenin, o massacre que não houve

Revendo a história recente:

Jenin foi um dos 26 campos de refugiados nos territórios da Autoridade Palestina (18 na Judéia/Samaria e 8 na Faixa de Gaza) transformados nos últimos anos em fortalezas do terrorismo palestino. Desde o início da intifada de Al-Aksa, uma das células terroristas mais perigosas dos muçulmanos fanáticos funcionava em Jenin. Não foi por acaso que Jenin tornou-se conhecida como "fábrica do terror". "De todos os combatentes, nós éramos os mais bem preparados", disse o terrorista palestino Omar ao jornal egípcio Al-Ahram pouco após o término da luta em Jenin. "Nosso plano era criar uma armadilha para os soldados israelenses em Jenin, detonando cada um que entrasse no campo de refugiados".
Foto aérea mostrando que apenas alguns prédios do
campo de refugiados de Jenin foram destruídos na luta. 
 

Apesar das acusações contra Israel veiculadas em toda a mídia mundial, em que se chegou a falar de milhares de mortos entre a população civil, logo ficou claro que se tratava apenas de propaganda palestina. Israel evitou bombardear o campo de refugiados justamente para preservar a vida dos civis. Desse modo, os soldados israelenses tiveram que enfrentar uma dificílima luta no solo, o que resultou na morte de 23 deles. Dos 50 palestinos encontrados mortos nas ruínas, 45 estavam uniformizados e armados e apenas 5 eram civis.


Muitos jornalistas divulgaram as alegações palestinas sobre centenas de cadáveres enterrados em valas comuns e sob os escombros das casas que teriam sido destruídas indiscriminadamente. O oficial israelense Joni Wolf, que combateu em Jenin, explica: "Os buldozeres eram chamados apenas quando víamos que um prédio estava ocupado por terroristas ou impedia o aceso a alguma posição importante. Além disso, duas vezes por dia havia um cessar-fogo e apelos eram feitos por alto-falantes para que os terroristas se entregassem, o que muitos fizeram. Mesmo depois disso, ainda esperávamos por algum tempo para ver se alguém mais sairia do prédio. Somente depois disso os buldozeres o demoliam".

"Mortos vivos" e "mortos mortos"

Para dar a impressão de que havia um maior número de vítimas em Jenin, os palestinos também encenaram sepultamentos para a mídia ocidental e para as organizações de defesa dos direitos humanos. Por exemplo, o exército israelense divulgou um filme mostrando que um palestino "morto" caiu da padiola em que estava sendo transportado e saiu correndo. Jornalistas israelenses também constataram que funcionários da AP tinham "abastecido" a vala comum dos "massacrados" com cadáveres retirados do cemitério de Jenin. Além disso, os habitantes foram ameaçados para não contarem aos investigadores nada a respeito da realidade da luta e das ações dos terroristas.


A ONU administra os campos de refugiados
UNWRA em Jenin um colete à prova de balas da ONU
pendurado junto a quadros de "mártires" palestinos. 

Antes que a ONU possa condenar Israel por um massacre que nunca aconteceu, ela deveria examinar a si mesma, procurando explicar como os campos de refugiados palestinos puderam se transformar em centros de terrorismo. No fogo cruzado das acusações contra Israel, esqueceu-se que os campos são administrados pela UNWRA (Agência de Socorro Para os Refugiados Palestinos), um organismo da ONU responsável pelos refugiados.

"Aliás, há muitos anos perdura o escândalo da submissão da ONU à estratégia árabe de manter os campos de refugiados como abrigos temporários", diz o especialista israelense 
Dr. Shlomo Avineri. Ele explica a razão: "Apenas assim os palestinos e a UNWRA podem exigir a manutenção do status de refugiados. Dessa forma eles também podem continuar insistindo no direito de retorno dos refugiados a Israel". Por isso, a AP de Yasser Arafat nunca investiu no melhoramento da situação nos campos de refugiados, apesar de ter recebido apoio financeiro dos EUA e dos países da União Européia para essa finalidade. "Qualquer tentativa de reabilitação ou melhoramento das condições dos refugiados tem sido rejeitada pelos políticos árabes. Desse modo eles conservam conscientemente a miséria dos palestinos para não enfraquecerem suas exigências com relação a Israel", explica o Dr. Avineri.

12.500 palestinos são funcionários da ONU

O número elevado de palestinos que são funcionários da ONU (4.500 na Judéia/Samaria e 8.000 na Faixa de Gaza) causa estranheza. Os palestinos trabalham nas mais variadas atividades da ONU nos territórios (escolas, serviço social, escritórios) e são pagos por ela. Isso explica porque a ONU não fez nada contra a criação de centros de terrorismo nos campos de refugiados. Em outras palavras: os funcionários da ONU deixaram de observar conscientemente as atividades terroristas e até participaram delas.

A ONU sempre mostra compreensão pelo lado palestino, mas não pelo israelense. No mês de março, terroristas palestinos assassinaram 130 israelenses e não se ouviu nenhuma crítica por parte da ONU. Na véspera da páscoa, 28 judeus perderam suas vidas no atentado contra o Hotel Park em Netania. A ONU condenou os palestinos por isso? "O derramamento de sangue de ambos os lados deve ser interrompido", disse, como sempre, o Secretário-Geral Kofi Annan. Mas, o que Israel pode esperar da ONU, se dos seus 189 países-membros 52 são nações muçulmanas e inúmeras outras são alinhadas com elas?

Fonte: Beth-shalom.com.br

domingo, junho 03, 2012

Polônia e Holocausto não combinam


Polônia e Holocausto não combinam.

Polonia exige desculpas de Obama.




Jan Karski nasceu como Jan Kozielewski

Muitas atrocidades do nazismo ocorreram em solo polaco, e Varsóvia há décadas que se empenha em apagar a ideia de que a Polónia teria alguma responsabilidade pelo extermínio de cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

"A Casa Branca vai se desculpar pelo ultrajante engano", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski, no Twitter na noite de terça-feira. "É uma pena que a ignorância e a incompetência tenham ofuscado uma cerimónia tão importante", frisou.

Na quarta-feira, acrescentou que não acreditava na má fé de Obama, mas sim num lapso dos redatores do seu discurso.
Ao entregar postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade ao combatente Jan Karski, Obama referiu-se a "Campo de extermínio Polonês", deixando a impressão de que a Polônia participou dessas atrocidades.

"O presidente cometeu um erro, ele estava a referir-se aos campos de extermínio nazis na Polónia. Lamentamos essa declaração equivocada, que não deveria diminuir a clara intenção de honrar o sr. Karski e esses bravos cidadãos que ficaram ao lado da dignidade humana perante a tirania", disse Tommy Vietor, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.

O primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, também exigiu explicações junto da embaixada dos EUA. O ex-presidente Lech Walesa, único polaco a ganhar o Nobel da Paz, afirmou: "Deveríamos usar essa enorme gafe para assegurar que ninguém, em lugar nenhum do mundo, nunca mais diga isso".

Quem foi Jan Karski

Jan Karski, legendário herói polonês da Segunda Guerra, nasceu em 24 de abril de 1914  e faleceu aos 86 anos em 13 de julho de 2000 em Washington. Membro da Resistência Polonesa, Karski atravessava as linhas inimigas levando informações e mensagens para os aliados.

Mais informações sobre esse herói acesse clicando aqui (em português)ou aqui (English).

sábado, junho 02, 2012

Ritmo de expansão do Brasil perde até para nações em crise.


Ritmo de expansão do Brasil perde até para nações em crise.

Por Ronaldo D'Ercole (ronaldod@sp.oglobo.com.br) | Agência O Globo



SÃO PAULO - Quando se toma o ritmo de expansão das economias no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, o Brasil figura apenas na 22ª posição entre os 33 países que já divulgaram os seus dados. E se distancia de seus pares do Brics (grupo das cinco maiores economias emergentes, Rússia, Índia, China e África do Sul), aproximando-se das economias mais afetadas pela turbulência europeia, como os Estados Unidos (2,1%) e Alemanha (1,7%). A China, que cresceu 8,1% de janeiro a março, aparece no topo do ranking, com a Índia em quarto (5,3%) e a Rússia em quinto (4,9%). Com expansão de 2,1%, a África do Sul é a 14 no ranking, oito postos à frente do Brasil.

No fim da lista, que tem a Grécia como lanterna (em 33 lugar, com retração de 6,2% no PIB trimestral), estão ainda Portugal (32 colocação e queda de 2,2%), a Itália (31 lugar e PIB negativo de 1,3%) e a Holanda (30 colocação, cujo PIB encolheu 1,1%).

- O Brasil é um país com características semelhantes às dos grandes emergentes mas que cresce no ritmo dos europeus - compara Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que compilou os dados para o ranking dos PIBs do primeiro trimestre. - Isso é reflexo dos problemas estruturais (Previdência, estrutura tributária, inexistência de planejamento de longo prazo) que persistem no país, cuja solução é adiada governo após governo.

Mesmo com a economia quase estagnada no primeiro trimestre, o Brasil conseguiu se manter à frente do Reino Unido como a sexta maior economia do mundo. Mas a diferença conseguida no fim do ano passado, quando deslocou os britânicos para a sexta posição, agora é bem pequena: enquanto o PIB brasileiro acumulado nos quatro trimestres encerrados em março somava US$ 2,483 trilhões, o do Reino Unido era de US$ 2,417 trilhões. O cálculo é do banco WestLb e leva em conta o dólar médio do primeiro trimestre. Com a alta da moeda americana ante o real nos últimos dois meses, ressalva o banco, o país muito provavelmente voltaria para a sétima posição.

- Não houve alteração no ranking comparando-se com o resultado fechado de 2011, apesar da diferença em relação ao Reino Unido ter diminuído. Mas o efeito do câmbio depreciado deve ser maior neste segundo trimestre - diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLb.

Estados Unidos se mantêm como maior economia

No agregado dos quatro trimestres até março, os Estados Unidos se mantêm com folga no posto de maior economia do mundo, com PIB de US$ 15,4 trilhões, seguidos da China (US$ 7,56 trilhões), e do Japão (US$ 5,95 trilhões). Apesar do agravamento da crise na Europa, a Alemanha se mantém como a quarta economia, com geração de riquezas de US$ 3,5 trilhões. O PIB de US$ 2,76 trilhões garante a permanência da França em quinto.

sexta-feira, junho 01, 2012

Falha na urna brasileira ‘reproduzia fielmente’ erro de 1995.









O Prof. Dr. Diego Aranha, da Universidade de Brasília, foi o responsável por liderar a equipe que descobriu, em março, uma falha na urna eletrônica brasileira durante um teste de segurança autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O professor conversou com a coluna Segurança Digital do G1 para explicar melhor o problema que foi descoberto – que permite reordenar votos – e fazer outras observações sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Prof. Dr. Diego Aranha, da UnB. (Foto: Emília Silberstein/UnB Agência)  




Se tiver alguma dúvida sobre termos técnicos usados na entrevista, confira o glossário no final da página. O TSE também comentou alguns dos pontos levantados pelos professor e as observações do tribunal estão ao final da entrevista. Se você tiver qualquer dúvida, utilize a área de comentários.

G1 – Quando começou seu interesse por sistemas de voto eletrônico?
Diego Aranha – Meu interesse começou quando cursei a disciplina Segurança de Dados, ministrada pelo Prof. Pedro Rezende, enquanto aluno de Ciência da Computação da Universidade de Brasília. Naquela época, o referido professor já estava envolvido na discussão em torno da questão e trazia a problemática com alguma frequência para discussão em sala de aula.

G1 – O teste da sua equipe conseguiu reordenar os votos registrados no RDV. O que está presente no RDV, quem tem acesso a ele e por que a ordem deve ser embaralhada?
Diego Aranha - O Registro Digital do Voto (RDV) é uma tabela que armazena desordenadamente os votos propriamente ditos inseridos pelos eleitores na urna eletrônica. O objetivo desse embaralhamento dos votos é desassociar a ordem em que os votos foram inseridos da ordem em que foram armazenados.

O RDV foi introduzido no lugar do voto impresso para supostamente permitir a mesma capacidade de verificação independente dos resultados da urna. Por essa razão, é um documento público disponibilizado para os partidos após as eleições. Entretanto, enquanto o voto impresso permite de fato a verificação independente dos votos computados eletronicamente, o RDV é produzido pelo mesmo componente de software que produz o Boletim de Urna (BU) contendo os totais de cada candidato computados pela urna. Desta forma, qualquer ataque que comprometa a integridade do BU pode também comprometer o RDV.

Pode-se concluir, portanto, que o RDV não serve a nenhum propósito prático, além de permitir a violação do sigilo do voto caso seja projetado e implementado de forma insegura.

G1 – Seria possível ter conseguido o que vocês fizeram sem o acesso ao código fonte? O erro que havia no registro do RDV era complexo ou amador?
Diego Aranha - Não teria sido possível com o curto limite de tempo disponível para os testes — em torno de apenas 6 dias, divididos em fases de preparação e avaliação. Ainda assim, não se pode assumir que a segurança do RDV ou qualquer outro componente do sistema eletrônico de votação depende exclusivamente da confidencialidade do código-fonte ou dos detalhes técnicos dos mecanismos de segurança que os protegem.

Segurança advém de simplicidade de transparência. Para tanto, deve-se assumir que potenciais fraudadores conhecem os sistemas envolvidos em seus mínimos detalhes, mesmo porque absolutamente nada impede que os ataques partam de agentes internos. A área de Segurança da Informação utiliza essa noção de segurança há quase 130 anos.

A vulnerabilidade presente no projeto e a implementação do RDV que utilizamos para reconstruir a lista dos votos em ordem reproduzia fielmente outra vulnerabilidade encontrada sem ajuda de código-fonte em 1995 por calouros da Universidade de Berkeley na versão 1.1 do navegador Netscape. O software da urna eletrônica, de natureza muito mais crítica que um simples software comercial, possuía um erro conhecido há pelo menos 17 anos.

Em termos mais técnicos, a urna utiliza um gerador de números pseudoaleatórios para produzir a ordem de embaralhamento dos votos. A segurança desse gerador depende de suas características estatísticas e da aleatoriedade e sigilo de sua semente. O software da urna não só utilizou um gerador de baixa qualidade estatística, como também utilizou uma tomada de tempo claramente não-aleatória com resolução de segundos para alimentar o gerador de números pseudoaleatórios.

Além disso, esta tomada de tempo era tornada pública tanto nos logs quanto na impressão da chamada zerésima. A vulnerabilidade encontrada advém, portanto, da utilização de uma técnica criptográfica fora de seus limites de operação.

G1 – Até que ponto você entende que o sigilo do voto foi comprometido?
Diego Aranha - Para violar completamente o sigilo do voto, é preciso se recuperar a lista em ordem dos votos e a lista em ordem dos eleitores.

Após o fim dos testes no TSE, também recebemos a informação de que a urna registra em arquivo de acesso público a hora em que cada voto foi computado. Nossa metodologia é capaz de recuperar a lista em ordem dos votos e, se associada ao horário em que cada voto foi computado, também as escolhas de um eleitor que votou em um determinado horário. Para se fazer a correspondência completa entre as identidades dos eleitores e suas escolhas durante a votação, é preciso apenas que se monitore a ordem de votação dos eleitores ou a hora em que tiveram acesso à urna eletrônica.

Entretanto, eu gosto de ver a questão por outro ângulo: derrotamos o mecanismo de embaralhamento do votos para armazenamento no RDV, única medida tomada pelo software da urna eletrônica para proteger o sigilo dos votos.

G1 – O número do título de eleitor ou outro documento que o identifica é armazenado na urna? Ele poderia ser atrelado ao voto?
Diego Aranha -A lista de títulos de eleitores habilitados para aquela seção eleitoral é armazenada dentro da urna eletrônica, para controle de comparecimento e para permitir que o mesário libere o acesso à urna apenas com um título de eleitor válido. Existe um período de tempo, após a liberação da urna pelo mesário e até o término da interação entre eleitor e urna eletrônica, em que essas duas informações precisam estar presentes simultaneamente na memória do equipamento.

Recuperar essa correspondência durante esse período de tempo requer acesso ao ambiente interno à urna ou inserção de um programa malicioso que faça o registro permanente da informação. Durante os testes, estávamos concentrados em metodologias de ataque não-invasivas e que não deixassem nenhum vestígio, por isso optamos por analisar apenas os produtos públicos de uma votação oficial.

G1 – Como você avalia o procedimento de testes elaborado pelo TSE e a avaliação que a comissão fez do teste que vocês realizaram?
Diego Aranha - A iniciativa de organizar os testes é muito louvável, pois permite a fiscalização e avaliação da segurança do sistema por investigadores independentes. Entretanto, o tempo disponibilizado é muito curto para se executar qualquer metodologia sofisticada. Observe que potenciais atacantes podem, a partir de poder econômico ou político, desfrutar de um período de tempo muito maior para tentar organizar uma fraude em pequena ou larga escala.

Enquanto inicialmente o TSE se manifestou de forma extremamente positiva à contribuição que demos ao aperfeiçoamento do sistema, a Comissão Avaliadora do evento, apontada pelo próprio TSE, optou por penalizar significativamente nossa participação. Por exemplo, nossa metodologia foi qualificada como tendo objetivo de causar uma falha ao invés de uma fraude no sigilo ou integridade de uma votação eletrônica. Entretanto, nossa urna eletrônica não apresentou nenhuma falha e funcionou durante seus limites de operação por todo o tempo. Não seguimos nenhum procedimento que não seria realizado em uma votação oficial.

Como resultado, fomos premiados ainda em primeiro lugar, mas com uma pontuação pífia de 0.0313 numa escala que vai de 0 a 400.

G1 – Existe mais alguma questão técnica da urna que merece atenção?
Diego Aranha - Encontramos no software da urna eletrônica uma série de práticas indesejáveis do ponto de vista de segurança. Por exemplo, todas as mídias são cifradas com a mesma chave criptográfica. O vazamento desta chave criptográfica por uma única vez abre simultaneamente todas as mídias de todas as urnas para inspeção e possível manipulação por parte de agentes mal-intencionados. Curiosamente, essa chave criptográfica estava declarada no código-fonte e acessível para qualquer um dos investigadores.

A integridade de parte do software da urna eletrônica também parecia não estar sendo verificada, por conta da desativação de uma linha crítica do código-fonte. As máquinas dedicadas à exibição do código continham também informações de usuários, senhas e servidores na rede interna responsáveis pelo versionamento do software desenvolvido.

Além disso, também observamos algoritmos obsoletos (não-recomendados desde 2005) ou funcionando fora de sua especificação e com implementações repetidas diversas vezes ao longo do código, o que em muito dificulta uma auditoria do seu funcionamento correto.

Por fim, verificamos também que não existe a utilização frequente de ferramentas de análise de código-fonte, visto que a vulnerabilidade encontrada no embaralhamento do RDV utiliza uma função que produz alertas até nas ferramentas de análise gratuitas e mais primitivas.

Em relação ao processo de desenvolvimento do software, detectamos na interação com o pessoal técnico do TSE uma preocupação exagerada com atacantes externos, quando acreditamos que atacantes internos possuem uma possibilidade muito maior de executar fraudes em larga escala.

A equipe já se colocou à disposição do TSE para ministrar palestra tratando especificamente dos problemas encontrados, mas até agora não houve convite concreto para tal.

G1 – E o processo eleitoral brasileiro como um todo – como você avalia? O que deveria melhorar?
Diego Aranha - Os testes se concentraram na urna eletrônica, mas gostaria de que a mesma metodologia permitisse a investigadores independentes avaliar a segurança de outros componentes do sistema eletrônico de votação, como o totalizador centralizado dos Boletins de Urna. Ataques a outros componentes do sistema podem não só atrasar significativamente a apuração e divulgação dos resultados como fragilizar a confiabilidade e reputação da autoridade eleitoral.

Em termos mais gerais, o maior problema do sistema de votação eletrônica no Brasil é a carência de qualquer forma que permita ao eleitor verificar que seu voto foi computado corretamente. No modelo de urna eletrônica atualmente adotado no Brasil, a integridade do resultado das eleições depende unicamente da integridade do software de votação que é executado dentro da urna. Já foi mostrado que esse software é como qualquer outro, passível de vulnerabilidades.

Portanto, é imprescindível que seja introduzido algum mecanismo para verificação independente da integridade dos resultados. A proposta do voto impresso, ou voto verificável pelo eleitor, consiste exatamente em produzir uma versão materializada do voto em algum veículo que permita contagem posterior sem permitir simultaneamente que o eleitor possa comprovar sua escolha para uma terceira parte interessada.

A contagem dos votos impressos pode ser feita por amostragem apenas, sem impacto significativo na velocidade totalização dos resultados eletrônicos. Esta é forma mais simples e compatível com o sistema atual para se permitir a verificação da integridade do resultado, independente da integridade software, para que assim a urna brasileira satisfaça a requisitos mínimos e plausíveis de segurança.

Outro lado
O TSE foi consultado pelo G1 sobre as principais observações feitas pelo Prof. Dr. Diego Aranha e se defende das alegações. Veja a íntegra do posicionamento do TSE.

G1 – As mídias eletrônicas onde são gravados todos os votos das urnas eletrônicas é cifrada pela mesma chave. Isso é verdade?
TSE – A utilização de criptografia é apenas uma de inúmeras barreiras de segurança.

A afirmação de chave única, se vista isoladamente, não procede. A cada eleição, o TSE gera e cifra uma única desse sistema de arquivos que é gravada nas mais de 400 mil urnas eletrônicas. Por critério de segurança, esta mídia é cifrada por uma única chave, com o objetivo de evitar ataques criptoanalíticos baseados em estimadores estatísticos. Portanto, qualquer outro procedimento, como o de utilizar-se de várias chaves para cifrar o mesmo conteúdo com o objetivo de prover sigilo, torna por si só o resultado fragilizado. Por esse motivo, a cada eleição, o TSE gera uma chave que é utilizada para manter sigilo da mídia que é gravada em cada Urna.

G1 – O professor Diego Aranha diz que gostaria que houvesse testes também no sistema que totaliza os votos dos boletins de urna. O TSE pretende realizar algo nessa linha?
TSE – Ao final de cada votação, ainda na seção eleitoral, a urna imprime em até 20 vias o resultado da votação naquela seção. Esse relatório chama-se Boletim de Urna (BU) e algumas dessas vias podem ser entregues aos fiscais dos partidos. Nesse momento, o resultado da urna se torna público.

Desta forma, torna-se simples a verificação da integridade da totalização das eleições. Isso porque os fiscais de partido podem comparar essas cópias impressas dos Boletins de Urna de cada seção eleitoral com o resultado recebido, totalizado e publicado pela Justiça Eleitoral (disponível na Internet). Assim, a simples comparação do resultado recebido pelo fiscal e o processado na JE é suficiente para qualquer interessado criar sua própria totalização e verificar individualmente o resultado de cada urna eletrônica.

G1 – Ainda segundo o professor, o TSE coloca uma preocupação muito grande na atuação de agentes externos ao processo. Quais as medidas que o TSE tem tomado para evitar a ação de agentes internos (colaboradores e funcionários do próprio TSE)? Quem tem acesso à chave usada para cifrar as mídias (pergunta 1)?
TSE – A segurança do sistema eletrônico de votação não depende somente de pessoas, ela permeia todo o processo, desde o TSE até os tribunais regionais e cartórios eleitorais, e se baseia na utilização em conjunto e em vários momentos de técnicas de criptografia, assinatura digital e segregação de funções. É inviável que agentes internos realizem fraudes sem o registro de rastros para a auditoria.

G1 – O professor disse também que uma linha importante do código fonte estava desativada durante a análise permitida aos investigadores. Essa linha, segundo ele, era responsável por verificar a integridade/autenticidade do software. O TSE sabia que essa linha estava desativada?
TSE – O TSE não pode emitir opinião por desconhecimento do conteúdo da alegação, uma vez que não está presente no relatório do professor sobre o teste.

G1 – O professor Diego defendeu a introdução de um mecanismo de impressão do voto por amostragem, como proposto em lei. Essa legislação está atualmente suspensa por decisão do STF, se não me engano. O TSE tem alguma posição sobre a impressão do voto conferível pelo eleitor?
TSE – Na mesma audiência pública citada anteriormente, o Prof. Walter Carnielli (matemático e filósofo, CLE e IFCH-UNICAMP) fez uma apresentação intitulada “Sistema de votação, falsa segurança e a qualidade da democracia”.

Nesta apresentação, o Prof. Carnielli demonstrou que existe um balanço delicado entre privacidade (sigilo) e verificabilidade (verificação do voto eletrônico com outro meio duplicado, no caso o voto impresso) nas votações eletrônicas.

Segundo ele, as urnas do tipo das utilizadas atualmente nas eleições brasileiras (tipo DRE ou Direct-Recording Electronic) seriam passíveis de perfeita privacidade, embora com menor verificabilidade. Carnielli afirma que é matematicamente impossível atingir privacidade e verificabilidade absoluta e que, portanto, não há sentido na crítica de que “pesa a mão” apenas na verificabilidade (falta do voto impresso).

A pretensa solução defendida na legislação suspensa pelo STF, oferecia apenas uma falsa (e cara) sensação de segurança, como mostrou Carnielli. Não há qualquer critério sobre como seriam escolhidas as urnas da amostragem de cada Zona Eleitoral, nem se leva em conta a distribuição das urnas no país. Sem um estudo amostral de aleatoricidade, o voto impresso dará uma segurança ilusória de credibilidade a um custo extremamente alto.

Um equívoco muitas vezes repetido é a afirmação de que a “urna eletrônica brasileira é de segunda geração”, comparando-a com as urnas argentinas e peruanas que seriam de “terceira geração”. A própria noção de ‘geração’ tem origens comerciais, nas empresas que vendem ao Peru e à Argentina suas urnas, e não tem nenhum fundamento mais profundo.

Querer enfatizar um dado comercial ou o fato de se ter descoberto, num teste público, uma fraqueza técnica que pode ser consertada e a partir daí defender medidas sem a devida cautela é ameaçar a democracia.

Glossário

Agentes internos: colaboradores, funcionários e pessoas ligadas à própria empresa ou instituição; se diferenciam dos agentes externos, que são pessoas de fora.
Algoritmo – Sequência lógica e matemática executada por um software para realizar um determinado cálculo, processamento ou decisão automatizada.
Chave criptográfica - Como uma chave comum é capaz de abrir uma porta, a chave criptográfica é o “segredo” que um computador precisa conhecer para acessar (decifrar) dados cifrados.
Cifrar – Procedimento de segurança que torna uma informação ilegível para pessoas que não tenham a chave de acesso (chave criptográfica).
Integridade de software: Um programa de computador, como o que opera a urna eletrônica, pode sofrer alterações não autorizadas. Checagens de integridade garantem que o software em uso é idêntico ao que foi desenvolvido e autorizado para distribuição.
Log: Arquivo que registra eventos, incidentes e outras informações técnicas sobre um sistema ou software. Costuma trazer a hora e a data de quando algo aconteceu. O “histórico” do navegador de internet, que registra as páginas visitadas, é um tipo de log.
Semente: Computadores não podem “gerar um número qualquer”. Quando isso é necessário, usa-se um “gerador de números pseudoaleatório”, que retorna uma sequencia programada e previsível (não aleatória) de números. No entanto, quando um valor especial é fornecido para servir de base aos cálculos do gerador, os números serão diferentes, criando uma variação imprevisível sem o conhecimento do valor. Esse valor especial é chamado de “semente”.
Versionamento - Controle de alterações (versões) de um documento ou código fonte de um software para facilitar o trabalho em equipe. Em ambientes de desenvolvimento, programadores acessam o software de versionamento para baixar códigos, efetivar alterações e tomar conhecimento de modificações realizadas por outros colaboradores.
Zerésima: Relatório emitido pela urna para provar que ela está zerada antes da votação.




Fonte: G1 
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domingo, maio 27, 2012

O inferno nunca sai da alma.




Câmara de Execução em Aushwitz

por Clovis Rossi – Impressões sobre uma visita à máquina de matar nazista construída em Auschwitz-Birkenau.

CRACÓVIA – Uma placa no Museu Judaico de Cracóvia registra um diálogo imaginário entre mãe e filha em que a menina diz: “Mamãe, quando eles nos matarem, vai doer?”. A mãe responde: “Não, queridíssima, não vai doer, vai levar só um minuto”. Comentário abaixo do diálogo: “Pode ter levado só um minuto, mas foi o suficiente para nos manter despertos até o fim dos tempos”.

Profético. A dor pelo assassinato de 1,1 milhão de judeus, só no complexo Auschwitz-Birkenau, perto de Cracóvia, perdura até hoje na alma dos judeus, como deveria perdurar na alma da humanidade. Não foi um crime só contra os judeus, o que já seria intolerável, mas contra a condição humana.

Não apenas porque em Auschwitz-Birkenau morreram também entre 140 mil e 150 mil poloneses, 23 mil ciganos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos e 25 mil pessoas de outras etnias. Mas principalmente porque uma máquina meticulosa de matar despojou da condição humana todas essas pessoas e milhões mais em outros pontos da Europa.

Quando a mãe e a menina do diálogo imaginário foram levadas para a câmara de gás de Birkenau, já estavam mortas. Elas, como todos os judeus trazidos de toda a Europa para os 30 km² que abrigavam o complexo de Auschwitz, já haviam perdido suas casas, seus trabalhos, seus objetos pessoais, suas posses, seus seres queridos, rigorosamente tudo o que possuíam.

“Quem perde tudo muitas vezes perde a si mesmo”, escreveu Primo Levi, judeu italiano, prisioneiro de Auschwitz, um sobrevivente que é talvez o mais completo narrador dos horrores do campo. Levi escreveu também que quem esteve em Auschwitz nunca conseguirá sair e quem não esteve nunca conseguirá entrar.

É tanto verdade que se suicidou em 1987, mais de 40 anos depois de deixar o inferno. Dele diria o Prêmio Nobel da Paz (1986) Elie Wiesel, outro sobrevivente de Auschwitz: “Primo Levi morreu em Auschwitz 40 anos depois”. De fato, eu confesso que, como parte de um grupo de jornalistas que o Congresso Judaico Latino-Americano trouxe para uma visita-aula aos locais emblemáticos do Holocausto na Polônia, saio com mil perguntas e quase nenhuma resposta.

Principal pergunta: por que construir uma indústria da morte se ela não servia para derrotar os Exércitos inimigos, se não servia para ocupar territórios? (a Polônia já fora ocupada no início da guerra, em 1939, antes portanto da entrada em operação da máquina de matar). O que assusta, entre tantos horrores, é que permanece a tentação em muitas partes do mundo, mesmo na Europa, de eliminar o “outro”, o supostamente diferente, seja judeu, cigano, hutu ou tutsi (em Ruanda), muçulmano.

Nada, é claro, teve, antes como depois do Holocausto, a dimensão do que se fez em Auschwitz e outros campos e guetos. Mas direitos humanos, direito à vida, não podem ser medidos por quilo. Por isso, vale a frase do filósofo espanhol Jorge de Santayana y Borrás (mais conhecido como George Santayana), gravada na entrada do “Bloco 4″ de Auschwitz: “Quem não relembra a História está condenado a vivê-la de novo”.

Clovis Rossi – crossi@uol.com.br
Artigo publicado originalmente na Folha de SP

sexta-feira, maio 25, 2012

Os bons companheiros.




por Demétrio Magnoli

De “caçador de marajás”, Fernando Collor transfigurou-se em caçador de jornalistas.

Na CPI do Cachoeira, seu alvo é Policarpo Jr., da revista VEJA, a quem acusa de associar-se ao contraventor “para obter informações e lhe prestar favores de toda ordem”. Collor calunia, covardemente protegido pela cápsula da imunidade parlamentar.

Os áudios das investigações policiais circulam entre políticos e jornalistas ─ e quase tudo se encontra na internet. Eles atestam que o jornalista não intercambiou favores com Cachoeira. A relação entre os dois era, exclusivamente, de jornalista e fonte ─ algo, aliás, registrado pelo delegado que conduziu as investigações.

Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações ─ verdadeiras ou falsas ─ com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos.

Critérios de ética jornalística rigorosamente seguidos

O jornalismo não tem o direito de oferecer nada às fontes, exceto o sigilo, assegurado pela lei. Mas não tem, também, o direito de sonegar ao público notícias relevantes, mesmo se sua divulgação é do interesse circunstancial de uma facção criminosa.

Os áudios em circulação comprovam que Policarpo Jr. seguiu rigorosamente os critérios da ética jornalística. Informações vazadas por fontes diversas, inclusive a quadrilha de Cachoeira, expuseram escândalos reais de corrupção na esfera federal. Dilma Rousseff demitiu ministros com base naquelas notícias, atendendo ao interesse público. A revista na qual trabalha o jornalista foi a primeira a publicar as notícias sobre a associação criminosa entre Demóstenes Torres e a quadrilha de Cachoeira ─ uma prova suplementar de que não havia conluio com a fonte.

Depois da renúncia com desonra, Collor, agora porta-voz de Dirceu, quer vingança

Quando Collor calunia Policarpo Jr., age sob o impulso da mola da vingança: duas décadas depois da renúncia desonrosa, pretende ferir a imprensa que revelou à sociedade a podridão de seu governo.

A vingança, porém, não é tudo. O senador almeja concluir sua reinvenção política inscrevendo-se no sistema de poder do lulopetismo. Na CPI, opera como porta-voz de José Dirceu, cujo blog difunde a calúnia contra o jornalista. Às vésperas do julgamento do caso do mensalão, o réu principal, definido pelo procurador-geral da República como “chefe da quadrilha”, engaja-se na tentativa de desqualificar a imprensa ─ e, com ela, as informações que o incriminam.

O mensalão, porém, não é tudo. A sujeição da imprensa ao poder político entrou no radar de Lula justamente após a crise que abalou seu primeiro mandato. Franklin Martins foi alçado à chefia do Ministério das Comunicações para articular a criação de uma imprensa chapa-branca e, paralelamente, erguer o edifício do “controle social da mídia”.

Jornalismo financiado por estatais

Contudo, a sucessão representou uma descontinuidade parcial, que se traduziu pelo afastamento de Martins e pela renúncia ao ensaio de cerceamento da imprensa. Dirceu não admitiu a derrota, persistindo numa campanha que encontra eco em correntes do PT e mobiliza jornalistas financiados por empresas estatais. Policarpo Jr. ocupa, no momento, o lugar de alvo casual da artilharia dirigida contra a liberdade de informar.

No jogo da calúnia, um papel instrumental é desempenhado pela revista Carta Capital. A publicação noticiou falsamente que Policarpo Jr. teria feito “200 ligações” telefônicas para Cachoeira. Em princípio, nada haveria de errado nisso, pois a ética nas relações de jornalistas com fontes não pode ser medida pela quantidade de contatos.

Entretanto, por si mesmo, o número cumpria a função de arar o terreno da suspeita, preparando a etapa do plantio da acusação, a ser realizado pela palavra sem freios de Collor. Os áudios, entretanto, evidenciaram a magnitude da mentira: o jornalista trocou duas, não duzentas, ligações com sua fonte.

Durante a ditadura, um capitulo sombrio do jornalismo brasileiro

A revista não se circunscreveu à mentira factual. Um editorial, assinado por Mino Carta, classificou a suposta “parceria Cachoeira-Policarpo Jr.” como “bandidagem em comum”.

Editoriais de Mino Carta formam um capítulo sombrio do jornalismo brasileiro.

Nos anos seguintes ao AI-5, o atual diretor de redação de Carta Capital ocupava o cargo de editor de VEJA, a publicação na qual hoje trabalha o alvo de suas falsas denúncias.

Os editoriais com a sua assinatura eram peças de louvação da ditadura militar e da guerra suja conduzida nos calabouços. Um deles, de 4 de fevereiro de 1970, consagrava-se ao elogio da “eficiência” da Operação Bandeirante (Oban), braço paramilitar do aparelho de inteligência e tortura do regime, cuja atuação “tranquilizava o povo”.

O material documental está disponível no blog do jornalista Fábio Pannunzio, sob a rubrica “Quem foi quem na ditadura”.

Na VEJA de então, sob a orientação de Carta, trabalhava o editor de Economia Paulo Henrique Amorim.

Patrocínio estatal da calúnia

A cooperação entre os cortesãos do regime militar renovou-se, décadas depois, pela adesão de ambos ao lulismo.

Hoje, Amorim faz de seu blog uma caixa de ressonância da calúnia de Carta dirigida a Policarpo Jr.

O fato teria apenas relevância jurídica se o blog não fosse financiado por empresas estatais: nos últimos três anos, tais fontes públicas transferiram bem mais de um milhão de reais para a página eletrônica, distribuídos entre a Caixa Econômica Federal (R$ 833 mil), o Banco do Brasil (R$ 147 mil), os Correios (R$ 120 mil) e a Petrobras (que, violando a Lei da Transparência, se recusa a prestar a informação).

Dilma não deu curso à estratégia de ataque à liberdade de imprensa organizada no segundo mandato de Lula. Mas, como se evidencia pelo patrocínio estatal da calúnia contra Policarpo Jr., a presidente não controla as rédeas de seu governo ─ ao menos no que concerne aos interesses vitais de Dirceu.

A trama dos bons companheiros revela a existência de um governo paralelo, que ninguém elegeu.

* Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia. Artigo originalmente publicado em O Globo de 24/05/2012

quarta-feira, maio 23, 2012

Os verdadeiros amigos de Israel.




por Deborah Srour –

Duas semanas atrás, o congressista americano Joe Walsh publicou um artigo no Washington Times pedindo à Israel e aos Estados Unidos para abandonarem a idéia do modelo de dois estados. Depois de listar a corrupção, duplicidade, terrorismo e má-fé palestina, ele disse que “Israel deve adotar a única solução para trazer a verdadeira paz para o Oriente Médio: um só estado israelense do Jordão ao Mediterrâneo. Israel é o único país da região dedicado à paz e o único capaz de governar com estabilidade, justiça e democracia”.

As provas do fracasso deste modelo são devastadoras. A rejeição dos palestinos de um estado em 2000 optando pelo terrorismo mostrou que não havia mudança de sua posição de 1947. O mesmo ocorreu com a eleição do Hamas em 2006 e as barragens de mísseis lançados de Gaza após a saída do último judeu em 2005. Estas ações provam que os palestinos não estão interessados em um estado ou dividir a terra com judeus mas continuam focados na aniquilação de Israel.

De verdade, nunca houve qualquer chance para este modelo dar certo. Nem um só lider palestino jamais reconheceu o direito de Israel de existir. Se um estado palestino fosse estabelecido hoje na Judeia e Samária, ele estaria em estado de guerra com Israel e todo o seu território seria usado para lançar ataques ao estado judeu. O fracasso deste modelo deixa claro que apesar das complicações, extender a soberania de Israel na Judéia e Samária, é uma alternativa melhor do que render estas áreas ao inimigo.

Ao abandonarem as negociações e pedir para a ONU a declaração do estado palestino no ano passado, os palestinos de fato cancelaram os tratados de Oslo que proibem ações unilaterais. Hoje Israel está livre para tomar suas próprias ações unilaterais, incluindo anexar a Judeia e Samaria como o fez com o altos do Golan e Jerusalém.

O que é preocupante é que Walsh tem sofrido ataques desenfreados da esquerda judaica Americana. Eles o acusam de ser igual àqueles que querem destruir o estado judeu pois ao seu ver, Israel não poderá manter uma maioria judaica ao longo prazo. Ele também está sendo criticado severamente por dizer que os palestinos que não quiserem viver em Israel, poderiam se mudar para a Jordânia que é de fato um estado palestino. Walsh foi chamado de racista e contrário aos ideais americanos.

Esta esquerda hoje está trabalhando duro para que o congressista não seja reeleito nas eleições de novembro. Fica difícil entender este ataque por judeus americanos a um dos maiores defensores de Israel simplesmente porque ele teve a temeridade de reconhecer a realidade.

Para criar um novo estado palestino na Judéia e Samária o modelo exige que ele seja etnicamente limpo de judeus antes de ser estabelecido. Enquanto a esquerda tem problema com a idéia de palestinos se mudarem voluntariamente para a Jordânia aonde 80% da população é palestina, eles não têm qualquer problema com a idéia de expulsar a força 675 mil judeus de suas casas na Judéia, Samária e Jerusalém do leste simplesmente porque serem judeus.

Tirando esta hipocrisia perniciosa e cegueira moral, o que estes ataques mostram é que esta esquerda não vê diferença entre Walsh e os inimigos de Israel.

Eles vivem repetindo o incorreto argumento de que em 2015 haverá uma maioria demografica árabe do lado oeste do Jordão. Se hoje Israel anexasse a Judéia e Samária, 2/3 da população ainda seria judaica e 1/3 árabe. A curva demográfica mostra que os judeus estão tendo mais filhos e a imigração é constante. Os árabes, por sua vez, estão diminuíndo o número de filhos e têm índices negativos de imigração. De acordo com um estudo recente do pesquisador Yoram Ettinger, em 2030, os judeus serão 80% da população de Israel, Judéia e Samária.

Este debate também mostra outra coisa: como a esquerda judaica Americana está viciada na fábula dos dois estados. O vício à esta fábula – que diz que após um século da devoção palestina à aniquilação de Israel, os palestinos repentinamente irão abraçar seus vizinhos – é o que impulsiona estes ativistas a atacar qualquer um que lhes mostra a realidade e aponta para outras soluções. Sem falar que este modelo coloca todo o fardo nas costas de Israel.

Se os palestinos querem paz, então Israel deve fazer a paz. E se os palestinos exigem um estado judenrein, então Israel deve arrancar 675 mil judeus de suas casas. A tragédia é que estes judeus americanos acreditam neste conto de fadas e que no processo, ele se tornou política oficial do governo de Israel nos últimos 19 anos.

Não importa que os palestinos rejeitaram um estado duas vezes. Ou que receberam Gaza judenrein e usam este território para lançar mísseis diários contra a população civil de Israel. E o fato de Abbas falar abertamente na destruição do estado judeu, não impede que os líderes em Israel continuem neste jogo. Para manter este modelo, temos que ignorar não só os últimos 100 anos de história mas o que se passa agora. Hoje mesmo as forças de segurança de Israel prenderam 9 terroristas de Ramallah que tentaram sequestrar israelenses.

Ano após ano pesquisas mostram que cada vez menos israelenses acreditam na solução de dois estados ou que se um estado palestino for criado, irá viver em paz com Israel. E ainda assim, por causa do sequestro do discurso pelos grupos de esquerda, não é dado ao povo de Israel outra opção. Eles foram simplesmente informados que a única alternativa é abdicar de seus direitos, terra e segurança.

Felizmente, nem todo o mundo é cego. Estão havendo tentativas de legislação na Knesset sobre a aplicação da soberânia Israelense na Judéia e Samária. E nos Estados Unidos, temos que admirar a determinação de Walsh e os outros 44 congressistas que patrocinaram a resolução pois estão batendo de frente com o que é tido como consenso hoje.

Eu nunca deixo de me espantar com pessoas que recusam aceitar o fato que nenhum primeiro ministro israelense pode fazer a paz com uma entidade que não abdica de seu objetivo de erradicar o estado judeu. Enquanto isso, os europeus e a esquerda do mundo continuam a vilificar Israel e os verdadeiros malfeitores são vistos como soldados de libertação. Neste Yom Yerushalaim, dia da libertação e reunificação de Jerusalem pelos judeus, vamos parar e dizer a verdade. Israel representa a liberdade e a democracia e é do lado dela que nós também devemos ficar.