quarta-feira, novembro 28, 2012

Não vou conseguir dormir.










por André Gostynski

Hoje foi um dia muito duro para mim, um de muitos que tem se passado desde a última semana. As pessoas por aqui, em São Paulo, vivem como se tudo estivesse perfeito, se adaptam as restrições cotidianas impostas pela sociedade e seus governantes. Por outro lado, lá, em Israel, onde tive a sorte e o prazer de estar há alguns meses, as coisas não funcionam assim.



A realidade não é uma mera sucessão e aceitação de fatos. Lá um exército e seu governo tentam garantir a máxima proteção a seus habitantes, mas seu vizinho bem ao lado, que prefere muitas vezes nem se identificar, não pensa assim e prefere sujeitar os que vivem ao seu lado, os seus próprios irmãos por uma causa, à destruição ou à morte. Por outro lado, eu, como um judeu que vive a muitos quilômetros desse caos não me sinto confortável em ver tudo isso e me calar no meu lar, em trancar minha porta e não ler aos jornais.

Hoje eu fui para a rua, para protestar contra a situação, mas não foi suficiente. Não consegui me conformar em não ver a maioria de meus amigos lá. Muitos estiveram comigo em Israel há alguns meses, se deleitaram nos prazeres e na maravilhosa vida de turista no Estado de Israel, mas hoje eles não lembraram que isso tudo tem um preço, o preço é bem alto e é pago por alguns.

Por sorte temos o melhor exército do mundo e ele é o melhor porque ele defende a seus habitantes, ele é o melhor porque ele se inspira nos seus ideais, nos ideais de seus familiares. Hoje eu queria me manifestar e dizer para todos eles OBRIGADO, obrigado por defender tão bem o que é nosso e o mínimo que eu, que usufruí disso tudo, poderia expressar e fazer. Mas meus amigos não estavam lá…

Tenho certeza que muitos vão acordar amanhã e rumar em direção aos seus trabalhos e escolas como se nada tivesse ocorrido, mas para mim não, estou inconformado e não vou dormir bem. Minha função está longe de ser concluída, só quando a maioria deles estiver às ruas comigo eu vou dormir um pouco melhor. Além disso, nessa manifestação duas pessoas que se diziam ligadas ao Movimento Feminino xingaram a todos ali de ASSASSINOS. Pesado. Injusto. Cruel. Parcial.

Não sei qual a melhor definição. Muito ódio veio a tona, mas, após filosofar, percebi que a culpa não era delas, era minha, era nossa. Não é a toa, basta pegar o jornal dos últimos 7 dias em São Paulo. A grotesca parcialidade da mídia nacional na relação Israel-Palestina é cruel, pesada e injusta! Por que? O que aconteceu por aqui para tamanha parcialidade? Alguma divida da Comunidade Judaica Mundial ou Local para com nossa sociedade? Com certeza não… Não consigo encontrar a razão. O que fazer?

Não vou conseguir dormir por não ver meus amigos lá mas também não vou conseguir porque não sei onde a mídia vai levar nossa sociedade. Ódio gratuito, preconceito, imoralidade. É isso que se prega na mídia nacional? É assim que os jornalistas querem ser taxados? Não quero ser injusto e irresponsável por uma generalização, mas gostaria de respostas às minhas perguntas… Não vou conseguir dormir…


Fonte: Pletz.

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