Conservadores e libertários compartilham a visão de que o livre mercado é o único sistema através do qual uma sociedade pode se desenvolver economicamente em toda a sua potencialidade. Em resumo, que é o único sistema capaz de possibilitar que seus integrantes prosperem materialmente, em diferentes níveis, mas sempre no sentido da elevação progressiva e consistente do padrão médio de vida das populações.
Entretanto, os consensos param por aí. Há um ponto de divergência entre essas duas correntes de pensamento que as tornam inconciliáveis, e que deixa claras as intenções conservadoras dos primeiros (como a própria denominação revela), e revolucionárias dos segundos: conservadores compreendem que a liberdade do mercado deve ser restringida pela ordem social vigente; libertários defendem a liberdade ilimitada de ação dos indivíduos no mercado, sendo imposto somente o limite definido pelo axioma do Princípio da Não Agressão (segundo o qual uma ação somente será passível de punição quando se tratar de uma agressão contra outro indivíduo – agressão essa que pode se dar através do uso da força, ou por meio de fraude). Ou seja, conservadores defendem o livre mercado, enquanto a ação dos indivíduos agindo neste mercado não ultrapassar os limites morais definidos pela ordem social vigente; libertários pretendem subverter esta ordem social, e submetê-la às necessidades e/ou desejos pontuais e arbitrários dos indivíduos, em detrimento da tradição moral, e em nome da liberdade de mercado e, em última instância, de um ideal abstrato, a saber, as “liberdades individuais”.
Como estes posicionamentos antagônicos se traduzem na prática? Conservadores se posicionam contra a legalização do comércio de drogas; libertários a favor. Conservadores se posicionam contra a legalização da prostituição; libertários a favor. Conservadores se posicionam contra a comercialização de órgãos; libertários a favor. Conservadores se posicionam contra a comercialização de crianças; libertários a favor. Os casos nos quais há divergência semelhante são bastante numerosos e diversos.
Os conservadores compreendem que a ordem social, estabelecida pela tradição, fundada em princípios morais submetidos ao teste dos séculos, é a estrutura que possibilita e assegura a existência mesma do livre mercado, e por este motivo há entre os conservadores a preocupação prioritária em preservar tal ordem social. Os conservadores entendem que não há garantia alguma de que uma eventual nova ordem social, artificialmente concebida e implantada pelos libertários, sustentada em uma doutrina sem lastro na tradição moral da sociedade, será capaz de preservar a existência do livre mercado, ou de quaisquer das liberdades individuais duramente conquistadas ao longo dos séculos.
O conservadorismo tem como preceito a ideia de que um conjunto de leis, que é o instrumento através do qual a ação dos indivíduos será limitada, e em última instância regulará o mercado, emerge (e deve sempre emergir) naturalmente do conjunto de princípios morais estabelecido em determinada ordem social, nunca o contrário. O conservador entende que a legislação não é capaz de criar a ordem social, ao menos não uma ordem social próspera e longeva – ou uma ordem social justa para com os seus integrantes.
Libertários, por sua vez, pretendem estabelecer uma nova ordem social, cujo conjunto de regras seria baseado em sua doutrina, que por sua vez se baseia em grande medida no Princípio da Não Agressão. As características dessa nova ordem social, artificialmente concebida, são incertas. Os resultados da engenharia social são imprevisíveis. É possível até que o livre mercado, tão caro para os libertários, torne-se incompatível com essa nova ordem social, e venha a desaparecer, assim como o próprio conceito de “liberdade individual”.
Neste aspecto, o modus operandi de caráter revolucionário dos libertários é tão inconsequente e potencialmente destrutivo quanto o adotado pelos socialistas.
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